Apesar de ser leitor da Míriam Leitão, raramente comento algum artigo seu neste espaço. Porém, neste domingo em sua coluna no GLOBO e em seu blog, consegue bem escrever o que muitos sensatos colegas também pensam.
Esta
semana se soube que Brasil e Estados Unidos cresceram no mesmo ritmo no
primeiro trimestre de 2013. Nós, 0,6%, e eles, 2,4%. É a mesma coisa. A
diferença é apenas a forma como se calcula: eles apresentam o índice de forma
anualizada e nós temos o hábito de olhar o dado do trimestre em relação ao
anterior. Mas ficou claro que o que é bom para os Estados Unidos não é bom para
o Brasil.
Para
eles, o número significa a continuação da recuperação. Para nós, sinal de que
estamos perto da estagflação: crescemos pouco com inflação alta. Eles são a
maior economia do mundo, vivem ainda uma crise sistêmica e fizeram um forte
corte de gastos públicos. Nós estamos aumentando os gastos e desidratando o
superavit primário. Eles estão demonstrando dinamismo econômico. O Brasil tem
perdido competitividade.
Nós
sentimos os abalos da crise, mas o Brasil estava mais bem preparado do que em
outros eventos de crise externa. O problema é o ponto em que estamos agora. O
país não consegue sair do baixo crescimento. Os cálculos apontavam números mais
robustos mas eles definharam novamente. Tem sido assim desde o começo de 2011.
Se
o Brasil não é o centro da crise e se está mais forte do que em outros eventos
internacionais, por que não consegue crescer? E, se não está crescendo, por que
não consegue derrubar a inflação?
São
as inquietações do momento. Elas é que fazem o 0,6% de crescimento no primeiro
trimestre parecer pior do que é. Esperava-se mais, porque nada nos impede de
crescer em ritmo maior a não ser a gestão confusa da economia.
O
governo anunciou uma sequência tão grande de pacotes de estímulo que nem é
necessário parar para contar. Seria perda de tempo. Todos viram a
hiperatividade sem rumo com a qual o governo administrou a economia nos últimos
dois anos e meio. Foram vários pacotes, desonerações, R$ 400 bilhões
transferidos para o BNDES, estímulos ao consumo, bancos oficiais oferecendo
dinheiro aos clientes para alavancar as compras, subsídios a vários setores
industriais, subsídios ao uso da gasolina. Ao fim disso, o país colheu... PIBs
pequenos e minguantes.
Talvez
seja porque o governo está no rumo errado. Menos hiperatividade e mais
estratégia trariam os resultados esperados. Ao intervir demais na economia,
criou incertezas e distorções. O governo concedeu benefícios fiscais a setores
industriais para incentivar o consumo. Conseguiu no máximo antecipar decisões
de compra. Estimulou o consumo das famílias através do endividamento. Aumentou
seus gastos. Desta forma, foi alimentando a inflação, que tirou capacidade de
consumo das famílias.
Aos
investidores, o país tem emitido sinais erráticos. A intervenção na energia
descapitalizou o setor. Para cobrir o custo da decisão de reduzir o preço da
energia, o governo tem inventado fórmulas que caem abruptamente sobre as
empresas. Um desses aparecimentos repentinos foi a resolução do Conselho de
Política Energética estabelecendo que todas as geradores, mesmo as de fontes
limpas, tenham que pagar pelo custo extra do uso das térmicas. Algumas já
entraram na Justiça contra a decisão estranha.
O
setor de petróleo ficou cinco anos sem fazer leilão de concessão porque o
governo argumentava que era necessário mudar o modelo. Acabou retomando as
rodadas no modelo velho. Nesse meio tempo, a produção e área prospectada
diminuíram. O governo baixou regras para privatizar os aeroportos que afastaram
operadores internacionais experientes e incentivaram os grupos menores a darem
grandes lances. Por uma razão nunca explicada, não incluiu o Galeão na primeira
etapa da privatização. Agora, o Galeão será licitado, mas as regras já mudaram.
Decidiu-se criar normas que evitem grupos com pouca experiência em
administração de aeroportos. Mas os atrasos nos colocam na marca do pênalti. O
governo quer que o grupo que ganhar a licitação — que ainda não feita — garanta
que vai melhorar a situação do aeroporto até a Copa do Mundo. Difícil ter
mudança importante em tempo tão exíguo.
Para
controlar a inflação — da forma errada — subsidiou o uso da gasolina e com isso
desorganizou o setor de biocombustíveis. Fez anúncios preparados por
marqueteiros sobre obras e licitações na área da infraestrutura que ainda não
deslancharam. Olhando bem, o baixo crescimento brasileiro tem razões internas.
O mundo não tem culpa.
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