Leio na Folha entrevista concedida pelo Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e sua análise sobre a cotação do dólar e outros pontos da economia brasileira.
Folha
- O dólar não deve voltar a ficar abaixo de R$ 2,10?
Luciano
Coutinho - Não volta ao patamar do
começo do ano. Fizemos um teste de estresse com o câmbio fechando o ano a R$
2,30 e é perfeitamente palatável para a estrutura empresarial brasileira
absorver o impacto. Não estou projetando esse câmbio, foi apenas um teste de
estresse. É diferente do que ocorreu [no início da crise global] em 2008,
quando houve pesadas perdas provocadas pelos derivativos de câmbio. Qual é o
desafio paralelo a isso? Administrar os efeitos do câmbio na inflação. É
imperioso manter a inflação sob controle. É uma orientação de governo.
O
setor empresarial critica a taxa de retorno do programa de concessão. Isso pode
afetar os leilões e pôr em risco o crescimento do país?
Não
creio, porque o governo ajustou vários fatores. O que tenho verificado nas
consultas ao banco é que teremos muitos interessados. É preciso diferenciar o
que se diz em público para conseguir melhorias adicionais e o que observamos no
diálogo individual com as empresas.
Após
os protestos, Estados e municípios seguraram reajuste de tarifas. Isso vai
afetar o interesse dos investidores?
Pelo
que entendi, as tarifas de pedágio serão compensadas, protegendo os
investidores. Logo, não vai criar efeitos negativos sobre as expectativas. O
meu sonho é que a taxa de investimento chegue perto de 19% do PIB neste ano e
dê um salto adicional em 2014.
O
BC subiu os juros. O senhor vê necessidade de um ajuste fiscal mais rigoroso
para ajudar a controlar a inflação?
A
gestão macroeconômica precisa avaliar o andamento da economia. Ainda não
sabemos qual será o impacto dessa transição, que pode afetar o crescimento
negativamente. A calibragem fiscal não é algo trivial. Tem que ser muito
cuidadosa. A orientação da presidente é manter a inflação sob controle.
O
sr. teme que um arrocho forte derrube o crescimento?
O
que estou dizendo é que precisamos considerar o que já aconteceu na esfera privada.
Se houver uma redução do gasto privado, vai ter impacto. É claro que a política
fiscal deve ajudar a política monetária e trabalhar coordenadamente. O mercado
exige, às vezes até por cacoete, que se tomem certas iniciativas.
É
preciso calibrar inflação e crescimento na política fiscal?
Sim.
Mas
a credibilidade do governo na área fiscal foi muito questionada após a
contabilidade criativa. Isso não prejudica a calibragem?
Eu
olho para os resultados. A trajetória de dívida do Brasil é invejável. Acredito
que há uma cobrança desfocada da realidade do Brasil.
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