Recentemente no VALOR ECONÔMICO, li uma entrevista
com Delfim Netto, a qual compartilho com os meus ainda dois fiéis leitores os trechos
abaixo:
Valor: Os dados de setembro mostraram uma forte
deterioração das contas públicas. O que pode acontecer daqui por diante?
Delfim
Netto: Estamos caminhando para um
déficit fiscal de 3% do PIB este ano e de 4% do PIB em 2014. Esse é o déficit
nominal, que não passava de 2,5% do PIB. Acho que a estimativa do Banco Central
para a dívida bruta não tem viés e poderia ser aceita pelo Fundo Monetário
Internacional. Hoje, a dívida como proporção do PIB não seria uma coisa
trágica, mas a perspectiva é preocupante.
Valor: Por quê?
Delfim: Em condições normais, o ano terminaria com 2,5% do
PIB de déficit nominal e 60% do PIB de dívida bruta. Hoje, acho que a
probabilidade é de chegarmos a 3%, ou um pouco acima de 3%, do PIB de déficit
nominal. E veja o que está acontecendo com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Está no Congresso a proposta de mudança retroativa do indexador da dívida dos
Estados e municípios.
Valor: Mas não é o próprio Executivo que está
patrocinando essa mudança, abrindo caminho para um novo ciclo de endividamento
dos Estados e municípios?
Delfim: Rever a taxa
de juros daqui para frente não tem problema, mas estimular o endividamento,
mesmo que para o investimento, quando estamos perto do pleno emprego, só vai
estimular a inflação. O que está perturbando hoje são duas coisas. Primeiro,
a perspectiva de aumento da dívida bruta retira do governo a capacidade de
enfrentar uma política anticíclica, se ele tiver necessidade. Numa situação
perto do pleno emprego, isso pressiona os juros e aumenta o gasto com juros
como proporção do PIB. E aí aparece uma de duas coisas: ou um déficit em conta
corrente, ou inflação, que é o que está visivelmente ocorrendo.
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