A revisão da meta fiscal já era esperada pelo mercado financeiro,
que não apresentou turbulências hoje (16), por causa do anúncio feito na noite
desta terça-feira (15). A expectativa agora do mercado é que o governo consiga
voltar a discutir sobre a reforma da Previdência.
Com a revisão
da meta e a reafirmação da nota
de crédito do Brasil, o dólar comercial operava em queda de 029%,
cotado a R$ 3,1636, por volta das 13h. O Ibovespa, índice da Bolsa de Valores
de São Paulo, operava em alta às 10h10, com 68.845 pontos, mas, por volta das
13h20, registrava leve queda de 0,02%, aos 68.341 pontos.
Segundo o professor de macroeconomia do Ibmec-RJ e economista da
Órama Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Alexandre Espírito Santo,
o cenário internacional está favorável, o que dá suporte para os ativos no
Brasil. O economista afirma que o mercado financeiro sabia que era necessário
fazer a revisão da meta fiscal. “Foi uma etapa superada de maneira relativamente
positiva, e agora o mercado vai esperar como o governo introduzirá de novo a
reforma da Previdência.”
Ontem, o governo anunciou a nova meta de déficit primário
(despesas maiores que receitas, sem considerar gastos com juros) de R$ 159
bilhões, para este ano em 2018. Originalmente, a meta de déficit estava fixada
em R$ 139 bilhões para este ano e em R$ 129 bilhões para 2018. Além disso, o
governo anunciou medidas para conter despesas, como congelamento de reajuste do
funcionalismo público e aumento de tributos.
Para Espírito Santo, as medidas anunciada ontem foram “na direção
correta, mas não são suficientes”. “[O anúncio das medidas] é uma forma de
dizer que o governo está preocupado, mas no fundo não vai solucionar o
problema.”
Sem a reforma da Previdência, diz o economista, será preciso
alterar a meta novamente em 2018, e o mercado vai começar a perder a confiança
no governo. “Fizeram um contingenciamento [bloqueio de gastos] muito forte, e o
mercado deu o benefício da dúvida. Mas o mercado não vai dar o benefício da
dúvida para sempre”, destaca.
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, diz que, com
a proximidade das eleições, muitos congressistas ficam com receio de aprovar a
reforma da Previdência. Entretanto, ela considera que há um reconhecimento da
necessidade da reforma. “Vejo no Congresso, um reconhecimento crescente de que
vai ter que fazer reforma da Previdência e que é melhor o [presidente Michel]
Temer fazer. Senão, o próximo presidente vai ter um peso enorme nas costas,
porque a fila de reformas necessárias é enorme”, disse. Zeina ressalta que há
possibilidade de ao menos uma parte da reforma ser aprovada, como a idade
mínima.
De acordo com Zeina, o mercado sabe que não há saída fácil para a
questão fiscal. “O risco de ter correção de meta é alto mesmo. O mercado
compreende que não tem mais espaço para corte de despesas discricionárias e
sabe que daqui pra frente só mesmo ajustes estruturais.”
Para a economista, ao anunciar as medidas o governo demostrou
esforço para conter despesas, além de já ter passado pelo desgaste político de
aumentar a tributação sobre combustíveis. Entretanto, para Zeina o governo
errou ao fazer o reajuste do funcionalismo público anteriormente. “Se não
tivesse tido aumento do funcionalismo a revisão era menor.”
Ela acrescenta que as medidas anunciadas ontem não têm efeito de
longo prazo e de estabilização da dívida pública, mas ajudam a manter a
confiança. “Quando o dinheiro acaba, qualquer 1 bilhão fica relevante.”
Zeina diz que as medidas anunciadas ontem vão ser aprovadas pelo
Congresso Nacional. “Acho que passa até porque é de interesse de Congresso. Se
não se flexibiliza o orçamento, fica mais difícil também honrar emendas.”
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