No
Milênio de hoje, saiba mais sobre o poder transformador da
filosofia política e a importância de nos questionarmos constantemente sobre
nossa realidade. Não perca a entrevista que Jorge Pontual fez com o filósofo
Michael Sandel para o Milênio! Hoje, às 23h30, na Globo News.
Há cerca de duas décadas, Michael Sandel leciona, na Universidade de Harvard, o famoso curso "Justice", pelo qual já passaram mais de 15 mil alunos. É dele o livro Justiça - o que é fazer a coisa certa, aqui publicado pela Civilização Brasileira, já na 4ª edição em 2011.
Rodrigo Bodstein comentou o programa conforme abaixo:
Ao
lermos as notícias, parece que o mundo está caminhando para um cenário
apocalíptico. Alguns países anunciam a intenção de entrar em guerra, enquanto
outros estão envolvidos em batalhas difíceis de serem justificadas. Discute-se
a intervenção militar para derrubar regimes ditatoriais. O combate à crise
econômica, que perdura desde 2008, traz, a cada novo pacote de austeridade,
manifestações e duros confrontos com as forças policiais que tentam manter a
frágil ordem que ainda existe. O consumismo e a obsessão por crescimento
econômico perpassam o tecido social e pressionam o limite dos recursos naturais
do planeta. Casos de corrupção surgem por todos os cantos, sem fazer distinção
entre governos. Enquanto isso, pessoas morrem de fome. Cada decisão, seja no
nível internacional ou no cotidiano, afeta outras pessoas. Como, então, separar
a política da moral? Qual é o propósito da política?
Nesse
contexto em que o debate tornou-se cada vez mais tecnocrático e, ao mesmo
tempo, crucial para a vida no e do planeta, Michael Sandel traz uma reflexão
sobre a natureza do fazer político, do exercício do diálogo e do enfrentamento
construtivo de ideias e posições que determinam a nossa realidade. Devemos
basear nosso cálculo puramente em custos e benefícios? Devemos considerar a
liberdade de cada um como algo absoluto e não interferir? Ou temos um dever
moral que deve nos guiar? Devemos ser utilitaristas, libertários ou humanistas?
Diante de um momento decisivo e de questões específicas, cada pessoa terá sua
resposta para essas perguntas. O mais importante é o exercício da reflexão
sobre a ética, a moral e a política. Como Sandel coloca “sentir a força dessa
confusão e a pressão para resolvê–la é o que nos impulsiona a filosofar.” e ele
vai além ao afirmar que “a reflexão moral não é uma busca individual e sim
coletiva.”
Determinar
o que é certo ou errado é quase impossível sem estar dentro da situação, sem
ver todas as variáveis que podem influenciar a decisão, mas questionar é um
dever cívico. É um exercício de cidadania e de respeito a si próprio e à
sociedade em que vivemos. Em linhas gerais, Sandel afirma que se precisarmos
escolher entre falar ou não falar é melhor optarmos pelo primeiro. O não falar
dá espaço para ideologias e dogmas. Engessa as escolhas. Cria frases como
“sempre foi assim”, “as coisas são desse jeito”, etc. Ao fazer isso, abre
caminho para abusos de poder, abusos morais, para uma compreensão que as
instituições que temos são as únicas possíveis e restringe nossa capacidade de
pensar novas soluções para a vida em sociedade. A busca, como bem diz Sandel, é
coletiva, mas depende do esforço individual. Somos mais do que consumidores ou
eleitores. Somos mais do que reféns de situações intransponíveis. Somos humanos.