Os últimos números divulgados no Brasil sobre a taxa de desemprego e sobre a taxa de inflação, 6,40% ao mês e 0,96% ao mês, respectivamente para o mês de fevereiro/2011, demonstram um aumento mensal na ordem de 4,92% para a taxa de desemprego e um aumento mensal de 26,32% na taxa de inflação, comparando-se a janeiro/2011. Essa relação que existe entre a inflação versus desemprego é conhecida na Economia como a Curva de Philips e busca-se nesta breve análise verificar se essa relação com o regime de metas de inflação existe na economia brasileira.
Estudos realizados demonstraram, por exemplo, que entre 1948 a 1969, a diminuição contínua da taxa de desemprego americana durante a década de 1960 esteve associada a um aumento contínuo da taxa de inflação. Posteriormente, por volta da década de 1970, já inexistia a mesma relação na economia dos Estados Unidos, ou seja, não existia qualquer relação visível entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação nesse período. Estariam Alban Phillips, Robert Solow e Paul Samuelson errados quando formularam o assunto? Na realidade, Milton Friedman e Edmund Phelps argumentaram que esse dilema entre inflação e desemprego era uma ilusão. Eles realmente tinham mesmo razão? Numericamente, a original Curva de Philips já não representava a realidade do momento atual.
É o que observamos hoje na economia brasileira. Realizando uma análise dos últimos 12 meses com base em fevereiro/2011, observa-se na tabela abaixo que para o Brasil a Curva de Philips atualmente não funciona, apesar do regime de metas de inflação tornar verdadeiro o trade-off desemprego e inflação. O país mantém uma taxa de desemprego decrescente e uma taxa de inflação estável, porém com um forte viés de alta.
Período | Mês | Inflação % | Período | Mês | Desemprego % |
2010 | Jan | 0,59 | 2010 | Jan | 7,2 |
Fev | 0,68 |
| Fev | 7,4 | |
Mar | 0,42 |
| Mar | 7,6 | |
Abr | 0,42 |
| Abr | 7,3 | |
Mai | 0,56 |
| Mai | 7,5 | |
Jun | 0,36 |
| Jun | 7,0 | |
Jul | 0,24 |
| Jul | 6,9 | |
Ago | 0,12 |
| Ago | 6,7 | |
Set | 0,37 |
| Set | 6,2 | |
Out | 0,44 |
| Out | 6,1 | |
Nov | 0,52 |
| Nov | 5,7 | |
Dez | 0,60 |
| Dez | 5,3 | |
|
|
| |||
2011 | Jan | 0,76 | 2011 | Jan | 6,1 |
Fev | 0,96 |
| Fev | 6,4 |
Fonte: Banco Central do Brasil
Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, a presidente Dilma Rosseff afirmou categoricamente que no seu governo “Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano (2011).”
Em que pese o discurso da presidente, diversos setores da economia brasileira desconfiam que o atual governo mantenha rigor no cumprimento da meta de inflação de 4,5% ao ano, com variação de 2% para mais ou para menos. Fontes do mercado estimam uma variação na taxa de inflação de 6,31% em 2011 e de 4,8% para 2012, portanto ainda dentro da meta definida, mas com risco de ultrapassar a margem.
Conforme matéria de Claudia Safatle no Valor Econômico, “fazer a inflação deste ano convergir para a meta de 4,5% demandaria uma recessão, opção que a presidente Dilma Rousseff descarta completamente e que o próprio BC não recomendaria. Cabe ao regime de metas manter a inflação na meta com o menor custo possível para o nível de atividade. E em casos de choques de oferta, a literatura preconiza que seus efeitos primários devem ser acomodados e os secundários, combatidos.”
Não é prática de nenhum governo afirmar em público que está dividido entre aumentar a inflação e reduzir o desemprego ou reduzir a inflação e aumentar o desemprego. Apesar de Maquiavel lembrar que “os fins justificam os meios”, a Curva de Philips ainda é utilizada como uma justificativa para manter sob controle a inflação em um regime de metas. O que ainda não se sabe é até quando a curva de Philips ainda pode representar a realidade econômica brasileira.