Editorial de hoje na
FOLHA DE S. PAULO mostra que a economia mais rica do mundo ainda busca novas
fontes de dinamismo para manter criação de empregos e enfrentar rivais
asiáticos
Apesar
das seguidas frustrações das expectativas de que, enfim, a economia dos EUA
retomava seu ritmo normal, após a tragédia de 2008, o desempenho é melhor que o
de outras economias avançadas.
Descartou-se
nova catástrofe, risco ao qual a Europa se sujeita a cada semestre. Tampouco se
cogita uma estagnação à moda japonesa.
Mais
versátil, flexível e competente ao lidar com problemas do seu sistema
financeiro, a economia americana será ao final deste ano 2,8% maior do que era
em 2007. Parece pouco, mas a produção econômica na eurozona ainda será cerca de
1% menor.
Embora
previsões de longo prazo sejam ainda menos confiáveis neste início de século de
convulsões econômicas frequentes, estima-se que, do início da crise até o ano
2020, os Estados Unidos cresçam mais de 21%. A zona do euro, 7% -menos de um
ano de crescimento do PIB chinês.
Ainda
assim, os americanos estão atônitos diante da mais lenta reação a uma crise
desde a Segunda Guerra Mundial, excetuada a recessão de 1980, no entanto menos
profunda. A taxa de desemprego de longa duração é a maior desde os anos da
guerra.
A
depressão no setor imobiliário é a maior de que se tem registro. A venda de
casas caiu a um quarto do pico de 2006, tendo baixado desde 2008 a níveis
verificados nas recessões de 1982 e 1970, quando o país era bem menor.
Há
controvérsia acerba sobre os motivos do desemprego persistente, ainda na casa
dos 8,2%. É quase o dobro do verificado nos melhores momentos da década
passada.
De
um lado, economistas consideram que parte das profissões se tornou obsoleta. O
desemprego será maior -"estruturalmente maior", diz-se- enquanto não
houver mudança geracional ou requalificação dos trabalhadores.
Na
oposição à tese estão aqueles para os quais o desemprego é cíclico, derivado do
baixo crescimento, por sua vez devido à falta de demanda, de consumo. No
momento, apenas o governo poderia incentivá-la, com um aumento transitório da
dívida pública.
Posto
desse modo, o debate se esquiva da pergunta óbvia a respeito da
sustentabilidade do crescimento anterior à recessão.
O
desemprego então baixara de modo impressionante, com inflação e taxas de juros
contidas. Mas o país financiava seu consumo com bolhas financeiras, excesso de
dívidas privadas e públicas e gastos militares crescentes, além de deficit
externos. Os americanos sustentavam parte importante de seu consumo com crédito
estrangeiro, da China em particular.
Mais
americanos passaram a trabalhar em tempo parcial. O salário médio cresceu
lentamente. Benefícios sociais foram cortados.
Mesmo
economistas mais favoráveis a uma economia aberta e flexível passaram a
reconhecer, pouco antes da crise, que a globalização tinha seu preço, pago pelo
trabalhador comum. Empregos industriais, e mesmo de serviços, foram e são
transferidos para nações ditas emergentes.
Parece
evidente que parte do desemprego, do achatamento salarial e do baixo
crescimento se deve à conjuntura. Governo e famílias ainda reduzem dívidas. O
mundo cresce mais devagar, e as recaídas europeias abalam a confiança de
empresários e consumidores.
Outro
fator de desemprego e redução da população economicamente ativa talvez seja
mais duradouro. A geração do "baby boom" (nascimentos no pós-Guerra)
se aposenta em massa; parte dela desistiu de procurar novo emprego.
Os
trabalhadores mais antigos restantes, mesmo que retreinados, iriam empregar-se
onde? E os jovens? Qual seria o novo setor dinâmico, capaz de atrair maciços
investimentos para liderar o crescimento em geral da economia?
O
setor mais inovador, de tecnologia, cria poucos empregos. E a industrialização
da vizinhança da China, ainda mais atrasada, continuará a prejudicar fábricas
americanas dos ramos convencionais.
O
investimento insuficiente é um fator importante da lenta recuperação. Grandes
empresas relutam em investir, apesar de seus balanços saudáveis, pois temem o
retraimento do consumidor.
A
redução dos gastos federais e os brutais cortes de despesas em Estados e cidades
afetam tanto a contratação de empresas quanto o consumo das famílias. A
poupança baixa desde os anos 1980.
A
demanda externa não se apresenta como alternativa, pois a Europa estará em
crise por vários anos, e a China continuará a reduzir seu ritmo de crescimento.
Fatores
estruturais afetam, sim, o potencial de crescimento. O ritmo de ampliação da
mão de obra cai, dados o envelhecimento da população e a redução da taxa de
nascimentos. Tudo o mais constante, parece que a nova normalidade americana
será de crescimento em ritmo mais baixo.
Os
EUA têm pela frente ao menos meia década de ajustamento das contas públicas,
demografia menos favorável, gastos crescentes com idosos e concorrência externa
que pode tragar empregos em setores tradicionais.
A
economia americana, contudo, reagiu nos anos 1980 à onda japonesa.
Reinventou-se, e ao mundo, com as inovações de suas empresas de tecnologia de
informação. Por ora, no entanto, a perspectiva mais normal para os EUA aponta
para uma economia entrando na terceira idade: madura e mais lenta, embora ainda
saudável -e extremamente rica.
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