Delfim Netto, recentemente na FOLHA DE S. PAULO.
Leio semanalmente "The Economist"
desde 1952, quando "filava" os exemplares recebidos pelo grande
professor W. L. Stevens, a quem o Brasil deve a introdução da estatística
fisheriana. Sempre admirei a clareza, a relativa imparcialidade e o tom
doutoral e provocador da revista.
Ela se considera, convictamente, a
portadora de uma ciência econômica universal, independente da história e da
geografia. Dela extraí (com lógica invejável) as receitas de política econômica
que levarão ao bem-estar social do mundo, com, talvez, um viés de maior
conforto ao capital e às finanças.
Criada em 1843 por James Wilson -sogro do
gigante Walter Bagehot, a quem entregou a sua editoria-, tinha por objetivo
fundamental defender a liberdade de comércio então em discussão na Inglaterra.
Fala, em seu benefício, que nos últimos 169 anos não mudou. Com altos e baixos,
sobreviveu bravamente até tornar-se -não é possível ignorar este fato- a mais
importante revista econômica internacional. Isso está longe, entretanto, de
garantir a validade dos seus conceitos.
Se há uma virtude escassa na excelente
"The Economist" é a humildade: ter ao menos uma pequena dúvida.
Recusou, desde a sua origem, a lição do grande economista Ferdinando Galiani
(1728-1787), que ensinou ser muito perigoso extrair conclusões políticas de
abstrações universais!
O deselegante e injusto ataque "ad
hominem" ao ilustre ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, partiu
de duas premissas falsas:
1ª) O Brasil não estava
"bombando" no início de 2011. O PIB caíra 0,3% em 2009 e, por puro
efeito estatístico, aumentara 7,5% em 2010. O crescimento médio de 2009/10 foi
de 3,6%, o mesmo número medíocre que vimos obtendo nos últimos 20 anos;
2ª) O ministro não errou sozinho quando
sugeriu que o crescimento do terceiro sobre o segundo trimestre estaria entre
1,1% e 1,3%. Analistas financeiros no Brasil e no mundo, inclusive o "The
Economist" (por seu instituto), acreditavam na mesma coisa.
O resultado apurado pelo IBGE (sobre o qual
não paira qualquer dúvida de credibilidade) foi mesmo uma surpresa (0,6%). Isso
nos deixa com um problema. Se os inúmeros estímulos postos em prática
produzirem um crescimento de 0,8% do quarto sobre o terceiro trimestre, o PIB
de 2012 será da ordem de 1%, um crescimento "per capita" nulo.
O baixo crescimento tem pouca coisa a ver
com as políticas monetária, fiscal e cambial. Tem mais a ver com uma redução
dos investimentos gerada por uma desconfiança exagerada entre o setor privado e
o governo. Fez muito bem a presidente Dilma quando rejeitou a impertinente
sugestão da revista.
2 comentários:
Então, pode ser que o discurso da presidente, ensinando economia aos líderes da UE, foi uma vingança antecipada.
Ele pode ter-se esquecido de sugerir o ministro da Fazenda daqui, para assumir o Banco Central que ela sugeriu para atuar lá.
"O baixo crescimento tem pouca coisa a ver com as políticas monetária, fiscal e cambial. Tem mais a ver com uma redução dos investimentos gerada por uma desconfiança exagerada entre o setor privado e o governo."
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E essa desconfiança tem a ver com as políticas monetária, fiscal e cambial. E o Delfim Netto não é burro e sabe muito bem disso.
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