Elio Gaspari, esta semana, na FOLHA DE S. PAULO.
De Obama@org para Dilma@gov
COMPANHEIRA
DILMA,
Permita-me
esse tratamento, apesar de estar atravessada na minha memória aquele dia de
caça aos ovos de Páscoa nos jardins da Casa Branca em que a senhora veio aqui
me dar aula de economia. Resta-lhe o crédito das minhas filhas terem adorado
seu palácio, que o Ronald Reagan achou parecido com sede de empresa de seguros
do Texas.
Decidi
escrever-lhe porque há tempo suspeito que a senhora cometeu o mesmo erro que eu.
Dispondo de três nomes para o Ministério da Fazenda, nomeei os três. Pus o
Timothy Geithner no Tesouro, o Paul Volcker num conselho e o Larry Summers numa
assessoria.
(Imagine o que esse gênio de Harvard mandou pedir: um carro,
presença em eventos e convites para jogar golfe comigo.) Deu tudo errado.
Summers e Volcker foram-se embora e, se Deus me ajudar, troco o Geithner no ano
que vem.
Esses
jornalistas que sabem tudo dizem que eu quase capotei na curva por causa desse
erro. Não foi assim. O Geithner garantiu-me um norte: a busca obsessiva pela
confiança do empresariado. Sem isso, o país teria ido à breca. Sinceramente,
sua turma está espancando essa gente. Aí, como cá, o sujeito tem uma sala no
palácio e pensa que manda. Eu não sei o que a senhora quer fazer com as
concessionárias de energia e de portos, mas sei que conseguiram produzir uma
enorme confusão.
Lá
pelo final de 2009, durante a discussão da política nacional de saúde, caiu-me
a ficha. Meu problema não estava na economia, mas naquilo que vocês chamam de
Casa Civil. A máquina da Presidência simplesmente não funcionava. Livrei-me de
dois.
Sei
que a senhora não tem sorte nesse tipo de escolha. Agora sua chefe da Casa
Civil é candidata ao governo de um Estado. Essa é a receita da encrenca. Os êxitos
caem por gravidade no colo do presidente, mas os fracassos dão-lhe a impressão
que vão para a conta dos outros. É engano, companheira. Os fracassos grudam na
gente com mais força que os sucessos. Enquanto estamos no palácio, todos nos
dizem que isso não acontece.
Quando vamos para rua pedir votos, vemos o tamanho
do erro.
Redesenhe
seu palácio, fuja dessas salas de eventos, vá para a rua, siga seus instintos,
enquadre os ministros candidatos a governos. Sua tarefa é muito mais fácil que
a minha. Se aqui houvesse uma oposição como a que há aí, eu passaria metade do
meu tempo jogando basquete ou paparicando a Michelle. Antes que eu me esqueça,
não perca tempo com a "The Economist". Desde 1848, quando foi
fundada, ela ensina ao mundo que não há salvação fora da ortodoxia liberal. Que
ninguém me ouça: a Inglaterra provou esse remédio e cada dia se parece mais com
a Holanda.
Finalmente,
um palpite, sem qualquer vestígio de torcida: admita que seu rival em 2014 será
o juiz Barbosa. Quando eu lancei minha candidatura, o Vernon Jordan, respeitado
líder negro, apoiava minha rival. A certa altura trocou de posição a
explicou-se: "É duro disputar
contra um movimento".
Lula,
"o cara", representou um movimento.
Michelle,
Malya e Sasha mandam-lhe um abraço. Marian, minha sogra, de quem talvez a
senhora se lembre, acompanha-as, mas fala todo dia nesse juiz Barbosa.
Do
companheiro Barack.
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