terça-feira, 17 de março de 2020
domingo, 26 de junho de 2016
Barry Eichengreen: o Brasil sempre foi o país do futuro. E continua a ser!
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Um cenário pessimista.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Um mundo sem o dólar.
Barry Eichengreen, do The Washington Post - O Estado de S.Paulo, É PROFESSOR DE ECONOMIA NA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA.
O dólar não tem muita influência hoje em dia. A moeda perdeu 12% do valor ante divisas estrangeiras desde o período caótico após a quebra do Lehman Brothers em 2008, e quase 5% desde o fim de 2010.
Economistas estão debatendo o fim da era do dólar, enquanto organizações noticiosas o pintam como um "fracote de 44 quilos" (em referência a uma velha campanha publicitária de um método de musculação). Nossa chamada moeda "plana", respaldada somente pela fé extrema e o crédito do governo, já não provoca respeito. Então, seria melhor sem ela?
Imagine que você acorda amanhã e o dólar desapareceu. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) estava fora do negócio de fornecer dinheiro. Como você cuidaria dos seus assuntos?
A resposta óbvia é que a vida se tornaria um grande mercado de trocas. Seria como o mercado de agricultores local, exceto que em vez de uma fornecedora vendendo cenouras por dólares, ela teria de negociá-las em troca de cebolas na banca vizinha ou pela faca da cozinheira sem nenhum legume. O problema é o que os economistas chamam de "não coincidência de carências" - a vendedora de cenoura pode não querer cebolas, que poderão apodrecer antes de encontrar alguém que as queira.
Isso salienta a conveniência de uma moeda como um meio de troca e uma reserva de valor. Daí decorre que num mundo onde os Estados Unidos não tivessem mais uma moeda, haveria um incentivo para usar uma outra moeda.
Reparem em nossa história. As 13 colônias americanas da Grã-Bretanha foram proibidas de operar uma casa de moedas. Os colonos recorreram então à moeda de prata espanhola, que obtinham exportando peixe seco e óleo de baleia para as Índias Ocidentais. Se o dólar magicamente desaparecesse, os americanos novamente recorreriam ao uso de outras moedas. Quando Ron Paul diz "acabem com o Fed", ele presumivelmente não percebe que estaria dando uma franquia valiosa ao Bank of Canadá.
Realisticamente, nossas necessidades de moeda poderiam ser atendidas por outra grande economia, e o Canadá poderia ser um emissor de moeda demasiado pequeno. Mas os únicos outros candidatos potenciais - Europa e China - têm desvantagens. A Europa está atolada numa crise de dívida, enquanto a China limita o uso externo de sua moeda em parte para impedir que sua taxa de câmbio aumente.
Imagine em vez disso que não comecemos a usar dinheiro de um outro país. Imaginar quantas cenouras oferecer por uma cebola, quantas cebolas oferecer por uma batata e quantas batatas oferecer por uma faca seria complicado sem uma vara de medir comum. Na Virgínia colonial, o tabaco serviu inicialmente para esse fim. O passo seguinte foi acertar transações usando não tabaco de verdade, mas recibos de armazém por tabaco armazenado. Isso era mais conveniente, mas também mais arriscado. Os operadores do armazém tinham um incentivo para emitir mais recibos - para si mesmos, é claro - do que a quantidade armazenada de tabaco.
Decorre daí que num mundo sem dólares o direito de emitir notas teria de ser limitado a um conjunto de entidades reguladoras - chamem-nas bancos. Foi assim que a moeda entrou em circulação antes da Guerra Civil. Bancos imprimiam e emprestavam notas de banco estampadas. Legislativos estaduais requeriam que eles retivessem ouro ou papéis suficientes em valor para resgatar suas notas.
O problema foi que nem todos os Estados aplicaram seus regulamentos. Alguns permitiram que bancos lançassem bônus de governo e ferrovias em seus livros como valores plenos quando variam somente centavos de dólar. Assim, nem todas as notas bancárias são criadas iguais. Era de extrema importância quem as havia emitido. Sentindo a necessidade, coletores especializados em inteligência financeira entravam em cena, publicando boletins conhecidos como "relatórios de notas" que listavam os preços com que diferentes notas bancárias eram negociados, refletindo a boa ou a má reputação do emissor.
Um analogia do século 21 seria nossa agricultora local escaneando cada nota bancária com um smartphone para ver exatamente quantas cenouras ela via antes de aceitá-la como pagamento. Factível, quem sabe, mas isso certamente retardaria o processo de pagamento.
Em geral, é tentador imaginar a tecnologia preenchendo esse vazio. Num mundo sem dólares, cada companhia de internet construiria uma plataforma para transações, com uma moeda eletrônica em que os preços seriam expressos, pagamentos feitos e recibos acumulados. Não é demais imaginar os créditos do Facebook hoje usados para comprar itens em jogos evoluindo para uma moeda eletrônica de uso mais amplo. Embora já tenham havido tentativas de criar uma verdadeira moeda eletrônica, como a Bitcoin, essas tiveram dificuldade de decolar. Não é difícil perceber por quê. Se é possível imaginar uma moeda eletrônica privada, então é possível imagina várias, e não haveria nenhuma garantia de que outras pessoas aceitariam o particular dinheiro eletrônico que você usa.
Ademais, esses sistemas de pagamentos seriam tão confiáveis como os servidores e software das companhias individuais, o que seria impossível de o usuário final julgar. Além disso, nada garantiria que o dinheiro eletrônico que você acumula conservaria o valor, e nada impediria os operadores da plataforma de emitirem mais, em primeira instância para si mesmos. Se as pessoas temessem que o dinheiro eletrônico estava perdendo valor, elas correriam para convertê-lo em mercadorias.
É por isso que temos o Fed. Ele regula o suprimento de dinheiro e sustenta o sistema de pagamento, proporcionando a liquidez necessária em tempos turbulentos como os que se seguiram à quebra do Lehman Brothers. Ele inspeciona bancos e obras com a Federal Deposit Insurance Corporation que oferece seguro de depósitos para aumentar a confiança e impedir corridas aos bancos. Os críticos do dólar estão tendo um dia cheio. Mas quando pensarem nos acordos monetários correntes, estou inclinado a parafrasear o que Winston Churchill disse sobre democracia: "O nosso é o pior sistema possível, exceto por todos os outros".
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
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