segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Lições de Economista - 13.08.2012
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
A "Copomização" do debate do sistema bancário.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A lei inédita de Lavoisier.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Know before you owe.
Roberto Luis Troster, é doutor em economia pela USP, foi economista-chefe da Febraban e da ABBC e professor da PUC-SP, USP e Mackenzie. Escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO sobre uma melhor análise do mercado consumidor americano quanto do brasileiro, buscando maior proteção ao consumidor financeiro.
Nos EUA, autarquia dará proteção ao consumidor de produtos financeiros.
"Saber antes de dever" é uma tradução livre do lema do Consumer Financial Protection Bureau, (CFPB) uma agência de proteção ao consumidor financeiro que começa a funcionar hoje, 21 de julho de 2011, nos Estados Unidos. Sua criação foi catalisada pela crise bancária de 2008 e objetiva assegurar uma oferta de crédito mais conscenciosa e competitiva no mercado americano.Entendeu-se que uma das causas dos problemas lá foi a concessão de empréstimos predatórios. Por um lado, deterioraram a qualidade de todos os títulos e derivativos que os usavam como lastro no sistema financeiro - uma construção com alicerces frágeis rui; e, por outro, o impacto na economia, especialmente nas famílias que tiveram seus imóveis retomados, foi desastroso.
O novo órgão vai centralizar as atividades que estavam dispersas em outras organizações. Será uma autarquia independente com poderes para regulamentar e punir, incluindo multar e anular contratos, e terá como foco principal informações em boas práticas a todas as partes envolvidas. Sua agenda é ambiciosa: eficiência na concessão de financiamentos, concorrência do sistema, transparência e proteção ao consumidor de produtos financeiros. Com uma ação mais focada, evitar-se-ão parte considerável de estragos onde poucos agentes inescrupulosos deterioram a qualidade das carteiras e a imagem do sistema.
Trabalhará para reduzir os custos de observância (compliance) e de operação no sistema financeiro, garantindo uma operação mais enxuta. Um objetivo é eliminar as regulamentações obsoletas e inúteis e simplificar as desnecessariamente redundantes e complexas. Uma ação parecida ao que outras agências fazem com vigilância sanitária, medicamentos e educação.
Outro foco é o fortalecimento de bancos pequenos e médios. Seu número tem declinado nos últimos anos, em parte por conta de uma estrutura que exige deles uma legião de advogados, contadores e consultores para operar e de outras dificuldades comparativamente maiores. O que se busca é mais competitividade no setor, em que instituições menores operem em igualdade de condições com as grandes em nichos específicos, oferecendo mais alternativas aos consumidores.
A questão a ser analisada, neste artigo, é se é oportuno a criação de uma instituição em moldes parecidos no Brasil, uma Associação de Proteção ao Consumidor Financeiro (APCF). Obviamente, aqui não houve uma crise como os Estados Unidos, todavia há paralelos entre os dois países que merecem uma análise. Há alguns sinais de alerta, como as estatísticas da Fecomércio sobre o endividamento das famílias ou a reportagem do "Financial Times" sobre uma possível bolha de crédito no Brasil. Ter problemas não convêm.
Alguns dos sintomas brasileiros chamam a atenção. Apenas em 2011, os atrasos superiores a quinze dias aumentaram 1,7% alcançando 12,7% mais que o dobro da inadimplência média em outros países - R$ 1,00 em cada R$ 8,00 em dívida bancária de pessoas físicas está em atraso; valores que não podem ser explicados apenas por falta de educação financeira ou o desemprego que está num patamar histórico baixo. É inconcebível o nível de morosidade considerando o quadro macroeconômico de bonança que se está vivendo.
Empresas também têm dificuldades. Os índices de descumprimentos de contratos estão altos e a maior causa de mortalidade de empresas é a financeira. Parte é explicada por aumentos intempestivos de taxas ou de reduções abruptas de limites e outras distorções; o restante pode ser atribuído ao custo do crédito, o segundo mais alto do mundo, inferior apenas ao do Zimbabwe.
Há algumas taxas exageradas, como o cheque especial com uma média de 185,4% ao ano e algumas faturas de cartão de crédito com juros superiores a 400% ao ano. Desde dezembro de 2002, quando as margens (spreads) estavam altas em razão da crise, até as últimas informações disponíveis, a conta garantida, o crédito pessoal sem o consignado, e o cheque especial subiram, esta último 31,7%.
Aqui a defesa do consumidor financeiro está dispersa entre os Procons, da ouvidoria dos próprios bancos e do Banco Central do Brasil - vale destacar que sua missão é "assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente", portanto não incluí explicitamente a proteção ao tomador de crédito. O sistema ampara quem faz investimentos com certificação obrigatória, entretanto, o tomador não tem algo parecido, ainda. Poder-se-ia concentrar tudo num único órgão com vantagens a serem ponderadas.
Há também espaço para aprimoramentos nas condições concorrenciais do mercado financeiro. Os números mostram que as cinco maiores instituições têm 65% do patrimônio líquido e 75% do lucro do sistema, enquanto que as mil e oitocentas restantes têm 35% do patrimônio e 25% do lucro apenas. As medidas macroprudenciais recentes afetaram mais as pequenas que as grandes, prejudicando a competitividade.
Nos últimos anos observou-se um crescimento do crédito elevado mas um desenvolvimento baixo. O acesso ao sistema financeiro é amplo, entretanto seu uso está bem aquém do potencial. Falta bom senso em algumas práticas. Comparações internacionais mostram uma relação crédito/PIB acanhada e que a proteção ao consumidor financeiro pode e deve ser aperfeiçoada.
A hora é boa para mudanças. O debate está na ordem do dia: a regulamentação do cadastro positivo está sendo elaborada e ajustes do Código de Defesa do Consumidor, CDC, estão sendo propostos. Há espaços para aprimoramentos e para avançar ainda mais com a criação de uma autarquia aqui, nos moldes da americana, uma APCF. Dessa forma obter-se-á um equilíbrio mais saudável entre as partes e a diminuição das distorções. Propiciaria uma oferta de crédito mais sólida e com isso, mais inclusão, lucros mais sólidos e legítimos de todos os bancos e um crescimento com menos sobressaltos para o país.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Triângulo de incertezas.
O tripé-base da política macroeconômica desde 1999 objetiva um círculo virtuoso entre seus instrumentos.
Os superavit fiscais comprimem os juros e permitem um câmbio mais depreciado, o que impulsiona o crescimento e a arrecadação tributária, sem pressionar a inflação, facilitando o desempenho orçamentário e criando condições para o desenvolvimento.
O ponto é que está havendo uma perda de virtuosidade e os três pilares, em vez de se reforçarem, estão enfraquecendo uns aos outros e drenando cada vez mais recursos para se sustentarem.
A dinâmica financeira está aos poucos asfixiando o setor produtivo e limitando o crescimento do país. O tripé está transformando-se num triângulo de incertezas.
A política de aumentar as reservas internacionais é duplamente perversa; por um lado, à medida que aumenta o estoque de dólares, ao contrário dos anúncios, o preço da moeda norte-americana cai mais, prejudicando a indústria brasileira; por outro, é financiada com títulos públicos, gerando uma despesa líquida de dezenas de bilhões de reais ao ano.
A política monetária é míope. A protelação do aperto monetário (com debates sobre juro neutro, minimização do risco inflacionário e medidas macroprudenciais, que confundem apertos de liquidez com instrumentos monetários) já se reflete em um aumento da taxa para rolar a dívida pública, elevando o custo do ajuste.
Em política fiscal, o desempenho pode melhorar com mais transparência e eficiência. Um exemplo: foca-se demais o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que demanda recursos vultosos e tem um efeito limitado no crescimento, em detrimento de outras ações.
Poder-se-ia criar o PAI (Programa de Adequação Institucional); medidas para facilitar a vida dos que produzem (leia-se: simplificar a burocracia brasileira, literalmente a pior do mundo de acordo com o Fórum Econômico Mundial).
Isso teria impactos positivos no investimento e na produção; além disso, seu custo é ínfimo.
A reversão dessa dinâmica é imperativa. Há sinais de alerta nos indicadores: as projeções de crescimento estão caindo, a inflação está mais forte, há mais pressão fiscal, os juros e a inadimplência estão aumentando, há perda de competitividade da indústria nacional e a necessidade de cortes de gastos está maior a cada dia. Não é um quadro que alarma, mas exige mudanças.
O Brasil tem um potencial formidável, sua condução econômica é determinada e tem realizado ações positivas, entretanto, está preso a uma concepção anacrônica da economia. Ajustes são mandatórios.
Em política monetária, a prescrição é clara: contundência no curto prazo e atuação para baixar a taxa neutra no médio prazo, o triplo da observada em outros países com dinâmica macroeconômica similar. É imperativo eliminar distorções, como ter quase metade do crédito imune às variações da Selic, ativos pós-fixados, compulsórios draconianos e tributação do crédito.
Uma política fiscal mais racional é premente. No câmbio, deve-se aumentar a demanda interna por divisas, liberando contas em moeda estrangeira, abandonar a política de comprar dólares, que é comprovadamente perversa, minorar os efeitos da valorização com a criação do PAI e fazer adaptações para melhorar a qualidade dos recursos que entram no país.
Concluindo, políticas cambial, fiscal e monetária adequadas são apenas meios para criar condições para o desenvolvimento do país.
As distorções apontadas podem e devem ser corrigidas para sair do triângulo, voltar ao tripé e fazer o Brasil acontecer.
ROBERTO LUIS TROSTER é doutor em economia pela USP. Foi economista-chefe da Febraban, da ABBC e do Banco Itamarati e professor da USP, da PUC-SP e da Universidade Mackenzie.
domingo, 30 de maio de 2010
CARTA AOS PRESIDENCIÁVEIS - TROSTER
Conheci Roberto Luis Troster em São Paulo, quando o mesmo era o economista-chefe da FEBRABAN. Trata-se de profissional de extrema competência e que publicou no VALOR de 25/05/10, que recebi através do professor Carlos Pio, carta aberta aos atuais candidatos à Presidência. Pela inteligência, questionamentos, inquietações e didática da mesma, tenho que publicá-lo no meu blog. Além do que, como estive ausente deste espaço por alguns dias, o texto resume também o que pensamos neste ano tão importante para o BRASIL.
Prezados Dilma, Marina e José. Saudações!
É oportuno que se conheça o perfil das pessoas que ajudarão a fazer com que o Brasil ocupe o destino que ambiciona.
Os três têm credenciais para ocupar o cargo que postulam, vontade de fazer acontecer e aparentam consenso sobre as linhas mestras da condução econômica: câmbio flexível, responsabilidade fiscal e o regime de metas de inflação. Entretanto, os pormenores de suas propostas são desconhecidos, gerando incertezas desnecessárias.
Escrevo para pedir-lhes que atenuem as inseguranças que pairam sobre o que esperar. Com mais clareza, o sistema financeiro nacional poderá canalizar mais recursos para o desenvolvimento a que se propõe. Apesar de ser sólido, ter abrangência nacional e competitividade internacional, ele depende de alguns quesitos para funcionar bem e tem alguns entraves que deverão ser removidos na próxima presidência. Nesse sentido, é oportuno o detalhamento solicitado. Dez pontos precisam ser esclarecidos: a) o regime de metas, b) a margem financeira, c) a inclusão bancária, d) o crédito estatal, e) o quadro institucional, f) o câmbio, g) o tratamento ao capital estrangeiro, h) a tributação no mercado financeiro, i) a gestão fiscal e a j) a equipe econômica.
O regime de metas de inflação cumpre um papel importante estabilizando preços e coordenando expectativas. Apesar de alguns senões sobre a sintonia fina, é uma unanimidade que tem sido bem aplicado no Brasil. Será mantido como está ou haverá mudanças? Em caso afirmativo, quais? A composição do Copom continuará sendo apenas a diretoria do Banco Central (BC)? A meta de 4,5% será mantida, aumentada ou diminuída? Será fixada uma meta de longo prazo? Enfim, qual é a proposta?
A margem financeira (spread) do Brasil é uma das mais altas do mundo com consequências perversas no desenvolvimento do país. Apesar dos discursos, neste governo, ela aumentou para a pessoa jurídica e para a pessoa física só diminuiu nas modalidades de aquisição de bens e crédito pessoal. Há distorções que podem e devem ser corrigidas. Algo tem que ser feito, pois margens tão elevadas tornam inviável uma expansão sustentável do crédito. O endividamento das pessoas e empresas não pode crescer indefinidamente a taxas superiores a sua capacidade de pagamento. Serão adotadas medidas para reduzir a margem? Em caso afirmativo, quais?
A inclusão financeira promove a inserção econômica e social, a formalidade e a cidadania. Duas condições são necessárias para isso: o acesso e a utilização de produtos e serviços bancários. Enquanto o acesso é abrangente, sua utilização é baixa e incompatível com a sofisticação do sistema. Há propostas para aumentar a inclusão das classes de rendas mais baixas? Quais são?
O crédito estatal cumpriu um papel na superação da crise, todavia, a experiência mostra que é um bom remédio a curto prazo mas, em doses exageradas e quando aplicado por muito tempo, traz mais malefícios que benefícios. Qual será o papel dos bancos públicos em seu governo? Fala-se numa fusão da Caixa com o Banco do Brasil? Ou dos bancos de desenvolvimento, BNDES, BASA e BNB? A participação do crédito estatal no total do crédito deve manter-se no atual patamar? Subirá? Será reduzida? Qual será a orientação a ser dada aos bancos públicos?
O quadro institucional do mercado financeiro tem quase meio século e é obsoleto, com superposição de atribuições entre órgãos reguladores e supervisores. Há intenção de modernizá-lo? Será dada independência formal ao Banco Central? À semelhança de outros países, será criada uma agência para a proteção do pequeno tomador? Haverá uma fusão de instituições reguladoras? Haverá um novo desenho funcional para o setor?
O tratamento dado ao câmbio é fundamental para uma economia sólida, mesmo com o compromisso de flutuação livre, há algumas definições em aberto. Haverá alguma política para amortizar a volatilidade? Permitir-se-á uma convertibilidade maior? Contas em divisas dentro do país serão autorizadas?
O capital estrangeiro é importante para financiar o déficit em contas correntes, aumentar o investimento interno, trazer novas tecnologias e abrir novos mercados no exterior. Tem também um componente com distorções nos movimentos especulativos. Pode-se esperar continuidade no tratamento? Ou haverá mudanças? Em caso afirmativo, quais?
A tributação no mercado financeiro é uma colcha de retalhos, fruto de medidas emergenciais ao longo de décadas. Apresenta defeitos como incidir mais no pequeno tomador de crédito que no grande e distorcer preços de ativos. Haverá alguma correção? Uma nova estrutura de impostos para o setor está sendo elaborada?
O comprometimento com a responsabilidade fiscal é consenso entre os três, entretanto, como cada um dos candidatos pretende definir responsabilidade fiscal é a questão. Qual será a meta de superávit primário? Será criada a meta de déficit nominal zero? Pode-se esperar uma redução de gastos do governo? De quanto e aonde? O uso de outras fontes de financiamento, como as PPP, para investimentos em infra-estrutura será utilizado? Haverá mais transparência fiscal?
A última interrogação é a composição da equipe econômica que cada candidato a presidente coordenará. É oportuno conhecer o perfil das pessoas que ajudarão a fazer com que o Brasil ocupe o destino que ambiciona. Há alguns nomes já?
É fato, há questões mais importantes num programa de governo, tais como educação, a saúde e a qualidade de vida. Todavia, as solicitações acima são mais urgentes. O sistema financeiro é uma ponte entre o presente e o futuro, e quanto mais transparentes forem os horizontes, mais incentivos terá para direcionar investimentos. O novo governo começa só no ano que vem, entretanto, sua construção já está em andamento.
Finalizando, espero que o (a) melhor para o Brasil vença as eleições e faça acontecer. Agradeço seus posicionamentos e desejo um bom dia aos três.
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