segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Lições de Economista - 13.08.2012


Roberto Luis Troster, doutor em economia pela USP, é consultor. Foi economista-chefe da Febraban e professor da PUC-SP, Mackenzie e USP e escreveu este artigo na FOLHA DE S. PAULO de hoje.  

Os economistas estão em dívida com o país. A categoria tem de insistir em reformas trabalhista e tributária, contra crescimento baseado em mais gasto público.

A origem do nome da profissão vem da Grécia Antiga. O desafio do profissional da área é saber combinar princípios científicos, uma leitura crítica da realidade e conhecimentos de outras disciplinas para gerir, planejar, prescrever, prever e explicar, procurando soluções adequadas para a sociedade.

No Brasil, alguns economistas já passaram à imortalidade, como Celso Furtado e Mario Henrique Simonsen. Outros ainda nos agradam como analistas, professores, estrategistas e gestores de empresas, de cidades e de países. Dois destaques especiais: a presidente, que é economista, e Roberto Macedo, merecidamente eleito economista do ano.

Bons economistas contribuem para que alguns países tenham desempenho melhor do que outros, com mais crescimento, menos inflação e distribuição de renda mais justa.

Nesse quesito, a categoria está em dívida com a sociedade brasileira.

Ela tem o dever de fazer o Brasil, que é um país rico, um país próspero. A diferença é fundamental.

Ilustrando o conceito: um país fica rico se descobre uma jazida de ouro. A cada ano que passa, extrai o metal, e esse será o seu produto. No dia em que a mina se exaurir, acabará a sua riqueza aurífera. Se tiver consumido todo o produto, entrará em crise. Mas se tiver usado parte para investir, vai ser tornar próspero e continuar crescendo. Essa é a questão chave no Brasil de hoje.

Até agora, os resultados nesse sentido são pífios.

Nossa história econômica é de ciclos, fases de ilusão, como a borracha e o café, seguidas de decepções. O crescimento é obtido consumindo a abastança, aumentando gastos públicos correntes até que o endividamento irresponsável se esgota.

A única parcela da riqueza que perdura é a que foi transformada em prosperidade. O Brasil é rico, descobriu o pré-sal, tem jazidas de minérios abundantes, o preço das suas exportações está em alta, a sua pirâmide demográfica é conveniente e o ambiente externo lhe é favorável, com taxa de juros baixas e investimentos diretos volumosos.

Todavia, as projeções de crescimento são baixas, o Brasil é lanterna na América Latina. Não se justifica, é possível mudar. A agenda para fazer o país próspero é extensa e complexa, mas viável. Inclui avanços na educação, reformas tributária, trabalhista, do Judiciário e administrativa e a inclusão de marginalizados. Exige adequações urgentes em dois itens fundamentais: na oferta de crédito e no papel do Estado.

A intermediação financeira brasileira é sofisticada e tem potencial de ser propulsora do crescimento, mas está se tornando uma trava em razão de distorções existentes. É imperativo soltar o freio de mão com uma nova arquitetura que promova o crédito responsável, a inclusão financeira e o investimento.

Fatores como globalização, tecnologia, Google, abertura comercial e financeira, formação de cadeias produtivas mundiais e interconectividade decretaram a obsolescência da nossa gestão pública. Urge mudar a política reacionária do governo.

As soluções para tornar este rico país próspero exigem imaginação, suor, cidadania, perseverança e pressa de todos os brasileiros. A importância dos economistas é fundamental, propondo a direção a ser seguida para concretizar a tarefa.

Nesse sentido, a pergunta que não pode calar hoje, dia do economista, é se o Brasil que temos é o Brasil que queremos. Se a resposta é não, mãos à obra, temos que mostrar serviço.

Hoje, parabéns a todos os colegas.

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