No UOL de 09.08.2012, o ex-presidente do Banco Central
Armínio Fraga, 55, afirma sobre a economia brasileira que a desaceleração é
natural, resultado da grande expansão do crédito e dos gastos do governo no
passado recente.
Folha - O corte do juro trouxe um cenário de menor
rendimento das aplicações. O que pode esperar o investidor?
Armínio Fraga - O Brasil tinha uma aberração. Ter
juros reais de 6% ou mais sem risco não é normal. É claro que a transição é
traumática. Uma pessoa que poupou para a aposentadoria e estava na expectativa
de ganhar 6% ao ano agora vai ganhar 3%. Faz diferença, é uma situação
dramática. Mas a compensação é um potencial de crescimento econômico e de
investimento maior.
O que sugere ao investidor tradicional da poupança?
O investidor vai ter que ajustar o seu padrão [para um
rendimento menor]. As pessoas vão ter que se reeducar e olhar outros ativos:
pensar em comprar a casa própria, pensar em investir na Bolsa, vão ter que
aprender a olhar melhor seus investimentos.
O país pode crescer 4% em
2013, como prevê o mercado?
Tivemos dois anos de
crescimento bem baixo e, por isso, há espaço para alguma recuperação.
Minha expectativa é que o investimento cresça nos próximos trimestres, puxado
pelo setor privado. O investimento público está limitado pelo orçamento. Há
setores com capacidade ociosa, eles não vão investir, mas não quer dizer que os
outros não possam.
Isso pode contribuir para o PIB de 2012?
Para este ano, está mais difícil. Mas, se melhorar um
pouquinho no segundo semestre, já traz algum alívio.
Por que nossa economia
está parada há um ano?
É a combinação da crise
global, que nos pegou, com uma recessão interna normal. Essas coisas
aconteceram ao mesmo tempo. O Brasil não está
com um problema fatal, que só cresce 2% para sempre. Vai voltar a crescer mais.
Mas não está preparado para crescer 5%, 6% ainda. O BC corta os juros
desde agosto do ano passado mas a atividade não parece reagir. Se não tivesse
cortado, a situação estaria bem pior. Mas [a economia] deve reagir, posto que a
componente interna da desaceleração pode estar chegando ao fim com a ajuda dos
juros mais baixos e da taxa de câmbio mais alta.
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