Há visíveis discordâncias entre os economistas sobre como superar os problemas deixados pela crise de 2007-09.
Ela desempregou, no plano da economia real, aproximadamente 30 milhões de cidadãos, desarticulou ainda mais a precária condição fiscal de um grande número de países, acentuou os imensos desequilíbrios (positivos e negativos) no balanço em conta-corrente de alguns deles e introduziu sérias dúvidas sobre a continuidade do uso do dólar como unidade de conta internacional. Essa confusão não é o fim, mas o começo de um novo conhecimento econômico.
É evidente que o conhecimento só avança quando é contestado pela realidade: a ciência progride sobre suas falhas. O estado de dúvida ampla, geral e irrestrita deve levar à modéstia nas recomendações "normativas" frequentemente extraídas de modelos elegantes, mas de discutível vinculação com a realidade.
Abre-se um vasto campo de conhecimento a ser retrabalhado e explorado.
Não devemos desanimar ou nos enganar com essa visão quase niilista da economia. O conhecimento acumulado nos últimos 200 anos é rico de ensinamentos para a boa governança dos Estados.
O fracasso do "mainstream" da macroeconomia não é o fracasso da economia, mas apenas o de uma de suas "escolas". E, mais importante, não é licença para amadorísticas aventuras experimentais.
Paradoxalmente, nunca foi tão importante como agora conservar o que sobrou da boa e velha lição que fez o sucesso do Estado indutor constitucionalmente controlado:
1º) Realizar uma política fiscal com olhos no longo prazo, com moderados deficits nominais, boa qualidade no financiamento da dívida e controle da relação dívida pública/PIB;
2º) Economizar nos gastos do governo para abrir espaço ao seu investimento;
3º) Suprir com eficiência os bens públicos que o mercado não pode produzir;
4º) Realizar uma política monetária que garanta a estabilidade do valor da moeda e do sistema financeiro e que, com o conforto da política fiscal, leve a taxa de juros real interna a igualar-se à externa;
5º) Criar os incentivos corretos para estimular os agentes econômicos;
6º) Dar liberdade bem regulada aos mercados;
7º) Não tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
Mesmo com uma boa lição de casa, a política econômica exige arte para calibrar os instrumentos disponíveis (por exemplo, as políticas fiscal e monetária), para atingir os objetivos: uma inflação parecida com a do resto do mundo e o pleno uso dos capitais humano e físico. Por uma boa razão: as políticas fiscal e monetária não são independentes.
A "arte" é juntar pragmatismo, pertinácia e paciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário