Eduardo Campos, no VALOR ECONÔMICO de hoje, pergunta: Quem tem medo do calote dos EUA?
A semana começou com um clássico movimento de saída de risco. Bolsas e commodities caíram, enquanto o dólar apontou para cima.
A justificativa para tal movimento não é nova. O tema é o endividamento soberano, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. E o problema nos dois lados do Atlântico parece ser um só, a falta de liderança na solução dos problemas.
Nos EUA, segue o embate entre Republicanos e Democratas sobre a elevação do teto do endividamento federal. Os EUA precisam gastar mais que os atuais US$ 14,3 trilhões e precisam de autorização para isso.
O que mais se ouve sobre o assunto é que a birra política será levada até o último momento, mas que no fim das contas o governo receberá autorização e os EUA não entrarão em um impensável default.
Apenas uma ou outra análise chama atenção para a "loucura" de parte dos Republicanos, que impediriam o aumento do teto só para ver o circo pegar fogo.
Mas mais do que discurso, sinais do próprio mercado mostram que um calote dos EUA é um evento considerado possível, mas tido como pouco provável.
O seguro da dívida de curto prazo (CDS - Credit Default Swap de um ano) segue na linha dos 49 pontos (o que é alto, mas não explosivo). E mesmo na iminência de um default, a demanda pelos papéis americanos segue firme. Sinal claro disso é a taxa de retorno do papel de 10 anos, que voltou a cair para baixo dos 3%.
Quem em sã consciência compraria os papéis de um governo que está para dar o calote, ainda mais a taxas decrescentes? O mesmo tipo de questionamento vale para o dólar, que ontem voltou a ganhar de seus principais rivais.
Nem medidas correlatas captam esse risco de calote dos EUA.
Vamos a um exemplo doméstico. O Brasil, que fechou maio (dado mais recente) com estoque de US$ 211 bilhões em dívida americana, quinto maior financiador mundial, não vê uma disparada de seu risco.
O economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, tem interessante abordagem sobre o tema: é impossível um país dar calote na própria moeda. Basta ligar a máquina e imprimir dólares. Os EUA sempre fizeram isso. A situação é mais simples ainda, pois há gente disposta a financiar os americanos.
Por isso, o economista discorda um pouco das abordagens que vêm sendo dadas ao problema. Para Perfeito, esse aceno de default vai além dos embates políticos domésticos.
Essa ameaça de calote seria um jogo de cena. Mais uma jogada para tentar se fazer o que não se conseguiu com a política do dólar fraco.
O economista lembra que, desde o início da crise, os EUA jogaram a taxa de juros a zero para conseguir, entre outras coisas, que o dólar se desvalorizasse. O objetivo era compensar o baixo crescimento doméstico via demanda externa.
Não por acaso os EUA pressionaram a China por maior liberdade cambial. Tudo no âmbito da tal "Guerra Cambial". Mas os americanos não conseguiram um naco da demanda chinesa. Os dirigentes chineses foram irredutíveis e, para despistar, adotaram uma banda de oscilação que pouco mudou o preço do yuan.
Para Perfeito, o que os EUA querem é ajuda para crescer. "Os EUA estão começando a apertar o resto do mundo para fazer à força o que era para ser feito via diferencial de juros", diz o economista.
No mercado local, o dólar começou a semana em alta, mas terminou a jornada longe das máximas do dia.
Depois de subir a R$ 1,585, o dólar comercial terminou o dia com alta de 0,12%, a R$ 1,579 na venda.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para agosto apontava queda de 0,06%, também a R$ 1,579, antes do ajuste final. O contrato fez máxima a R$ 1,5895, mas no fim da tarde devolveu os ganhos junto com uma melhora de sentimento que tirou força do dólar, reverteu o movimento de baixa na taxa dos títulos americanos e zerou as perdas do euro. Ainda se procura explicação crível, racional e bem fundamentada para isso.
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