Gustavo Franco, hoje
no ESTADÃO. A conferir:
É claro que dá para
mexer em ambas as coisas (crescimento e inflação) independentemente. Se
houvesse uma relação linear entre crescimento e inflação, precisaríamos de 25
anos de recessão para ter reduzido a inflação de 6.000% para 2% no período de
1994 até 1998. Não tem relação entre uma coisa e outra. E nem necessariamente
as políticas ortodoxas são de sacrifício que implicam em dor e sofrimento para
a economia. É uma pequena armadilha retórica de que os ortodoxos são contra o
crescimento. Todos são pró desenvolvimento. A questão é a receita. Escolher
entre estabilidade e crescimento é um falso problema. É conversa de quem não
entende de economia.
Tudo depende do que
seja determinante para o crescimento. Se o determinante é a sustentabilidade
fiscal do Estado, políticas heterodoxas de aumento do gasto público tendem a
reduzir o crescimento. E é curioso porque foi exatamente isso que ocorreu nos
últimos anos. No governo Dilma, as condições fiscais pioraram e o crescimento
caiu. Houve uma deterioração na confiança empresarial em relação ao equilíbrio
das contas públicas. A conclusão é que a receita supostamente
desenvolvimentista heterodoxa foi um fracasso.
O Brasil precisa
retomar as reformas que parou, precisa ter políticas macroeconômicas
responsáveis, e ter uma agenda de ações para retomar a confiança do setor
privado e aumentar o investimento privado. Ainda que isso possa fazer parte da
retórica governamental, as ações não vão nessa direção. Há percepção de
intervencionismo crescente e de aversão a privatizações, concessões e
investimento quando o setor privado tem o controle do processo. Todas essas
posturas são negativas para o crescimento. O crescimento é provocado pelo
investimento. No Brasil, as pessoas relutam em acreditar numa coisa muito
simples: investimento é acumulação de capital. Portanto, as políticas tem que
ser amistosas ao capital. Se o governo é hostil ao capital, não vai ter investimento,
nem crescimento. É simples assim.
Para termos um
crescimento acelerado, digno de pertencer aos BRICS, precisamos de taxas de
investimento bem maiores. O crescimento amparado apenas pelo consumo, como tem
sido nos últimos tempos, é de fôlego curto. Esse crescimento se exauri a medida
que as famílias vão ficando mais endividados - o que também é perceptível nos
últimos tempos. O crescimento com base no consumo vem perdendo força nos
últimos tempos. E o investimento não vem crescendo, vem caindo há vários
trimestres seguidos. Tecnicamente temos uma recessão no investimento. . Já
temos vários trimestres de crescimento negativo do investimento. É um sinal de
que o setor empresarial está insatisfeito com o governo, e isso não é algo que
você vai capturar com os empresários. Hoje ninguém fala essas coisas porque o
governo é dado a represálias. Por outro lado, as ações falam por si. O
investimento é a melhor e mais simples manifestação de bom humor do mundo
empresarial. E esse pessoal não está satisfeito com o que está vendo.
A inflação tem sido
muito mais camarada do que eu esperaria dados os fundamentos fiscais da
economia. Existe certa rigidez nominal dos preços, que tem impedido a inflação
de ser maior. O melhor instrumento para combater a inflação é a política
fiscal. A redução no gasto público substituiria a elevação dos juros com
vantagem. Seria melhor para a economia que houvesse uma percepção de maior
responsabilidade fiscal, quase que uma mudança de regime em direção a uma
política fiscal sadia, ao invés de uma política anticíclica, keynesiana, e
todos esses nomes que o governo inventou para a gastança. Se isso não ocorrer,
teremos uma solução de qualidade inferior que vai ser a subida dos juros. Já
deveríamos ter aprendido a lição de que é muito melhor combater a inflação
atacando sua causa, que é a política fiscal, do que tentar comprimi-la via
política monetária, que cria efeitos colaterais maiores e piores.
A intensidade do
aperto monetário necessário hoje tem a ver com a dosagem. Não tenho como responder
a esse pergunta com precisão. As autoridades - com razão - não querem retomar
aos patamares de juros do passado, mas também não querem os patamares de
inflação do passado. O problema é que não vai dar jogo com essa política
fiscal.
Ao jogar a responsabilidade
para o Banco Central e achar que a política fiscal não muda, estamos jogando
fora o bebê junto com a água do banho. Deveríamos nos concentrar na política
fiscal e não no que o BC vai fazer. O problema está no ministério da Fazenda,
na Presidência da República. É aí que a inflação está sendo criada.
O aperto fiscal é o
que vai tornar sustentável a taxa de juros baixa. É que vai fazer as pessoas
acreditarem que as contas do governo fecham. Hoje só alguém muito sonhador e
chapa branca acredita que o aumento do gasto público tem um impacto relevante
sobre o investimento. Não tem porque o dinheiro do governo é pouco. É muito
mais importante o setor privado crescer de forma sadia do que o setor público
investir diretamente, o que, aliás, não consegue porque não tem capacidade
administrativa.
O governo tem que
deixar o investimento não do setor privado convictamente. Quando o governo faz
coisas em acredita, tudo funciona melhor. Quando não acredita, faz mal feito e
pela metade. E talvez esse seja um drama do qual a não conseguimos sair. É
preciso fazer políticas amistosas para o capital, e, se o governo não consegue
fazer por uma questão de fígado, então nunca vai dar certo. Não vamos ter
crescimento nessa administração. Será preciso eleger um governo mais amistoso
ao capital para ter acumulação de capital e investimento no Brasil."
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