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domingo, 31 de julho de 2011

EUA perdem o AAA na política.

Clovis Rossi, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre o drama que passa a economia americana e, pela grandiosidade, a mundial.

O presidente Barack Obama, em seu enésimo apelo ao bom-senso, lembrou na sexta-feira que os Estados Unidos correm o risco de perder, pela primeira vez na história, o melhor "rating" não porque não tenham a capacidade de pagar as contas, "mas porque não temos um sistema político AAA que corresponda ao nosso rating de crédito AAA".

É inacreditável, mas é isso mesmo. A dívida norte-americana é de fato colossal, na altura de US$ 14,3 trilhões, o que corresponde, grosso modo, a sete vezes o que o Brasil produz por ano de bens e serviços.

Mas, enquanto o mundo estiver disposto a financiá-la -e continua disposto- não haveria risco de "default", mesmo que parcial, e, por extensão, não haveria risco de degradação da nota de crédito da maior economia do mundo, única superpotência remanescente -fatores que tornam a situação alucinante.

Ao assumir que o sistema político norte-americano não merece nota 10, Obama está concordando explicitamente com a análise recorrente a respeito da crise, análise que fica de pé, aconteça o que acontecer hoje ainda ou amanhã. Há uma enxurrada de comentários dizendo que o sistema político norte-americano tornou-se disfuncional.

Minha opinião: a generalização, como quase toda generalização, é injusta. A disfuncionalidade não é de todo o sistema. Deriva da introdução nele, a partir do ano passado, do fundamentalismo hidrófobo do Tea Party, o movimento ultraconservador que não é majoritário nem entre os republicanos, mas cuja virulência sequestrou a agenda do país e, de certo modo, do mundo.

Basta ler comentário, também de sexta-feira, do "Financial Times", publicação que compartilha com o Tea Party a ojeriza a um Estado grande, mas é séria e responsável o suficiente para dizer: "Esta anabolizada facção populista-conservadora combina um zeloso e intransigente desejo de reduzir o governo com um desprezo cego pelas consequências do default. O desejo é legítimo, a irresponsabilidade é imperdoável".

A irresponsabilidade se torna ainda mais imperdoável quando se sabe que o que está em jogo agora não é aumentar a dívida para o futuro, mas simplesmente para pagar as dívidas já contratadas e devidamente autorizadas pelo Congresso em momentos anteriores.

Portanto, é injusta também a generalização feita pela presidente Dilma Rousseff, na cúpula de quinta-feira da Unasul, ao dizer, referindo-se a Estados Unidos e União Europeia que "a insensatez é a regra".

Em geral, quando se diz que todos são igualmente culpados, acaba-se aceitando que ninguém seja responsabilizado, o que, pelo menos neste caso, é um erro grave.

Se o presidente Obama tem alguma culpa é a de ter sido demasiadamente conciliador, o que o levou a abandonar a sua fórmula preferida -e de elementar sentido comum- de que o ajuste fiscal deveria ser composto por aumento de receita e corte de gastos, na proporção de 20% para 80%.

Agora, com ou sem "default", virão só cortes de gastos, o que o sentido comum diz que não é o mais sadio, num momento em que a economia patina, como mostra o pífio crescimento do segundo trimestre.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A ECONOMIA NUM ARTIGO DO LE MONDE

Direto do LE MONDE, um artigo com o sugestivo nome “A economia não mente, mas também não prevê o futuro”, que deve ser lido com atenção por todos os economistas e/ou interessados pela nossa ECONOMIA. Quanto a prever o futuro, é discutível. Vejamos que temos mais acertos do que erros. Como qualquer animal humano...

Para aqueles que se irritam com a economia e ainda mais para quem a economia de mercado é insuportável, a recessão é toda uma bênção: "Os franceses não têm a cabeça econômica, mas política", descreveu Alexis de Tocqueville em 1848. A essa pouca afinidade pela economia se acrescentam nos franceses uma aversão pelo capitalismo e uma inclinação pela intervenção forte do Estado. Acusar os economistas de não ter previsto a crise e os liberais de tê-la provocado com seus excessos se inscreve em uma batalha na qual a ciência econômica não é a única que está em jogo: a economia e os economistas se encontram no cruzamento da ideologia com a ciência.

Mas de todo modo a economia é uma ciência. O é porque os economistas - reconhecidos como tais por seus pares - seguem um processo verdadeiramente científico. Partindo de fatos constatados, os medem, buscam recorrências, daí tiram modelos, submetem esses modelos à crítica e os comparam com a realidade: assim a ciência econômica avança de uma hipótese refutável para outra.

Alguns modelos resistem à prova do tempo e dos fatos: transformam-se em leis expressas em linguagem matemática. O número dessas leis econômicas, que passaram da teoria à ação, vai aumentando e produz resultados mensuráveis: principalmente o crescimento. A economia é uma ciência porque progride, conforme a própria definição de toda ciência, segundo Karl Popper, e melhora o destino de uma parte crescente da humanidade.
Consideremos a história do século 20 desde 1945: é inegável que milhões de seres humanos saíram da pobreza e que esse número está aumentando. Milagre? Se o Leste Europeu se reconstrói, se Brasil, Índia e China progridem, não é por terem mudado de cultura, nem sequer de regime político, nem por terem descoberto riquezas naturais. A única mudança que os fez passar da miséria à melhora foi a das estratégias recomendadas pela ciência econômica: o livre comércio, a concorrência entre as empresas, a emissão de moedas estáveis.
Essas estratégias foram receitas de crescimento transferidas do laboratório para a prática. Esses princípios - tais como a relação entre o nível de salário e o desemprego, a "criação destrutiva" ou princípio de Schumpeter, as vantagens da distribuição de riscos financeiros - são conhecimentos que formam um consenso. As disputas entre economistas são vivas mas geralmente se situam no interior desse paradigma: os que refutam o próprio princípio do livre comércio ou preconizam a inflação são para a economia o que os curandeiros são para a cirurgia.

Os economistas americanos que são elogiados na Europa, como Paul Krugman, porque é social-democrata, e Joseph Stiglitz, porque é antiglobalização (ambos mantidos à margem por Barack Obama), se situam no entanto no interior do paradigma: Joseph Stiglitz não nega a eficácia do livre comércio contra a pobreza; Paul Krugman não propõe substituir o capitalismo pelo socialismo. Ambos, tanto em seus trabalhos universitários como em suas posições públicas, salientam até o cansaço as imperfeições do mercado. Mas nenhum economista as nega, nem mesmo os ultraliberais. O debate entre liberais e intervencionistas gira em torno da maneira de conter tais imperfeições.
Eliminá-las? Ninguém acredita nisso. No século 20 se experimentou ao vivo com sistemas econômicos que pareciam ideais no papel, com os resultados trágicos que todos conhecemos. A grande disputa entre economistas refere-se apenas à regulamentação pública.
Os intervencionistas esperam que o Estado reduza os desequilíbrios nos mercados, dos quais os bônus dos corretores são uma manifestação entre outras nem tão visíveis. Os liberais não negam esses desequilíbrios, mas duvidam de que o governo seja mais racional que o mercado: os mercados fazem bolhas, mas os governos fazem a guerra. Os capitalistas são agitados por paixões irracionais, mas os políticos e os burocratas não são necessariamente mais sensatos e desinteressados.
Os economistas liberais, portanto, convidam a reforçar a informação sobre os mercados. Nesta análise liberal, as bolhas especulativas não surgem devido à ausência de regras, mas à falta de informação, que conduz aos abusos cometidos pelos iniciados.

Se a economia é uma ciência, de que serve uma ciência que não prevê nada? "Os economistas sabem fazer tudo, menos prevenir", declarou Gérard Debreu ao receber o prêmio Nobel de economia em 1983. Na realidade, os economistas sabem prever que as más políticas conduzem ao pior. Congelar preços e salários, nacionalizar indústrias, fechar as fronteiras, imprimir mais e mais notas: tudo isso garante a miséria. E é algo previsível.
E no curso da atual recessão é notável que todos os governos tenham concordado em preservar o livre comércio (ao contrário de 1930), refinanciar os bancos (ao contrário de 1930), evitar a inflação (ao contrário de 1974): os conhecimentos da ciência econômica evitaram repetir os erros cometidos em crises anteriores. Mas ninguém felicita os economistas pelos 25 anos de crescimento anteriores à crise, nem quando evitam que a recessão degenere.
Prever e evitar a crise de 2008? A posteriori sempre há adivinhos que a teriam anunciado, mas no estado atual dos conhecimentos ninguém poderia tê-la garantido. As crises são imprevisíveis porque são o resultado da cristalização de inúmeros fatores que ninguém poderia citar.
Inclusive podemos considerar, como faz o matemático e economista francês Benoît Mandelbrot, que, sendo os mercados financeiros aleatórios por definição, as crises sempre serão inevitáveis. Só um sistema financeiro fixo, sem inovação, seria previsível. Inovação, crescimento, crise: tudo isso está ligado, e regulamentar um só desses fatores teria reações em todos os demais.
Essa complexidade esclarece o desacordo entre os economistas sobre a causa da crise, supondo que não houvesse mais que uma. Os liberais têm como culpado o Federal Reserve dos EUA por ter suscitado a bolha especulativa graças às facilidades de crédito. Os intervencionistas atribuem essa mesma especulação à falta de regras. Talvez pudéssemos discernir a causa dentro de dez anos, quando estiverem reunidos os dados necessários; também se poderia chegar a uma conclusão sobre a utilidade ou não da reativação pública. Mas até esta data isso não é possível.
A economia de mercado é imperfeita e conduz somente a progressos materiais e relativos. Esses matizes jamais seduzirão os amantes da perfeição. Também se decepcionarão aqueles que apostam no apocalipse: de crise em crise, o capitalismo não morre, mas se recupera. E também, de crise em crise, os economistas aprendem.

domingo, 30 de agosto de 2009

DA SÉRIE: TEXTOS INTERESSANTES - MENDONÇA DE BARROS

Direto da Folha de S. Paulo, mais um artigo do sempre lúcido LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, que compartilho com os meus quase dois (milhões) de e-leitores.

Meu irmão José Roberto tem usado uma imagem do atletismo para melhor explicar o momento atual da economia mundial. Segundo ele, nos próximos meses, a passagem do bastão de um corredor - o governo - para outro - o consumidor no mundo desenvolvido - será uma condição necessária para levar o processo de recuperação a bom termo. Nos últimos meses temos assistido a um aumento gradativo da atividade econômica em um grande número de países, tanto no âmbito do chamado G7 como no mundo emergente.

Essa recuperação foi induzida por recursos públicos injetados na economia privada em volume nunca antes visto. O primeiro movimento foi liderado pelos bancos centrais com a mobilização de recursos monetários, por meio de mecanismos clássicos e de corajosas inovações.

Com isso foram criadas as condições para se manter o sistema bancário mundial com um mínimo de funcionalidade, evitando o estrangulamento total da atividade produtiva. Em um segundo momento foram os governos que mobilizaram recursos de natureza fiscal para sustentar um nível mínimo de renda e consumo, afetados pela onda de desemprego que se espalhou por grande parte do mundo. Aqui também foram usados instrumentos tradicionais - como obras públicas e redução de tributos - ao lado de medidas criativas, como a compensação para a manutenção de emprego na Alemanha e os programas de subsídio para troca de carros. Foram os vários trilhões de dólares injetados em um grande número de economias que evitaram uma catástrofe inimaginável e que está agora afastada.

Todo esse esforço dos governos foi realizado no pressuposto de que, passada a tempestade e com a volta da confiança de consumidores e de empresas, a dinâmica privada voltará e recolocará a economia em uma rota de crescimento sustentado. É isso que diz o manual de enfrentamento de uma crise como a que ocorreu no ano passado.

Por isso, a imagem da passagem do bastão criada por meu irmão me parece muito feliz. Apenas a complementaria com algumas observações mais específicas quanto à natureza dessa troca de bastão. Em alguns países, como os EUA e a Inglaterra, o revezamento se parece com o chamado 4 x 100 metros. Ou seja, é uma corrida rápida, onde a passagem do bastão é sempre complicada e tensa. Em outros casos, como a China, a corrida é mais longa - algo como a corrida de 4 x 400 metros -, quando a passagem do bastão pode ocorrer de maneira mais tranquila.

No primeiro grupo estão países em situação fiscal mais complicada, em que o espaço para gastos fiscais por mais tempo é muito menor. No caso americano, há um grande mal - estar com os deficit já realizados, de modo que uma eventual necessidade de renovação dos estímulos fiscais no ano fiscal 2010/2011 pode criar uma crise com o dólar. O mesmo ocorre na Inglaterra e nas maiores economias da Europa Unida.

Já na China - e de certa forma no Brasil - o esforço fiscal do governo pode se estender por um período bem maior, tornando a passagem do bastão mais tranquila e segura. Nesse caso, o instrumento do gasto público em obras de infraestrutura ganha um peso maior. A sustentação do crescimento em 2010 dependerá do sucesso da passagem do bastão do gasto do governo para o setor privado. Nesse processo, o consumidor terá importância crucial, pois os investimentos privados ainda permanecerão deprimidos por algum tempo em razão da enorme capacidade ociosa hoje existente na grande maioria das economias. A conferir... LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

sábado, 24 de janeiro de 2009

ECONOMIA AMERICANA - AFTER BUSH

Esta charge está SENSACIONAL e somente poderia sair da pena de meu conterrâneo, o famoso cearense SINFRÔNIO.

Desde os meus tempos de Fortaleza e do meu jornal O POVO, Mestre Sinfrônio brilhava diariamente com suas figuras. Direto dos meus colegas de blogosfera Daniel Simões e David Sacramento, http://academiaeconomica.blogspot.com/ cada um tire suas próprias conclusões.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

UM DIA NA CRISE - 14/01/2009

É rara uma leitura hoje em dia de algum texto que transmita otimismo com relação ao ambiente econômico que estamos passando. O mundo espera e torce pela posse de Obama como um divisor que resultará no retorno dos Estados Unidos ao crescimento e, por extensão, no resto do mundo. Mas os textos continuam muito pessimistas.

No Financial Times, Martin Wolf considera o plano de Obama inadequado e incompleto. Em seu blog, Nouriel Roubini comenta sobre a primeira recessão econômica global. E para o meu desconforto, porém já esperado, Bresser-Pereira, na Folha de S. Paulo comenta que os neoclássicos, com a arrogância dos seus modelos matemáticos, são em parte responsáveis pela gravidade da crise.

Tudo isso num dia no qual a Bovespa fecha em baixa de 3,95%, o dólar comercial sobe para R$ 2,346 e a taxa do risco-país vai para os 462 pontos. No front externo o Federal Reserve advertiu que a economia americana piorou ainda mais nos últimso dois meses de 2008, o banco alemão Deutsche Bank informou um prejuízo de 3,9 bilhões de euros (US$ 5,187 bilhões) em 2008, ante lucro recorde de 6,5 bilhões de euros (US$ 8,645 bilhões) de 2007, enquanto a americana Alcoa reportou um prejuízo de US$ 1,19 bilhão de outubro a dezembro de 2008.

Ainda bem que amanhã será OUTRO DIA.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A CRISE E O VERDADEIRO CAPITALISMO

Para quem ainda acha que a CULPA da atual crise econômica é exclusivamente do CAPITALISMO, recomendo um artigo do Professor Bruce Scott, da Escola de Administração da Universidade de Harvard, que li na VEJA da edição de 31/12/2008. Abaixo um breve trecho do excelente artigo "Capitalismo não existe sem governo."

"O capitalismo não pode ser culpado pelo que aconteceu. A culpa deve ser atribuída aos ideólogos que o entenderam mal, acreditando que o equilíbrio do mercado equivale ao interesse público, por definição. Na verdade, ele equivale ao interesse dos banqueiros e especuladores que, nas palavras de Martin Wolf, colunista do Financial Times, conseguiram 'privatizar os lucros e socializar os prejuízos' e com isso ajudaram a desacreditar o capitalismo no mundo todo."

Ele recomenda como uma definição precisa do que é CAPITALISMO, a que o Professor Thomas McCraw escreveu no livro Creating Modern Capitalism: "Em seus elementos mínimos, uma sociedade capitalista é organizada em torno de uma economia de mercado que enfatiza a propriedade privada, a oportunidade empresarial, a inovação tecnológica, a inviolabilidade dos contratos, o pagamento de salários em dinheiro e a disponibilidade de créditos."

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

PÂNICOS INFUNDADOS E DESASTRES INESPERADOS

Nesta época de final de ano e com o pessimismo geral sobre 2009 abatendo muita gente boa, vale a pena ler o artigo abaixo, escrito por MICHAEL SKAPINKER, colunista do "Financial Times". É por ler artigos com a mensagem abaixo que continuo otimista com relação a 2009. Eu, Nosso Guia e mais alguns poucos colegas.

Meus caros quase dois leitores: reflitam e leiam nas entrelinhas que podemos ter um 2009 diferente do que estão falando. Estou lendo "A lógica do Cisne Negro" de Nassim Nicholas Taleb, decano de Ciências da Incerteza na Universidade de Massachusetts. O artigo do Skapinker é o meu Cisne Negro.

Em abril de 1961 o filósofo Bertrand Russell declarou, em uma reunião da Campanha pelo Desarmamento Nuclear, que, se as grandes potências não alterassem suas políticas, seria "improvável ao mais alto grau que qualquer de nós aqui presentes continue vivo dentro de 10 anos".

As bombas nucleares ainda podem ser detonadas ao longo dos próximos 10 anos, ou talvez até no ano que vem. Alguns dos países que dispõem desse tipo de arma, ou parecem determinados a adquiri-la, são mais assustadores do que aqueles que as tinham em seus arsenais naquela época. Mas, 47 anos depois da previsão apocalíptica de Russell, continuamos aqui.

Vocês se lembram do vírus do milênio? A suposição era de que ele viesse a paralisar o mundo, porque os computadores seriam incapazes de enfrentar a mudança de 99 para 00 em seus calendários internos.

Qual foi a origem daquilo tudo? O vírus do milênio foi um perigo genuíno que governos e empresas evitaram porque agiram com decisão? Ou vivemos um momento de histeria empresarial e pessoal maciça?

Suspeito que a resposta correta seja essencialmente a última. Pode ser que, dentro de uma geração, o aquecimento global venha a ser considerado mais ou menos à mesma luz. Também pode ser que não. Nem tudo sobre o que entramos em pânico é infundado.

Mas é surpreendente como o desastre que acaba nos atingindo é exatamente aquele pelo qual não esperávamos.

Havia gente preocupada com os créditos hipotecários de risco (subprime), com a securitização e com a complexidade financeira, dada a possibilidade de que tudo isso terminasse em desastre, mas suas preocupações foram desconsideradas.

Quando o desastre nos atinge, muitas vezes surge a revelação de que alguém o havia previsto. Mas muitas vezes as previsões sombrias não se confirmam, e as vozes solitárias são desdenhadas e esquecidas.

E por que não somos muito bons em prever o futuro? Para começar, porque o mundo é complicado demais para que possamos considerar todas as eventualidades. Em segundo lugar, porque tendemos a reproduzir o comportamento daqueles que nos cercam. Dissidentes têm poucos amigos.

Terceiro, porque, em nossa incerteza, tendemos a confiar naqueles que acreditamos saber melhor. Hoje, tendem a ser economistas, intelectuais e celebridades. Se todas essas pessoas inteligentes acreditam em alguma coisa, quem somos nós para contradizê-las?

Quarto, gostamos de histórias.

Adotamos narrativas que explicam o mundo e nos apegamos a elas mesmo quando os fatos sugerem que podem estar erradas. Apenas quando estamos encarando o colapso começamos a duvidar do que dizem.

A história do capitalismo acabou em frangalhos este ano. Ocorre que, desta vez não há algo de melhor à espera do outro lado.

O próximo capítulo será fascinante. As taxas de juros dos Estados Unidos caindo a zero, ou bem perto disso. Boa parte do sistema bancário estatizado. Um presidente carismático na Casa Branca.

O que acontece a seguir? Não sei.

Vocês, tampouco. Por mais desesperados que estejamos para descobrir, devemos ser maduros o bastante para admitir que não existe quem possa nos contar. Isso torna a vida mais difícil, mas o que seria de nós, de outra forma? A curiosidade quanto ao que acontece a seguir é parte essencial da alegria e da angústia de ser humano.

sábado, 20 de dezembro de 2008

ECONOMIA REAL - FINAL DE ANO

Por uma questão de comprar presentes de última hora, tive que retornar ao shopping por volta das 17 horas de hoje. E qual a minha boa surpresa de encontrar muita gente lotando as lojas. Não dá para afirmar SE todos estavam comprando, mas pelo menos desfez minha visão anterior de fim de festa sem animação.

Espero também que os meses iniciais de 2009, não tragam além das notícias da crise, uma quantidade elevada de devedores. Boas vendas geram empregos, que resultam em salários, que geram novas compras e a vida continua... No entanto, com juros altos (o brasileiro somente observa o valor da prestação) e os bancos e financeiras restringindo o crédito, este Natal não parece ser o do bom Papai Noel.

Vamos também pensar que se as empresas contrariarem o Nosso Guia e apostarem na demissão como única saída para a crise, um retorno da inflação para delírio de alguns que apostam na possibilidade do crescimento econômico com uma inflação crescente, nossas exportações desabando e o dólar subindo, quem poderá nos tirar deste pesadelo?

ECONOMIA NO FINAL DE 2008 - MUNDO REAL

Li na Folha que o relatório mensal da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) prevê retração de 0,4% na economia mundial em 2009, o pior desempenho desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Segundo o relatório, o Brasil "não está imune à crise econômica global e os eventos das últimas semanas, incluindo a rápida desvalorização do real, seriam exemplos claros da vulnerabilidade brasileira à crise." Estou hoje em Belém e visitando o Shopping Iguatemi por volta das 13 horas fiquei impressionado com a pouca quantidade de consumidores. Afinal, estamos a poucos dias do Natal e conforme conversei com vendedores que conheço, todos também estavam sem entender o fraco movimento. Até em demissões eles falaram que suas chefias já comentam entre si.

Quando vejo o Nosso Guia reclamando contra os empresários que já estão demitindo funcionários, quando leio sobre grandes empresas totalmente engajadas no moderno time de “responsabilidade social para inglês ver” também desligando seus colaboradores, observando o movimento de compras/consumo neste final de ano, não resta alternativa que não pensar em como manter os últimos indicadores de crescimento econômico que o Brasil registrou, em uma situação que agora de marolinha está virando um tsunami.

Mesmo com o cenário nada otimista que estamos prevendo, vamos torçer por experiências criativas, sem demagogias eleitoreiras com pensamento em 2010, que possam superar este momento, trazendo bons resultados aos funcionários, aos empresários e ao governo. E que venha logo este 2009, antes que essas famosas consultorias escrevam que o mundo acabou...

domingo, 23 de novembro de 2008

O GOVERNO DOMADOR DE CRISE

Aqui no Brasil, nem a visão do que vem acontecendo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, são capazes de refrear o "otimismo" dos nossos grandes gestores econômicos.

De nosso Ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Aqui, não existem bolhas. Ocorrerá apenas uma desaceleração no ritmo da elevação da renda e do emprego. Vai haver algum ajuste na economia, mas o consumo continuará num patamar satisfatório."

Do nosso presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: "O Brasil vai ter uma desaceleração no ano que vem no crédito e, em consequência, na atividade geral, mas em ritmo menor que o de muitos países."

Que os anjos digam AMÉM. E que a DESACELERAÇÃO de ambos não seja, ao final, uma CRISE.

MÍRIAM LEITÃO E UMA ESCOLHA DE OBAMA

Há bastante tempo acompanho os textos de Míriam Leitão, o que é um prazer na maioria das vezes. Gostaria de compartilhar com meus quase dois leitores seu comentário sobre uma das mais importantes escolhas de OBAMA, se não a mais importante no atual momento de crise, que é a do Secretário do Tesouro.

Geithner: a melhor escolha para o Tesouro A imprensa dos Estados Unidos está informando que o presidente eleito Barack Obama convidou o presidente do Fed de Nova York, Timothy Geithner, para o cargo de secretário do Tesouro (leia, em inglês, a reportagem do Wall Street Journal). Foi a melhor escolha que Obama poderia ter feito entre os nomes que estavam circulando. Geithner é jovem, é ligado ao novo presidente e tem experiência nesta crise, pois preside o Fed de Nova York. Uma crítica que lhe foi feita, inclusive, foi de ser muito próximo ao pacote republicano de US$ 700 bilhões, mas a vantagem de ter alguém que já sabe o que fazer no primeiro dia é inegável.

O fato de Geithner estar no olho do furacão da crise, por ser presidente do Fed de NY, lhe dá a experiência imediata. Ele ajudou a fazer o trabalho de apagar o incêndio desta crise. Além disso, ele é uma pessoa diretamente ligada a Obama e uma aposta do presidente eleito dos EUA. Os dois mantiveram grande contato durante a campanha presidencial e a crise. Ou seja, não é mais um nome do ex-presidente Bill Clinton.

O outro nome cotado era Larry Summers. Só que ele foi secretário do Tesouro de Clinton e, como Obama nomeou outras pessoas que fizeram parte da equipe do ex-presidente, se ele o colocasse no Tesouro iria carregar um peso maior de Clinton em seu governo. Só que um ponto deve ter sido decisivo para o futuro presidente dos EUA: nomear Summers significaria brigar com as mulheres. Ele foi demitido da direção de Harvard depois de dizer que as mulheres não têm mente para a Ciência. O futuro governo de Obama representa um governo que fortalece as minorias, e ele não pode nomear pessoas politicamente incorretas a esse ponto.

Além disso, Larry Summers tem a fama de ser extremamente grosseiro e arrogante no trato com as pessoas. Há vários diplomatas brasileiros com histórias para contar sobre grosserias dele a respeito do Brasil. Ele tem experiência, mas de ser secretário do Tesouro num momento de boom, e não num momento de crise.

Por fim, os outros dois nomes cotados eram Paul Volcker, com idade avançada para ocupar um cargo de tão grande pressão, e Robert Rubin, que disse que não queria o cargo. Ou seja, comparando todos os nomes fica claro que a escolha de Obama foi a melhor.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...