quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Testando as crencas.

MARIO MESQUITA, 44, doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreveu hoje na FOLHA DE S.PAULO o texto abaixo, onde defende o regime de metas para a inflação.

O presidente do banco central chileno, que não é tido no meio como sendo especialmente conservador, declarou na semana passada que "controlar a inflação é a melhor contribuição que a política monetária pode dar para assegurar o progresso econômico sustentado". Entender e aceitar esse conceito é essencial para crer no regime de metas para a inflação, um dos pilares da política econômica brasileira, que o governo afirma enfaticamente querer preservar.

A crença do governo nesse conceito foi testada de tempos em tempos desde a implantação do regime de metas em 1999 - pela última ocasião, severamente, no final de 2008, quando a economia foi atingida pela crise internacional.

As convicções da nova administração acerca do regime de metas e do papel da política monetária podem vir a ser testadas em um futuro não muito distante, diante de uma conjuntura econômica que pode se mostrar sensivelmente adversa, com uma combinação de inflação alta e atividade econômica fraca. Recapitulando: nos últimos meses, a política monetária retomou o processo de ajuste interrompido em meados de 2010, acompanhada das chamadas medidas macroprudenciais, e a política fiscal adquiriu um aspecto menos expansionista - embora a política de crédito do setor público continue atuando na mesma direção.

Esse conjunto de iniciativas visa desaquecer a economia, de forma a, em um primeiro momento, conter as pressões inflacionárias e, posteriormente, trazer a inflação de volta para a meta de 4,5% - o que, ainda que as autoridades não tenham sido explícitas a esse respeito, deve ocorrer apenas em 2012.

Sabemos que o crescimento da economia foi exuberante em 2010, mas, a julgar por indicadores de alta frequência, como o índice de atividade econômica do Banco Central (o chamado IBC-Br), em ritmo sensivelmente mais fraco em seu final do que em seu início. Esse indicador, que agrega informações de diversos setores da economia, sugere que o processo de desaquecimento já estivesse em curso.

Ainda que a intensidade do desaquecimento necessária para promover a convergência da inflação para a meta permaneça uma questão em aberto, cabe reconhecer que, quanto maior for a deterioração das expectativas inflacionárias, mais intensa terá de ser a desaceleração e mais custoso será trazer a inflação de volta para a meta - embora a alternativa, tentar conviver com taxas de inflação permanentemente mais altas, seja claramente indesejável. Para complicar o cenário, a inflação corrente, medida em 12 meses, seguirá aumentando por vários meses, podendo até romper o teto do intervalo de tolerância do regime de metas por certo tempo.

Isso pode influenciar as expectativas, que também tendem a sofrer o efeito da perspectiva de aumento do salário mínimo superior a 12% no início de 2012, percentual que o elevaria para mais de R$ 610.

Seria especialmente oportuno, portanto, se todas as autoridades responsáveis abandonassem o discurso ambíguo e as tentativas de relativizar o problema inflacionário, aceitando que a política econômica deve, neste momento, adotar uma atitude contracionista, que deve levar a um crescimento mais próximo de 3% do que de 5%, de forma a ajudar a conter a piora das expectativas de inflação.

O risco é que um momento de desaquecimento mais pronunciado leve o governo a fraquejar em sua convicção e reverter parte das políticas de reequilíbrio macroeconômico antes que o sucesso do tratamento, isto é, a retomada do controle sobre o processo inflacionário, esteja assegurado.

Esse risco existe, a despeito das evidências de que em nossa experiência econômica surtos de inflação tendem a ser mais persistentes que momentos de estagnação - tendência que deve estar se acentuando, visto que o grau de indexação da economia parece ter aumentado.

Os médicos costumam falar que interromper um tratamento antes da hora pode ter efeitos muito perniciosos, em parte porque a doença pode se tornar mais resistente à terapia, de forma que garantir uma recuperação passa a exigir doses mais intensas de medicamentos.

Essa é uma lição que vale também para a política econômica.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os pilares de areia do Ocidente.

Há dois séculos, a chegada de Napoleão ao Egito anunciava o advento do Oriente Médio moderno. Agora, quase 90 anos após o desaparecimento do Império Otomano, 50 anos após o fim do colonialismo, e oito anos após o começo da Guerra do Iraque, os protestos revolucionários no Cairo indicam que mais uma mudança pode estar em curso.

Os três pilares sobre os quais a influência ocidental no Oriente Médio foi construída - uma sólida presença militar, laços comerciais e uma série de países dependentes do dólar - estão desmoronando. Consequentemente, o Oriente Médio que despontará nas semanas e meses adiante poderá tornar-se muito mais difícil de ser influenciado pelo Ocidente.

O primeiro pilar - presença militar- remonta à ocupação francesa e britânica de partes do Império Otomano depois da I Guerra Mundial, e foi reforçado pelos vínculos militares da era da Guerra Fria forjados pelos Estados Unidos e União Soviética. Em 1955, o Ocidente até chegou a ser sólido o bastante para arregimentar um elenco formado por Turquia, Iraque, Irã e Paquistão, numa espécie de Otan asiática ocidental conhecida como Pacto de Bagdá.

A Guerra do Yom Kippur em 1973 foi uma ilustração clara da influência militar soviética e ocidental. O exército egípcio disparou foguetes tchecoslovacos de 130 mm, enquanto os MIGs sírios combatiam os Skyhawks israelenses sobre as Colinas do Golan. Mas a influência americana e soviética não foi confinada ao campo de batalha, à medida que os dois países fizeram a sua presença ser sentida até o mais alto escalão da cadeia de comando. Mais recentemente, as instalações militares no Golfo Persa protegeram o fornecimento de petróleo da aliança da Guerra Fria e dissuadiram tanto o Iraque do partido Ba"ath como o Irã do aiatolá Ruhollah Khomeini de se apoderarem dos valiosos poços petrolíferos ou de estrangularem as rotas de exportação.

Mas esse pilar militar tem sido sistematicamente corroído. Um sinal precoce foi o fracasso da "Operação Eagle Claw" para resgatar os reféns dos Estados Unidos no Irã em 1980. Outra fissura apareceu com o atentado do Hizbollah contra o quartel dos fuzileiros navais dos EUA em Beirute, que precipitou uma retirada abrupta dos Estados Unidos do Líbano. Desde a invasão do Iraque em 2003, as forças dos Estados Unidos se retiraram da Arábia Saudita e descobriram que seu poderio militar convencional não se traduz necessariamente em impacto na cena real.

O segundo pilar do papel do Ocidente no Oriente Médio - os laços comerciais - também foi enfraquecido. A América costumava ser o parceiro comercial essencial para os países do Golfo, mas isso agora mudou. Em 2009, a Arábia Saudita exportava 57% do seu petróleo para o Extremo Oriente e apenas 14% para os EUA. Em resposta a essa mudança fundamental, o rei Abdullah tem perseguido uma política "voltada para o Oriente" desde 2005, resultando em comércio exterior em valor superior a US$ 60 bilhões.

Esse deslocamento rumo ao Leste fez a China tornar-se uma parceira comercial maior do que os EUA, tanto para o Catar como para os estados árabes. Além disso, quase um quarto do comércio exterior do Catar é feito com a China, na comparação com pouco mais de 5% com os EUA. Da mesma forma, 37% do comércio dos EUA é feito com China, Índia e Coreia do Sul. Para muitos países do Oriente Médio, os interesses da China agora são tão importantes quanto os dos EUA.

Finalmente, os EUA não contam mais com uma série de clientes relativamente estáveis na região. Os EUA acreditaram que as formidáveis quantias de ajuda que distribuiu para Egito, Israel e Jordânia garantiam a estabilidade e a cooperação em assuntos de interesse americano. Isso funcionou por três décadas, mas agora o vínculo está enfraquecendo.

O ritmo da queda da influência ocidental parece ter acelerado ao longo da década passada. Os sauditas deixaram claro em 2003 que não poderiam mais abrigar as instalações militares dos EUA. Tanto no seu primeiro como no segundo mandato como premiê de Israel, Binyamin Netanyahu se recusou a seguir o roteiro dos EUA na questão do processo de paz palestino-israelense. E, apesar de abrigar uma enorme base militar dos EUA, o Catar mantém laços próximos com Síria e Irã.

A isso agora é preciso acrescentar a revolta no Egito. Hosni Mubarak era o eixo principal da política do Ocidente; ele era intransigente com inimigos potenciais dos EUA; era possível confiar plenamente nele para comparecer em conversações de paz com os israelenses; e ele podia ser usado para acrescentar peso à posição americana na questão do Irã. Agora a aliança Egito-EUA está sendo ameaçada e, com ela, a política americana para todo o Oriente Médio.

À medida que desmoronam os três pilares da política do Ocidente para o Oriente Médio, um novo Oriente Médio está se delineando, impulsionado por ventos comerciais e devendo lealdade a mais de uma potência. Sua arquitetura geopolítica está sendo moldada pelas revoluções norte-africanas, a autoafirmação turca, a intransigência iraniana e o colapso do Iraque. O Ocidente não achará o terreno estratégico resultante fácil de navegar.

Daniel Korski é pesquisador sênior de políticas públicas no European Council on Foreign Relations

Ben Judah é pesquisador de políticas públicas no European Council on Foreign Relations. Copyright: Project Syndicate, 2011.

Se todos são keynesianos, o que Keynes diria a Dilma?

A crise financeira internacional e seus desdobramentos sobre o lado real das economias, em especial em 2009, em termos de recessão, desemprego e desaquecimento do volume de comércio, acabaram originando um consenso entre economistas acadêmicos, analistas econômicos e "policymakers", qual seja, todos passaram a ser "keynesianos" - cabe ressaltar que, infelizmente, a maioria deles tão somente por oportunismo - tanto para explicar a referida crise quando para remediá-la.

No Brasil, não foi diferente. Apesar de as autoridades econômicas terem, em um primeiro momento, subestimado os impactos da crise financeira internacional sobre a economia brasileira, as políticas monetária e fiscal contracíclicas, de cunho keynesianas, implementadas pelas autoridades econômicas foram fundamentais para que o país saísse da recessão e voltasse a crescer de forma pujante e até surpreendente - segundo estimativas preliminares, em 2010 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ter crescido ao redor de 7,5% -, por mais que o cenário internacional ainda seja de turbulência.

A "bola da vez" continua sendo a crise fiscal-financeira dos Piigs, acrônimo para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha.

Se nossa atividade econômica apresenta um resultado exuberante, pelo menos no curto prazo, voltamos a enfrentar "velhos" problemas do período da prosperidade, dentre os quais a tendência à apreciação cambial, cujos efeitos são a deterioração da balança comercial e o processo de desindustrialização, e o viés do Banco Central (BC), receoso do "descontrole" da inflação, em querer subordinar a política fiscal ao regime monetário, que acabam impondo limitações para que a economia brasileira tenha estabilidade macroeconômica intertemporal (crescimento econômico robusto, inflação sob controle e equilíbrios fiscal e externo).

Para evitar os erros do passado, câmbio administrado e controle dos fluxos de capitais são imprescindíveis

Nesse particular, sendo todos "keynesianos" e supondo que fosse possível psicografar Keynes, quais medidas econômicas o "mestre" sugeriria para a presidente Dilma Rousseff? Centrando as atenções em algumas das proposições de política macroeconômica apresentadas por Keynes ao longo de seus escritos, reunidos nos 30 volumes dos "Collected Writings of John Maynard Keynes", publicado pela Royal Economic Society, ele proporia maior coordenação das políticas fiscal, monetária e cambial, seja para resolver "os principais problemas da sociedade econômica em que nós (Brasil, inclusive) vivemos, que são o desemprego e a arbitrária e desigual distribuição da renda e da riqueza" (John Maynard Keynes. "The General Theory, of Employment, Interest and Money". New York, HBJ Book, 1964, p.372), seja para solucionar o desequilíbrio e a vulnerabilidade externa brasileiras.

Para tanto, Keynes proporia: 1) Política fiscal ancorada tanto na administração de gastos públicos - algo completamente diverso de déficit público - quanto na política de tributação. No que diz respeito à administração dos gastos públicos, deveria haver dois orçamentos: o corrente, para assegurar recursos à manutenção dos serviços básicos fornecidos pelo Estado à população, tais como saúde pública, educação e segurança pública, e o de capital, em que o Estado realizaria investimentos públicos complementares aos investimentos privados e fundamentais para a expansão da demanda efetiva. A ideia de Keynes com os referidos orçamentos é a de que, em períodos de prosperidade, o gasto público deve ser reduzido, ao passo que, em períodos recessivos, ele deve ser elevado. Assim, a política fiscal torna-se contracíclica e assegura o equilíbrio fiscal intertemporal do governo. A política de tributação, por sua vez, deveria concentrar-se essencialmente nos impostos sobre a renda, o capital e a herança, viabilizando, assim, uma melhora da distribuição da renda e da riqueza. Pois bem, a partir da proposição fiscal de cunho keynesiana e observando a situação fiscal brasileira dos últimos anos, percebe-se que a reduzida taxa do investimento público e a elevada carga tributária indicam que o ajuste fiscal deve se concentrar nos gastos de custeio e na racionalização do gasto público;

2) Flexibilização da política monetária para dinamizar os níveis de consumo e investimento e afetar a preferência pela liquidez dos agentes econômicos. No caso do Brasil, acrescente-se que a redução da taxa básica de juros (Selic) é fundamental para arrefecer o custo de rolagem da dívida pública;

3) Política cambial para assegurar a manutenção da taxa real efetiva de câmbio de equilíbrio e não gerar pressões inflacionárias. A taxa real efetiva de câmbio estável é fundamental pois, diante de um contexto em que a liquidez internacional continua muito elevada em função das políticas adotadas nos países centrais para superar a crise, as taxas de juros internacionais estão baixas e o crescimento dos países centrais está relativamente estagnado, as elevadas taxas de crescimento de economias emergentes (e, no caso do Brasil, também de juros) ensejam grande influxo de capitais que, por sua vez, acabam provocando a apreciação da taxa de câmbio (em especial do real). Como sabemos, essa experiência foi vivida pelo Brasil em passado recente: devido à elevada liquidez internacional o câmbio apreciou-se, o déficit em transações correntes tornou-se crescente e os superávits da conta de capital e financeira e do balanço de pagamentos elevaram-se, criando, assim, a pseudo-impressão de que esses resultados decorriam da robustez da economia. Contudo, quando a liquidez internacional foi arrefecida, o racionamento dos fluxos de capitais para a economia brasileira tornou-se uma realidade e a crise cambial se instalou, em grande parte recrudescida pela abertura financeira. Portanto, para evitarmos os erros do passado decorrentes dos desequilíbrios externos da economia brasileira, câmbio administrado e regulação e/ou controle dos fluxos de capitais são imprescindíveis.

Em suma, resgatando Keynes, espera-se que Dilma e suas autoridades econômicas sinalizem políticas fiscais e monetárias contracíclicas e intervenções no mercado de câmbio para que o país tenha, a despeito do cenário internacional desfavorável, estabilidade macroeconômica intertemporal.

Fernando Ferrari Filho é professor titular do departamento de Economia/UFRGS, pesquisador do CNPq e vice-presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB).

Marco Flávio Resende é professor do Cedeplar/UFMG, pesquisador do CNPq e diretor da AKB.

Crescimento inclusivo sustentável?

Dois prêmios Nobel em Economia, Amartya Sen e Joseph Stiglitz, apresentaram os resultados de um relatório elaborado por uma comissão formada a pedido do presidente francês, Nicolas Sarkozy. A Comissão para Mensuração do Desempenho Econômico e Progresso Social contou com outros 21 pesquisadores de renome, incluindo Angus Deaton e James Heckman. O conteúdo do relatório acaba de ser publicado sob o título "Mismeasuring Our Lives".

Não cabe aqui discutir esse relatório em profundidade, nem mesmo as críticas que possam ser ventiladas a seu respeito, mas aplicar suas quatro principais conclusões ao caso brasileiro pós-recessão de 2003. Senão vejamos:

1) PIB X PNAD - O trabalho alerta quanto à necessidade de se melhorar as atuais medidas de desempenho econômico que se centram no Produto Interno Bruto (PIB). Em particular, enfatizar a perspectiva da renda e consumo do domicílio para melhor aferir padrões materiais de vida médios. Nesse aspecto, cabe lembrar que, embora no longo prazo no caso brasileiro a evolução de agregados como PIB das contas nacionais e a renda da Pesquisa nacional de Amostras a Domicílio (PNAD) apresentam tendências semelhantes, há um forte descolamento no período 2003 a 2009 quando a renda média cresceu 11,3 pontos percentuais a mais que o PIB. De acordo com a visão objetiva das pessoas, os seus respectivos padrões médios de vida estão crescendo mais do que o PIB sugere. Na maioria dos outros países, inclusive China e Índia, tem acontecido o reverso, as respectivas PNADs indicam crescimento menor que o do PIB.

2) Sustentabilidade - Considerar estoques de ativos como, por exemplo, incorporar atributos ambientais para analisar a sustentabilidade dos indicadores de desempenho ao longo do tempo, isto é, se os atuais níveis de bem-estar podem ser mantidos para gerações futuras. Não vou entrar nas variáveis ambientais que não são a minha praia mas nos estoques de ativos captados pela PNAD. Calculamos a partir de equação de salários de indicadores de potencial de geração de renda baseados em ativos produtivos como capital humano (educação de todos os membros no domicílio e de sua utilização (posição na ocupação), capital social (associativismo) e capital físico (computadores, contribuição previdenciária pública e privada etc). Calculamos também, usando o mesmo método e métrica, índices de potencial de consumo (duráveis, moradia etc). No período entre 2003 e 2009, os primeiros cresceram 38% a mais que os segundos indicando sustentabilidade dos padrões de vida assumidos. Na década de 90 aconteceu o oposto - o indicador de consumo subiu mais do que o de capacidade de produção. Apesar da importância do crescimento do crédito ao consumidor e das transferências públicas sociais como benefícios da previdência e o Bolsa Família, o crescimento da educação e do emprego formal (embora em níveis ainda muito precários) são comparativamente mais relevantes para explicar as transformações em curso, sugerindo sustentabilidade do processo de crescimento.

3) Inclusão - Medidas de renda, consumo e riqueza devem estar acompanhadas por indicadores que reflitam sua distribuição. Num país apelidado de Belíndia esse tipo de consideração é de importância capital pois a média esconde mais do que revela. No período 2003 a 2009 o crescimento da renda real per capita da PNAD dos 10% mais pobres foi 69%, caindo monotonicamente a medida que nos aproximamos, décimo a décimo, dos 10% mais ricos quando atinge 12,6%. Ou seja, a taxa de crescimento dos mais pobres foi 550% maior que a dos mais ricos. É o que se pode chamar de espetáculo de crescimento mas apenas dos mais pobres que tem crescido a taxas chinesas. Mais uma vez na China e na India ocorre o oposto, aumento de desigualdade.

4) Percepção - Por fim, a conjugação de medidas objetivas e subjetivas de bem-estar, mediante o uso de questões captadas nas avaliações das pessoas, para se obter um retrato mais fidedigno da qualidade de vida nos países. Ou seja, não basta melhorar de vida é preciso que as pessoas percebam essa melhora. Como a PNAD não dispõe de informações quanto à percepção das pessoas, usamos os índices globais do Gallup World Poll. Em 2009, o Brasil se situava em 17º lugar entre 144 países. Entre 2006 e 2009 a felicidade geral da nação sai do 22º lugar entre 132 paises para 17º lugar em 144 países.

Em suma, podemos dizer que o avanço econômico brasileiro nos últimos seis ou sete anos não constitui um espetáculo de crescimento, o PIB Brasil tem crescido na mediana da América Latina que não tem sido a região mais dinâmica do mundo. A PNAD nos sugere crescimento maior que o do PIB. À luz das recomendações da comissão, a qualificação desse crescimento seria inclusivo e sustentável, não apenas em termos da objetividade dos brasileiros entrevistados em suas casa, como também na sua subjetividade.

O fundamento fiscal.

O que chamamos de "política econômica" é a tentativa de usar todo o conhecimento acumulado pelos que estudaram os fenômenos econômicos no mundo ocidental, pelo menos desde Platão, que descobriu as virtudes da "divisão do trabalho e da especialização" no século IV antes de Cristo. Foi só no século XVII (com os fisiocratas) que esse conjunto de estudiosos foi chamado, por antonomásia, de "economistas".

Nos 25 séculos dessa história, mudou o mundo, mudaram as instituições e mudaram os valores do homem na linha não reta do processo civilizatório. A política econômica pode ser restritivamente definida como ações de um governo (limitado por uma constituição, que expressa as preferências reveladas livremente pela sociedade e garante a alternância do poder pelo sufrágio universal desembaraçado), que afetam a alocação e a distribuição dos recursos de que dispõe a sociedade e dos seus resultados.

O avanço da economia (entendida como o repositório das ideias não rejeitadas pela experiência) foi proporcionando aos governos várias receitas historicamente condicionadas de "boa governança". A partir dos anos 90 do século passado, cristalizou-se a ideia que eles poderiam controlar as variações da conjuntura econômica, manobrando a política fiscal (sua receita e despesa e controlando seu endividamento) e a política monetária (taxa de juros que determina a massa monetária e influi na "expectativa" da inflação).

Para produzir essa virtuosa combinação, entretanto, os governos deveriam: 1) garantir com instituições adequadas o funcionamento eficiente dos mercados; 2) abster-se de interferir no seu funcionamento, porque, "naturalmente", eles levariam à melhor alocação possível dos fatores de produção para maximizar o bem-estar dos consumidores; e 3) realizar as suas tarefas com a menor tributação possível.

Tudo o mais era simples: deixar para o setor privado mais eficiente o uso dos recursos sempre escassos para atender às demandas crescentes da sociedade, não importando quais fossem: educação, saúde, igualdade de oportunidade, desigualdade de renda, equilíbrio regional etc. Nunca incomodou aos seus formuladores o fato que não existe, na história do mundo, um só exemplo de país que tenha se desenvolvido seguindo tal receituário. Pelo contrário, todos os que se desenvolveram tiveram um Estado-Indutor visível ou invisível.

Ao longo desse caminho a economia que se pretendia "ciência" incorporou uma "ideologia" e completou-se como uma "religião"! Como o Cândido de Voltaire, educado no castelo Thunder-ten-tronckh por Pangloss (substituído pelo excesso de formalismo), boa parte dos economistas acreditou que, com suas lições, "tudo iria bem nesse mundo, que era o melhor possível".

Surpreendida e desmoralizada pela trágica crise financeira de 2007/09, a economia do "mainstream" reagrupa agora suas forças e descobre, com espanto, que se tivesse sido menos dogmática, e prestado um pouco mais de atenção a alguns que chamavam de heterodoxos, poderia ter antecipado, e talvez estimulado, a correção das tolices que o setor financeiro, com a conivência dos bancos centrais, estava fazendo. A memória é curta. Todos já esqueceram que o "maestro" Greenspan afirmava, em 2005, que "havia mais de dez anos de prosperidade à frente".

Mas é óbvio que o fracasso do "mainstream" não é o fracasso da economia: apenas o de uma de suas escolas! E, também, não é uma licença para outras tolices... Paradoxalmente, nunca foi tão importante como agora reter o que sobrou de bom da velha lição: 1) realizar uma política fiscal com olhos no longo prazo: anticíclica, com moderados déficits nominais, melhor financiamento da dívida e controle da relação dívida pública/PIB, reduzindo os gastos de custeio em benefício dos investimentos; e 2) realizar uma política monetária que não se restrinja apenas às manobras da taxa básica de juros, mas que olhe também, e corrija, os fatores que autoalimentam a inflação, que promova a competição bancária e que, com o suporte fiscal, vá reduzindo a nossa teratológica taxa de juro real.

A situação, entretanto, não é nada confortável quando analisamos as relações entre "objetivos" da política econômica e os "instrumentos" à disposição do governo para alcançá-los. Se temos dois objetivos, por exemplo, manter simultaneamente uma determinada taxa de inflação e um alto nível de emprego, precisamos de dois "instrumentos" independentes (isto é, a manobra de um instrumento não pode influenciar o outro). Por que não é possível fazê-lo usando o instrumento fiscal e o instrumento monetário? Simplesmente porque a política monetária e a política fiscal estão longe de serem independentes, a não ser a custos sociais insuportáveis.

A situação é mais complicada, porque o governo tem, necessariamente, múltiplos objetivos além de maximização do emprego e da estabilidade do valor da moeda, como a proteção social, a redução da pobreza, a segurança da renda dos desempregados, a redução das desigualdades de renda pessoais, a redução dos desequilíbrios regionais etc. Isso torna o exercício da política econômica em 95% de arte e 5% de sólido fundamento econômico.

Esse fundamento é o único "instrumento" independente que está inteiramente nas mãos do governo: uma segura e inteligente política fiscal. Parece ser isso que a presidente Dilma internalizou.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

'O falso rigor esconde a falta de rigor'

Trechos da entrevista concedida por José Serra a Sílvia Amorim e publicada, hoje, em O Globo

Qual a sua avaliação sobre a postura do governo Dilma nesse primeiro teste da presidente no Congresso?

Lamentável. Está à vista de todos: oferece cargos, loteia o governo, promove a troca de favores não republicanos em troca da submissão de parlamentares. O valor do mínimo está sendo usado para o governo evidenciar ao mercado um rigor fiscal que ele absolutamente não tem. O falso rigor esconde a falta de rigor. Por que não começam pelos cortes de cargos comissionados ou dos subsídios, como os que são entregues ao BNDES?

São uns 3% do PIB, R$ 110 bilhões. O governo está inflando despesas de maneira enganosa ou vai falir o país em um ano. Dou um exemplo: as despesas de custeio foram de R$ 282 bilhões em 2010. O orçamento deste ano diz que o governo vai gastar R$ 404 bilhões: um aumento de 43%. Os restos a pagar do governo Lula se elevam só neste ano a R$ 129 bilhões. Quer apostar como vão cancelar muitos dos projetos, depois de servirem como instrumento para atrair votos na campanha?

O senhor tem usado bastante o Twitter para criticar e cobrar ações do governo Dilma. O que destacaria deste início de governo?

O destaque é o estelionato eleitoral. Há quatro meses falavam em investir num monte de coisas, milhões de casas, milhões de creches, de quadras esportivas, de estradas, de ferrovias. A realidade é que está tudo parado, a herança maldita deixada por Lula é gigantesca em razão do descontrole dos gastos, dos maiores juros do mundo, da desindustrialização.

A montagem do governo foi um festival de barganhas e, antes de terminar o segundo mês, ainda tivemos o bloqueio a um salário mínimo melhor, o escândalo de Furnas e a não apuração dos escândalos da Casa Civil. Não é à toa que a presidente fala pouco e nunca de improviso. O atual governo optou por fingir que nada disso é com ele.

As suas recentes aparições em público têm sido interpretadas como uma demonstração de interesse pela presidência nacional do PSDB. O senhor está disposto a disputar o cargo?

Depois da eleição, eu me recolhi, tive e tenho um período de maior reflexão. Eu estou voltando aos poucos. Não tenho me movimentado nem aparecido tanto assim. Mas vou voltar a trabalhar e ao ativismo político. Não é emprego, não é cargo. Meu objetivo é debater o Brasil. Eu já fui presidente do PSDB entre 2003 e 2004. Em nenhum momento, a ninguém, expressei o desejo de voltar à presidência do partido. Não acho que seja uma questão tão importante agora. Há muita fofoca, diz-que-diz-que, presunções. Em todo caso, dentro do partido são muito poucos os que desejariam trazer 2014 para 2011. Além de surrealista, isso nos tiraria o foco, enfraqueceria a oposição.

Um de seus principais aliados, o senador Aloysio Nunes Ferreira já disse publicamente que "Serra deve estar presente na direção do partido". Isso não é um sinal de que há uma tentativa de viabilizá-lo?

Posso garantir que não há nenhum movimento. A afirmação do Aloysio deve ter sido feita em resposta a alguma pergunta específica e tirada de contexto. Mas me parece óbvia: por que o PSDB iria excluir de seu quadro dirigente uma pessoa que teve o voto de 44 milhões de brasileiros? Por que excluiria um de seus fundadores? Por que excluiria um quadro que já foi deputado, líder, senador, ministro duas vezes, prefeito da maior cidade e governador do estado mais populoso?

O senhor cogita criar um novo partido?

Isso é uma calúnia anônima, sem pé nem cabeça.

O seu nome também tem sido lembrado para a eleição de 2012 à Prefeitura de São Paulo. O senhor estuda essa possibilidade?

Já disse e repito: não vou disputar eleição em 2012. Quem está trabalhando com essa hipótese está perdendo tempo.

Em 2010, o senhor foi considerado o candidato natural do partido à Presidência da República. O senador Aécio Neves é o candidato natural do PSDB para 2014?

Não sei como aferir se uma candidatura é natural ou não. Quando só há um candidato, a candidatura não é natural, é única, como aconteceu com o Covas (Mário Covas) em 1989 e com o Fernando Henrique em 1994 e 1998. Em 2002, muita gente achava que eu era o candidato natural. No entanto, quando a eleição se aproximou, pelo menos dois qualificados companheiros também se apresentaram. O que eu acho é que 2014 ainda está muito longe, e há muitas variáveis ainda imprevisíveis. Seria perda de tempo ficar especulando sobre o assunto.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O MEDO DA INFLACAO.

A EXAME traduz com precisao o que esta acontecendo hoje na economia brasileira na reportagem especial sobre ALEXANDRE TOMBINI, presidente do BANCO CENTRAL DO BRASIL.

Resumo: As projecoes do IPCA para 2011 indicam que o mercado desconfia da disposicao da atual diretoria do Banco Central de trazer a inflacao para o centro da meta ainda neste ano.

Entao nos temos: uma economia aquecida no embalo dos gastos do governo transformou o mercado de trabalho e esta aumentando a inflacao num momento em que o mercado questiona o BC.

Para quem recorda-se dos tempos de inflacao na decada de 80, jamais admitira que o governo baixe a guarda no combate ao dragao inflacionario.

Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e criador do sistema de metas de inflacao, comenta: “SE a inflacao se acomodar em 6% por algum tempo, estaremos perto do limite em que TODOS correm para indexar os precos.”

Acorda Dr. Tombini!!!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

APPLE IS APPLE!!!

"I LOVE APPLE SO MUCH AND HOPE TO BE BACK AS SOON AS I CAN."
Apple CEO STEVE JOBS announcing to employees that he'll be taking an indeterminate medical leave of absence.

CHUVA EM BELEM

Em Belem - Para, tambem chove um pouco... dia sim, outro dia tambem e o poder publico em conjunto com a educacao conseguem completar a enchente...
Charge diretamente do twitter do O LIBERAL.

FOLHA DE S. PAULO - PARABENS!!!

HOJE, 19/02/2011, o meu JORNAL favorito completa NOVENTA ANOS. Sou leitor da FOLHA DE S. PAULO, antes, durante e depois de morar em Sao Paulo. Na minha opiniao trata-se do melhor jornal do BRASIL. Diante disso, abaixo o editorial da FOLHA que conta melhor esta historia.
PARABENS FOLHA DE S. PAULO!!!
Ao completar 90 anos hoje, a Folha renova seu compromisso editorial mais básico, expresso na consecução de um jornalismo crítico, pluralista e apartidário.
Espera-se de um bom jornal que as informações publicadas sejam corretas. Mas a seleção de temas e enfoques precisa estar orientada por algum critério. No caso deste jornal, trata-se de focalizar os problemas coletivos e fiscalizar a atuação dos agentes públicos, aos quais a sociedade delega a tarefa de gerir os impostos que paga. Daí decorre uma atitude de permanente interpelação jornalística das autoridades.
A sociedade brasileira é múltipla. Há décadas, este periódico procura refletir essa fecunda diversidade, seja ao abrigar opiniões variadas e contraditórias, seja ao ressaltar que cada fato admite mais de uma versão, julgando seu dever trazê-las ao conhecimento do leitor. Sem esquivar-se de emitir seu próprio ponto de vista, a Folha cultiva a pluralidade.
O leitorado tampouco é homogêneo; as mais diversas inclinações nele se encontram representadas. Até por esse motivo, o jornal reivindica uma posição apartidária, no sentido de rechaçar todo alinhamento com partidos políticos, grupos econômicos ou correntes de opinião. Considera que ceder às paixões partidárias seria abrir mão de sua autonomia para exercer um jornalismo livre.
Desde meados da década de 1990, o país foi sucessivamente governado por duas tendências políticas que, desde então, disputam a preferência popular, tucanos e petistas. Apesar da aspereza de sua rivalidade, ambas têm convergido para o que se poderia chamar de social-democracia atualizada. Buscam fomentar a economia de mercado e corrigir suas distorções por meio de ações regulatórias do Estado.
Formulado assim, em termos amplos, esse programa conta com o endosso deste diário. Nenhuma publicação terá sido, porém, mais incômoda do que esta o foi nos períodos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Apontaram-se erros, cobraram-se compromissos assumidos, revelaram-se irregularidades. Este é um projeto editorial que acarreta desconforto também para quem o executa, pois as paixões do momento muitas vezes não permitem ver a trajetória de longo prazo.
Ao mesmo tempo, estamos cientes dos danos que um jornalismo crítico pode ocasionar de forma indevida, por precipitação ou imperícia. Daí a existência de um sistema interno de freios e contrapesos, do qual a face mais visível é a presença de um jornalista encarregado de fiscalizar e criticar a própria Folha e a publicação diária (e penosa) de uma seção de retificações -"Erramos".
O leitor acompanha o atual período de intensa transformação tecnológica que altera as relações tradicionais entre público e meios de comunicação. Acostumado a cultivar a inovação, este jornal vê na mudança sua própria razão de ser. Mas o cerne permanece na forma de compromissos que refletem, em nossa opinião, a melhor maneira de servir as centenas de milhares de pessoas que nos distinguem com sua confiança.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O HOMEM FORTE DA ECONOMIA.

Reconheço que se trata de um longo texto, mas este é um blog para leitores que também gostam de ler. Cristiano Romero, do VALOR ECONÔMICO, faz um perfil de ALEXANDRE TOMBINI, presidente do BANCO CENTRAL de uma maneira tão elegante que a leitura torna-se um prazer. Além do que, conhecer quem está no comando do BACEN é sempre uma informação valiosa. Agradeço ao site do CORECON RJ que postou o artigo nesta data. Boa leitura!!!

"Murilo, eu vou lhe dar um cara que ainda vai ser presidente do Banco Central. Você vai me agradecer pelo resto da sua vida." Foi dessa maneira que, em 2001, o então presidente do BC, Armínio Fraga, sugeriu a Murilo Portugal, diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), que contratasse como seu número 2 o economista Alexandre Tombini.

"Eu nunca o tinha visto na vida", conta Portugal, hoje o terceiro na hierarquia do FMI, mas prestes a mudar de emprego - em março, assumirá a presidência da Federação Brasileira de Bancos. Não demorou muito e Tombini ganhou a confiança do novo chefe, tornando-se seu "braço direito". "Eu tinha total confiança nele", afiança o vice-diretor do FMI.

O novo presidente do Banco Central é o nome forte da economia neste início do governo Dilma Rousseff. É o responsável pela gestão de dois dos três pilares da política econômica - o regime cambial e a política monetária. Em menos de dois meses, ganhou uma proximidade da presidente que seu antecessor, Henrique Meirelles, nunca teve do presidente Lula, o que já causa inveja em Brasília e desconfiança em setores do mercado.

Em oito anos de gestão, Meirelles teve encontros esparsos com Lula. Em geral, antes ou depois de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e, na maioria das vezes, para ouvir queixas sobre a taxa de juros. Lula chegou a condenar Meirelles a períodos de isolamento que duraram quase dois meses. A relação entre Dilma e Tombini, fundada há apenas três meses, é bem diferente.

A proximidade de Tombini com a Presidência seria indício, dizem observadores, de perda de autonomia do Banco Central

Todas as vezes que Tombini quer conversar com a presidente, telefona para o Palácio do Planalto e, pouco depois, é atendido. Na maioria das ocasiões, Dilma pede que ele vá ao palácio. "Tête-à-tête", testemunha um assessor graduado do governo. Como boa parte dos encontros não consta da agenda pública da presidente, Tombini entra no prédio pela garagem subterrânea, longe de fotógrafos e cinegrafistas que fazem plantão no palácio.

As conversas não têm durado menos de uma hora. Durante os colóquios, não se fala sobre o nível da taxa de juros ou do câmbio, mas sobre o estado geral da economia. Tombini já visitou Dilma, inclusive, na Granja do Torto, onde ela se hospedou antes de mudar-se para o Palácio da Alvorada. "Dilma é muito técnica, tem muita informação, gosta de discutir, debater", informa um ministro.

Tombini assumiu o BC num momento em que a inflação sobe perigosamente e as expectativas dos agentes econômicos se deterioram. O mercado desconfia da capacidade e do interesse do novo governo de adotar as medidas necessárias à reversão da aceleração inflacionária. Uma das dúvidas é sobre a real disposição de Brasília para conter a evolução dos gastos públicos.

A relação de Tombini com a presidente é próxima: é logo atendido em pedidos de audiência, para conversas, sobre o estado da economia, que não têm durado menos de uma hora

A primeira batalha do presidente do BC foi convencer a cúpula do governo de que a carestia neste momento não decorre apenas do choque de preços de commodities, que pressiona a inflação em todo o mundo. No caso brasileiro, o problema é agravado pelo crescente descompasso entre oferta e demanda. O Ministério da Fazenda rejeita essa hipótese, mas Tombini conseguiu mudar a opinião da presidente. Fez mais: defendeu que o anúncio dos cortes orçamentários fosse antecipado.

Essa proximidade de Tombini com a Presidência da República gera reações distintas. Para alguns observadores, é um indício de que o BC, sob a nova administração, não goza da autonomia que teve na gestão Meirelles. Um mau exemplo dessa adjacência, dizem alguns críticos ouvidos pelo Valor, foi o caso do banco PanAmericano.

Relata-se que Tombini atuou pessoalmente para pressionar o empresário Sílvio Santos a vender o banco ao BTG Pactual, livrando-o de qualquer punição. A operação teria ajudado também a Caixa Econômica Federal, que, numa ação polêmica, comprou 49% do capital do PanAmericano no fim de 2009, nove meses antes da descoberta de rombo de R$ 2,5 bilhões no balanço do banco - recentemente, o prejuízo subiu para R$ 4,3 bilhões.

"O pessoal do mercado vê o Tombini fazendo isso e pergunta: "O que é isso?". Então, esse é o risco que ele está correndo. Quando o BC se mete num negócio desses, as pessoas pensam: "É um sinal de que ele está muito próximo do governo e, assim, está mais sujeito a pressões". Esta é a leitura", diz um ex-dirigente do Banco Central.

Os defensores de Tombini alegam que ele atuou no caso porque essa é uma de suas obrigações como regulador. Ele, de fato, telefonou para Sílvio Santos, mas, se o empresário não concordasse em vender o banco, Tombini nada faria para obrigá-lo. Além do mais, lembram essas fontes, já na primeira operação de socorro do PanAmericano - um empréstimo de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) -, Silvio Santos assinou termo de compromisso em que prometia vender a instituição.

Nem todos os analistas acham que a proximidade de Tombini da cúpula do poder é sinal de capitulação aos interesses políticos do governo. "No nosso estágio de desenvolvimento, acho bom para o país ter um presidente do BC que vai lá dentro e briga pelas coisas e expõe e mostra qual é a situação, mas que também cumpre o seu papel. Eu procurei fazer assim", comenta Armínio Fraga, que comandou o banco entre 1999 e 2002 e hoje é sócio da Gávea Investimentos. "É melhor ele estar lá dentro, falando, brigando pelas teses dele. É difícil, sem dúvida, mas eu o considero um fantástico profissional e não acredito que vá ter uma atuação política."

Ao contrário do que ocorreu na gestão Armínio, nos oito anos do governo Lula, Henrique Meirelles manteve o BC longe do Palácio do Planalto. A hostilidade de vários setores do governo e do PT à instituição era tão intensa que Meirelles achou por bem manter distância.

Tombini sabe que, no novo governo, também há e haverá hostilidades. A relação com o Ministério da Fazenda tende a ser menos tensa do que foi na gestão de Meirelles, mas ele não se ilude: sua visão do que se passa na economia difere da propugnada pela Fazenda. Sabe-se, também, em Brasília, que, em março de 2010, quando Meirelles cogitava deixar a presidência do BC para se candidatar, o ministro Guido Mantega foi a Lula se pronunciar contra a nomeação de Tombini.

"Acho bom ter um presidente do BC que briga pelas teses dele. Não acredito que [Tombini] vá ter uma atuação política", diz Armínio Fraga

As suspeitas de que Tombini é sensível a argumentos políticos remontam às divergências ocorridas nas reuniões do Copom nos últimos cinco anos. Na linguagem dos economistas do mercado financeiro, ele seria "dovish", neologismo inglês que deriva de "pombo" ("dove") e designa os defensores de taxas de juros mais baixas e de uma postura mais tolerante com a inflação. O antônimo seria "hawkish", que vem de "falcão" ("hawk") e define os partidários de juros altos - em política externa, "hawkish" são os que defendem o uso da força, em detrimento da diplomacia, para dirimir conflitos.

A fama de "dovish" colou em Tombini a partir de um episódio nebuloso da história recente do Banco Central. Em 2005, quando ele e Murilo Portugal voltaram para o Brasil, o governo Lula vivia, com o escândalo do mensalão, o seu pior momento. A diretoria do banco, bastante criticada, passava por seu período de maior isolamento. O então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, engendrou um plano para mudar a diretoria, mas mantendo o rumo da política econômica.

Palocci planejava tirar Meirelles do BC e colocá-lo no Ministério do Planejamento. Murilo Portugal assumiria o comando do banco. Num segundo momento, o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, principal alvo da ira petista, deixaria o BC e seria substituído por Tombini. O plano jamais foi inteiramente realizado porque Palocci deixou a Fazenda em março de 2006, mas a vida de Tombini na diretoria do BC ficou mais difícil.

Era junho de 2005 quando a primeira parte do projeto foi colocada em prática. Tombini assumiu a diretoria de Estudos Especiais. Nos meses seguintes, travou embates ásperos com Bevilaqua. O primeiro deles teve motivação aparentemente prosaica: Tombini queria ter acesso aos dados que alimentavam os modelos rodados pelo Departamento de Pesquisas - que ele ajudou a criar seis anos antes - e que amparavam as projeções do Banco Central para a atividade econômica, os níveis de emprego e os preços.

Como integrante do Copom, Tombini alegava que se sentiria mais à vontade para votar nas decisões sobre juros se tivesse acesso aos dados. Bevilaqua não aquiescia. Julgava que a exigência era uma desconfiança em relação ao seu trabalho. A desavença não se deu apenas com Tombini. Outro diretor, este originário do mercado - Paulo Vieira da Cunha -, ameaçou pedir demissão pouco depois de assumir o cargo, em abril de 2006, por causa da recusa de Bevilaqua em abrir informações.

Nas reuniões do Copom, Tombini debatia, questionava, levantava dúvidas. Sua atitude irritava Bevilaqua, que via nele um sinal de que o Copom passava por um processo de mudança para se tornar mais dócil ao Palácio do Planalto. "Por causa da forma como o Tombini chegou, Bevilaqua centrava a reação dele no Tombini. Aí não era discussão. Era quase porrada", atesta um ex-diretor do BC.

Os choques entre os dois diretores tiveram consequências. Em abril de 2006, Tombini deixou a diretoria de Estudos Especiais e assumiu a de Normas, responsável pela regulação do sistema financeiro. Em seu lugar, foi nomeado o economista Mário Mesquita, que mais adiante substituiu Bevilaqua na diretoria de Política Econômica.

As disputas no Copom reforçavam a imagem de "dovish" que se cristalizava em Tombini. Em meados de 2006, ele publicou, em coautoria com Sérgio Lago Alves, o estudo "O Recente Processo de Desinflação no Brasil e Seus Custos". Alega, no trabalho, que os custos para controlar a inflação, em termos de impacto no crescimento econômico e nos níveis de desemprego, foram reduzidos no período pós-2002. Para alguns analistas, Tombini defendeu, na verdade, a ideia de que já seria possível crescer mais, com juros menores e menos inflação.

Medidas para encarecer o custo do crédito anunciadas pelo Banco Central em dezembro passado já tinham a marca de Tombini

No segundo mandato de Lula (2007-2010), o BC passou a ter menos diretores oriundos do mercado. Em tese, uma diretoria com mais funcionários de carreira significa que o banco resiste menos às pressões do governo por uma política monetária mais frouxa. Nesse ambiente, Tombini começou a figurar como possível sucessor de Meirelles. No fim de 2008, teria se reunido com um diretor vindo do mercado e dito o seguinte, depois de dar a entender que o manteria no cargo caso assumisse a presidência: "É bom ter uma combinação de um presidente que é mais "dovish" com um diretor [de Política Econômica] mais "hawkish" ou vice-versa. O que não dá para ser são os dois para um lado".

No Copom, Tombini começou a defender a adoção de medidas macroprudenciais, em vez do aumento puro e simples da taxa de juros, para conter a inflação. O curioso é que, quando chegou à área de Normas, entendia pouco do assunto. Estudioso, mergulhou no tema, dando às decisões dessa diretoria, segundo testemunho de colegas, "consistência econômica". "Em seus primeiros dias como diretor de Normas, saía do banco carregando malas de papéis para estudar em casa", revela um colega de diretoria.

Em dezembro passado, ainda na gestão Meirelles, o BC anunciou medidas para diminuir os prazos dos financiamentos e encarecer o custo do crédito. As medidas já tinham a marca de Tombini. Os objetivos foram dois: aumentar a segurança do sistema financeiro e, ao mesmo tempo, ajudar a controlar a demanda. Em janeiro, já como presidente do banco, ele comandou a reunião do Copom que promoveu o primeiro aumento de juros da era Dilma.

Como as medidas macroprudenciais têm impacto na demanda, é possível que o BC, na nova fase, recorra menos à alta dos juros para conter a inflação. Para integrantes do mercado, a motivação é política. O PT tolera arrocho no crédito, mas não na taxa básica de juros (Selic).

"A tendência de usar instrumentos macroprudenciais não é porque Tombini foi diretor de Normas do BC. Isso é uma vantagem para ele, mas, na verdade, é algo que está sendo feito no mundo inteiro", argumenta Murilo Portugal. De fato, o uso de medidas macroprudencias tem se intensificado em vários países por causa da diferença entre as taxas de juros das economias centrais e as do restante do mundo. A elevação dos juros para combater a inflação atrai capitais e aprecia as moedas locais, diminuindo a competitividade das economias.

Essas medidas estão sendo implementadas no mundo inteiro (o G-20 comprometeu-se com regras novas), tendo em vista a reação mundial à crise de 2008. Acho que é possível usar essas medidas também como fator de diminuição da demanda agregada. Elas são muito eficazes para evitar "bolhas" de crédito"", observa o vice-presidente do Itaú-Unibanco, Sérgio Werlang. "Contudo, o uso dessas medidas causa outras distorções microeconômicas que têm que ser levadas em consideração. Por exemplo, a meu ver, os compulsórios no Brasil já atingiram níveis que fazem com que usos adicionais tenham que ser pesados cuidadosamente", pondera ele.

Murilo Portugal rejeita a tese de que o presidente do BC é "frouxo". "Ele é uma pessoa que sabe o que precisa ser feito, tem coragem de falar a verdade para o poder, o que é muito importante para quem exerce uma função pública, mas faz isso de uma maneira convincente e não por meio de confrontos", diz o vice-diretor do FMI.

"Há uma desconfiança na cabeça dos analistas, que acham que ele tem um certo viés "dovish" e que o apoio que ele deveria ter das outras áreas pode, na hora H, não se materializar. Ele não é um cara frouxo, é firme, mas ele não é um dogmático, um sacerdote", concorda Armínio Fraga.

Mais de uma dezena de amigos e desafetos de Tombini ouvidos pelo Valor se refere a ele com adjetivos como firme, determinado, disciplinado, fechado. A partir desses depoimentos, conclui-se que o presidente do BC tem temperamento forte, mas não compra brigas à toa. É duro nas discussões, mas não é irascível. Realista, mas não tolo.

"Tem "drive" próprio para pensar e analisar, não é de ficar repetindo o que os outros falam", elogia novamente Portugal. Tendo chegado à presidência do BC, sua responsabilidade daqui em diante é diferente. "Ele não voltará mais a ser diretor, seu horizonte é outro. Ele tem que entregar a inflação na meta", assinala um ex-dirigente do banco.

Tombini é tão reservado que se recusou a informar à reportagem quais são seus economistas prediletos. E mesmo suas preferências literárias. Concordou apenas em informar que é torcedor do Internacional de Porto Alegre, tem dois filhos e é casado com uma americana, cujo nome ele também tentou manter em segredo. Ele conheceu Michele em Urbana, cidade onde fica a Universidade de Illinois. Enquanto ele fazia o doutorado, ela se graduava em ciência política. Mais tarde, ela se doutorou em direito pela Escola de Chicago.

Michele fala português fluentemente. Filha de um casal que recebia estudantes brasileiros que faziam intercâmbio pelo Rotary Club, foi a única de quatro irmãs que se interessou em aprender o idioma. Já vivendo com Tombini em Brasília, passou por uma experiência traumática - um assalto - enquanto recebia um casal de amigos americanos na capital. Por causa do episódio, espalhou-se o rumor de que Tombini pedira a Armínio Fraga um posto no exterior, mas sua assessoria desmente - o assalto foi em 1994, sete anos antes de ele ir para o FMI.

“Tombini é um bom macro e microeconomista. Olha o problema de vários pontos de vista”, observa Sérgio Werlang

Tombini começou a ganhar prestígio em Brasília em 1999. Naquele ano, Armínio Fraga chegou ao comando do BC e decidiu, em meio à crise que resultou na forte desvalorização do real, implantar no país o regime de metas para inflação e o sistema de câmbio flutuante. Combinados com a decisão do governo Fernando Henrique Cardoso de gerar superávits primários nas contas públicas, os novos instrumentos representavam uma guinada na forma como a estabilização da economia, iniciada pelo Plano Real cinco anos antes, passaria a ser conduzida dali em diante.

Até o início de 1999, o câmbio no Brasil ainda era quase-fixo e a taxa de juros era usada não para combater a inflação, mas para atrair dólares e, dessa forma, ajudar a financiar as contas externas. Com o novo tripé de política econômica, a taxa de juros, num ambiente de câmbio flutuante e disciplina fiscal, passou a ser a âncora da economia.

O regime de metas demandava a criação de um Departamento de Pesquisas que olhasse mais para o longo prazo da economia e desenvolvesse e testasse constantemente modelos macroeconômicos. Até então, o BC era incapaz de fazer projeções sobre a atividade econômica e, portanto, sobre o comportamento futuro da inflação.

Na ocasião, Armínio convidou Sérgio Werlang para ser o diretor de Política Econômica, principal responsável pela implementação do regime de metas. Como a legislação determina que a chefia de departamentos do BC seja ocupada apenas por funcionários de carreira, Werlang abriu um processo de seleção interna. O perfil do novo cargo exigia que o candidato tivesse sólida formação em macroeconomia. De preferência, com doutorado.

Currículos foram analisados, entrevistas realizadas e, no fim, Werlang chegou a Tombini, funcionário da Casa desde 1995, consultor do Departamento de Fiscalização, formado em Economia pela Universidade de Brasília e com doutorado pela Universidade de Illinois. "A escolha dele era muito clara", atesta Werlang. "Ele é um bom macro e microeconomista, uma combinação que não é comum. Em geral, os economistas são muito especializados. O Tombini é um economista que olha o problema de vários pontos de vista."

Essa mesma qualidade é ressaltada por seu orientador de tese em Illinois, o professor Werner Baer, um brasilianista que estuda o Brasil desde os anos 50 do século passado. Nos anos 60, chegou a publicar vários artigos em coautoria com Mário Henrique Simonsen. Deu aulas na FGV e na PUC do Rio, e também na USP.

Há décadas, Baer recruta estudantes brasileiros para fazer pós-graduação em Illinois, cujo curso de economia, explica o professor, não é dominado por nenhuma das grandes escolas americanas. "Em macroeconomia, tem influência da Escola de Chicago [de tradição monetarista] e também das escolas da Costa Leste dos Estados Unidos. O estudante escolhe o seu próprio caminho", diz ele para em seguida ressalvar: "Isso aqui não é uma igrejinha".

Parte dos estudantes brasileiros que vão a Illinois recebe bolsas custeadas pelo empresário Jorge Paulo Lemann. No fim dos anos 80, Baer foi apresentado a Tombini por um professor da UnB. Ficou tão impressionado com os conhecimentos do futuro pupilo que o dispensou de fazer o mestrado, levando-o direto ao doutorado.

"Tombini combina uma coisa que não é muito comum. Ele tem domínio muito bom da teoria econômica, é tecnicamente muito bem preparado, mas sempre teve os pés no chão. Ele conhece as instituições, sempre se interessou em saber como funcionam e tem rigor estatístico", comenta o professor.

Em sua tese de doutorado, um calhamaço de 167 páginas intitulado "Atividade Econômica e Instabilidade Financeira no Brasil: Evidência Empírica e Teórica", Tombini desenvolve, pela primeira vez, a ideia de que, diante de crises provocadas por choques exógenos (as crises do petróleo nos anos 70, por exemplo), os sistemas financeiros não são neutros. Na verdade, eles amplificam os impactos desses choques.

"Tombini afirma que o setor financeiro no Brasil deve ser tratado como uma importante fonte de flutuações macroeconômicas. Ele faz isso olhando para teorias de flutuações econômicas existentes e desenvolvendo sua própria teoria e testando-a econometricamente", explica Baer.

No Copom, Tombini começou a defender a adoção de medidas macroprudenciais, em vez do aumento puro e simples das taxas de juros

Tombini concluiu o doutorado em 1991. Tinha apenas 27 anos - hoje tem, portanto, 47. Somente quatro anos depois, ingressou na carreira do Banco Central. O gosto pela Economia veio do pai, Tildo Noelmo Tombini, gaúcho, de ascendência italiana, que trabalhou durante dez anos na Organização das Nações Unidas (ONU), na época em que a instituição tinha um braço econômico forte.

Tildo, já falecido, era um especialista em orçamento. Desenvolveu o conceito de orçamento-programa, cujo principal objetivo é fazer a ligação entre o planejamento de médio e longo prazo do governo e as ações do dia a dia. Foi um dos responsáveis, por exemplo, pela montagem do orçamento do Uruguai, ao tempo da redemocratização do país vizinho, em meados dos anos 80.

Por causa da profissão do pai, Tombini foi alfabetizado em espanhol e viveu em quatro países da América Latina - Chile, Paraguai, Costa Rica e Nicarágua. A família deixou o Chile pouco antes do golpe militar que apeou Salvador Allende do poder em 11 de setembro de 1973. Dali, mudou-se para Porto Alegre, onde Tildo trabalhou numa empresa de consultoria e ajudou a criar o polo industrial de Joinville (SC).

Sua influência intelectual rendeu frutos. E, com a chegada de Tombini à presidência do Banco Central, um novo capítulo na história da família começou a ser escrito.

Governing Brazil

Na metade de seus 100 primeiros dias de governo, reconheço finalmente que DILMA não é LULA e que o governo está comportando-se de maneira diferente e para melhor. Sei que se trata do início, mas estou confiante que dias melhores virão. Não quero acreditar que dilma piores virão... Para os meus quase dois (milhões de) exigentes leitores, abaixo matéria da THE ECONOMIST desta semana sobre este início de governo da Presidente DILMA.

DILMA ROUSSEFF won Brazil’s election last year less because of her own qualities than because her hugely popular predecessor and political mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, urged the voters to choose her. Since she had never before held elected office, nobody could be sure what kind of president she would turn out to be. Some Brazilians (and this newspaper, which endorsed her opponent) worried that she might be a more rigidly ideological left-winger than the pragmatic Lula. The evidence of her first six weeks in office is reassuring.

Under Lula, Brazil saw faster growth, impressive social progress but little or no reform of burdensome taxes and red tape. Abroad, an activist foreign policy brought new clout and new criticism. Ms Rousseff came to power on a platform of continuity. But she has also inherited an overheating economy, with inflation revving up and industrialists screaming about the strength of the real. She knows that she will be judged in part on whether Brazil’s airports, stadiums and transport are ready in time for the 2014 football World Cup.

Ms Rousseff is a very different person from Lula. Lacking his star quality, she has shunned the limelight. But what she has so far said and done has been clear and welcome. She has scotched notions that she would be soft on inflation. Her team has quickly signalled the need for some budget austerity after Lula’s last two spendthrift years. She rightly wants to focus social policy on eliminating extreme poverty (which still afflicts about one Brazilian in ten), while improving health care and schooling. And she is right, too, to want to seek tax and political reforms, even though those prizes eluded both Lula and his predecessor, Fernando Henrique Cardoso.

The most immediate change has been in the tone of foreign policy. Lula had a penchant for embracing dictators, from Cuba’s Fidel Castro to Iran’s Mahmoud Ahmadinejad. Brazil’s decision to vote against the UN resolution tightening sanctions against Iran’s nuclear programme was particularly ill-judged and did nothing to advance its claim to a permanent Security Council seat. In contrast, Ms Rousseff has criticised repression in Iran, stressed her commitment to human rights and said she wants to “deepen” ties with theUnited States. This amounts to a deft rebalancing of policy without detracting from Brazil’s case for reform of global governance.

The mother of battles to reform the state

But Brazilians will judge her on the economy. Can she sustain faster growth without sacrificing economic stability? Here the task is not easy. This week she won an important battle on the minimum wage: she wants to restrict its rise, because it has expensive knock-on effects on pensions. Her government’s plan to seek cuts of 50 billion reais ($30 billion) in the inflated budget may be both insufficient and hard to implement. But at least she is battling on the right side.

The important thing is that Ms Rousseff should see these tussles as the first round in a lengthy campaign to rationalise a baroque state and strip away the handicaps that hinder Brazilian firms from competing. The signs are good. Rather than horse-trade senior jobs in state companies and agencies with her allies in Congress, she wants to appoint the best people. The government hints that it will prise the airports from the dead hand of the air force and bring in private investment. Brazil’s booming capital markets are ready to help.

Ms Rousseff clearly intends to be an efficient administrator. What the next few months will show is whether she also has the political skills to extract reform from her large but voracious coalition in Congress. She has the makings of a good president. But the real tests are yet to come.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...