quarta-feira, 18 de março de 2020

Copom reduz a taxa Selic para 3,75% a.a.

Em sua 229ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 3,75% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
  • No cenário externo, a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros. Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador;
  • Dados de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom vinham em linha com o processo de recuperação gradual da economia brasileira. Entretanto, esses dados ainda não refletem os impactos da pandemia de COVID-19 na economia brasileira;
  • O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;
  • As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,1%, 3,65% e 3,5%, respectivamente;
  • No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 3,75% a.a. e se eleva até 5,25% a.a. em 2021; e
  • No cenário com taxa de juros constante a 4,25% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções situam-se em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso um agravamento da pandemia provoque aumento da incerteza e redução da demanda com maior magnitude ou duração do que o estimado.
Por outro lado, o aumento da potência da política monetária, a deterioração do cenário externo ou frustrações em relação à continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória da inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 3,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário 2020 e, principalmente, de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom enfatiza que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de elevar a taxa de juros estrutural da economia. Nessa situação, relaxamentos monetários adicionais podem tornar-se contraproducentes se resultarem em aperto nas condições financeiras.
O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos.
O Banco Central do Brasil ressalta que continuará fazendo uso de todo o seu arsenal de medidas de políticas monetária, cambial e de estabilidade financeira no enfrentamento da crise atual.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.

Monica de Bolle: Como evitar a depressão econômica?

Monica de Bolle, O Estado de S. Paulo
18 de março de 2020 | 04h00

Acompanho as análises nos jornais brasileiros sobre a ruptura inédita causada pela pandemia e me causa angústia a falta de urgência. Não me refiro apenas à irresponsabilidade atroz do presidente da República, que põe em risco a vida das pessoas, mas também ao fato de que poucos no Brasil se deram conta do que é essa crise. Trata-se de uma parada súbita da economia mundial como jamais vimos. E, ao que tudo indica, não será uma parada súbita de curta duração, como a observada após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, ou como aquela proveniente da crise financeira de 2008. Não se trata apenas da incerteza atrelada à epidemia, mas das medidas de saúde pública que estão sendo tomadas mundo afora. Para desacelerar a propagação do vírus, fronteiras, escolas, universidades, bares, restaurantes, escritórios estão sendo fechados. Alguns países impuseram toques de recolher. As companhias aéreas já sofrem o baque do isolamento e do distanciamento social. A economia mundial sente os primeiros efeitos da parada súbita.
A crise será de longa duração. Para desacelerar a progressão da epidemia e “achatar a curva”, como o esforço pela desaceleração ficou conhecido, as medidas inéditas estarão conosco por vários meses. Uma vez alcançado o pico da epidemia, serão mais vários meses de semiparalisia até que seja seguro começar a abandonar as medidas excepcionais de saúde pública. Será um recomeço gradual. A não ser que tenhamos rapidamente uma vacina – o que hoje não parece provável – estamos falando, possivelmente, de mais de um ano de parada quase total do mundo. Para 2020, o quadro de retração global é certo. Registraremos, pela primeira vez em muitas décadas, uma queda do PIB global. É por esse motivo que países começaram a adotar políticas extraordinárias para atenuar os efeitos da crise. Em tempos de calamidade inédita e risco de depressão, metas fiscais e a evolução da dívida tornam-se absolutamente irrelevantes. Não se compara o desajuste fiscal proveniente do que é necessário agora ao quadro de depressão que se instaurará se as medidas forem insuficientes ou se governos forem contaminados pela inação. A inação mata.
Embora o governo brasileiro esteja muito longe de reconhecer a gravidade do momento – as medidas recém-anunciadas por Paulo Guedes são insuficientes – há os que começam a pensar no que fazer. Há mais de uma semana tenho defendido o que considero necessário para enfrentar a crise de longa duração a abater em breve o Brasil, que entra nela a partir de uma situação econômica muito frágil. São elas: suplemento emergencial imediato do benefício do Bolsa Família em pelo menos 50%; a instituição de uma renda básica universal mensal no valor de R$ 500 para os 36 milhões do Cadastro Único que não recebem Bolsa Família – esses são os grupos mais vulneráveis; a abertura de R$ 50 bilhões em créditos extraordinários para a saúde, com a possibilidade de aumentar esse montante; acelerar e dar maior flexibilidade à aprovação do seguro-desemprego; disponibilizar recursos emergenciais para os setores mais afetados pela crise no valor de pelo menos R$ 30 bilhões; abertura de linhas de crédito do BNDES para micro, pequenas e médias empresas. Por fim, recomendo um programa de investimento público em infraestrutura para sustentar a economia no médio/longo prazo com a utilização de recursos do BNDES.
As medidas de caráter imediato – saúde, proteção social e setorial – somam cerca de R$ 310 bilhões ao longo de 12 meses, ou uns 4% do PIB. Isso é metade dos cerca de 8% do PIB que gastávamos com os juros altos de 14% há poucos anos. Embora seja um montante considerável, o mais arriscado nesse momento não é o que vai acontecer com o déficit ou com a razão dívida/PIB – até porque não há investidor no mundo, hoje, preocupado com a sustentabilidade das contas públicas. Para viabilizar o que proponho, precisamos da imediata flexibilização da meta fiscal e da suspensão do teto de gastos por um período de dois anos. Deixo claro que o teto é importante para sustentabilidade fiscal de longo prazo – mas, o momento é de calamidade.
É claro que, se a situação melhorar, se uma vacina for encontrada, se os cientistas encontrarem um tratamento eficaz para a síndrome respiratória aguda que se manifesta nos casos mais graves da doença, os montantes que sugiro poderão ser reduzidos. Mas, na situação em que estamos é melhor errar para mais do que para menos. Errar para menos significa pôr em risco a vida de dezenas de milhões de pessoas. Manter o pensamento encaixotado, hoje, é fatal.
* ECONOMISTA, PESQUISADORA DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA SAIS/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY 

Dólar atinge nova máxima e fecha a R$ 5,1955 - Valor Econômico.

Coronavírus: Dicas que podem salvar a sua VIDA!

Alemanha enfrenta maior desafio desde Segunda Guerra, diz Merkel.

Valor: Após tocar R$ 5,20, dólar desacelera alta com leilões do BC.

terça-feira, 17 de março de 2020

Exame: Santander vê risco de recessão técnica no Brasil no segundo trimestre de 2020.

El País: Como é a quarentena em Nova York, a cidade que nunca dorme.

O Globo: Armínio Fraga defende gasto público.

Armínio Fraga acha que o país vai entrar em recessão, que o governo deve aumentar o gasto público porque as leis que fixam limites de gastos preveem espaço para quando há uma calamidade. “E para isso acho que não deveria haver limites.” No Banco Central, algumas formas de estimular a oferta de crédito foram anunciadas e o Ministério da Economia soltou um pacote que foi quantificado como de R$ 147 bilhões, mas na verdade pouco desse valor é dinheiro novo. No intenso dia de ontem, houve de tudo, inclusive o presidente Jair Bolsonaro voltando a escalar nos ataques ao Legislativo, numa entrevista de manhã.

CNN Brasil: A recessão global do coronavírus já começou.

https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/03/17/a-recessao-global-do-coronavirus-ja-comecou

Paul Krugman: Your money or your life?

Back in 2009 the economists Carmen Reinhart and Ken Rogoff published a very good book with a brilliant title: “This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly.” They were, of course, being sarcastic: During every financial bubble, as debt rises to levels that historically have portended trouble, investors eagerly assure themselves and each other that old rules no longer apply, only to suffer ruin when the usual things happen.

This time, however, really is different. Economic data are only now beginning to show what the financial markets have already priced in, a dramatic slump over the next few months. But while the slump — the coronacession? — is definitely coming, it’s going to be different from previous recessions. Among other things, while we usually measure the success of economic policy by what happens to real G.D.P. — the total value of goods and services the economy produces, adjusted for inflation — this time G.D.P. will be both a poor measure of success and a bad target for economic policy. 

To be sure, there will be many parallels with the financial crisis of 2008 and the Great Recession that followed. Now as then, financial markets are being disrupted, with crazy asset pricing driven by financial stress. Now as then, there will probably be a lot of gratuitous unemployment, as consumers curtail their purchases and workers lose their jobs — gratuitous unemployment in the sense that it could have been avoided if Congress and the Trump administration had moved quickly to provide adequate economic stimulus. (Spoiler: they won’t).

What’s different this time, however, is that some of the things we want to be doing, indeed must do if we don’t want hundreds of thousands of unnecessary deaths, will temporarily reduce G.D.P. And that’s OK.

Most obviously, we want and need sick or potentially sick workers to stay home, limiting the spread of the virus. Some of these homebound workers will be able to do their jobs remotely, but even in 2020 most jobs require physical presence. As a result, we’re going to lose the G.D.P. those workers could have produced. So be it. Production isn’t everything.

A slightly more problematic issue involves jobs lost because of the social distancing we need to slow Covid-19’s spread. People won’t and shouldn’t be going to restaurants, doing nonessential shopping, and so on; that leaves people who would normally be working at these establishments idle.

The reason this is slightly more problematic is that given time, service workers in the affected sectors could be re-employed in substitute activities: fewer servers, more people making deliveries. In fact, Amazon says it needs to hire 100,000 more workers to keep up with surging online demand. If extreme social distancing were to become the new normal, there’s no fundamental reason we couldn’t still have full employment; it would just require a different mix of jobs.

But that can’t happen overnight, and if we think the worst will pass in a few months, it actually makes sense for most workers in the afflicted sectors to stay where they are and not work for a little while. That also means less G.D.P., but again, so be it.

So what’s the role of economic policy here? Two things. First, reduce the pain. Universal sick leave at close to full pay should just be the start; we should also be doing what Denmark is doing, and subsidize firms that keep paying wages. We should also dramatically increase aid to the unemployed.

Second, we should be funneling money into the economy to sustain spending on things that shouldn’t be affected by the virus. Job losses brought on by inadequate overall demand serve no purpose.
  
None of this would or should prevent at least a few months of economic contraction. But we could do a lot to make this plague less painful economically. I wish I had any confidence that we’ll do more than a small fraction of what we should.

Fox: Stocks battle to recoup losses from steepest drop since 1987 crash.

Barry Eichengreeen hoje no Estadão: 'Gasto privado parado precisa ser substituído pelo gasto público'.

Valor Investe: Afinal, por que a bolsa cai tanto? E para onde vai o dinheiro que a derruba?

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...