Editorial do Valor Econômico de hoje e a análise do Relatório Trimestral de Inflação divulgado pelo Bacen.
As previsões do mercado financeiro para
o comportamento da economia, mais pessimistas do que as que o governo vinha
apresentando, encontraram um respaldo de peso no Relatório Trimestral de
Inflação de dezembro, divulgado ontem pelo Banco Central (BC). O Relatório
Trimestral de Inflação reduziu em meio ponto a expectativa de crescimento da
economia neste ano, de 3,5% para 3%, e, além disso, cravou para 2012 um
crescimento de 3,5%. Outros setores do governo vinham propagando recentemente a
previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) poderia crescer mais no próximo
ano - a própria presidente Dilma Rousseff falou em 5%. Mas esse era apenas um
arroubo de otimismo injustificado, um desejo de ano novo.
Uma previsão dessa magnitude não tem
fundamento para se sustentar, inclusive tendo em conta o instável cenário
internacional. O BC mantém a expectativa de que a crise internacional terá um
impacto na economia brasileira equivalente a um quarto do ocorrido em 2008 e
2009, sem eventos extremos, com viés desinflacionário em vista da perspectiva
de atividade mais moderada e do risco de recessão em alguns países.
O relatório explica que levou em conta
na redução da previsão do PIB deste ano também as medidas tomadas entre o fim
de 2010 e meados deste ano para desacelerar a economia, cujo impacto é defasado
no tempo. O mercado financeiro trabalha com a expectativa de que o PIB vai
crescer pouco menos de 3% neste ano. O número do último relatório Focus é de
2,92%.
Para o BC, o nível de atividades melhora
ligeiramente no próximo ano e os 3,5% previstos de expansão do PIB não estão
muito distantes dos 3,4% estampados na mais recente pesquisa Focus. O aumento
do emprego, da massa salarial, da confiança do consumidor e da oferta de
crédito vão contribuir para o crescimento maior da economia em 2012. A
indústria e os serviços, que desaceleraram no segundo semestre deste ano, devem
recuperar o ritmo em 2012.
Ao informar que o crescimento econômico
acumulado em 12 meses recuou de 4,9% para 3,7% entre o segundo e o terceiro
trimestre, o relatório avalia que a economia está agora em um "ciclo de
crescimento em ritmo mais condizente com as taxas avaliadas como sustentáveis
em longo prazo".
No cenário que o Comitê de Política
Monetária (Copom) vai levar em conta em suas decisões, o nível de atividades
vai crescer em um ambiente de inflação mais baixa. Apesar de manter a
expectativa de que a inflação vai convergir para o centro da meta no próximo
ano, a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses
projetada para 2012 é de 4,7%, a mesma já prevista no relatório de setembro, e
de 4,7% também para 2013. Ou seja, haverá uma significativa desaceleração de
preços porque, em 2011, a inflação, que já está praticamente dada, chegará a
6,5%, conforme as projeções do BC. Houve ligeira revisão do número, pois no
relatório anterior a expectativa era que o IPCA subisse 6,4% neste ano. Essas
projeções levam em conta o que o Copom chama de cenário de referência, que
pressupõe juros básicos e taxa de câmbio constantes até o fim de 2012. No
cenário de mercado, que considera projeções de juros e câmbio capturadas pela
pesquisa Focus junto a bancos e empresas, a inflação chega a 4,8% em 2012 e a
5,3% em 2013. Já o mercado financeiro prevê para 2012 inflação de 5,39%.
Como esclareceu o próprio diretor do
Banco Central, Carlos Hamilton, isso se deve aos efeitos defasados do
afrouxamento monetário que está sendo implementado e terá impacto no nível de
atividades no segundo semestre de 2012, com prováveis reflexos na inflação no
início do ano seguinte.
O relatório do Banco Central reforça a
estratégia de ajustes moderados na política monetária, apesar de considerar a
existência de pressões altistas da inflação no primeiro trimestre, derivadas de
fatores sazonais como matrículas escolares e alimentos in natura.
Com uma frase já conhecida de cor e
repetida praticamente com as mesmas palavras em outros relatórios, o de
dezembro ressalta que "o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os
efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no
nível de taxa básica são consistentes com cenário de convergência da inflação
para a meta em 2012".
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