Realista editorial do O GLOBO de hoje sobre a 6ª maior economia do mundo e a 73ª em IDH. Realmente Mantega, vamos ultrapassar os vinte anos...
Não é desprezível o PIB brasileiro ter
ultrapassado o da Inglaterra, com US$2,51 trilhões, e o país ser agora a sexta
maior economia do mundo. Mas, antes que bravatas nacionalistas prejudiquem a
percepção da realidade, cabe relativizar o feito, sem reduzi-lo de importância.
Bem fez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao lembrar que, para o brasileiro
atingir o padrão de vida inglês, serão necessárias mais uma ou duas décadas de
crescimento contínuo. Pois, se a renda per capita brasileira é de US$12.916, a
inglesa está em quase US$40 mil. Algo semelhante acontece com a China, segunda
potência econômica mundial, mas com uma renda per capita de US$5.183, menos que
a metade da brasileira.
O PIB - o valor de tudo o que é
produzido num país - é um indicador relevante, mas apenas um indicador. Para se
ter uma ideia abrangente de um país, é necessário reunir uma série de dados.
Mais ainda quando se trata do Brasil, terra de grandes disparidades -
regionais, de renda, sociais, etc. Há vários outros índices que mostram como o
Brasil ainda precisa avançar. Um deles é o do Desenvolvimento Humano (IDH), bem
mais abrangente que o PIB. É sugestivo que a sexta economia tenha apenas o 73º
IDH.
A trajetória cumprida pela sociedade
depois da redemocratização, em 1985, lançou as bases para o país chegar ao
ponto atual. Em 1994, com o Plano Real, veio a estabilização da economia, sem a
qual nada seria possível. De 2003 a 2010, Lula resistiu à tentação de "mudar
tudo isso que está aí", manteve os conceitos básicos da política econômica
anterior e conseguiu combater a miséria - seria impossível se a inflação
voltasse. Atingido o patamar de sexta "potência", o Brasil tem de se
lançar sobre uma agenda da qual tenta escapar nos últimos nove anos. Para
repetir em outros índices o crescimento do PIB, com inclusão social, terá de
fazer reformas como a da Previdência. Ela é vital a fim de impedir um futuro
europeu para aposentados e pensionistas brasileiros, e ainda abrir espaço nas
contas públicas com o objetivo de se ampliar os gastos em educação, chave para
o crescimento ter sustentabilidade. E se também aperfeiçoar a arcaica
legislação trabalhista, o país ampliará ainda mais a formalização no mercado de
trabalho, fonte de financiamento do próprio sistema previdenciário.
Também com o mesmo objetivo de mudar a
composição dos gastos públicos, Brasília precisará abrir de fato portas de
saída para beneficiários do grande sistema assistencialista montado nos últimos
16 anos. Ele só terá êxito quando liberar pessoas para o mercado de trabalho.
Gastos públicos proporcionalmente
menores - um estado do tamanho de 40% do PIB precisa ser menos pantagruélico -,
permitirão, ainda, o aumento da taxa de poupança, hoje na faixa dos 20% do PIB,
cinco pontos aquém do necessário para a economia se manter em crescimento sem
sustos.
Ministra de Lula, Dilma Rousseff viveu
parte dessa história por dentro. Deve saber que seria ruinoso repetir a falácia
da ditadura militar de tentar crescer com inflação. Depois do Plano Real, o
Brasil precisa de novo salto: crescimento equilibrado, juros
"normais", com um sistema educacional de bom padrão, infraestrutura
ampliada e modernizada, para o que será necessária uma maior participação privada
no setor e, portanto, menos preconceito ideológico em Brasília. É a missão da
atual geração de dirigentes brasileiros.
Um comentário:
João que texto interessante, é nessas situações que percebemos os gigantescos desníveis sociais,com enfoque para a péssima distribuição de renda!! Boas férias João valeu...
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