PAUL KRUGMAN, em sua coluna no The New York Times, aqui publicado pela Folha de S. Paulo, neste 31.12.2011.
O teste tem vindo de países europeus
como Grécia e Irlanda, que tiveram que impor austeridade fiscal
"O momento de expansão, e não de
retração, é a hora certa para o Tesouro Nacional ser austero."
Foi o que disse John Maynard Keynes em
1937, quando o BC americano estava a ponto de provar que Keynes estava certo ao
tentar equilibrar o orçamento cedo demais, fazendo a economia americana entrar
em profunda recessão.
Um governo que adota política de cortes
numa economia em depressão faz a queda ser pior; a austeridade deve esperar até
que a recuperação esteja bem encaminhada.
Infelizmente, no fim de 2010 e início de
2011, políticos e governantes em muitas partes do ocidente acreditavam que
sabiam mais, e que nós deveríamos focar em deficits e não em empregos, ainda
que nossas economias tivessem acabado de se recuperar da depressão pós-crise
financeira. Agindo de forma anti-keynesiana, acabaram provando que Keynes
estava certo mais uma vez.
Ao declarar que a economia keynesiana
foi vingada, estou indo contra o saber convencional. Especialmente em
Washington, a incapacidade do pacote de estímulos de Obama de gerar grande
número de empregos é geralmente vista como prova de que gastos governamentais
não conseguem produzir empregos.
Mas aqueles de nós que fizeram as contas
corretamente perceberam desde o início que a Lei de Recuperação e
Reinvestimento de 2009 era restrita demais, dada a profundidade da queda. E
também previmos o consequente retrocesso político.
Portanto, o verdadeiro teste para a
economia keynesiana não veio dos tépidos esforços do governo americano para
impulsionar a economia, que foram largamente contrabalançados por cortes em
níveis estaduais e municipais.
O teste tem vindo de países europeus
como a Grécia e a Irlanda, que tiveram que impor severa austeridade fiscal como
condição para receber empréstimos de emergência -e têm sofrido perdas
econômicas do mesmo nível da Grande Depressão. Isso não deveria acontecer,
segundo a ideologia que domina grande parte do nosso discurso político.
Em março passado, a parte republicana do
Comitê Econômico Conjunto do Congresso divulgou relatório que ridicularizava as
preocupações de que cortes em um momento de queda poderiam piorar a situação,
argumentando que os cortes aumentariam a confiança de consumidores e de
mercados, e isso sim poderia levar a um crescimento mais rápido, não mais
lento.
A insistência em cortes imediatos
continuou dominando o cenário político, com efeitos maléficos sobre a economia.
É verdade que não houve novas grandes medidas de austeridade do governo
federal, mas vimos muita austeridade "passiva" à medida que o pacote
de estímulos de Obama saiu de cena e governos estaduais e municipais sem
liquidez continuaram fazendo cortes.
Você poderia argumentar que Irlanda e
Grécia não tinham escolha quanto à imposição de austeridade a não ser fazê-lo
ou declararem-se inadimplentes e deixar o euro.
Mas outra lição de 2011 foi que os EUA
tinham e têm uma escolha; Washington pode estar obcecado com a questão do
deficit, mas os mercados financeiros estão, sim, sinalizando que nós deveríamos
tomar mais empréstimos.
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