ANTONIO DELFIM NETTO, hoje na Folha de S. Paulo, explica o mistério do baixo crescimento do PIB com baixo desemprego.
É fato que a economia
brasileira: 1) perdeu o vento de "cauda" da conjuntura mundial que a
impulsionou de 2003 a 2010, mas mudou de direção em 2011, dificultando o seu
crescimento; 2) tem um deficit em conta corrente insustentável de US$ 80 bilhões
por ano (3,5% do PIB) devido ao uso da taxa de câmbio para controlar a
inflação; 3) e sofre os inconvenientes da taxa de câmbio valorizada que são
muito superiores aos seus eventuais benefícios na redução da taxa de inflação.
Esta continua a namorar o
limite superior de tolerância da meta (6,5%), mas, obviamente, não está fora de
controle e 4) por tudo isso, paga o preço de um crescimento minúsculo (talvez
1,7% ao ano em 2011-2014) que, pelo menos em parte, é responsável pela
desconfortável situação fiscal, mas que está longe de ser apocalíptica.
Começamos a tomar consciência
de que as desejadas políticas de inserção social, redução das desigualdades e
ênfase no aumento da igualdade de oportunidades, ínsitas na Constituição de
1988, criaram uma modesta mas numerosa classe "média" em um mercado
de 200 milhões de cidadãos. Para que elas continuem com sucesso, é preciso
voltar a crescer com melhor equilíbrio. Seguramente esse é um problema menos
difícil do que a quadratura do círculo com régua e compasso, mas está muito
longe de ser trivial.
O que é, afinal, esse
fenômeno a que damos o nome de desenvolvimento? É apenas o codinome do aumento
da produtividade do trabalho. Ele depende de muitas coisas: do tratamento e dos
estímulos dados a cada trabalhador e aos empresários, do ambiente de trabalho,
da disposição de cooperação efetiva de cada um no processo global etc.
Mas depende de duas condições
necessárias (ainda que não suficientes): 1) é preciso alocar a cada trabalhador
um volume crescente de capital físico (por exemplo, trocar um arado puxado a
boi por um trator) que incorpore ganhos tecnológicos e 2) é preciso dar a cada
trabalhador a capacidade, isto é, o preparo técnico, para tirar proveito da
sofisticação do estoque de capital que lhe é alocado.
Simplificando:
desenvolvimento econômico = aumento da produtividade da mão de obra = mais
capital físico com sofisticação crescente para cada trabalhador associado ao
seu preparo técnico para operá-lo.
Como fazer isso sem a
cooptação dramática do setor privado depois que a política de inclusão empregou
toda a mão de obra com pequenas habilidades e baixa produtividade, logo, com
baixos salários (o que explica o "mistério" do baixo crescimento do
PIB com baixo desemprego)?
A resposta cabe aos dois
candidatos.
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