segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CÂMBIO ALTO É A SOLUÇÃO?

Recebo dos meus colegas de Economia Politica, um artigo do Márcio G. P. Garcia, PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, publicado no VALOR ECONOMICO e divulgo com os meus quase dois leitores. (www.econ.puc-rio.br/mgarcia)

Afirmou o ministro da Fazenda: "... com um câmbio a R$ 2,60, venceríamos todos. Venceríamos os chineses, a indústria coreana" (O Globo, 18/11/2009, página 21). O tom transcendente em que tal frase foi proferida, em um encontro de industriais, parecia conferir ao câmbio alto (depreciado) status semelhante ao da paz entre os homens ou ao do fim da fome; ninguém poderia ser contra tal objetivo. O câmbio depreciado é mesmo tão bom para a economia brasileira?

Isoladamente, o câmbio depreciado parece ótimo, pois amplia as exportações, a produção, o emprego e os lucros dos exportadores (ainda que esse aumento seja sempre esquecido quando empresários defendem o câmbio alto). O problema é que nada em economia, como na vida, ocorre isoladamente. Há sempre uma miríade de relações de causa e efeito entre variáveis econômicas que podem gerar, e frequentemente geram, resultados indesejáveis a partir de ações bem intencionadas.

Em primeiro lugar, cabe indagar como o governo poderia empurrar a taxa de câmbio para cima. A forma tradicional de desvalorizar a taxa de câmbio é o governo, normalmente via Banco Central (BC), comprar dólares até que o preço da moeda (a taxa de câmbio) suba ao nível pretendido. A contrapartida da compra de dólares pelo BC, que leva à depreciação da taxa de câmbio, é o aumento da base monetária e a diminuição da taxa de juros. Mas, a sistemática de metas para inflação, usada no Brasil, requer que se mantenha a taxa de juros em níveis próximos à meta Selic fixada pelo Copom, sob o risco de elevar a inflação. Assim, para impedir a queda da taxa Selic, com consequente aumento da inflação, o BC esteriliza o aumento da base monetária, via operações contracionistas de mercado aberto (venda de títulos públicos). A esterilização torna a compra de dólares pelo BC muito menos eficiente em desvalorizar o câmbio. Por isso, países que controlam a taxa de câmbio normalmente praticam, ao menos parcialmente, intervenções não-esterilizadas.

O problema é que a prática frequente de intervenções não-esterilizadas não é compatível com nosso regime de política monetária. Será que queremos abrir mão do regime de metas para inflação para voltarmos a um regime de câmbio administrado? Se a proposta for essa é necessário haver ampla discussão, informada por debates técnicos que esclareçam ao público os possíveis efeitos de tal mudança, sobretudo quanto à inflação futura. O que não se pode fazer é escamotear o abandono do sistema de metas de inflação caso se decida por intervenções não-esterilizadas.

Mas, por que a depreciação do câmbio poderia provocar inflação? A resposta pode ser vista por dois ângulos diferentes, mas umbilicalmente interligados: o dos preços e o das quantidades. É intuitivo o efeito que tem a depreciação do câmbio sobre os preços dos bens importados, majorando os preços internos. Menos intuitivo, mas igualmente importante, é o fato de que o câmbio depreciado torna os bens que exportamos, cujos preços são fixados em moeda estrangeira, mais caros em reais. Assim, tais bens também ficam mais caros internamente, como é o caso da carne, do açúcar, da soja e muitos outros.

A ótica das quantidades provê visão alternativa complementar. A depreciação cambial aumenta as exportações e diminui as importações. Ou seja, aumenta o PIB. Isto é desejável, mas até certo ponto. Caso o aumento das exportações leve o PIB para acima da capacidade produtiva da economia, o PIB potencial, a inflação se acelerará. Naturalmente, o PIB potencial também cresce. Mas, o crescimento do PIB potencial depende da taxa de investimento da economia, que, no Brasil, é muito baixa. Além disso, como tem salientado Affonso Celso Pastore, há uma relação muito alta entre importações e investimento. Nos períodos de câmbio apreciado ocorre muita importação de máquinas e equipamentos, fundamentais para a difusão de inovações tecnológicas com impactos positivos sobre a produtividade.

Mas a China não mantém uma taxa de câmbio artificialmente depreciada e é o país que mais cresce no mundo, sem inflação? Por que não podemos fazer o mesmo? Há, certamente, muitas diferenças entre a economia chinesa e a brasileira. Mas, a diferença mais relevante, no que tange à possibilidade de intervir na taxa de câmbio, aumentando as exportações e o crescimento do PIB, sem causar muita inflação, parece ser a elevadíssima taxa de poupança da economia chinesa. Como a taxa de poupança da China é mais do que o dobro da do Brasil, nosso espaço de manobra é muito mais reduzido. Basta olhar o que ocorreu com a Argentina, que tentou fazer política monetária com objetivo de manter o câmbio alto. Voltou a ter sério problema inflacionário, mascarado por estatísticas oficiais manipuladas nas quais ninguém acredita.

O aumento da taxa de poupança da economia brasileira é fundamental, não para podermos interferir no câmbio flutuante, mas para permitir maiores taxas de investimento e crescimento econômico. Para aumentar essa taxa, a maior contribuição que a política econômica poderia dar seria a de reduzir o forte crescimento do dispêndio público. A diminuição do crescimento do gasto público também ajudaria a depreciar a taxa real de câmbio. Infelizmente, desde 2005, o governo deixou de lado qualquer pretensão de controlar seus gastos e abraçou insensato programa de expansão dos gastos públicos de custeio, não havendo mais esperança que tal rumo seja mudado até 2011.

Mas nossos "policy-makers" permanecem sob forte pressão para "resolver" a questão cambial. Algumas medidas, como o IOF sobre entradas de capitais, estão sendo implementadas. Tais medidas não devem ter efeitos substanciais sobre a taxa de câmbio, embora tenham efeitos nocivos sobre o custo de capital das empresas, prejudicando o investimento produtivo. Medidas de liberalização cambial são boas "per se", mas tampouco é claro que, se adotadas, causem significativa depreciação.

A pressão sobre o BC para desvalorizar o câmbio se parece com a do paciente que questiona seu médico: "Dr., sei que estou gordo, tenho vida sedentária, muito estresse, fumo e bebo. Não quero mudar isso. Mas quero um jeito de manter boa saúde." O final desse filme é conhecido. Mudança de médico. Aí é que mora o perigo!

ENTREVISTA COM DELFIM NETTO

A leitura de grandes biografias e entrevistas com pessoas inteligentes estão sempre na minha tela. Por isso, é com satisfação que leio na FOLHA DE S. PAULO de hoje uma entrevista com o Mestre ANTONIO DELFIM NETTO, uma aula de economia, política e ciência.

FOLHA - Em um recente artigo, o senhor tratou o aparelhamento do Estado brasileiro como um defeito comum a todos os governos, não apenas àqueles com DNA sindical, como o atual. O aparelhamento, então, não tem credo ou ideologia?
ANTONIO DELFIM NETTO - Continuo com a convicção de que sindicato mais política é igual à corrupção. Essa fórmula, descoberta no século passado pelo sociólogo alemão Robert Michels, continua válida. Eu só quis dizer que cada governo aparelha a seu modo, por motivos diferentes. Veja o caso de Brasília. Na primeira leva, a cidade recebeu mineiros. Depois vieram maranhenses, alagoanos e paulistas. Agora, sindicalistas. O grande drama desse problema é que ninguém sai, só entra. É isso. Se fizermos uma análise geológica de Brasília, fatiagráfica, notaremos camadas que se superpõem. E qual é a regra do jogo? É a nova camada respeitar cuidadosamente os benefícios recebidos pela que está sendo substituída.

FOLHA - Qual é o efeito desse acúmulo?
DELFIM NETTO - Isso está levando o Estado a uma situação de quase insolvência fiscal. Está armado aí um enrosco da maior gravidade. O problema mais grave é da sustentação do sistema da seguridade social e da Previdência. Não é possível carregar um país onde o salário médio do aposentado do Judiciário é mais de 30 vezes o salário do trabalhador aposentado no INSS. No Legislativo, é 20 vezes; no Executivo, 12 a 14. Uma casta se instalou em Brasília e, com as camadas de aparelhamento, aprofundou essa divergência. Não há controle sobre o serviço público.

FOLHA - Qual é a evidência de que essa situação é insustentável?
DELFIM NETTO - É simples. O Brasil vai ficar velho antes de ficar rico. A população brasileira vai começar a diminuir em 2035 ou 2040. Temos a mais rápida redução da taxa de fertilidade no Ocidente. A situação pode parecer confortável hoje, mas, olhando dez anos à frente, o quadro muda. Há, também sob o ponto de vista da análise demográfica, o risco do câmbio real fora da posição. Se perdurar, essa disfunção vai alterar a estrutura produtiva.
O Brasil, daqui a dez anos, vai ter 250 milhões de habitantes. Vai ter que dar emprego razoável para 140 milhões de pessoas. Se essa gente não receber oportunidades de emprego com remuneração razoável, não tem solução. Esses empregos não virão da agricultura. Só a indústria e os serviços podem dar conta disso. E o câmbio errado destrói esses setores.

FOLHA - Como o governo lida com essas questões?
DELFIM NETTO - Só agora o governo está se mexendo para resolver o problema do câmbio. Mas ainda há aqueles que acham, sem evidência empírica, que não se pode atuar para consertá-lo. Uma imbecilidade. Quanto aos gastos públicos, o comportamento tanto do Executivo como do Congresso é apavorante. Estudo feito pelo competente economista José Roberto Afonso, ligado ao PSDB, aponta que os projetos malucos em tramitação no Congresso, além das maluquices do Executivo, representam uma despesa pública adicional de mais de R$ 100 bilhões por ano.

FOLHA - Mas não é natural aumentar gasto público na crise? Não é disso que se trata a política anticíclica?
DELFIM NETTO - No mundo inteiro a política anticíclica termina quando a demanda privada volta ao nível anterior. Aqui ela continua carregando o custeio depois de terminado o ciclo. No Brasil, política anticíclica nunca é anticíclica.

FOLHA - Mas e o sucesso do país no enfrentamento à crise?
DELFIM NETTO - O país se recuperou mesmo tendo políticas fiscais e monetárias erradas. O diferencial foi o bate-caixa do Lula. O presidente liderou o país ao pedir aos brasileiros que continuassem a consumir. Nenhum economista ousaria fazer isso. Seria considerado um louco heterodoxo. Além disso, o Brasil havia melhorado muito. Na verdade, a Constituição de 1988, apesar de seus exageros, de ter inventado gastos que não cabiam no PIB, criou uma estrutura institucional que está sendo seguida. O Brasil é o país com melhor situação institucional entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China). Somos uma democracia constituída.

FOLHA - E o risco de autoritarismo popular apontado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
DELFIM - O Fernando é um sujeito extremamente inteligente, esperto, e não consegue viver sem um alto protagonismo público. É um provocador enorme. Ele se diverte com esse negócio. As pessoas imaginam que ele está empenhado num estudo sociológico. Que nada. Ele está empenhado numa diversão. E, quando o sujeito responde agressivamente ao Fernando, ele está cumprindo a missão que o Fernando impôs a ele. Esse alerta que ele fez não ajuda em nada.

FOLHA - Por que não ajuda?
DELFIM - Se fosse ele o presidente, teria aceitado o terceiro mandato e destruído a democracia. Essa foi a inteligência do Lula. Resistir a um terceiro mandato a despeito de tudo o que fizeram para que ele aceitasse. Isso faz uma diferença.
Outra injustiça do Fernando é ignorar que o Lula teve um papel decisivo na rápida superação da crise. Nenhum intelectual, nenhuma pessoa que pretenda ter um conhecimento maior de economia teria assumido o risco que o Lula assumiu. Todos pediram para encolher, para pisar no freio. Os banqueiros privados foram os primeiros. O Lula pôs todo o seu patrimônio em risco dizendo: consuma, o desemprego só virá se você não consumir.

FOLHA - Qual é o potencial de transferência de votos do presidente Lula?
DELFIM - A ministra Dilma é uma administradora competente. Quem duvidar disso vai se decepcionar. Mas a transferência de votos não é segura. Tivemos uma prova empírica disso com a última derrota eleitoral da Marta [Suplicy] em São Paulo (nas eleições municipais de 2008). O Lula passeou de mãos dadas com ela duas vezes na cidade, na zona leste. Na segunda vez, trouxe cinco governadores com ele. E qual foi o resultado? Muito pequeno. Talvez no Nordeste você tenha um efeito maior, mas, na verdade, onde conta, do rio Grande para baixo, o poder de transferência parece não valer tanto.

FOLHA - Como o sr. avalia a cautela do governador Serra em se atirar na disputa?
DELFIM - O Serra é sem dúvida um grande administrador, tem ideias próprias que são bastante razoáveis e está fazendo um bom governo. É um competidor muito forte e está se cuidando. Seu problema é que o PSDB não se decidiu. Tem o Aécio nesse processo, que não é só um candidato "redoutable" [temível], mas um agente político eficiente, um centrifugador. Enquanto o PSDB não se decidir, os dois agirão com cuidado.

FOLHA - O que está em jogo nas eleições do ano que vem?
DELFIM - Acho que todos têm que entender, inclusive a Dilma, que o próximo governo não será uma continuação do Lula. O próximo governo terá de enfrentar os problemas do século 21, que embute uma mudança radical na estrutura produtiva. Principalmente na maneira como vamos fornecer energia para o desenvolvimento.

FOLHA - Há 50 anos o sr. publicou "O Problema do Café no Brasil". Como seria recebido hoje um trabalho econômico com a mesma abordagem histórica?
DELFIM - Não seria aceito em lugar nenhum. Hoje estamos controlados por uma matemática bastarda. Há um domínio do brilhantismo, da técnica manipuladora sobre o realismo. Naquele tempo eu usava a matemática de forma moderada. Não havia, como há hoje, nenhum axioma que viola a realidade. Não redigi o artigo com lemas, pois a economia trata de dilemas. A matemática é que trata de lemas.

FOLHA - Como essa visão matemática afeta a análise econômica?
DELFIM - Em novembro de 2008, a rainha [Elizabeth 2ª, do Reino Unido] chegou à London School of Economics e disse: "A única coisa que eu quero saber é o seguinte: há um século os senhores estão aqui estudando. Como é que não previram essa crise?". Vários grupos de professores, então, prepararam respostas a ela. Os neoclássicos detectaram problemas de cálculos, erros em fórmulas. Já aqueles de orientação mais keynesiana disseram simplesmente que os economistas haviam abandonado a economia. Substituíram-na por uma matemática exagerada. Esqueceram a história, esqueceram a filosofia, esqueceram a psicologia, a geografia. É isso mesmo.

FOLHA - O sr. teve um problema de saúde recente. Teve mais sorte com médicos do que com economistas?
DELFIM - Nunca tinha entrado num hospital, nunca tinha feito uma operação. Aos 81 anos, costumo dizer, tive minha primeira experiência. Fiquei dois meses baleado, mas estou bem, estou voltando a trabalhar. Aprendi a respeitar os médicos muito mais do que respeitava. O médico é muito menos ortodoxo do que um economista formado na visão única.

domingo, 22 de novembro de 2009

CALCULANDO A BUSCA NO GOOGLE

JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO, graduado e mestre pela USP, professor de matemática do colégio Santa Cruz, escreve na FOLHA interessante artigo sobre como o GOGLE ordena as buscas.

De acordo com levantamentos recentes, em outubro de 2009 a internet registrou um total de 230 milhões de sites. Nesse oceano de informação, endereços de busca como Google, Yahoo e AltaVista necessitam ordenar os sites de acordo com a sua importância.
Por exemplo, se você digitar no Google a palavra "folha", o primeiro site listado será a Folha Online, e isso não se deve a uma predileção do Google pela Folha Online, mas sim ao fato de que o site é classificado com alto PageRank ou PR, um índice que mede o grau de "importância" da página. O PR é uma medida do número de links direcionados para uma determinada página. O cálculo do PR de um site é um problema essencialmente matemático, como veremos a seguir.
Imaginemos uma web com apenas três sites, A, B e C. Chamaremos de PR(A), PR(B) e PR(C) o PageRank dos sites A, B e C, respectivamente. O Google utiliza a seguinte fórmula para o cálculo do PR de um site X dessa nossa microweb de apenas três sites: PR(X)=0,15+0,85.K, onde K é a soma dos quocientes de PR dos sites que compõem a web (exceto o site X) e dispõem de link indicando X, pelo número de links indicados em cada um desses sites (links para quaisquer sites da web). Entenderemos melhor o uso dessa fórmula através de três exemplos.
No exemplo 1, para o cálculo de PR(A) temos K=0, porque nem B nem C indicam links para o site A. Nesse caso, temos PR(A)=0,15.
No mesmo exemplo 1, PR(B)=0,15+0,85.[PR(A)/1]. No cálculo de PR(B), o valor de K leva em conta apenas PR(A), porque A é o único site que indica link para B; e PR(A) está sendo dividido por 1 porque A faz uma única indicação de link na web. Finalmente, PR(C)=0,15+0,85.[PR(B)/1], por razões análogas ao caso anterior. Para determinar PR(B) e PR(C), basta resolver o sistema de equações, o que resultará PR(B)=0,2775 e PR(C)=0,385875.
Nesse caso, obtivemos PR(A)PR(B)PR(C), o que sugere uma ordenação razoável da importância dos três sites se analisarmos com atenção a configuração dessa web.
No exemplo 2 temos uma configuração de web onde A, B e C têm a mesma importância. O sistema de equações a ser resolvido é: PR(A)=0,15+0,85.[PR(C)/1], PR(B)=0,15+0,85.[PR(A)/1] e PR(C)=0,15+0,85.[PR(B)/1], cuja solução será PR(A)=PR(B)=PR(C)=1, tal qual o esperado.
No exemplo 3, as equações são as seguintes: PR(A)=0,15+0,85.[PR(B)/1], PR(B)=0,15+0,85.[PR(A)/2 +PR(C)/1] e PR(C)=0,15+0,85.[PR(A)/2], cuja solução é: PR(A) 1,1634, PR(B)1,1922 e PR(C)0,6444. O site B tem maior PR porque é apontado pelos outros dois sites, e o site A fica em segundo lugar porque é apontado por B, que é o site de maior PR.
Saindo da nossa microweb de três sites para a web real, com mais de 230 milhões de sites, o calculo do PR de um site por sistemas de equações é absolutamente intratável, mesmo se forem usados supercomputadores. Na web real, a determinação do PR de um site é feita por aproximação usando as mesmas ideias aqui apresentadas, mas através de cálculos iterativos.

ECONOMIA: RESPONSABILIDADE E COOPERAÇÃO

Direto da FOLHA, o colega ANTONIO DELFIM NETTO escreve que “A crise financeira mundial trouxe de volta a lembrança de que o capitalismo, para funcionar adequadamente, não prescinde de um grau elevado de cooperação social nem da confiança entre as pessoas que livremente elegeram esse sistema para viver. Ela reincorporou igualmente a ideia de que não há contradição entre a presença de um Estado forte e a organização dos mercados.
O Estado constitucionalmente regulado precede e sustenta o desenvolvimento dos mercados, cuja dinâmica é alimentada pela liberdade criativa dos indivíduos. Os mercados não sobrevivem nem no Estado absoluto nem no estado de anarquia.
Por definição, o Estado constitucionalmente organizado é o "garante" da atividade econômica, através dos mecanismos dos mercados. É ele que a salva quando o acidente destrói o fator catalítico que a sustenta: a confiança.
O esquecimento dessas verdades explica por que os males produzidos na crise foram absorvidos, neutralizados ou rebatidos de forma tão diferenciada entre os países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, de início, houve muita demora na intervenção do Estado, embora todos soubessem que, a partir do momento em que foi quebrada a confiança no setor financeiro, era apenas questão de tempo o colapso no setor real da economia. Tal hesitação contribuiu para o prolongamento da recessão.
Entre nós, percebeu-se rapidamente que o fenômeno transcendia os aspectos financeiros: o que realmente ameaçava a continuidade do desenvolvimento era a perda da confiança, aquele fator catalítico que sustenta a coesão social e o bom funcionamento da economia real. É fato que o governo Lula vivia um período de estabilidade política e de crescimento econômico bem melhor que seus colegas Bush e Obama, mas isso não diminui os méritos de sua reação à crise desde os primeiros instantes.
O exercício da boa regulação pelas autoridades monetárias manteve o sistema bancário nacional fora das práticas irresponsáveis que destruíram um bom pedaço das instituições financeiras nos países industrializados. Ele foi atingido pelo pânico com a morte súbita do crédito externo e teve que ser socorrido pelo Estado brasileiro, com alguma hesitação, mas seguramente com medidas corretas, que restabeleceram os níveis de confiança necessários para a normalização das linhas de crédito.
O fator decisivo, contudo, que permitiu ao Brasil afastar a recessão mais rapidamente que qualquer outro país foi que não se quebrou a confiança estabelecida entre um governo decididamente indutor e a sociedade (trabalhadores, empresários).”

sábado, 21 de novembro de 2009

O HUMOR NA ECONOMIA AMERICANA

Lá como cá, todos precisamos rir de determinadas situações econômicas e políticas. Com vocês, direto da revista TIME, série "cartoon of the Week".

KRUGMAN: WORLD OUT OF BALANCE

Paul Krugman, Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, venceu o prêmio Nobel de economia em 2008 e registra no The New York Times de 15/11/09 seu artigo MUNDO FORA DE ORDEM. Boa leitura e reflexão.

As viagens internacionais de líderes mundiais em geral servem de gestos simbólicos. Ninguém espera que o presidente Barack Obama volte da China com grandes novos acordos de política econômica ou de qualquer outra coisa.

Esperemos, contudo, que quando as câmeras não estiverem rodando, Obama e seus anfitriões travem alguma conversa franca sobre política monetária, pois o problema do desequilíbrio no comércio internacional está prestes a se tornar substancialmente pior. E, a não ser que a China se corrija, haverá um confronto potencialmente feio adiante.

Uma breve descrição do quadro: a maior parte das moedas do mundo "flutuam" umas contras as outras. Ou seja, seus valores relativos sobem ou descem dependendo das forças de mercado. Isso não necessariamente significa que os governos são totalmente isentos: os países algumas vezes limitam a saída de capitais quando há uma corrida contra sua moeda (como fez a Islândia no ano passado) ou toma medidas para desestimular a entrada de dinheiro quente quando temem que especuladores exagerem em sua avaliação positiva (o que o Brasil está fazendo agora). Atualmente, porém, a maior parte das nações tenta manter o valor de sua moeda alinhado com os fundamentos econômicos de longo prazo.

A China é a grande exceção. Apesar dos enormes superávits comerciais e do desejo de muitos investidores de entrarem nesta economia que cresce rapidamente - as forças que deveriam ter fortalecido o yuan, a moeda da China - as autoridades chinesas mantiveram a moeda persistentemente fraca. Eles fizeram isso principalmente trocando yuans por dólares, acumulado em grandes quantidades.
E nos últimos meses a China executaram uma desvalorização, mantendo o índice do câmbio yuan-dólar fixo enquanto o dólar caía fortemente contra outras importantes moedas. Isso deu aos exportadores uma vantagem competitiva crescente sobre seus rivais, especialmente produtores em outros países em desenvolvimento.
O que torna a política monetária da China especialmente problemática é o estado deprimido da economia mundial. O dinheiro barato e o estímulo fiscal parecem ter evitado uma segunda Grande Depressão. Contudo, as políticas não conseguiram gerar suficiente consumo, público ou privado, para combater o desemprego em massa. E a atual moeda artificialmente fraca na China exacerba o problema, de fato desviando a demanda tão necessária do resto do mundo para os bolsos de exportadores chineses artificialmente competitivos.
Mas por que eu digo que este problema está prestes a piorar? Porque no último ano a verdadeira escala do problema chinês foi mascarada por fatores temporários. Daqui para frente, podemos esperar tanto um aumento do superávit comercial da China quanto do déficit comercial dos EUA.

Esse é o argumento de um novo artigo de Richard Baldwin e Daria Taglioni do Instituto Graduate, Genebra. Eles observam que os desequilíbrios comerciais, tanto o superávit chinês quanto o déficit norte-americano, recentemente estiveram muito menores do que há poucos anos, mas que "essas melhoras globais são em grande parte ilusórias, o efeito colateral transitório do maior colapso comercial que o mundo já viu".

De fato, o mergulho no comércio mundial em 2008-09 foi um recorde e refletiu principalmente o fato do comércio moderno ser dominado por vendas de bens manufaturados duráveis. Diante da crise financeira severa e de sua acompanhante incerteza, tanto os consumidores quanto as corporações adiaram suas compras de tudo o que não fosse imediatamente necessário. Como isso reduziu o déficit comercial americano? A importação de bens como automóveis despencou, assim como algumas exportações dos EUA, mas como entramos na crise importando muito mais do que exportávamos, o efeito líquido foi uma redução da diferença comercial menor.
A crise financeira, contudo, está arrefecendo, e esse processo será revertido. Na semana passada, o relatório comercial dos EUA, mostrou um forte aumento no déficit entre agosto e setembro. E haverá muitos outros relatórios desse tipo.
Tente imaginar: mês após mês, manchetes justapondo os déficits comerciais americanos e os superávits comerciais chineses com o sofrimento de trabalhadores americanos desempregados. Se eu fosse o governo chinês, estaria realmente preocupado com essa perspectiva.
Infelizmente, os chineses não parecem entender: em vez de enfrentarem a necessidade de mudar sua política monetária, eles vêm dando lições aos EUA, dizendo-nos que devemos aumentar a taxa de juros e conter os déficits fiscais - ou seja, tornar nosso problema de desemprego ainda pior.
E tampouco tenho certeza que o governo Obama entende a gravidade da situação. As declarações do governo sobre a política monetária chinesa parecem pro forma , sem sentido de urgência.
Isso precisa mudar. Eu não vejo com maus olhos as oportunidades fotográficas e os banquetes de Obama. Eles fazem parte de seu papel, mas, por trás das cenas, espero que esteja advertindo os chineses que estão jogando um jogo perigoso.

O DÓLAR DO BRADESCO

Relatório do BRADESCO revisa a projeção da taxa de câmbio para R$/US$ 1,60 em até 31/12/09. A confirmar...

O FILME DO ANO JÁ ESTÁ ESCOLHIDO?

E já que postei sobre o filme LULA, O FILHO DO BRASIL, vamos melhorar o nosso sábado com essa beleza de charge, diretamente de FORTALEZA, do nosso DIÁRIO DO NORDESTE, feita por Mestre SINFRÔNIO.

EDUCAÇÃO OU FALTA DE E SUA RELAÇÃO COM POPULARIDADE

ESTE É O NOSSO BRASIL: Uma pesquisa do Instituto Pró-Livro confirma que o brasileiro lê pouco. São 77 milhões de não leitores, dos quais 21 milhões são analfabetos. Já os leitores, que somam 95 milhões, leem, em média, 1,3 livro por ano. Incluídas as obras didáticas e pedagógicas, o número sobe para 4,7 - ainda assim baixo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a população lê, em média, 11 livros por ano. Já os franceses leem sete livros por ano, enquanto na Colômbia, a média é de 2,4 livros por ano.

Por isso não temos surpresa com popularidades superiores a 80%...

LULA, O FILHO DO BRASIL?

A princípio, e por uma questão de princípio, não estou comprando ingresso para assistir, logo que possível, ao filme LULA, O FILHO DO BRASIL. Cearense, lá do interior de IBIAPINA, posso afirmar que conheço razoavelmente o que aconteceu com a trajetória de LULA. E sempre prefiro DRAMA, a uma estória romanceada.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

FGV - CONJUNTURA ECONÔMICA

É lamentável que tenhamos poucas vozes na oposição com a lucidez do FHC. De sua excelente entrevista na CONJUNTURA ECONÔMICA deste mês, destacamos:
  • O Estado tem de ter o tamanho necessário. Fica ruim quando o Estado incha sem qualidade.
  • É indiscutível que o governo LULA seguiu as políticas macroeconômicas montadas em 1999 - câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e metas de inflação - e se beneficiou do sistema financeiro sólido que construímos.
  • O PAC virou tudo, inclusive um instrumento de propaganda.

O DÓLAR SEGUNDO PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR, diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), escreve hoje na FOLHA DE S. PAULO, um artigo para reflexão e análise sobre o DÓLAR.

O leitor é testemunha: tenho sido nesta coluna, há mais de dez anos, defensor incansável, talvez cansativo, da preservação de uma taxa de câmbio competitiva, da diminuição da vulnerabilidade externa da economia e de medidas seletivas de regulação dos movimentos de capital. Nos anos recentes, o governo brasileiro deu vários passos nessa direção geral. Houve acentuada diminuição do desequilíbrio do balanço de pagamentos em conta-corrente, as reservas internacionais aumentaram consideravelmente desde 2006 e, mais recentemente, o governo tributou de forma seletiva a entrada de capitais estrangeiros.

A medida anunciada ontem pelo Ministério da Fazenda - a cobrança de um IOF de 1,5% sobre a emissão de "Depositary Receipts" no exterior - é mais um passo no sentido de preservar a economia nacional dos efeitos decorrentes de operações financeiras externas. O ministro da Fazenda e seus assessores explicaram a natureza e o objetivo da medida. Ela complementa o IOF de 2% incidente sobre certos tipos de investimento estrangeiro (aplicações em ações e renda fixa), que foi introduzido há um mês. O objetivo é evitar que o IOF de 2% sobre aplicações de não residentes em ações emitidas no país estimule a migração de operações para o exterior, prejudicando o mercado de capitais brasileiro.
O problema da apreciação excessiva do real permanece, porém. É verdade que, depois da introdução do IOF de 2% sobre investimentos externos em renda fixa e em ações, a valorização do real foi interrompida. No último mês, a taxa de câmbio real/dólar, que vinha caindo rapidamente, ficou mais ou menos estabilizada entre 1,70 e 1,75.
Mas o que houve nos últimos 30 dias foi a estabilização da taxa cambial num patamar valorizado. Entre as principais moedas, o real foi das que mais se valorizaram em relação ao dólar dos Estados Unidos nos últimos 12 meses. Só o dólar australiano e o rand sul-africano subiram mais do que a moeda brasileira nesse período.
De uma maneira geral, a economia brasileira está indo bem. No exterior, há um verdadeiro entusiasmo pelo Brasil (talvez até exagerado). Há uma convicção bastante generalizada de que o nosso país oferece oportunidades extraordinárias.
Temos, porém, um calcanhar de Aquiles: a excessiva valorização do real, que decorre em parte do referido entusiasmo internacional. Se o problema persistir por muito tempo, pagaremos um preço elevado.
Por enquanto, a situação está sob controle. O Banco Central estima que o deficit de balanço de pagamentos em conta-corrente (que inclui a balança comercial, serviços, rendas e transferências unilaterais correntes) deve ficar em apenas 1,2% do PIB em 2009.
No entanto, o câmbio valorizado, combinado com a retomada da demanda e do nível de atividade da economia nacional, deve provocar, já em 2010, aumento expressivo do deficit em conta-corrente. A moeda forte retira competitividade internacional da economia. Pode prejudicar gravemente diversos segmentos da indústria brasileira e outros setores da economia que exportam ou concorrem com importações de bens e serviços.
O governo brasileiro terá, portanto, de redobrar esforços para preservar a nossa competitividade externa. A medida de ontem, embora de caráter pontual, sugere que o Ministério da Fazenda está atento ao problema e consciente da necessidade de enfrentá-lo. É provável que novas medidas tenham de ser tomadas ao longo dos próximos meses.

DOIS GIGANTES - UM G2?

Nesta semana Barack Obama está pela Ásia, mas já alertou que a economia dos Estados Unidos poderá caminhar para uma "recessão de duplo mergulho" se não forem tomadas medidas urgentes para conter os níveis crescentes da dívida pública norte-americana. Dias atrás recebemos os números da economia americana demonstrando que o país havia emergido da recessão, no terceiro trimestre.

No entanto, Obama advertiu que a recuperação econômica pode ser curta se os EUA não retomar o caminho da retidão fiscal. Pensando nisso recordei dos dados abaixo e, apesar de não acreditar numa SUPER CHINA, mas sim numa recuperação extraordinária dos Estados Unidos, não há como não ficar de olho em números tão grandes:

  • US$ 337,8 bilhões foi quanto a CHINA exportou em 2008 para os EUA.
  • US$ 69,7 bilhões foi quanto os EUA vendertam à China. US$ 268,1 bilhões foi o déficit para o lado americano.
  • US$ 1,4 TRILHÃO é quanto a CHINA possui em moedas e títulos do Tesouro americano, ou seja, algo como TODO O PIB DO BRASIL.
  • 19% das exportações chinesas vão para os EUA.
  • Existem 7.000 empresas americanas na China.
  • A CHINA será, em 2010, a segunda maior economia do mundo.

A primeira continua sendo a de sempre.... Até quando?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

ATÉ ONDE O DÓLAR VAI CHEGAR?

Ainda o dólar. Segundo a Folha de S. Paulo, o REAL foi a moeda que mais subiu neste ano em relação ao dólar. Mesmo assim, o real permanece desvalorizado em 7,2% na comparação com a divisa dos EUA, segundo estudo do Bank of America que leva em conta dados como exportações e taxa de poupança.
Segundo Benoit Anne, do departamento de moedas estrangeiras de emergentes, em dois ou três anos, o dólar deverá valer R$ 1,60 (hoje está cotado a R$ 1,71). A divisa brasileira acumula alta de cerca de 30% neste ano em relação ao dólar. "Em termos nominais, o real ainda está subvalorizado", disse Anne. "Nós achamos que o real deve se apreciar no longo prazo, baseado em nosso modelo”.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

ENTREVISTA - FHC

De Fernando Henrique Cardoso em entrevista hoje ao EL PAÍS:
"La economía va bien; las instituciones, no tanto".

domingo, 15 de novembro de 2009

MURO DE BERLIM = 1961/1989

Reconheço que hoje este blog está mais político do que econômico, apesar da mistura economia e política estar no cerne da nossa existência. Com atraso, devido a uma curta viagem que fiz semana passada, deixei de comentar sobre os 20 anos da derrubada do Muro de Berlim, mais exatamente em 9 de novembro de 1989. Porém hoje registro este impactante momento histórico, sem esquecer do célebre discurso no Portão de Brandemburgo em comemoração ao 750º aniversário de Berlim em 12 de junho de 1987, quando Ronald Reagan desafiou Mikhail Gorbachev, então Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, para derrubar o muro como um símbolo de crescente liberdade no Bloco de Leste: Damos as boas-vindas à mudança e à abertura, pois acreditamos que a liberdade e segurança caminham juntos, que o progresso da liberdade humana só pode reforçar a causa da paz no mundo. Há um sinal de que os soviéticos podem fazer que seria inconfundível, que faria avançar dramaticamente a causa da liberdade e da paz. Secretário Geral Gorbachev, se você procura a paz, se você procura prosperidade para a União Soviética e a Europa Oriental, se você procurar a liberalização, venha aqui para este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube esse muro.

Ao final, mais uma vez, caiu o comunismo e venceu o capitalismo.

POR QUE DILMA SERÁ A NOVA PRESIDENTE, SEGUNDO CARLOS PIO.

Carlos Pio, professor de Economia Política Internacional da Universidade de Brasília (licenciado), atualmente pesquisador visitante da Universidade de Oxford, Inglaterra, foi meu professor quando da minha especialização em Relações Internacionais pela UnB. Recentemente ele publicou no ESTADÃO o provocativo artigo abaixo, com ampla divulgação em outros blogs. Como recebi o artigo através da nossa comunidade de Economia Política, divulgo integralmente o texto para conhecimento dos meus quase dois fiéis leitores, evidentemente deixando claro, como já escrevi ao grupo, que AINDA temos muita coisa a fazer até 2010. De qualquer maneira, é muito importante o alerta do CARLOS PIO.

Daqui a exatos 12 meses os brasileiros vão escolher o seu novo presidente. Poucos analistas parecem ter dúvidas de que teremos segundo turno e de que este será disputado pela candidata do presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff, e por um dos candidatos do principal partido da oposição, provavelmente o governador José Serra. Mas quase ninguém arrisca um prognóstico sobre o pleito, cautela essa provocada pelo que parece ser uma disputa apertada entre dois candidatos "sem graça", tecnocratas de cabeça e coração. Eu vou arriscar: Dilma ganha de Serra (ou Aécio Neves) no segundo turno, com folgada margem. Vou explicar por quê.

Para começo de conversa, é fundamental enfatizar como o processo de seleção dos candidatos presidenciais afeta o desenlace da campanha. No nosso caso, demonstra o quanto a democracia brasileira ainda é dominada por indivíduos que estão no topo das organizações partidárias (e não por regras institucionalizadas). Em si mesmo, esse fato limita um verdadeiro debate de ideias sobre os problemas nacionais e sobre as diferentes alternativas existentes para resolvê-los. Dilma foi escolhida por uma única pessoa - o presidente Lula -, possivelmente após ouvir a opinião de alguns de seus conselheiros mais próximos. Serra será (ou não!) candidato a partir de uma decisão individual sua, à qual os dois partidos que o apoiam (PSDB e DEM) acederão sem maiores questionamentos. Se ele preferir não se candidatar a presidente, como em 2006, Aécio assumirá o posto também por decisão individual - mesmo que sob forte pressão dos aliados. Nesse processo terão sido ouvidas, talvez, quatro ou cinco outras pessoas. Ciro Gomes e Marina Silva se autodeclararam candidatos e suas legendas aceitaram - esta última tendo, por sinal, saído do PT com esse propósito.

Em suma, em todos os "partidos" a escolha do candidato a presidente se dará de forma não institucionalizada e, por conseguinte, sem debate público sobre as diferenças entre os eventuais postulantes no que diz respeito aos diagnósticos de nossos principais problemas e ao conteúdo das soluções que virão a propor. O eleitor também não saberá de antemão a diferença entre os candidatos no que concerne à governabilidade - isto é, como o eleito articulará sua base de apoio congressual e seu Ministério para viabilizar as ações do governo. Assim, a decisão do eleitor será tomada sob forte névoa de incerteza.

Sem debate público interno aos partidos, sem processo institucionalizado de escolha dos seus respectivos candidatos e sem um mínimo de clareza sobre a montagem futura das alianças políticas necessárias para governar, as eleições tendem a assumir um caráter ainda mais plebiscitário do que normalmente ocorre em regimes presidencialistas. Plebiscitário aqui assume o sentido de julgamento dos méritos do atual governo, desconsiderando a oposição. Destituí-lo, pela rejeição à candidata do presidente, representa incorrer em grau ainda mais acentuado de incerteza e insegurança para todo eleitor que tem algo de substancial a perder com a vitória da oposição - uma Bolsa-Família, uma tarifa de importação elevada, um subsídio tributário, uma vaga em universidade federal ou bolsa do governo federal, um emprego em empresa estatal ou de capital misto.

Um plebiscito sobre a renovação do mandato do grupo político do presidente será decidido em função do apoio do eleitor mediano (aquele que separa a distribuição dos votos de todo o eleitorado entre 50% + 1 e 50% - 1) à seguinte questão: "Você concorda que as coisas estão claramente melhores hoje do que no passado recente?" Esse foi o sentimento que marcou claramente as eleições de 1994, 1998 e 2006, todas vencidas pelos governos da ocasião. E parece-me razoável supor que tal sentimento é característico de períodos em que 1) a inflação está sob controle, 2) o governo tem capacidade de manejar os instrumentos de política necessários para dar um mínimo de segurança e estabilidade diante de um contexto externo instável e ameaçador, 3) há perspectiva de crescimento econômico e de queda do desemprego, 4) o gasto público e as políticas sociais focalizadas nos mais pobres estão em expansão. É isso o que vivemos hoje, não?

Pois bem, em tal conjuntura tão favorável ao governo o melhor que a oposição oferece é dar seguimento às políticas correntes e prometer mais eficiência administrativa e menos corrupção! É pouco, muito pouco! A oposição precisa ter propostas novas e capacidade para convencer o eleitorado de que elas são necessárias, viáveis e urgentes. Mas como fazer isso sem debate intrapartidário aberto e institucionalizado, assentado na diferença de diagnósticos e soluções? E como "testar", antes do pleito, o potencial eleitoral das ideias e os riscos embutidos nas novidades sem realizar prévias?

Afinal, alguém aí sabe o que Serra e Aécio pensam sobre os problemas nacionais? Alguém acha que algum deles ousaria propor mudança de rumos em relação ao que Lula vem fazendo? O que eles farão em relação a Bolsa-Família, câmbio com viés de apreciação, Mercosul paralisado, protecionismo comercial excessivo, política industrial e tecnológica concentradora de renda, educação de mal a pior, malha de transportes precária, regulação arcaica do setor de energia, infraestrutura em frangalhos e política externa terceiro-mundista? Algum deles propõe privatizar o que ainda está nas mãos do governo federal? Algum deles propõe que o Mercosul feche um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos ou a China, como fizeram México e Chile?

Sem que as diferenças sejam explicitadas o eleitor mediano não aceitará correr o risco de votar na oposição.

E o tempo para esse debate já terminou!

BRASIL - INFRAESTRUTURA ZERO

Domingo passado, neste horário, eu fiz uma conexão de horas no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão - Antonio Carlos Jobim (grande até no nome) e, num ambiente completamente lotado de viajantes, notadamente turistas estrangeiros, o sistema de ar-condicionado não funcionava. Pesquisando no local, soubemos que estava desligado há mais de uma semana.
Pobre de um país que deseja sediar Copas e Olimpíadas, e não consegue deixar em funcionamento um simples sistema de refrigeração de UM aeroporto.
E olhem que não falei do apagão...

PROJEÇÕES 2009/2010 BRASIL

Segundo estudos do Itaú Unibanco, a economia brasileira registrará crescimento - PIB ZERO em 2009 e 5,5% em 2010 - ano eleitoral. A inflação (IPCA) prevista de 4,3% para 2009 cairá um pouco em 2010 para 4,1% e os juros (taxa Selic), dos atuais 8,75% em 2009, chegará a 10,2% em 2010.
A conferir, mas essas projeções estão na média do mercado e do próprio governo.

ECONOMIA AMERICANA AINDA EM RISCO? FALA ROUBINI.

NOURIEL ROUBINI, hoje na FOLHA DE S. PAULO, registra a sua preocupação com a economia americana.

Embora os Estados Unidos tenham recentemente registrado crescimento de 3,5% para o seu PIB no terceiro trimestre, o que sugere que a mais severa recessão desde a Grande Depressão está encerrada, a economia norte-americana na verdade está muito mais fraca do que os dados oficiais sugerem.

Os indicadores oficiais de Produto Interno Bruto podem superestimar grosseiramente o crescimento econômico, porque não capturam os sentimentos negativos que prevalecem entre as pequenas empresas e a sua severa queda de produção.

O PIB do terceiro trimestre, se corrigido de acordo com esses fatores, pode ter registrado crescimento anualizado de 2%, e não de 3,5%.

A história dos Estados Unidos, de fato, é um conto de duas economias. Existe uma parcela menor que está se recuperando lentamente e uma parcela maior que continua em profunda e persistente desaceleração.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...