Precisamos bem entender o que hoje escreve Míriam Leitão: Toda semana o governo está criando truques contábeis. Quem acompanha a evolução das contas públicas está horrorizado, porque o governo consegue transformar dívida em receita. É um milagre. Um dinheiro inventado, o que é muito perigoso. Está escondendo o déficit e dando uma falsa impressão de equilíbrio nas contas.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
CONTABILIDADE BRASILEIRA!
THE ECONOMIST E O BRASIL.
Neste final de governo, novamente LULA está nas páginas da The Economist e em longa entrevista, ele afirma que “Um ex-presidente deve se recolher para algum lugar confortável e tranquilo, e não ficar dando palpite sobre política nacional, deixando seja lá quem for eleito governar o país, cometer erros e acertar, mas deixando eles governarem o país”. Você acredita que vai ser assim?
Gostei demais da foto acima que acompanha a entrevista no site da revista: não é a cara do Brasil de hoje?
HORÁRIO ELEITORAL - ADEUS!
ECONOMIA E ELEIÇÃO EM 2010.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
O CONSELHO DE JIM O'NEILL.
Hoje no UOL, direto da BBC, o “pai” dos BRICs alerta que “fortalecer classe média é chave para desenvolvimento do Brasil.”
Políticas públicas para fortalecer a classe média podem ser a chave para que o Brasil deixe de ser apenas um país emergente para se estabelecer como um país desenvolvido, na avaliação do economista britânico Jim O’Neill, considerado o “pai” dos Brics.
O'Neill, que está deixando o cargo de economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs para gerir a divisão de administração de ativos da instituição, cunhou o acrônimo Bric para se referir aos quatro gigantes emergentes da economia mundial – Brasil, Rússia, Índia e China.
O economista é um dos especialistas ouvidos pela BBC Brasil como parte da série O que falta ao Brasil?, que discute os desafios do Brasil para se tornar um país desenvolvido.
“Se há uma diferença específica entre uma economia tipicamente desenvolvida e uma em desenvolvimento, é talvez o tamanho da classe média. E a melhor maneira para (a classe média) aumentar e prosperar é por meio da elevação da renda real”, avalia O'Neill.
domingo, 26 de setembro de 2010
MARTIN WOLF NO BRASIL.
O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e a BM&FBovespa promovem, no próximo dia 5 de outubro, o seminário “World economy: what lies ahead?", com o principal comentarista econômico do jornal britânico Financial Times, Martin Wolf. O evento acontece na sede do iFHC, no Centro de São Paulo, das 17h00 às 19h00. A palestra será em inglês, sem tradução simultânea.
Para quem estiver em São Paulo, trata-se de um evento imperdível.
sábado, 25 de setembro de 2010
FHC NO FINANCIAL TIMES
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO hoje no FINANCIAL TIMES:
As we prepare to leave, I ask Cardoso what he thinks history will make of Lula? “I think he will be remembered for growth and continuity, and for putting more emphasis on social spending. He’s a Lech Walesa who worked out.”
And of his own importance?
“I did the reforms. Lula surfed the wave.”
FHC NO FINANCIAL TIMES
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO hoje no FINANCIAL TIMES:
As we prepare to leave, I ask Cardoso what he thinks history will make of Lula? “I think he will be remembered for growth and continuity, and for putting more emphasis on social spending. He’s a Lech Walesa who worked out.”
And of his own importance?
“I did the reforms. Lula surfed the wave.”
domingo, 19 de setembro de 2010
ESTUDE ECONOMIA COM OS MELHORES.
Na análise de TODD G. BUCHHOLZ, em 200 anos de ECONOMIA, ou seja, de 1776 a 1976 apenas CINCO livros reinam sobre a ciência econômica. São eles: A riqueza das nações de SMITH, os Princípios de RICARDO, os Princípios de MILL, os Princípios de MARSHALL e o nosso clássico Economics de SAMUELSON.
É na genialidade desses mestres que continuamos a estudar ECONOMIA. Outros economistas escreveram e escrevem buscando na economia caminhos para uma sociedade mais justa, mas nem sempre suas ideias permanecem ativas, tanto quanto a dos cinco acima citados.
O papel do Estado na economia brasileira.
Sobre qual deve ser o papel do Estado na economia brasileira, a opinião de dois analistas conscientes do momento atual:
Segundo LUIS CARLOS MENDONÇA DE BARROS, “gosto de olhar a história da economia como o movimento de um pêndulo que oscila entre duas posições extremas. Podemos caracterizá-las entre Estado de um lado e iniciativa privada de outro. Vivemos um desses momentos em que o pêndulo começa a ser mover rapidamente de uma posição para outra.”
Para PAULO RABELLO, “estamos administrando uma democracia de fachada. Vou cobrar a absoluta falta de projeto dos candidatos e dos partidos que os abrigam. As pessoas que se candidatam a ‘síndico’ deste ‘condomínio’ não têm compromisso com qualquer acerto.”
Ainda chegaremos LÁ?
Bem, se depender do que estamos participando nesta campanha eleitoral de 2010, por mais otimista que eu seja, considero essa possibilidade impossível. Estou sabendo que SE a nossa taxa média de crescimento for de 7,2% ao ano, levaremos TRINTA anos para atingir o atual patamar americano de US$ 46,000 de renda per capita. Na realidade, AINDA estamos abaixo da renda americana registrada na década de 40.
E enquanto deveríamos estar discutindo as alternativas para MUDAR isso, ficamos o dia todo lendo sobre dossiês...
O PREÇO DE BENS NO BRASIL.
CARLOS PIO foi meu professor na Universidade de Brasília e é um intelectual inteligente que conhece da economia política à economia. Por isso, divulgo para os meus quase dois leitores, e-mail que ele recentemente enviou ao jornalista CARLOS SARDENBERG - TV GLOBO, sobre um assunto que tem tudo a ver com o nosso mundo real: o preço dos bens que pagamos no Brasil. Afinal, quem nunca questionou quanto é caro comprar determinados bens no Brasil?
Prezado Jornalista,
Sua campanha para denunciar que pagamos mais pelos mesmos produtos globais do que os nossos vizinhos e para explicar porque isso ocorre é maravilhosa.
Como professor de Economia Política Internacional da UnB há mais de 10 anos, tenho obtido muito sucesso em cruzada muito semelhante, semestre após semestre, com turmas de 50 alunos que chegam do ensino médio sabendo de cor todos os argumentos protecionistas recitados pelos professores de Geografia e História e pelos nossos empresários e governantes por meio da imprensa. (Vide, nas duas últimas semanas, a cruzada em defesa da proteção comercial e do subsídio liderada por gente como Correia de Lacerda, Steinbruch, Skaff, Mantega, Coutinho, etc.)
Acho que nos seus próximos artigos vc deveria reforçar vários pontos, que me animo em apontar:
1. A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelos diferencias de preços de produtos globais que chegam aqui e em outros países. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil enquanto custa o dobro aqui. Almocei semanas atrás com um diplomata de país asiático recém-chegado a Brasília que me disse que o novo Hyunday i35 custa US$ 18 mil em seu país e US$ 110mil aqui. Mesmo podendo abater os impostos domésticos praticados no Brasil, ele preferiu pagar US$ 20mil a uma importadora (por ser diplomata estrangeiro servindo no Brasil ele tem direito de importar o carro que quiser) para lhe entregar o carro em sua casa.
2. Os formuladores de políticas industriais e comerciais (ou de desenvolvimento) e os políticos de todos os partidos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil, por isso é vantajosa. Que a crença é falsa, a literatura empírica especializada já tratou de demonstrar há muito tempo -- vide os textos clássicos de Krugman, Bhagwati, Irwin, Anne Krueger, Eliana Cardoso, etc. O argumento defendido por nossos influentes políticos e tecnocratas heterodoxos não se sustenta porque a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, pela falta de liberdade para importar tecnologia e insumos) que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário pouco competitivo internacionalmente ainda ganha um bônus na forma de subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm que comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.
Para continuar com meu exemplo anterior do Honda Civic, as empresas de aluguel de veículos, como a Localiza e a Unidas, têm que optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade -- como o Pálio 1.0, câmbio manual -- e os carros "nacionais" de luxo exorbitantemente mais caros do que se pratica no resto do mundo. Com os preços altos aqui e a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.
O burocrata heterodoxo acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.
3. Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Argumentei isso em artigo publicado no caderno de Economia do Estado de S. Paulo ("São as importações, estúpido!"), publicado em 30/1/2010. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem.
Mais uma vez, parabéns pela iniciativa!
Abraço,
Carlos Pio
Professor of International Political Economy, Universidade de Brasília.
O PREÇO DE BENS NO BRASIL.
CARLOS PIO foi meu professor na Universidade de Brasília e é um intelectual inteligente que conhece da economia política à economia. Por isso, divulgo para os meus quase dois leitores, e-mail que ele recentemente enviou ao jornalista CARLOS SARDENBERG - TV GLOBO, sobre um assunto que tem tudo a ver com o nosso mundo real: o preço dos bens que pagamos no Brasil. Afinal, quem nunca questionou quanto é caro comprar determinados bens no Brasil?
Prezado Jornalista,
Sua campanha para denunciar que pagamos mais pelos mesmos produtos globais do que os nossos vizinhos e para explicar porque isso ocorre é maravilhosa.
Como professor de Economia Política Internacional da UnB há mais de 10 anos, tenho obtido muito sucesso em cruzada muito semelhante, semestre após semestre, com turmas de 50 alunos que chegam do ensino médio sabendo de cor todos os argumentos protecionistas recitados pelos professores de Geografia e História e pelos nossos empresários e governantes por meio da imprensa. (Vide, nas duas últimas semanas, a cruzada em defesa da proteção comercial e do subsídio liderada por gente como Correia de Lacerda, Steinbruch, Skaff, Mantega, Coutinho, etc.)
Acho que nos seus próximos artigos vc deveria reforçar vários pontos, que me animo em apontar:
1. A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelos diferencias de preços de produtos globais que chegam aqui e em outros países. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil enquanto custa o dobro aqui. Almocei semanas atrás com um diplomata de país asiático recém-chegado a Brasília que me disse que o novo Hyunday i35 custa US$ 18 mil em seu país e US$ 110mil aqui. Mesmo podendo abater os impostos domésticos praticados no Brasil, ele preferiu pagar US$ 20mil a uma importadora (por ser diplomata estrangeiro servindo no Brasil ele tem direito de importar o carro que quiser) para lhe entregar o carro em sua casa.
2. Os formuladores de políticas industriais e comerciais (ou de desenvolvimento) e os políticos de todos os partidos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil, por isso é vantajosa. Que a crença é falsa, a literatura empírica especializada já tratou de demonstrar há muito tempo -- vide os textos clássicos de Krugman, Bhagwati, Irwin, Anne Krueger, Eliana Cardoso, etc. O argumento defendido por nossos influentes políticos e tecnocratas heterodoxos não se sustenta porque a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, pela falta de liberdade para importar tecnologia e insumos) que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário pouco competitivo internacionalmente ainda ganha um bônus na forma de subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm que comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.
Para continuar com meu exemplo anterior do Honda Civic, as empresas de aluguel de veículos, como a Localiza e a Unidas, têm que optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade -- como o Pálio 1.0, câmbio manual -- e os carros "nacionais" de luxo exorbitantemente mais caros do que se pratica no resto do mundo. Com os preços altos aqui e a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.
O burocrata heterodoxo acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.
3. Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Argumentei isso em artigo publicado no caderno de Economia do Estado de S. Paulo ("São as importações, estúpido!"), publicado em 30/1/2010. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem.
Mais uma vez, parabéns pela iniciativa!
Abraço,
Carlos Pio
Professor of International Political Economy, Universidade de Brasília.
O PREÇO DE BENS NO BRASIL.
CARLOS PIO foi meu professor na Universidade de Brasília e é um intelectual inteligente que conhece da economia política à economia. Por isso, divulgo para os meus quase dois leitores, e-mail que ele recentemente enviou ao jornalista CARLOS SARDENBERG - TV GLOBO, sobre um assunto que tem tudo a ver com o nosso mundo real: o preço dos bens que pagamos no Brasil. Afinal, quem nunca questionou quanto é caro comprar determinados bens no Brasil?
Prezado Jornalista,
Sua campanha para denunciar que pagamos mais pelos mesmos produtos globais do que os nossos vizinhos e para explicar porque isso ocorre é maravilhosa.
Como professor de Economia Política Internacional da UnB há mais de 10 anos, tenho obtido muito sucesso em cruzada muito semelhante, semestre após semestre, com turmas de 50 alunos que chegam do ensino médio sabendo de cor todos os argumentos protecionistas recitados pelos professores de Geografia e História e pelos nossos empresários e governantes por meio da imprensa. (Vide, nas duas últimas semanas, a cruzada em defesa da proteção comercial e do subsídio liderada por gente como Correia de Lacerda, Steinbruch, Skaff, Mantega, Coutinho, etc.)
Acho que nos seus próximos artigos vc deveria reforçar vários pontos, que me animo em apontar:
1. A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelos diferencias de preços de produtos globais que chegam aqui e em outros países. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil enquanto custa o dobro aqui. Almocei semanas atrás com um diplomata de país asiático recém-chegado a Brasília que me disse que o novo Hyunday i35 custa US$ 18 mil em seu país e US$ 110mil aqui. Mesmo podendo abater os impostos domésticos praticados no Brasil, ele preferiu pagar US$ 20mil a uma importadora (por ser diplomata estrangeiro servindo no Brasil ele tem direito de importar o carro que quiser) para lhe entregar o carro em sua casa.
2. Os formuladores de políticas industriais e comerciais (ou de desenvolvimento) e os políticos de todos os partidos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil, por isso é vantajosa. Que a crença é falsa, a literatura empírica especializada já tratou de demonstrar há muito tempo -- vide os textos clássicos de Krugman, Bhagwati, Irwin, Anne Krueger, Eliana Cardoso, etc. O argumento defendido por nossos influentes políticos e tecnocratas heterodoxos não se sustenta porque a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, pela falta de liberdade para importar tecnologia e insumos) que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário pouco competitivo internacionalmente ainda ganha um bônus na forma de subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm que comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.
Para continuar com meu exemplo anterior do Honda Civic, as empresas de aluguel de veículos, como a Localiza e a Unidas, têm que optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade -- como o Pálio 1.0, câmbio manual -- e os carros "nacionais" de luxo exorbitantemente mais caros do que se pratica no resto do mundo. Com os preços altos aqui e a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.
O burocrata heterodoxo acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.
3. Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Argumentei isso em artigo publicado no caderno de Economia do Estado de S. Paulo ("São as importações, estúpido!"), publicado em 30/1/2010. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem.
Mais uma vez, parabéns pela iniciativa!
Abraço,
Carlos Pio
Professor of International Political Economy, Universidade de Brasília.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
KRUGMAN NA EXAME - US$/R$
O economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008, disse em São Paulo, que a valorização do real frente ao dólar não é necessariamente uma notícia ruim. "Por um lado atrapalha as exportações das indústrias, mas, por outro, significa mais capital para investir."
Krugman, que participa do IBM FORUM 2010, na capital paulista, apresentou um gráfico que mostra a enorme diferença de comportamento entre o real e o iuane, a moeda chinesa. Ele destacou que o governo chinês intervém e isso está gerando fortes reclamações do mundo inteiro. "O real está valorizado porque o Brasil parece ser um bom lugar para os investidores", insinuando que o câmbio é o preço do sucesso brasileiro na crise.
O economista disse que as taxas de juros devem continuar baixas nos países desenvolvidos, o que levará a uma migração de capital para os emergentes. Krugman arrancou risos da plateia quando disse não entender por que a Rússia faz parte dos Brics (Brasil, Rússia, China e Índia), afirmando que os russos estão num patamar muito abaixo dos demais.
Krugman, que é professor da Universidade de Princeton (EUA) e colunista do jornal The New YorK Times, disse que a solução para a crise mundial não será via exportação. "Precisaríamos de outro planeta para vender os produtos", disse, ressaltando que o problema atual nos países ricos é a falta de demanda.
Em sua palestra, comparou a crise atual com a grande depressão dos anos 30 por meio de um gráfico que mostrava que o primeiro ano (2008) foi tão ruim quanto o daquela época. "Desta vez, nós evitamos uma catástrofe, mas não significa que tudo está bem nem que tudo não possa ficar pior."
Krugman disse ainda que, pela primeira vez na vida dele, uma crise é pior nosEstados Unidos do que na América Latina. O grande risco para os países ricos, segundo ele, é entrar num processo de deflação como o vivido pelo Japão há muitos anos. Ele defende novos incentivos fiscais dos governos, principalmente dos Estados Unidos, como forma de estimular a demanda.
O Prêmio Nobel de Economia afirmou que crises financeiras como a atual são de longa duração e projetou que o desemprego na Europa e nos Estados Unidos ficará perto dos 10% até 2012. "Não há recessão técnica, mas a recuperação econômica atual não é suficiente para reduzir o desemprego."
Krugman disse que vai demorar até a formação de outra bolha imobiliária na Europa e nos Estados Unidos, pois "as pessoas levarão um longo tempo até acreditarem novamente que esse é um bom investimento".
POLÍTICA COM HUMOR EM 2010?
domingo, 12 de setembro de 2010
Maria da Conceição Tavares na FSP.
Independentemente da concordância ou não com as ideias da colega MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES, a pluralidade deste blog permite que a entrevista dela à FOLHA DE S. PAULO seja publicada na íntegra, para que possamos analisar e estudar como não é fácil entender a economia.
A ascensão da China, com uma demanda por produtos primários que vai durar décadas, mudou a divisão internacional do trabalho e tornou datada a dicotomia entre industrialização e produção de commodities que marcou a trajetória brasileira desde os anos 1930.
Quem afirma é a economista Maria da Conceição Tavares, veterana expoente do desenvolvimentismo, que durante o século 20 propôs a ação do Estado para a industrialização, a fim de superar a desvantagem nas relações de troca no antigo sistema sob hegemonia econômica dos EUA --que, ao também produzirem matérias-primas, forçavam a baixa de seus preços.
"Não tem centro e periferia como antes. Há países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos", afirma Conceição.
Ela deu entrevista à Folha às vésperas de ser homenageada amanhã, no Rio, no lançamento do livro "O Papel do BNDE na Industrialização do Brasil", fruto de pesquisa que coordenou para o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.
O novo cenário não quer dizer, afirma, que o país deva descuidar do parque industrial. Ela se preocupa com a avalanche de importações e defende o papel do BNDES no apoio a grandes empresas nacionais.
Petista, Conceição aposta que Dilma Rousseff mudará a orientação ortodoxa do BC, caso eleita, e diz que o tucano José Serra, colega do tempo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) com quem há 40 anos escreveu um artigo marco, "Além da Estagnação", é conservador na área social.
FOLHA - Um dos problemas recorrentes do período de industrialização abordado no livro é o déficit no balanço de pagamentos. Hoje essa preocupação surge de novo. Os riscos são os mesmos?
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES - Não, naquela altura o problema era basicamente a rigidez da pauta de exportações, que não é o caso agora. A gente só tinha produtos primários e o único período em que houve aumento de preços das matérias-primas foi durante a Guerra da Coreia (1950-1953).
Além disso, o processo de substituição de importações não poupava divisas, pelo contrário, era para substituir importações por produtos internos. Ao fazer isso, ampliava o mercado interno e ampliava a demanda [por bens de capital importados para aumentar a produção]. Hoje em dia você tem uma indústria montada. O problema é o câmbio.
FOLHA - Mas há toda a preocupação com a primarização da pauta de exportações brasileiras.
CONCEIÇÃO - Isso não tem nenhum cabimento, porque a primarização da pauta de exportações de hoje não se parece nada com a de então. Ao contrário daquela época, quando havia relações de troca desfavoráveis, as relações são favoráveis. Quem demanda produtos primários é a China e a Ásia inteira, que crescem muito mais do que o resto do mundo. Naquela época, os EUA eram nossos concorrentes.
FOLHA - O candidato José Serra fala muito do risco de desindustrialização no Brasil. A sra. acha que existe esse risco?
CONCEIÇÃO - Desindustrialização houve no governo deles, do Fernando Henrique, com uma política de câmbio completamente irresponsável, uma taxa de juros alta, que começou a afrouxar a partir do segundo mandato.
O problema de agora é que, com a crise mundial, o dólar desvalorizou e todas as moedas valorizaram, exceto a moeda chinesa, que está amarrada ao dólar e controlada, com controle de capitais. O resto foi para o diabo.
Agora é um problema de valorização e isso não afeta as exportações. Isso afeta as importações, que estão disparando. A gente não sabe se estão disparando como reação apenas ao câmbio ou à recuperação da economia. Eu acho que são os dois. A indústria sofreu um abalo em 2009, e neste ano recuperou com muita força. Agora está desacelerando. Tem que estar sempre avaliando. Se você deixar entrar à galega acaba desindustrializando.
FOLHA - E o que pode ser feito?
CONCEIÇÃO - O próprio ministro da Fazenda já avisou que tem que controlar essa taxa de câmbio, não pode deixar rolar.
FOLHA - Mas o câmbio não tem relação com os juros do Banco Central, que atraem capital de fora?
CONCEIÇÃO - Tem, mas não só. Porque a valorização deu em todos os países, mesmo os que praticam taxas de juros negativas, que é o caso do Japão. É a situação particular do dólar agora que está fazendo isso.
A situação, portanto, não se parece nada com a do período entre 1950 e 1980. Não tem crise no balanço de pagamentos no sentido clássico. E muito menos dívida externa. Conseguimos passar essa crise sem problemas na dívida externa, com reservas, coisa que nunca aconteceu em nenhuma crise internacional desde o século 19. Agora, tem que ter uma política industrial mais clara, uma política cambial obviamente controlada, que não se resolva apenas com os juros.
FOLHA - Outra discussão que tem uma analogia com o período atual é a ideia de criar um mercado de capitais privado, bancos de investimentos privados que financiem investimentos de longo prazo, o que foi tentado pelo Roberto Campos no primeiro governo da ditadura.
CONCEIÇÃO - A ideia do mercado de capitais estava lá na reforma administrativa Bulhões-Campos. O problema é que ele veio com a ideia dos bancos de investimentos, que não funcionaram.
FOLHA - Mas essa discussão volta agora, não?
CONCEIÇÃO - A dos bancos de investimentos, não. O problema é que nem os bancos nem os mercados de capitais não estão financiando desenvolvimento em longo prazo.
FOLHA - E é possível que isso, que nunca aconteceu, aconteça agora?
CONCEIÇÃO - Eu não acredito muito. Porque na verdade o mercado de capitais serve basicamente em toda parte não é para financiar desenvolvimento, é para transformar patrimônio. Mas enfim, essa é uma ideia antiga, continuam a fazer esforço. O financiamento na verdade depende mais do crédito de longo prazo, e aí é que se tem que arrumar um jeito de que haja um crédito em longo prazo que não dependa apenas do BNDES e da Caixa Econômica, que carregam nas costas.
FOLHA - Como avalia às críticas feitas ao perfil dos empréstimos do BNDES, para grandes grupos?
CONCEIÇÃO - A imprensa conservadora, que nunca gostou do BNDES, vem com esse papo de que a capitalização [do banco] vai para a dívida pública, o que não é verdade. Formalmente vai para a dívida fiscal, mas na verdade não é assim em longo prazo. Porque você empresta, mas eles retornam. E o retorno do investimento é sempre positivo. O BNDES não está emprestando a ninguém com retorno negativo.
FOLHA - Mas até o Carlos Lessa [ex-presidente do BNDES] afirma que o banco deveria ser mais exigente sobre investimentos no Brasil ao fazer empréstimos a grandes empresas.
CONCEIÇÃO - Lessa nesse particular discrepa do [Luciano] Coutinho, que tem a visão do que ocorreu na Ásia, no Japão, na Coreia, do "pick the winner" [escolha o vencedor], que tem que escolher as empresas vencedoras para que elas sejam competitivas lá fora, para que elas se internacionalizem com poder de mercado. Essa é a única diferença, porque o Lessa é desenvolvimentista, o Coutinho também. Só tem desenvolvimentista agora. Liberal, só tem a charanga.
FOLHA - A Dilma e o Serra também são desenvolvimentistas.
CONCEIÇÃO - Do ponto de vista da operação fiscal, o Serra é ortodoxo, e isso é ruim. Ele quer acelerar a contração do gasto público. No fundo, ele não leva a sério as políticas de bem-estar social, a universalização da educação, da saúde, que tornaram o Orçamento mais pesado. Se cortar, não se pode fazer nada de política universal, tem que ficar só com política para pobre.
Mas não há dúvida de que o Serra também é desenvolvimentista do ponto de vista industrial. O problema dele são os programas sociais, o aumento da Previdência, do salário mínimo, todas as medidas de alcance social mais profundo que o Lula tomou. Nas políticas compensatórias, eu não creio que ele voltaria atrás, que ninguém é maluco. A universalização é que é o problema, as políticas sociais de longo alcance. O gasto com educação, saúde, Previdência.
FOLHA - No segundo governo Vargas [1951-1954], quando começa o Plano de Reaparelhamento Econômico, o ministério lembra o do primeiro governo Lula, com empresários e monetaristas no comando da política econômica. Como interpretar essa coincidência?
CONCEIÇÃO - Por sorte, depois do interregno monetarista do [Eugenio] Gudin [ministro da Fazenda de Café Filho, entre 1954 e 1955], veio o JK, que era desenvolvimentista. O [Horacio] Lafer [ministro da Fazenda de Vargas] queria fazer presidente do BNDE o Gudin, e não conseguiu, porque o Vargas não dormia de touca. O que ele fez é foi compor uma parte da diretoria do banco com pessoal que veio da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos [1951-1953], entre os quais o Roberto Campos e o Glycon de Paiva, que ficaram como diretores, e colocou o homem dele, que era o gaúcho Ari Frederico Torres, como superintendente.
O problema é que o homem dele não entendia muito de economia, e por aí não foi. Mas havia os diretores que eram da Assessoria Econômica do Vargas. Então a assessoria do banco era composta metade de conservadores e metade de nacionalistas.
No que diz respeito a Lula, graças a Deus caiu o ministro da Fazenda [Antônio Palocci] e entrou o [Guido] Mantega, que é desenvolvimentista. O problema foi o Banco Central. O Banco Central é problema sempre, porque a estrutura do BC foi montada de tal maneira que os que não pensam da mesma maneira não têm futuro.
Um dos meninos mais brilhantes da atual Fazenda é o Nelson Barbosa [secretário de Acompanhamento Econômico]. Ele é um keynesiano um pouco ortodoxo. Ele é originariamente do BC, fez concurso e passou. O [Luiz Eduardo] Melin [chefe de gabinete da Fazenda] também é do BC. Mas eles não podem fazer nada, porque começam uma carreira e tem em cima a diretoria que é toda conservadora.
Tem é que fazer com o BC o mesmo que foi feito no BNDES pelo Vargas, uma diretoria mista, metade conservadora, para agradar os banqueiros e eles não encherem muito o saco, senão eles enchem mesmo, e outra metade para ajudar o desenvolvimento, fazer uma política monetária menos estúpida.
Quer dizer, o conservador no governo Lula foi só a política monetária. E não foi pouca porcaria, eu concordo. Briguei para burro.
FOLHA - Mas isso num governo Dilma pode mudar?
CONCEIÇÃO - Com certeza vai mudar. É só esperar e ver. Mas não é mole, porque o pessoal mais desenvolvimentista tem muito pouca prática de mercado. Tem que ter os que têm prática de mercado, porque senão você não consegue operar o banco. Houve sempre uma tensão muita grande entre a Fazenda e o BC [no segundo mandato de Lula], que nunca foi o caso na história do Brasil, em que sempre Fazenda e BC eram conservadores e Planejamento, Indústria e Comércio eram desenvolvimentistas. Mas isso não é mais assim.
FOLHA - Mas é melhor ter a tensão?
CONCEIÇÃO - Por mim não, mas, como eu estou dizendo, não tem economista progressista com domínio de BC, com exceção desses dois que eu mencionei, que foram do BC. Foram meus alunos, trabalharam comigo, conhecem teoria monetária. A esquerda tem mania de não gostar de política monetária. A única monetarista de esquerda era eu, mas é óbvio que eu não posso ser presidente do BC com 80 anos e com esse temperamento que eu tenho. Tem também o [Luiz Gonzaga] Beluzzo, o próprio Luciano Coutinho.
FOLHA - Então hoje, ao contrário da década de 90, começa a haver um predomínio do pensamento desenvolvimentista?
CONCEIÇÃO - No Brasil sim, mas não no mundo. Olha para a Europa. A Europa está num reacionarismo conservador que é uma desgraça, está pior que os EUA. Nos EUA, até os conservadores viraram keynesianos por causa da crise. Na Europa, os caras estão fiscalistas ao extremo, estão arrebentando com a Europa, tem uma tendência japonesa [de estagnação] acentuada.
FOLHA - Essa conjuntura internacional, em que a China é o grande demandante, favorece o Brasil?
Você não pode deixar de levar em conta que mudou a divisão internacional do trabalho. Paradoxalmente, não vejo muita gente mencionar isso. Houve uma mudança radical da divisão internacional do trabalho, na qual nós estamos bem colocados porque a gente exporta para todo mundo. E, em particular, no que diz respeito a matérias-primas, exportamos mais para a China do que para a Europa, por exemplo. Nunca exportamos matérias-primas para os EUA.
FOLHA - Mas a China também pode competir com os produtos industriais brasileiros em terceiros mercados.
CONCEIÇÃO - Ela pode competir com quem ela quiser. Claro que temos que nos precaver. Por que a tendência hoje entre países em desenvolvimento é de acordos bilaterais, quando sempre fomos multilateralistas? É porque o comércio multilateral está de pernas para o ar. A crise americana arrebentou com o sistema todo, com o sistema monetário, o sistema de comércio internacional.
Estamos num período de transição, no qual acho que o Brasil tem chance. Ter uma disponibilidade de recursos naturais como nós temos, que vai da água ao petróleo, não é qualquer país que tem. Isso ajuda, ao contrário de antes. Não estamos baseados no café, mas numa pauta totalmente diversificada. E a coisa do pré-sal vai ajudar.
FOLHA - Quando teve o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, com o Geisel (1975-1979), ele tentou dar um salto qualitativo tecnológico.
CONCEIÇÃO - Tentou, e nós começamos a exportação de manufaturas para valer.
FOLHA - Mas o Brasil ainda tem dificuldade de desenvolvimento tecnológico, por exemplo em computadores.
CONCEIÇÃO - Tem menos do que tinha na época. No Geisel, ainda estávamos começando e a área de computadores fracassou. O projeto Cobra foi um desastre. Aí só avançamos na área bancária, temos a mais desenvolvida em matéria de computação do mundo. Estamos com tecnologia avançada em aviões, em perfuração de petróleo, o que não é pouca porcaria.
FOLHA - Mas em relação à competição chinesa em informática, máquinas?
CONCEIÇÃO - O que tem que entender é que a China é um híbrido. Não pode ser considerada mais um país em desenvolvimento, mas tem uma área subdesenvolvida, com uma população gigantesca, no campo. A China ainda tem que caminhar para dentro, desenvolver o mercado interno. Mas ela tem um solo esgotado. Ao contrário da mudança de centro [capitalista] da Inglaterra, que não tinha produtos primários, para os EUA, que tinham, o que levou ao fim do modelo primário-exportador na América Latina, a China vai ter décadas ainda importando produtos primários, tanto na parte alimentar quanto na de minério e petróleo. Para nós está bom.
FOLHA - Mas quando se fala do risco de desindustrialização...
CONCEIÇÃO - É por causa das importações e do câmbio. O resto quem fala está fazendo blá-blá-blá, porque toda a indústria está aí ainda.
FOLHA - Mas um argumento é que a indústria é que dá emprego de qualidade para os jovens, e não o setor primário.
CONCEIÇÃO - Não é verdade. Os empregos de qualidade costumam ser no setor terciário, nos bancos e nos serviços de utilidade pública. Pelo lado do emprego eu não estaria preocupada. Estamos com problema de desemprego estrutural, mas devido à pobreza. Com uma política de combate à pobreza e com uma política de educação você repõe as bases de um país desenvolvido. Desta vez, acho que a maldição do [Celso] Furtado, que era desenvolvimento junto com subdesenvolvimento, pode terminar.
Na indústria, a parte de capital estrangeiro em geral não faz desenvolvimento tecnólogico, traz da matriz, o que é um problema. Mas, como a divisão internacional do trabalho está mudando, também há a tendência de adaptar produtos a cada mercado em que as empresas estão instaladas.
Quanto à indústria nacional, o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] continuam fazendo o que podem para fazer semeadura de tecnologia, sobretudo na pequena e na média empresas. O BNDES faz também para a grande empresa, até porque ninguém acredita que seja possível competir lá fora sem isso. Se não tivéssemos tido avanço tecnológico em aços especiais, claro que a Gerdau não estaria com filiais até nos EUA.
Eu tenho trabalhado na questão da internacionalização do capital, e tenho a impressão que por esse lado não estamos tão mal. O nosso problema é fechar a brecha entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento nosso, que é menos problema do que para a China e para a Índia.
São situações muito díspares. Não tem centro e periferia como antes. Tem países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos. A Rússia sim desmantelou a indústria toda. Só exporta gás e petróleo. Isso é que é uma situação ruim. Está lá no Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] um pouco fora de propósito.
A discussão agricultura versus indústria é datada, do pós-Segunda Guerra. Ninguém vai fazer uma opção por um outro. Precisa de agricultura familiar, de agrobusiness, da indústria de transformação.
Agora, estou de acordo que, na indústria eletroeletrônica, por causa da Zona Franca de Manaus, montamos uma fábrica de montagem e não avançou ainda. Mas vai avançar, não tem dúvida. Até porque o BNDES tem política setorial, como na farmacêutica e na química.
FOLHA - E a acusação de que o governo Lula escolhe as empresas beneficiadas?
CONCEIÇÃO - Política industrial só horizontal não vai para lugar nenhum. Tem que continuar as horizontais, mas tem que fazer as setoriais. Se não escolher setores e empresas, não avança. Não estamos num mundo de concorrência perfeita. Estamos num mundo monopolista. Se não tiver grande empresa aqui, não vamos para lugar nenhum.
FOLHA - O período do livro é caracterizado como a "modernização conservadora" do Brasil. O Brasil ainda vive esse fenômeno ou pode acertar contas nesse ponto?
CONCEIÇÃO - A parte da modernização conservadora que diz respeito ao grande capital, bancário, industrial, uma parte das construturas, vive. Grande capital é grande capital, está pouco se lixando para ideologia. É conservador no sentido de que não teve uma democratização da propriedade.
FOLHA - Não teve reforma agrária.
CONCEIÇÃO - Tem que terminar, com a pequena produção agrícola independente, e a pequena e a média empresas com tecnologia e apoio. Essa ideia do cartão BNDES, que aliás foi o Lessa que inventou, com o qual se pode pedir R$ 1 milhão para fazer uma padaria, montar uma pequena empresa. O Lessa botou o BNDES outra vez no espírito de ser um banco de desenvolvimento. No governo de Fernando Henrique, era só um banco da privataria. Só não foi ameaçado porque tem a indústria que demanda recursos.
FOLHA - A senhora está otimista, então?
Estamos numa situação bem melhor do que nunca estivemos desde a década de 30. E também com estabilidade política, por mais que façam esse banzé. Se você afirmou a democracia, se está afirmando as políticas sociais, se está continuando a política industrial, eu estou otimista, pela primeira vez, para dizer a verdade, porque em geral sou pessimista. Espero não me equivocar, mas, também, se me equivocar não vou estar viva para ver.
FOLHA - E como a sra. vê a situação dos EUA?
CONCEIÇÃO - Estou com os keynesianos de lá, como o [Paul] Krugman. Acho que fizeram pouco e mal feito. Mas isso não é culpa do presidente. Ele tem um Congresso desvairadamente conservador.
Isso sim me preocupa [no Brasil]. O pessoal só presta atenção na eleição para a Presidência, mas é importante ver o Congresso. Vamos ver se dá um Senado um pouco melhor, mas de qualquer maneira a capacidade de negociação continua. Nisso o velho [economista ortodoxo Otavio Gouveia de] Bulhões [1906-1990], meu mestre antigo, tinha razão, que o Executivo é mais forte, mas para fazer reformas tem que passar pelo Congresso.
Algumas coisas, como reforma tributária e política, dependem do Congresso, e em geral os congressistas não querem mudar o status quo. São reformas que eu vejo que são importantes, e que o Congresso provalmente vai continuar no chove não molha. Vamos ver se a gente consegue.
FOLHA - Mas a reforma tributária deve reduzir a carga como proporção do PIB ou a natureza dos impostos?
CONCEIÇÃO - Como vai mudar a carga sobre o PIB, com as demandas de política pública que você precisa fazer? Não, tem que mudar a carga mal distribuída e a estrutura dos tributos, que é muito complexa, muito atrapalhada. Continua aquela briga entre os Estados sobre o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias].
Hoje o Lula já sacou que precisa fazer aliança nos dois sentidos, com o PMDB para uns fins e com os partidos minoritários da esquerda para o outro. Acho que não está tão difícil como já esteve.
FOLHA - Mas a sra. acha que, qualquer que seja o sucessor do Lula, vai ter o jogo de cintura dele?
CONCEIÇÃO - Qualquer que seja é problema seu. Eu acho que já está decidido. Mas pode ser de novo que eu esteja otimista demais. O fato é que, com Dilma ou Serra, haverá o mesmo problema no Congresso, essas duas reformas serão difíceis. Depende de quem eles botarem para ser o negociador com o Congresso.
Evidente que a capacidade do Lula ninguém vai ter mais neste país, porque o único com capacidade semelhante foi o Vargas. Acabou mal, coitado, o que não é o caso do Lula, que negociou durante oito anos e está terminando muito bem. Isso também é uma novidade. Você já viu algum presidente que veio do povo como esse, apesar de todos os percalços e denúncias, ter conseguido isso? Além do fato de hoje o Brasil estar no cenário internacional graças a ele.
São coisas que, para mim, marcam uma mudança e uma transição. Estou convencida de que estamos numa transição e que efetivamente, ganhe quem ganhe, não vão arrebentar com o Brasil, embora eu prefira a Dilma porque conheço o caráter progressista dela e o Serra ficou mais conservador.
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