sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Governing Brazil

Na metade de seus 100 primeiros dias de governo, reconheço finalmente que DILMA não é LULA e que o governo está comportando-se de maneira diferente e para melhor. Sei que se trata do início, mas estou confiante que dias melhores virão. Não quero acreditar que dilma piores virão... Para os meus quase dois (milhões de) exigentes leitores, abaixo matéria da THE ECONOMIST desta semana sobre este início de governo da Presidente DILMA.

DILMA ROUSSEFF won Brazil’s election last year less because of her own qualities than because her hugely popular predecessor and political mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, urged the voters to choose her. Since she had never before held elected office, nobody could be sure what kind of president she would turn out to be. Some Brazilians (and this newspaper, which endorsed her opponent) worried that she might be a more rigidly ideological left-winger than the pragmatic Lula. The evidence of her first six weeks in office is reassuring.

Under Lula, Brazil saw faster growth, impressive social progress but little or no reform of burdensome taxes and red tape. Abroad, an activist foreign policy brought new clout and new criticism. Ms Rousseff came to power on a platform of continuity. But she has also inherited an overheating economy, with inflation revving up and industrialists screaming about the strength of the real. She knows that she will be judged in part on whether Brazil’s airports, stadiums and transport are ready in time for the 2014 football World Cup.

Ms Rousseff is a very different person from Lula. Lacking his star quality, she has shunned the limelight. But what she has so far said and done has been clear and welcome. She has scotched notions that she would be soft on inflation. Her team has quickly signalled the need for some budget austerity after Lula’s last two spendthrift years. She rightly wants to focus social policy on eliminating extreme poverty (which still afflicts about one Brazilian in ten), while improving health care and schooling. And she is right, too, to want to seek tax and political reforms, even though those prizes eluded both Lula and his predecessor, Fernando Henrique Cardoso.

The most immediate change has been in the tone of foreign policy. Lula had a penchant for embracing dictators, from Cuba’s Fidel Castro to Iran’s Mahmoud Ahmadinejad. Brazil’s decision to vote against the UN resolution tightening sanctions against Iran’s nuclear programme was particularly ill-judged and did nothing to advance its claim to a permanent Security Council seat. In contrast, Ms Rousseff has criticised repression in Iran, stressed her commitment to human rights and said she wants to “deepen” ties with theUnited States. This amounts to a deft rebalancing of policy without detracting from Brazil’s case for reform of global governance.

The mother of battles to reform the state

But Brazilians will judge her on the economy. Can she sustain faster growth without sacrificing economic stability? Here the task is not easy. This week she won an important battle on the minimum wage: she wants to restrict its rise, because it has expensive knock-on effects on pensions. Her government’s plan to seek cuts of 50 billion reais ($30 billion) in the inflated budget may be both insufficient and hard to implement. But at least she is battling on the right side.

The important thing is that Ms Rousseff should see these tussles as the first round in a lengthy campaign to rationalise a baroque state and strip away the handicaps that hinder Brazilian firms from competing. The signs are good. Rather than horse-trade senior jobs in state companies and agencies with her allies in Congress, she wants to appoint the best people. The government hints that it will prise the airports from the dead hand of the air force and bring in private investment. Brazil’s booming capital markets are ready to help.

Ms Rousseff clearly intends to be an efficient administrator. What the next few months will show is whether she also has the political skills to extract reform from her large but voracious coalition in Congress. She has the makings of a good president. But the real tests are yet to come.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

PIB BRASIL - PREVISAO 2010.

Saiu hoje na FOLHA DE S. PAULO, materia sobre o crescimento do BRASIL em 2010.
O Brasil cresceu 7,81% em 2010, segundo o indicador criado pelo BC para antecipar os números do PIB, que só serão conhecidos no início do mês que vem.
Embora o crescimento no ano seja expressivo, dados mensais mostram desaceleração desde abril, quando o governo começou a retirar os incentivos econômicos anunciados na crise de 2009.
Em dezembro, a expansão foi de 4% ante o mesmo período de 2009, oitavo mês seguido de desaceleração. No último trimestre do ano, a expansão foi de 5%, abaixo dos 7% verificados três meses antes na comparação anual.
"Os números sugerem uma desaceleração importante para 2011, distante das grandes variações do ano passado", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima.
Ele estima alta entre 3,7% e 4% neste ano -abaixo dos 5% projetados pelo governo.
O IBC-Br é divulgado mensalmente, com base nos dados disponíveis no momento, e mostra proximidade com os números oficiais trimestrais do IBGE. É avaliado pelo BC no momento de definir os juros, hoje em 11,25%.
NOVOS DIRETORES
O BC anunciou as primeiras mudanças na diretoria desde a posse de seu presidente, Alexandre Tombini.
Dois funcionários de carreira farão parte do grupo, responsável, entre outras atribuições, por definir a política de juros.
Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico, será o diretor de Administração. Essa vaga está hoje com Anthero Meirelles, que responderá pela Fiscalização, no lugar de Alvir Hoffmann, que irá se aposentar.
Sidnei Corrêa Marques, da área de Monitoramento do Sistema Financeiro, vai para a diretoria de Liquidações e Crédito Rural. Ele substituirá Gustavo do Vale, cotado para a Infraero.
Os nomes precisam ser aprovados pelo Senado.
Para completar a diretoria do BC, faltam dois nomes, para as áreas de Normas e de Estudos Especiais. Para essa segunda vaga está cotada Zeina Latif, do banco RBS.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Muito pouco; muito tarde.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, como sempre, com seus provocativos e embasados textos, também na FOLHA DE S. PAULO e na internet no seu conhecido blog www.maovisivel.blogspot.com.

Na semana passada o governo federal anunciou um ajuste fiscal, marcado pela promessa de corte de R$ 50 bilhões em despesas. Parece muito, mas precisamos saber a) se é suficiente e b) se vai acontecer.
A resposta é infelizmente negativa nos dois casos (um desperdício, já que a negativa à segunda pergunta torna a primeira irrelevante, mas, mesmo assim, é importante compreender o porquê) e os motivos para isso devem ficar claros nos próximos parágrafos.
Comecemos por entender o que é realmente o corte anunciado. Uma mente menos afeita à particular forma de apresentação das contas públicas poderia interpretar que, da mesma forma que uma família em dificuldades financeiras reduz seu nível de gasto, o governo estaria disposto a diminuir suas despesas. Não é esse, porém, o caso.
De fato, o corte de R$ 50 bilhões aplica-se às despesas previstas no Orçamento da União para 2011, R$ 769 bilhões, e, posto em prática, traria o gasto federal neste ano para R$ 719 bilhões.
No entanto, como a despesa observada em 2010 ficou ao redor de R$ 657 bilhões, tal "corte" de despesas representa, na verdade, um aumento de R$ 62 bilhões no gasto público federal relativamente ao ano passado.
A família em dificuldades iria certamente à falência caso seu "corte de despesas" implicasse, como no caso do governo federal, aumento de quase 10% nos seus gastos.
Isso dito, como o crescimento do PIB nominal (o crescimento da economia acrescido da inflação) deve ficar em torno de 11%, a despesa federal, medida como proporção do PIB, deve sofrer queda modesta, de 17,9% para 17,7% do PIB.
Será que a redução do gasto, de 0,2 ponto percentual do PIB, será bastante para que o governo possa cumprir sua promessa e gerar um superavit primário de 3% do PIB neste ano? Novamente, à primeira vista, poderia parecer que sim. Visto que o superavit primário em 2010 atingiu 2,8% do PIB, 0,2 ponto do PIB a mais já traria o resultado fiscal para a meta.
Entretanto, como mostrei na minha última coluna, boa parte desse número resulta da criatividade contábil do governo, em particular a operação em torno da capitalização da Petrobras, que permitiu ao Tesouro registrar ganho de quase 1% do PIB, o qual, de resto, não se repetirá neste ano.
Assim, o governo deveria produzir um ajuste fiscal muito superior ao anunciado, caso realmente pretenda atingir a meta fiscal.
Tendo concluído que o corte é insuficiente para atingir a meta que o próprio governo definiu, precisamos saber ainda se ele é possível à luz dos constrangimentos naturais associados à rigidez orçamentária, até mesmo para determinar se há alguma possibilidade de aprofundamento do ajuste que possa nos trazer mais próximos à meta.
Contudo, dos R$ 769 bilhões orçados para 2011, cerca de R$ 550 bilhões representam despesas obrigatórias, com destaque para a folha de pagamento e as aposentadorias, de modo que o universo sujeito a cortes limita-se a cerca de R$ 220 bilhões, o chamado gasto discricionário.
Ainda assim, esse grupo compreende gastos sociais (o Bolsa Família, por exemplo), educação, saúde e os investimentos do PAC, que, segundo o compromisso oficial, seriam preservados dos cortes orçamentários (diga-se, aliás, que restrições legais também impedem a redução dos gastos com saúde relativamente ao PIB).
Caso tais promessas sejam honradas, mesmo a exequibilidade do corte fica ameaçada, pois este recairia sobre um conjunto que, dependendo das estimativas, equivaleria a entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões.
A triste verdade é que, se a política fiscal fosse mesmo "anticíclica", o ajuste deveria ter começado provavelmente ao final de 2009, quando se tornou claro que a recuperação econômica já estava devidamente enraizada.
Agora, depois da farra dos últimos anos, e novos gastos de R$ 85 bilhões em 2010, o ajuste não é só pequeno; é principalmente tardio.

Davos e nos.

Aos 82 anos e com seu conhecimento econômico na teoria e na prática, é sempre uma boa leitura a coluna de ANTONIO DELFIM NETTO, na FOLHA DE S. PAULO.
O conhecimento dos ensinamentos da "escola" neoclássica é necessário, mas não suficiente para a formulação adequada da política econômica que tenta maximizar o emprego e o PIB com o controle da inflação e do balanço em conta corrente. Por maior que seja a resistência de seus seguidores para aceitar a ideia, deveria ser claro que ela, sub-repticiamente, envolve a crença em leis "naturais".
De vez em quando, entretanto, nos momentos mais eufóricos, os neoclássicos baixam a guarda e revelam o fato.
Agora mesmo, em Davos, um dos seus mais representativos defensores, o Institute of International Finance (IIF), um "think-tank" localizado em Washington (financiado pelo sistema financeiro internacional), declarou por seu porta-voz que o Brasil "deveria abandonar a ideia de controlar o real e permitir a evolução natural do seu valor".
E completou: "Se existem pressões naturais dos fundamentos econômicos elevando o valor do real, todo esforço para controlá-lo será custoso e inútil". Ao final, ele disse que deveríamos "deixar o real encontrar naturalmente um valor de mercado mais realista e focar outras coisas, como a política fiscal".
O primeiro conselho é naturalmente duvidoso porque não há relação estável entre "fundamentos" e taxa de câmbio. O segundo faz sentido.
Entretanto por motivos não naturais. Devemos praticar um controle nos gastos de custeio e realizar uma enérgica mudança no financiamento da dívida pública para levar o juro real do Brasil, a um prazo adequado, ao nível internacional. Esse é o ponto. Não há nenhuma lei natural que garanta que somos um caso teratológico (produzido por qualquer "gene": inflação no passado, insegurança jurídica, planos fracassados etc.) que exige, naturalmente, a maior taxa de juro real do mundo.
Os mercados de bens e serviços são diferentes dos financeiros, onde se determina a taxa cambial. Nos primeiros, enfrentam-se dois grupos antagônicos (compradores e vendedores distintos) e o equilíbrio é produzido por suas forças relativas. No segundo, quando o valor de um ativo se eleva, sua demanda necessariamente não cai.
Pode (como ocorre frequentemente) elevar-se porque cada agente é, alternadamente, comprador ou vendedor. É isso o que ocorreu com a moeda (taxa de câmbio) após as espetaculares "inovações" financeiras e a informática transformaram-na numa "mercadoria" comprada e vendida diariamente num mercado que é 20 vezes maior do que o de bens e serviços transacionados externamente.
É mais do que evidente que a concorrência financeira não limita a flutuação da taxa de câmbio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Brasil terá deficit comercial em 2012, diz Fiesp.

Leio hoje na FOLHA DE S. PAULO que o crescente aumento das importações fará com que o Brasil registre deficit comercial em 2012, segundo Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp.

As importações do país ultrapassaram as exportações pela última vez em 2000, quando a balança comercial brasileira registrou saldo negativo de US$ 732 milhões.

Giannetti da Fonseca afirmou que, neste ano, o superavit da balança deve cair pela metade, fechando 2011 em cerca de US$ 10 bilhões - no ano passado, o saldo foi positivo em US$ 20,3 bilhões.

"As importações continuam crescendo muito mais que as exportações", disse.

Ontem, a Fiesp divulgou que a parcela do consumo brasileiro suprida por importados bateu recorde em 2010.

De acordo com dados, o chamado Coeficiente de Importações (CI) - que mede a parcela dos produtos vindos do exterior no consumo - fechou o ano passado em 21,8%, o maior nível da série, iniciada em 2003. Em 2009, o número havia sido de 18,3%.

Já o Coeficiente de Exportações, que mede quanto da produção nacional foi enviada ao exterior, teve leve alta em 2010, chegando a 18,9% - em 2009, era de 18%.

Segundo a Fiesp, além do forte crescimento da demanda doméstica no ano passado, o real valorizado e os benefícios fiscais concedidos por alguns Estados puxaram o aumento das importações.

Os dados mostram que, do crescimento de 14,2% no consumo dos brasileiros em 2010, 46,8% foi suprido por produtos importados. Considerando só manufaturados, houve aumento de 45% nas importações, contra alta de 18% nas exportações.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A BOA ACAO DE DELFIM NETTO.

Leio na FOLHA de hoje que o economista e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto vai doar sua biblioteca pessoal para a USP (Universidade de São Paulo). Com 250 mil livros, a coleção é uma das maiores bibliotecas privadas do Brasil.

O motivo da doação, ele conta rindo, são os 82 anos. "Eu estou ficando velho, e a USP vai continuar."

Dizendo não ser um bibliófilo, o ex-ministro afirma que seu acervo é uma "biblioteca de trabalho, especializada".

"Não tem nenhuma primeira edição. Tenho todos os clássicos, mas não tenho nenhuma primeira edição. Eu não sou um bibliófilo, sou um colecionador de livros. Tenho muito prazer nisso", afirma.

Delfim conta que compra livros "como todo mundo, por catálogo e referência". Muitos amigos sugerem títulos a sua secretária, que os compra.

Constituída em sua maioria por títulos de economia, a coleção conta também com livros e documentos de história, geografia, filosofia, ciência política e matemática.

A biblioteca será integralmente doada para a Faculdade de Economia e Administração da USP, da qual Delfim é professor emérito. A faculdade está construindo um espaço para abrigar o acervo.

"Estou devolvendo para a FEA tudo aquilo que ela me deu", afirma Delfim.

Trata-se de um belo exemplo a ser seguido por muitos colegas.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

POR QUE AS EXPECTATIVAS IMPORTAM.

Nesta 851 postagem, a nossa homenagem vai para o Nobel PAUL KRUGMAN, direto do ESTADÃO.

Paul Segal tem uma boa postagem no FT sobre as expectativas de inflação e em particular sobre o que a Grã-Bretanha deve fazer em face de uma recente elevação na curva da inflação:

Discussões ásperas envolvendo as expectativas de inflação hoje e os seus efeitos potenciais sobre a inflação real no futuro evocam uma conclusão, mas parecem ter esquecido o raciocínio. As expectativas de uma alta futura da inflação levam a uma elevação da inflação no futuro somente se os trabalhadores e as empresas conseguirem repassar esse aumento previsto dos preços para seus próprios contratos.

De fato. Como tentei explicar no passado, devemos nos preocupar é com um processo de saltos sucessivos que podem perpetuar a inflação uma vez que ela se incorpore na economia:

Suponhamos que eu tenha estabelecido meu preço para o próximo ano e que espero que o nível geral de preços – incluindo aspectos como o preço médio de produtos concorrentes – suba 10% no curso do ano. Então provavelmente vou estabelecer meu preço 5% mais alto do que faria levando conta apenas as atuais condições.

Mas essa não é a história toda: como os preços fixados temporariamente são revisados apenas a intervalos, o reajuste deles com frequência é para fazer uma equiparação. Então, no momento em que reajusto meus preços, eles provavelmente ficarão 5% mais baixos do que “deveriam” estar; acrescente a isso a antecipação da inflação futura e, provavelmente, precisarei remarcar meu preço em 10% – mesmo se a oferta e a demanda estiverem mais ou menos equilibradas no momento.

Agora, imagine uma economia em que todo mundo esteja agindo da mesma maneira. O que isso nos diz é que a inflação tende a se perpetuar, a menos que ocorra um enorme excesso de oferta ou de demanda. Em especial, uma vez que as expectativas de uma inflação persistente de 10% sejam “incorporadas” na economia, será necessário um período maior de desaceleração – anos de alto nível de desemprego – para conseguir uma queda da inflação.

O ponto chave no caso inglês é que não existe nenhum sinal de que alguma coisa desse tipo esteja ocorrendo. A inflação geral sofreu uma alta por causa do preço dos alimentos, da energia, da desvalorização da libra e aumentos no VAT – imposto sobre o valor agregado; mas os saltos sucessivos no caso de preços que no geral não costumam variar não são absolutamente evidentes. Aqui está uma folha de salário semanal regular:

awe.jpg

Fonte.

Pense o seguinte a respeito: elevar as taxas na Grã-Bretanha agora seria exigir que os salários, já bem abaixo do padrão, diminuíssem ainda mais. Não é uma política sensata para responder a uma subida verificada excepcionalmente na curva dos preços.

A INFLAÇÃO NO BRASIL É UM DRAGÃO ADORMECIDO?

A população brasileira que hoje esta na faixa dos seus 16 anos desconhece o que seja a inflação. O Brasil registrou entre 1980 a junho de 1994, quando foi lançado o Plano Real, uma inflação acumulada de 10,5 trilhões por cento. Esse terrível dragão foi finalmente domado pelo Plano Real, o poder de compra dos brasileiros aumentou e os presidentes Fernando Henrique e Lula da Silva conseguiram governar de uma maneira que favoreceu as classes sociais de baixa renda.

Com o mundo convivendo ainda com os estragos causados pela crise econômica de 2008, registra-se no Brasil um sinal que a inflação pode voltar. Esse perigo latente não deve, sob hipótese alguma, ser desconsiderado pelo atual governo. Durante estes últimos 16 anos o povo brasileiro aprendeu a viver num país onde o preço de um bem hoje é o mesmo de amanhã e foi o mesmo de ontem. Aceitar a volta da inflação somente trará prejuízos a todos, mas em época eleitoral a tolerância do governo com o assunto, resultou em sinal amarelo hoje para o novo governo.

O Brasil, que tem uma meta oficial de inflação de 4,5% ao ano, brilhantemente defendida pelo Banco Central, acumula uma alta de 6% nos doze meses encerrados em janeiro/2011. O país vem crescendo a uma taxa anual de quase 8%, o que vem resultando num aumento mais forte da demanda, que a oferta não consegue atender, o que acarreta o aumento de preços de diversos produtos.

Para combater essa situação, além dos últimos aumentos na taxa básica de juros – hoje em 11,25% ao ano, uma das mais elevadas do mundo, recentemente o governo cortou no próprio orçamento algo em torno de R$ 50 bilhões, um número mágico que até o momento ninguém consegue detectar onde e quais despesas efetivamente sofrerão os cortes. A boa notícia é que, conforme Olivier Blanchard, quando os efeitos sobre as expectativas são levados em conta, uma redução dos gastos do governo não leva necessariamente a uma queda do produto.

Quando analisamos o comportamento das curvas IS e LM nessa situação específica, fica bastante claro que os gastos do governo diminuindo, levam a um deslocamento da curva IS para a esquerda. Porém, se o governo consegue reduzir a taxa de juros, a curva IS desloca-se para a direita e a essa taxa de juros em queda estimula os gastos e aumenta o produto.

Isso posto, mais do que nunca compete ao governo saber onde deve cortar, sem prejuízo às suas funções básicas de assegurar melhores benefícios para a população e sem esquecer da estratosférica carga tributária cobrada da sociedade. Fazendo a sua parte e deixando o mercado trabalhar, o governo atingirá seus objetivos, ou seja, não deixar o dragão inflacionário voltar a dominar este país, bem como, conseguir manter a taxa de juros num patamar que atenda ao consumo consciente da população.

Como comentou nesta semana Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil, “Não podemos tolerar que a inflação fuja do controle num país como o Brasil, que ainda trem resquícios de indexação. Quanto menor a inflação, menor o custo para mantê-la em patamar baixo, porque todos os agentes econômicos trabalham com a perspectiva de que ela vai se manter assim e resistem à tentação de reajustar seus preços”.

FÓRUM MUNDIAL DE SUSTENTABILIDADE.

Para quem tem interesse no assunto e, principalmente, para quem está na região norte deste BRASIL, agende 24 a 26 de março próximos, em Manaus, para o FÓRUM MUNDIAL DE SUSTENTABILIDADE. Entre os palestrantes confirmados estão BILL CLINTON, Sir RICHARD BRANSON e ARNOLD SCHWARZENEGGER.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Egypt is free!!!

As imagens que a BBC mostra neste momento, direto do Egito, são inesquecíveis. Somos participantes da história em tempo real e, ao mesmo tempo, como é fascinante ver um povo muito feliz, cantando e dançando pela queda de um ditador. É a história repetindo-se, agora com a força e o poder das redes sociais. Por mais que estejamos no século XXI e a revolução tenha um contexto diferente de outras quedas de tiranos em outras épocas, a liberdade mais uma vez venceu. Viva o povo egipcío nesta celebração única e histórica!!!

O PRAZER DA PESQUISA!!!

Estimados colegas, bom dia e bom final de semana!

Quando você lê PAUL KRUGMAN no ESTADÃO analisando “o prazer da pesquisa”, você realmente reconhece que não existe almoço grátis. Tem que gostar muito do que faz e trabalhar bastante. A declaração de amor vinda de um intelectual de seu nível é assunto que merece ser realmente divulgado para todas as gerações da A à X,Y e Z...

Uma reflexão de ordem pessoal: percebi, algumas horas atrás, que estava desfrutando realmente de um bom fim de semana e isso me fez parar e pensar sobre o que de fato me agrada nesse meu atual papel de intelectual público.

Não é o semistatus de celebridade que ele proporciona; na verdade não me sinto muito à vontade quando sou reconhecido. E também não tem a ver com a capacidade de ter minha voz ouvida, é ótimo poder usar o mais valioso espaço jornalístico do mundo e agradeço a chance de, talvez, fazer uma diferença; mas a responsabilidade que acompanha esse privilégio é muito grande e às vezes me sinto carregando um pesado fardo.

Não, o que eu realmente adoro fazer é pesquisa – procurar entender como funcionam os sistemas de saúde, o que vem ocorrendo com a política monetária, como acessar e interpretar dados sobre o mercado de trigo.

Mas eu não estaria realizado essas pesquisas mesmo que nunca tivesse me afastado da carreira acadêmica? Sim, contudo… O problema de ser um acadêmico bem-sucedido é que é muito fácil cair na rotina, passar o tempo fazendo coisas de menor importância num trabalho que torna você um personagem importante; além do que, mesmo grandes economistas raramente fazem um trabalho revolucionário na minha idade. É por isso que muitos economistas de primeira classe buscam uma segunda carreira, de um tipo ou outro, seja na área de administração, relacionada com políticas públicas, etc.

No meu caso, estou escrevendo para o público em geral. O importante desta coluna é que ela, de uma maneira ou outra, obriga-me a continuar aprendendo novos estratagemas, a explorar áreas pelas quais nunca me interessei muito antes. E me força ainda a encontrar um modo de falar sobre os assuntos numa linguagem mais direta.

E eu amo isso.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF: PT SAUDAÇÕES.

Considero de menor importância esta discussão sobre se devemos chamar Presidenta Dilma ou Presidente Dilma. Entendo que a situação econômica é complexa e deveria merecer maior atenção do que ficar discutindo esse assunto. Mas gostaria de ratificar a minha posição, utilizada desde o início do governo da Presidente Dilma Rousseff, e para isso utilizo do artigo do Professor PASQUALE CIPRO NETO, hoje na FOLHA DE S.PAULO.

A Senadora Marta Suplicy interrompeu o presidente da Casa para "corrigi-lo". José Sarney usou a forma "presidente" para referir-se a Dilma Rousseff; Marta o interrompeu ("Pela ordem, senhor presidente: presidenta da República", disse ela a Sarney, que, em seguida, disse à senadora que as duas formas são corretas gramaticalmente). O fato é que Dilma Rousseff assumiu há 41 dias, e a polêmica continua, como continuam as manifestações a respeito do tema, algumas descabidas.

Já expliquei aqui que a terminação "-nte", presente em inúmeras palavras portuguesas, espanholas e italianas (e também inglesas e francesas, em que passa a "-nt" -em inglês, "presidente" é "president"; em francês, "président"), vem do particípio presente latino. Seu valor, em nossa língua e nas outras, é o de indicar o agente ("presidente" é "aquele/a que preside").

Também já disse que 99,99% das palavras terminadas em "-nte" têm forma única para o masculino e para o feminino. A mulher que gere (sim, "gere", do verbo "gerir", sinônimo de "gerenciar") uma agência bancária, por exemplo, não é gerenta; é gerente (gerenta, aliás, parece ter um certo tom pejorativo, não?).

A forma "presidenta" é uma das raras exceções, registrada -há muito- por vários dicionários (desde o de Cândido Figueiredo, por exemplo, publicado há quase um século). Outra das exceções, também antiga, é "infanta" ("1. Em Portugal ou Espanha, filha de reis que não é herdeira da coroa"; "2. Esposa do infante", explica o "Houaiss", que define "infante", no caso, como "Em Portugal e Espanha, filho de reis, porém não herdeiro do trono").

"Presidenta" é uma variante de "presidente", que, como as demais palavras terminadas em "-nte", é "substantivo ou adjetivo de dois gêneros". Em outras palavras, tanto faz, ou seja, pode-se empregar "a presidente Dilma Rousseff" ou "a presidenta Dilma Rousseff". Pois bem. O fato de haver registro de "presidenta" certamente decorre do fato de haver uso dessa forma (os dicionários não inventam palavras; registram as que ocorrem no corpus definido para a pesquisa). Mas a existência da variante de uma palavra não dá a ninguém o direito de exigir dos outros o uso dessa variante, muito menos o direito de corrigir quem não a usa, mas...

Posto isso, talvez pudéssemos trocar dois dedos de prosa sobre os possíveis motivos do pito que Marta deu em Sarney. Poder-se-ia pensar que o pito tem tom feminista, mas, como esse campo é minadíssimo, explosivo, prefiro não entrar nele.

Outra hipótese (talvez mais consistente) está em que, com o pito, Marta contesta o fato de que, ao empregar "a presidente", o presidente do Senado ignora o opção de Dilma Roussef por "presidenta". Aí o terreno se torna movediço...

Aproveito o mote para lembrar outros vocábulos que terminam em "-nte", como "adolescente" e "valente", que derivam, respectivamente, dos verbos "adolescer" e "valer". Sim, "adolescente" é "aquele/a que adolesce", assim como "valente" é "aquele/a que vale".

O caro leitor já empregou alguma forma de "adolescer"? Já disse a um de seus filhos algo como "Pobre de mim quando você adolescer!"? Elaiá! Certamente, não. O mais comum é algo como "Pobre de mim quando você entrar na adolescência!", não? Isso prova (mais uma vez) que nem sempre temos noção da relação que há entre as palavras ou de seu processo de formação.

Antes que me esqueça, "adolescer" vem do latim, em que significa "desenvolver-se, crescer". É isso.

APAGÕES NO GOVERNO!

Já que estamos falando do CEARÁ, nada como rever o genial SINFRÔNIO e a sua charge do dia no DIÁRIO DO NORDESTE. E que não venham mais apagões... SE ainda for possível...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É O MEU CEARÁ!!!

Raramente escrevo sobre o meu CEARÁ, mas hoje, lendo o discurso de agradecimento do bibliófilo conterrâneo JOSÉ AUGUSTO BEZERRA ao receber o troféu Sereia de Ouro, lá em FORTALEZA, destaco com satisfação, trecho que mostra a importância do meu Estado no cenário nacional. Nosso Estado muito tem colaborado também com a inteligência nacional. Fundou a primeira Academia de Letras do Brasil, antes da Academia Brasileira de Letras, criou um dos primeiros Institutos Históricos do país, implantou a primeira Secretaria de Cultura em um estado, e é a sede da Associação Brasileira de Bibliófilos, também a mais antiga em atividade no espaço cultural brasileiro. Aqui nasceram o criador do romance nacional, José de Alencar; o maior historiador do País, Capistrano de Abreu; o elaborador do nosso primeiro Código Civil, Clóvis Bevilacqua; o maior filósofo brasileiro, Farias Brito; um dos maiores filólogos, Heráclito Graça; o maior documentalista, o Barão de Studart; a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz, cujo centenário de nascimento também ocorre neste ano; o maior poeta popular do Brasil, Patativa do Assaré e daqui saem os grandes humoristas do País. Em outras áreas ainda podemos destacar líderes nacionais. Na religião católica, D. Helder Câmara; na doutrina espírita, Bezerra de Menezes; na religiosidade popular, Padre Cícero; na música, Alberto Nepomuceno; nas revoluções: Antônio Conselheiro, líder da Guerra de Canudos; Tristão de Alencar, Presidente da Revolução do Equador e Dragão do Mar, ícone da Abolição dos Escravos. Então, como povo, somos tão-somente o resultado de tudo quanto antes por aqui se passou, e os troféus são símbolos de momentos importantes dessa nossa História. O Troféu Sereia de Ouro, por exemplo, é um pouco de um homem e seu tempo. Uma síntese da imaginação e um reflexo das esperanças do inesquecível Edson Queiroz, um dos maiores filhos do Ceará, em todos os tempos. Sabemos que ao receber este reconhecimento, uma espécie de Prêmio Nobel da nossa região, levamos conosco, na realidade, um pouco das ideias de alguém que tinha em mente gerar riquezas e empregos para sua terra, e erigiu um conglomerado empresarial. Que estava determinado a criar oportunidades para os filhos do Ceará, através da educação, pois sabia que só pela cultura um povo se salva, e ergueu uma das maiores Universidades privadas do País. Que tencionava estimular a criatividade e o trabalho de outros que também tinham sonhos, na sua região, e instituiu o Troféu Sereia de Ouro.

A ESCOLHA DE DILMA!

Entendo que a medida anunciada hoje pelo governo está no caminho certo - corte de R$ 50 bilhões no orçamento deste ano. Espero que seu objetivo seja alcançado, mas tenho quase certeza que muitos e-leitores lembraram hoje de Lula. Fala Mantega: "A redução de gastos tende a ser definitiva. Pode ter alguma mudança pontual por algum caso no país, como alguma enchente, ou uma arrecadação maior do que o esperado". Caro ministro, realmente está difícil escolher entre aumentar o que já pagamos de impostos ou uma enchente aqui em casa... E na TV vi alguém falando que hoje era realmente o começo do governo. Então está combinado!!!

ESTADOS UNIDOS E CHINA.

Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, mais um texto de ANTONIO DELFIM NETTO sobre os EUA e a CHINA.

Uma fotografia vale mais do que mil palavras. Nada poderia exibir melhor a mudança fundamental que está ocorrendo no mundo do que a foto de Hu Jintao e Barack Obama, na visita que fez aos EUA. Um afro-americano e um chinês são os líderes das duas maiores potências mundiais, com uma população equivalente a 1/4 da mundial e 1/3 do PIB total. Eles prometeram uma convivência pacífica e de respeito mútuo. É isso que definirá o destino do resto do mundo nas próximas décadas.

É ilusão do "resto do mundo" pensar que pode explorar as pequenas divergências (quando comparadas aos imensos interesses envolvidos) entre os EUA e a China.

Essa relação simbiótica inicialmente estimulada pela estratégia externa americana (quando explorou a separação entre a velha URSS e a China no tempo da Guerra Fria) cresceu de forma insuspeitada. Atualmente, é de interesse fundamental para a China e os EUA mantê-la.

É grave miopia, também, supor que cada uma delas não procurará expandir suas relações com o "resto do mundo", ao mesmo tempo em que aumentará a sua autonomia militar "dissuasiva". Essa é a situação objetiva da conjuntura mundial, que deve ser considerada um dado do problema na formulação das políticas de desenvolvimento de todos os países do "resto do mundo".

Tomemos como exemplo a taxa de câmbio do yuan, que nos prejudica. Já era evidente, mas reafirmou-se com a visita, o fato de que os "protestos" americanos (como também no que se refere aos direitos humanos) não têm consequência. Faz dez anos que o Congresso americano ameaça denunciar a China como manipuladora do câmbio, o que obrigaria o Executivo a agir.

Por que isso nunca se concretizou? Porque, a despeito da gritaria dos sindicatos, o Congresso serve aos interesses da indústria dos Estados Unidos instalada na China!

A superdesvalorização do yuan serve aos mesmos interesses, ainda que à custa de alguma inflação na China.

Como disse Zhou Qiren, um assessor do BC chinês, "o valor do yuan é determinado livremente pela oferta e procura no mercado de câmbio, no qual o BC é o maior comprador e, portanto, o determina". E acrescentou: "a inflação chinesa, que reduz o poder de compra do cidadão comum é devida, principalmente, ao excesso de emissão de yuans para a compra de reservas". Tudo isso para manter funcionando a simbiótica máquina exportadora chinesa.

É difícil saber como isso acabará. O melhor é aproveitar as oportunidades que agora o quadro nos oferece, mas, ao mesmo tempo, colocar as barbas de molho e construir o mercado interno que necessitamos para dar emprego de boa qualidade a 150 milhões de brasileiros em 2030.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...