quarta-feira, 22 de junho de 2011

Melhor gestão!

Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, Antonio Delfim Netto, escreve sobre “melhor gestão”. Temos insistido, nesta coluna, que a ideia ingênua e simplista de que todos os nossos problemas seriam resolvidos com a redução da carga tributária é irrealista. Pela simples e boa razão que ela contraria a preferência "revelada" na Constituição de 1988. Gostemos ou não, na Assembleia Nacional Constituinte, por seus representantes livremente escolhidos, a sociedade brasileira "revelou" o seu desejo de construir um processo civilizatório apoiado em três pilares: 1º) Um regime republicano onde todos, inclusive o poder incumbente, devem estar sujeitos à mesma lei; 2º) Um sistema de escolha democrático, em que o poder incumbente deve ser submetido, de maneira periódica, ao voto universal absolutamente desimpedido; 3º) Um processo de construção paulatina de uma sociedade razoavelmente justa que amplie, continuamente, a igualdade de oportunidades para todo cidadão pela universalização gratuita do direito à saúde e à educação, sem distinção de qualquer natureza (origem, etnia, religião etc.). Trata-se de um projeto grandioso (envolve uma necessária dose de utopia) que vale a pena perseguir. Como é evidente, ele exige uma carga tributária maior que a dos países com o nosso mesmo nível de renda per capita, mas que têm objetivos menos ambiciosos. Em compensação, tal construção precisa de um Estado enxuto preocupado prioritariamente com: 1º) A eficiência de seus agentes; 2º) O controle rigoroso e exigente das políticas públicas de transferência de renda. O problema não é a alta tributação, mas o lamentável nível de sua devolução à sociedade com serviços públicos oferecidos em pequena quantidade e baixa qualidade, que salta aos olhos nas comparações internacionais. A complicação -nos três níveis de governo- não é propriamente a carga tributária, e sim a tragédia com os recursos que são dissipados pela ineficiência dos serviços públicos. O grave é que esse desperdício é mais manifesto na prestação de serviços de má qualidade na saúde e na educação, exatamente os setores críticos para o aumento da igualdade de oportunidades necessária para acelerar o desenvolvimento sustentável e inclusivo que o país mostrou desejar na Constituição de 1988. A boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff montou uma nova estrutura de apoio externo para tentar fazer mais e melhor com os recursos de que já dispõe o setor da saúde. É o primeiro passo para a melhoria da gestão dos recursos públicos, exatamente no setor que o Brasil mais precisa.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Teoria e prática econômica.

Hoje estou na UnB justamente para conversar sobre Moeda, Inflação e Política Econômica. Que bom poder ler logo cedo na FOLHA DE S. PAULO, materia que mistura a teoria e a pratica economica. A equipe econômica vai propor à presidente Dilma manter inalterada a atual meta de inflação de 4,5% ao ano em 2013 e sua tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Na próxima semana, o CMN (Conselho Monetário Nacional) se reúne para definir a meta de 2013. Segundo a Folha apurou, a equipe econômica avalia que reduzir a meta neste momento seria o mesmo que forçar o Banco Central a manter por mais tempo o atual ciclo de alta dos juros, de forma a garantir queda rápida dos índices de preços para o patamar desejado. Esse movimento poderia colocar em risco um momento de retomada do crescimento da economia. Dentro da estratégia do governo, o primeiro ano de Dilma deve ser de menor crescimento da produção nacional para controlar a inflação, que está elevada. A expectativa é que a economia cresça este ano entre 3,5% e 4%. No mercado financeiro, as apostas são de crescimento de 3,9%. Esse recuo mais forte em 2011, depois dos 7,5% registrados no ano passado, é considerado importante para compatibilizar nos próximos anos da gestão Dilma crescimento em torno de 5% ao ano com preços sob controle. Essa taxa, almejada já para 2012, está acima dos 4,10% previstos por analistas de mercado. Segundo técnicos do governo, se for incluída nessa equação uma meta de inflação menor para 2013, ela se transformaria numa "armadilha" para o BC. A autoridade monetária teria que elevar os juros para conter os preços já no ano que vem, para garantir o alcance da meta do ano seguinte, considerando que a política monetária tem um período de defasagem de seis a nove meses para que seus efeitos sejam sentidos. Além disso, a equipe de Dilma avalia que a redução da meta inflacionária deveria ocorrer ao mesmo tempo ou depois da adoção de medidas para reduzir a indexação da economia brasileira. O ministro Guido Mantega (Fazenda) costuma lembrar que resíduos de indexação como, por exemplo, reajustes de contratos de acordo com a inflação passada, fazem com que os preços do ano seguinte já partam de uma base mais alta. Esse efeito leva a uma realimentação da inflação, tornando mais difícil o combate às pressões sobre os preços. Durante o governo Lula, o BC chegou a defender uma redução da meta de 4,5% para 4% ou uma redução no intervalo de tolerância de 2 pontos para 1,5 ponto, mas foi voto vencido na disputa com a Fazenda. O atual presidente do BC, Alexandre Tombini, manifestou em seu discurso de posse a necessidade de, no futuro, o país discutir uma redução das metas, mas segundo assessores o cenário atual não é propício para esse tipo de discussão. A expectativa do ministro da Fazenda é que a inflação feche 2011 em 6,2%, muito próxima, portanto, do teto da meta, que é de 6,5%. Para Mantega, os últimos indicadores mostram que a política de combate à inflação está acertada. Mas ele admite que ainda é preciso ter cuidado. "O desafio continua e vamos tomar as medidas para que a inflação permaneça sob controle."

sexta-feira, 17 de junho de 2011

FHC: parabéns e obrigado!

Leio na FOLHA DE S. PAULO artigo de Luiz Carlos Mendonca de Barros e os 80 anos de FHC, dentre outros comentários.
Em carta enviada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma Rousseff reconhece -de forma clara e inequívoca- a paternidade do Plano Real, que devolveu à economia brasileira a estabilidade e o crescimento.
Foram quase 20 anos em que estivemos condenados à mediocridade e à estagnação da renda, principalmente dos mais pobres. Com o Plano Real, esse passado vergonhoso foi superado e voltamos ao grupo de nações emergentes com futuro.
O que seria considerada uma observação apenas formal em sua carta de congratulações pela passagem do aniversário de 80 anos de FHC, esse reconhecimento passou a ter uma grande relevância política.
Com razão, pois o ex-presidente Lula passou os oito anos de seu mandato renegando a importância de FHC e do Plano Real na construção da sociedade brasileira de hoje.
Além disso, Lula sempre espalhou aos quatro ventos a tese de que os anos FHC tinham deixado uma "herança maldita" a seus sucessores. O reconhecimento de Dilma do papel de FHC na estabilização e na política brasileira tornou as bravatas de Lula algo do passado. Espero que, a partir de agora, nem seu autor tenha coragem de voltar a elas.
Quero aproveitar este momento em que o papel de FHC na construção da nova economia brasileira voltou ao debate público para dividir com o leitor da Folha um trabalho sobre a evolução dos salários no Brasil, nos últimos 20 anos, feito por Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos.
Os dados que constam do gráfico falam por si só e mostram como a posição de Lula em relação ao Plano Real é inaceitável em uma sociedade guiada pela verdade dos fatos -não pela história forjada por seus dirigentes.
Os dados representam uma estimativa do total da remuneração do trabalho no Brasil, calculados em reais e já descontados os efeitos da inflação, entre 1992 e o primeiro trimestre de 2011. Chamo a atenção do leitor para os seguintes pontos principais:
1) Entre 1993, quando Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda no governo de Itamar Franco, e 1997, já presidente da República, o total de salários pagos passou de R$ 600 bilhões para R$ 1,1 trilhão, com aumento de 83% no período, o que equivale a um crescimento anual de mais de 12%;
2) Apenas no segundo mandato de Lula (2007-2010) é que os salários superam o nível de R$ 1,1 trilhão verificado entre 1993 e 2002 e começam a crescer a uma taxa anual de pouco mais de 5%;
3) O aumento dos salários reais nos quatro anos do chamado Lula-2 foi, entretanto, menos da metade do verificado no período de implantação do Plano Real;
4) Ou seja, a contribuição da estabilidade alcançada pela ação de FHC nos salários dos trabalhadores brasileiros foi o dobro da proporcionada pelos quatro anos de crescimento verificado no segundo mandato de Lula. Os dados históricos aqui apresentados não permitem que a farsa da "herança maldita" se sustente por mais tempo.
O trabalho feito por Ramos mostra, de forma cristalina, como a inflação elevada confiscava a renda real do trabalhador antes da ação decisiva de FHC.
A presidente Dilma apenas reconhece -com anos de atraso- isso.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Juros: equívoco ou jabuticaba?

Recebi a pouco do Professor Carlos Pio, artigo abaixo do economista André Lara Resenda, com o sugestivo título: Juros: equívoco ou jabuticaba, publicado no VALOR ECONOMICO de hoje.

Os juros no Brasil continuam a causar perplexidade. Enquanto no mundo todo, desde a crise financeira de 2008, as taxas estão excepcionalmente baixas, o Brasil é uma exceção. A taxa de juros continua alta; não apenas alta, mas muito alta.

Durante duas décadas, entre o primeiro choque do petróleo em 1973 e o Plano Real em 1994, a inflação brasileira desafiou políticos e intelectuais em busca de uma saída para um mal que corroía os salários, concentrava a renda, distorcia os preços, aumentava a incerteza e dificultava a avaliação dos investimentos. Independentemente da velocidade com que governos, ministérios e métodos foram testados e substituídos, a inflação seguia seu curso, parecia alimentar-se das tentativas fracassadas de controlá-la e ameaçava até mesmo a estabilidade institucional.

A inflação brasileira do último quarto do século XX era diferente da inflação encontrada nos países desenvolvidos à mesma época. Não era a mesma inflação, apenas mais alta, como a totalidade dos analistas externos e a grande maioria dos analistas no Brasil supunham. Tinha um elemento novo, uma especificidade própria, que lhe dava um caráter essencialmente distinto*.

A inflação no Brasil tinha se tornado uma doença crônica. Após anos de inflação, formas de conviver com a alta generalizada de preços foram desenvolvidas e até mesmo inteligentemente institucionalizadas nas reformas modernizadoras de 1965. Os mecanismos de indexação de salários, preços e contratos tinham se generalizado. A indexação permite conviver com uma inflação moderada sem desorganizar completamente o sistema de preços relativos, mas em contrapartida, por ser retroativa, projeta a inflação passada na inflação futura. Introduz uma rigidez no processo inflacionário que o torna muito mais resistente aos esforços para controlá-lo. Uma vez atingido um determinado patamar, ainda que na ausência de novas pressões, a taxa de inflação perpetua-se, por meio do que se convencionou chamar de inércia inflacionária.

A indexação permite melhor conviver com a inflação, mas introduz um forte componente inercial que a torna resistente aos métodos tradicionais para combatê-la. Um longo período de altas taxas de inflação, numa economia onde há indexação generalizada, muda a natureza do processo inflacionário e lhe dá características e complexidades específicas, diferentes das inflações moderadas encontradas nas economias desenvolvidas da segunda metade do século XX.

Numa época em que o mundo era menos interligado do que é hoje, em que o desconhecimento do que se passava nas economias periféricas era grande, não se podia contar com o auxílio dos centros acadêmicos desenvolvidos para se debruçarem sobre uma especificidade subdesenvolvida. Ao contrário, toda tentativa de argumentar que o processo inflacionário brasileiro requeria análise diversa e políticas específicas era recebida, no mínimo, com ceticismo e, na maior parte das vezes com ironia. Obrigados a pensar por conta própria, houve no Brasil um intenso debate sobre a natureza da inflação que, depois de muita tentativa e erro, levou-nos, com o Plano Real. A URV, uma moeda indexada virtual, foi solução sofisticada e original para o problema da inércia da inflação crônica.

A alta taxa de juros no Brasil de hoje nos remete à questão do processo inflacionário crônico do século passado. Estamos diante de uma nova especificidade brasileira, uma jabuticaba, ou trata-se meramente de um oneroso equívoco?

Em 2004, Edmar Bacha, Pérsio Arida e eu argumentamos que poderia haver uma especificidade na alta taxa de juros brasileira**. Descartamos como uma mera curiosidade teórica, a hipótese de que a política monetária pudesse estar excessivamente apertada, presa num "mau equilíbrio". Um equilíbrio perverso, onde a taxa excessivamente alta leva a uma despesa excessiva com juros, que aumenta o risco percebido dos títulos públicos, que por sua vez exige taxas mais altas.

A possibilidade de que a própria política de juros altos provoque a necessidade de juros altos, embora tenha grande apelo ideológico à esquerda, foi originalmente formulada por Olivier Blanchard, macroeconomista de credenciais inquestionáveis, atualmente economista-chefe do FMI***. Como a carga fiscal no Brasil já estava entre as mais altas do mundo e à época havia um expressivo superávit primário, procuramos encontrar uma possível razão além de um ajuste fiscal insuficiente e de uma dívida pública muito alta, para que a taxa de juros fosse tão excepcionalmente alta. Não nos parecia viável exigir um novo aperto fiscal pelo lado da tributação e as dificuldades de reformas e de redução dos gastos públicos são conhecidas. Haveria um fator específico na economia brasileira, uma jabuticaba, que pudesse explicar a anomalia dos juros?

Introduzimos a especificidade brasileira como uma conjectura teórica: a possibilidade de que houvesse uma "incerteza jurisdicional". A incerteza da jurisdição brasileira provocaria, por parte dos agentes detentores de poupança, uma resistência insuperável ao alongamento dos prazos das aplicações financeiras. A evidência do risco jurisdicional era o fato de que os mesmos credores, que resistiam a alongar os prazos em reais, estavam dispostos a fazê-lo nos títulos financeiros denominados em outras moedas, contratados em outras jurisdições. A "incerteza jurisdicional" seria decorrente de um viés anti-credor generalizado, encontrado principalmente, mas não apenas, no executivo, que sistematicamente subestimou a correção monetária, aplicou redutores nos contratos financeiros públicos e privados, taxou de forma discriminatória as aplicações financeiras e chegou ao extremo de congelar e expropriar a poupança financeira e monetária privada com o Plano Collor. Gato escaldado tem medo de água fria - o brasileiro, depois de tanto ser maltratado e espoliado, teria desenvolvido uma resistência a poupar a longo prazo, sobretudo em moeda nacional.

Embora tenhamos deixado claro que a incerteza jurisdicional era essencialmente uma percepção, associada a um viés anti-credor histórico de difícil mensuração, algumas tentativas de encontrar evidência da sua presença, em amostras com diferentes países, foram feitas, mas sem sucesso****.

Hoje, com significativos avanços, tanto em relação à conversibilidade do Real, como em relação à extensão dos prazos de financiamentos domésticos denominados em reais, a taxa de juros no Brasil continua extraordinariamente alta. A incerteza jurisdicional pode ter contribuído para que a taxa de juros fosse excepcionalmente alta logo após a estabilização da inflação, mas nos últimos anos, a incerteza diminuiu, o mercado interno de crédito de longo prazo evoluiu e a taxa de juros continua muito alta. Fica evidente que algo mais estrutural está por trás das altas taxas de juros no Brasil.

Há os que atribuem a culpa exclusivamente à política monetária do Banco Central, que teria sido - e continuaria - excessiva e equivocadamente restritiva. Segundo estes, os juros altos têm explicação simples: são resultado do equívoco do Banco Central. Um equívoco que resistiu às mudanças de governo e da composição de sua diretoria, mas apenas um longo e insistente equívoco.

O argumento de que se trataria apenas de um equívoco pode variar entre uma versão mais tosca, onde a política exageradamente dura do Banco Central é quase que pura perversidade, até os mais sofisticados, que são variantes da tese da "dominância fiscal" de Blanchard. A mais razoável é a tese de que o Banco Central, sem independência formal e cuja diretoria não tem mandato, está sujeito a pressões políticas. Para ganhar credibilidade precisou ser mais realista do que o rei. Manteve as taxas sistematicamente acima do necessário para conter a inflação dentro das metas.

Para que esta tese se sustente, dado que a inflação nunca esteve abaixo da meta, é preciso recorrer à hipótese do duplo equilíbrio. Existiria uma taxa de juros, mais baixa do que a efetivamente praticada pelo Banco Central, que teria igualmente sido capaz de manter a inflação dentro das metas. O equilíbrio dos últimos anos, desde o Real, seria um equilíbrio perverso, onde alta taxa de juros eleva o custo da dívida pública, agrava o desequilíbrio fiscal, que por sua vez eleva o risco dos títulos públicos e a taxa de juros de equilíbrio. Tudo mais constante, teria sido possível manter a inflação dentro das metas com uma taxa de juros mais baixa e menor risco percebido da dívida pública.

Assim formulada, a tese do duplo equilíbrio é uma possibilidade teórica, mas não há, nem certeza da existência prática de um segundo equilíbrio com taxas de juros mais baixas, nem garantia de que, na hipótese de efetivamente existir um melhor equilíbrio, dado que estamos no "mau equilíbrio", fosse possível atingí-lo pela mera redução, brusca ou gradual, da taxa de juros. Em termos técnicos, o entorno do equilíbrio perverso pode ser instável e não garantir a convergência para o melhor equilíbrio. Do ponto de vista prático, a existência de um equilíbrio superior é irrelevante, dado que o risco fiscal percebido é efetivamente alto, e não se pode correr o risco de baixar os juros e perder controle da inflação.

Parece-me, entretanto, que a hipótese da dominância fiscal e do duplo equilíbrio de Blanchard foi descartada como uma curiosidade teórica, sem que a devida atenção tivesse sido dada à única recomendação prática que dela se pode extrair.

A hipótese de Blanchard inverte a premissa clássica de que existe um "trade-off" entre a taxa de juros real e o déficit fiscal. Este "trade-off" pode ser deduzido da equação de equilíbrio no mercado de bens, onde juros mais altos reduzem a demanda privada e abrem espaço para maior gasto do governo, sem pressão inflacionária. Inverter a relação negativa entre juros e demanda agregada tem sido uma tentação recorrente ao longo dos tempos. Não é difícil compreender por quê. Invertida a relação entre a taxa de juros e a demanda agregada, torna-se possível compatibilizar uma política fiscal e monetária demagógica com a teoria e a racionalidade.

A hipótese de Blanchard, onde esta inversão ocorre pela percepção de risco da dívida pública, quando tanto a dívida como a taxa de juros são muito altas, embora sofisticada e conceitualmente possível, é efetivamente apenas uma conjectura teórica. Dela não se pode extrair a recomendação de que o Banco Central deveria baixar os juros, pois nada garante que um novo e melhor equilíbrio seria encontrado.

Ainda que a hipótese de Blanchard fosse demonstrada verdadeira, a única conclusão possível de ser extraída é de que para baixar a taxa de juros, com garantia de que a inflação se manterá dentro das metas, é preciso reduzir o risco percebido da dívida pública. Para isto, o único caminho direto e seguro é aumentar o superávit fiscal e reduzir a dívida.

Cabe aqui um paralelo entre a questão da taxa de juros hoje e a questão da inflação crônica do século passado. Uma identidade básica das contas nacionais nos mostra que o déficit público deve ser igual à soma da poupança privada e do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos. Ou seja, o déficit público é necessariamente financiado pela poupança privada doméstica e pelo financiamento do déficit da conta corrente, que pode ser chamado de poupança externa. Uma questão fundamental a ser superada por países pobres é a insuficiência de poupança. A insuficiência de poupança decorre tanto da premência das necessidades básicas de consumo, quanto da falta de instituições e hábitos indutivos da poupança. Na ausência de poupança voluntária institucionalmente canalizada para o financimento do investimento, tanto público quanto privado, a inflação pode servir como uma forma de criar poupança forçada. A inflação transfere recursos dos trabalhadores para o governo e as empresas. Se o governo gasta e investe mais do que arrecada, mas não há poupança privada suficiente para financiar o seu déficit, a inflação é a forma de transferir poupança forçada para o setor público, através da redução da renda e do consumo privado. A incompatibilidade, a priori, entre o déficit público e a poupança privada resolve-se, a posteriori, por meio da inflação.

Sem inflação, mas mantida a incompatibilidade entre o déficit público e a poupança voluntária - a taxas de juros razoáveis - é preciso recorrer a taxas de juros extraordinariamente altas para inibir o consumo privado e estimular a poupança. Na raiz das altas taxas de juros do Brasil de hoje está a mesma incompatibilidade entre a poupança voluntária e o desejo de investimento e consumo, público principalmente, que alimentou o processo inflacionário crônico do século passado. Apesar dos inegáveis avanços, ainda não conseguimos superar integralmente a restrição de poupança interna necessária para financiar nossas ambiciosas metas de investimentos e de gastos públicos.

Pode-se sempre recorrer à chamada poupança externa. A poupança externa é equivalente ao déficit em conta corrente que o resto do mundo está disposto a nos financiar. O excesso de importações sobre as exportações de bens e serviços é consumo interno financiado pela poupança do exterior. O recurso à poupança externa pode efetivamente aliviar a restrição da poupança interna, mas precisa ser utilizado com cautela, ao menos para os países que não são emissores de moedas-reserva*****. Financiar o excesso de gastos sobre a renda com déficits em conta corrente significa sujeitar-se às mudanças de humores, quase sempre bruscas, dos investidores internacionais. Pode ser uma forma legítima de aliviar a restrição doméstica de poupança e acelerar o crescimento, se o déficit em conta corrente estiver sendo utilizado para financiar o investimento e não - como ocorre com frequência - o consumo.

De toda forma, para que a poupança externa reduza a pressão sobre as finanças públicas é preciso que a moeda nacional possa flutuar livremente. É preciso aceitar, nos períodos em que o financiamento externo é abundante, uma valorização expressiva da moeda, com todas suas implicações favoráveis e desfavoráveis. Da mesma maneira, é preciso aceitar os impactos simultaneamente inflacionários e contracionistas decorrentes da redução, ou até mesmo do desaparecimento temporário, do financiamento externo. Se o Banco Central intervém para evitar a valorização percebida como excessiva da moeda, a necessidade de esterilizar os recursos emitidos para a compra de reservas internacionais restabelece a pressão sobre a necessidade de financiamento do setor público. A existência de financiamento externo só alivia a restrição de poupança interna para o financiamento público se a moeda puder flutuar livremente e não houver intervenção esterilizada para evitar a sua valorização. ******

À época da formulação do Real, insisti que era um equívoco pensar que o fim da inflação pudesse depender apenas de um plano de curto prazo. A inflação é sempre um sintoma. Sintoma de problemas que podem ser muito diferentes, mas que exigem um longo e consistente processo de superação. Não me parece exagero afirmar que alta taxa de juros brasileira de hoje ainda é decorrente da estabilização inacabada. Há uma agenda de reformas modernizadoras que foi abandonada e esquecida. Mais do que isso, houve reversão do projeto de tornar o estado menos ineficiente e a economia mais competitiva. A poupança privada pode ser estimulada através do desenvolvimento institucional e da educação, mas os resultados não são imediatos. A curto prazo só há um remédio: reduzir a despesa pública para compatibilizá-la com a taxa de poupança privada disponível, ou seja, reduzir o déficit público.

Tenho consciência de quão anticlimático é concluir que para baixar a taxa de juros é preciso reduzir a despesa e a dívida pública. Logo após o fracasso do Plano Cruzado, com a inflação explodindo para níveis até então nunca vistos, Pérsio Arida e eu, já fora do governo, mas ainda com restos da áurea de milagreiros, fomos convocados ao Palácio da Alvorada para uma reunião com o presidente da República. Ao terminarmos nossa exposição sobre a necessidade imperiosa de reduzir o déficit público, como condição para qualquer tentativa de controlar a inflação, o presidente José Sarney desabafou: "Para controlar a inflação por meio da redução dos gastos públicos eu não preciso de economistas brilhantes".

Infelizmente, com ou sem economistas brilhantes, para reduzir a taxa de juros e manter a inflação sob controle, a poupança voluntária deve ser capaz de financiar o investimento, público e privado, almejado. Para isso é preciso que as despesas correntes, especialmente os gastos correntes do setor público, sejam mantidas em níveis compatíveis com a taxa de poupança nacional. Em economia ao menos, não há milagres nem jabuticabas.

Após um dia de trabalho, chegando em Belém-PA!

terça-feira, 14 de junho de 2011

PIB gordo e salvador.

Recebi nesta data do Professor Carlos Pio, artigo de Raul Velloso, publicado ontem no Estadão sobre o PIB gordo e salvador.
Poucos perceberam, mas foi o efeito estatístico - que anabolizou o Produto Interno Bruto (PIB) - a salvação da economia sem a necessidade de uma forte rearrumação estrutural neste início de governo.
Entre 2003 e 2008 os resultados fiscais haviam aumentado firme e sistematicamente, passando, no caso da União, de 2,3% do PIB, no final de 2003, para 3,1% do PIB, em outubro de 2008, às vésperas da crise. Graças a isso e à melhora dos demais parâmetros relevantes, a razão dívida-PIB caiu de mais de 50% para 37,5% do PIB, um senhor ajuste. Nesse ínterim, tanto a receita quanto a despesa cresceram cerca de 9% ao ano acima da inflação, aproximadamente o dobro da atual taxa de crescimento sustentável do PIB. Viva o espetacular aumento da receita, pois graças a ele e dado que o valor inicial da receita era maior do que o da despesa, obviamente o superávit teria de aumentar.
Veio a crise e com ela a derrocada da atividade econômica e da arrecadação. Para se contrapor à crise, além das medidas de expansão monetária, o governo até aumentou o crescimento real dos gastos. Em consequência, os superávits agora caíam, chegando há pouco à faixa de 1,3% do PIB nos últimos 12 meses, se descontarmos o ganho temporário de 0,9% do PIB atribuído à operação de capitalização da Petrobrás, de setembro de 2010.
Analistas reclamaram dessa e de outras medidas que soaram como artificiais, mas em clima de otimismo o que vale não é a cifra pessimista de 1,3% do PIB, e, sim, a marca oficial de 2,2% do PIB para o superávit primário da União, nos últimos 12 meses, e no "fundo do poço" pós-crise correspondendo ao valor médio observado entre setembro e janeiro de 2011. Adicionando-se a essa marca oficial os resultados somados dos demais níveis, chega-se a um superávit total capaz de, juntamente com os demais parâmetros, gerar a queda e posterior estabilização da razão dívida-PIB para a atual marca de 40% do PIB, em que parece ter finalmente estabilizado e tranquilizado os mercados quanto à possível volta de temores de perda de controle da dívida. Registre-se que, depois de ter caído para 37,5% do PIB até setembro de 2008, essa razão, diante da crise, subira novamente para o nível de 43,5% em outubro de 2009.
Diante da necessidade de reafirmar a política de redução da razão dívida-PIB e da aceleração inflacionária decorrente do forte crescimento da economia e de outros fatores, o governo resolveu anunciar corte elevado de gastos para 2011, no contexto da revisão do Orçamento aprovado no Congresso Nacional. Como se tratava de corte em intenções, e não em relação aos gastos efetivos de 2010, o anúncio deixou muitas dúvidas. Para evitar uma maior subida das taxas de juros e/ou um pacote mais pesado de "medidas prudenciais", foi prometido um forte ajuste fiscal no primeiro semestre de 2011. Ou seja, um forte aumento do superávit na sua execução de caixa.
Conhecidos os números até abril, a reação geral dos analistas do mercado financeiro parece bastante favorável à gestão fiscal desses primeiros meses, como se percebe pela queda da inflação esperada, com base nas já tradicionais coletas do Banco Central. Mas há quem conteste o acerto da política adotada.
O que houve de fato? As autoridades sabem que, afora medidas atípicas, trata-se de aumentar a receita a taxas maiores que as das despesas primárias, para compensar a fase aguda da crise, quando se dera o contrário: a receita caiu, enquanto a despesa subia. No curto prazo, tudo vale. A longo prazo, depende de um projeto de ajuste estrutural do gasto, talvez conjugado com uma reforma tributária eficiente, algo que ainda não existe.
Nos primeiros trimestre e quadrimestre de 2011, a receita líquida da União cresceu entre 16% e 18% em termos nominais, basicamente na parcela puramente de natureza tributária, influenciada pelo elevado crescimento do PIB de 2010. Já a despesa total subiu bem menos: 7,1% e 9,7%, respectivamente. Fez-se, assim, o que era preciso fazer para recuperar os superávits perdidos.
No primeiro trimestre, Previdência e pessoal, com 64% do gasto total em 2010, cresceram, respectivamente, 5,1% e 3,6%, ou seja, abaixo da inflação. Isso se deveu em parte ao fato de que, pela política atual, o salário mínimo não teve aumento real positivo, algo que será compensado no ano que vem, com forte impacto no gasto futuro. E também porque o governo resolveu adiar para o mês de abril o pagamento das despesas relacionadas com sentenças judiciais de pessoal e Previdência, que costumavam ocorrer no primeiro trimestre. Assim, no primeiro quadrimestre, o crescimento desses dois itens aumentou para a faixa de 10% a 11%, ainda abaixo do aumento da receita. Note que os investimentos cresceram apenas 4,5% no primeiro quadrimestre, mas isso se explica porque 2010 foi ano eleitoral.Graças, principalmente, ao forte crescimento do PIB de 2010, que explica boa parte do desempenho da arrecadação, a batalha de curto prazo foi ganha até agora. Ponto para o governo. Mais à frente, com a economia desaquecida, as reformas talvez sejam a única saída.

SOBRE O SURGIMENTO DA CIÊNCIA ECONÔMICA

Leia abaixo artigo do colega Eduardo José Monteiro da Costa, Doutor em Economia pela Unicamp, professor da UFPA e Presidente do Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (CORECON-PA), publicado no Jornal do Economista pelos 60 anos da profissão de economista no Brasil.
O ano de 2011 é uma data simbólica para a profissão de economista no Brasil. Neste ano comemoraremos 60 anos da Lei 1.411, sancionada no dia 13 de agosto de 1951, que regulamenta o exercício profissional do economista no Brasil. É uma data comemorativa e simbólica que enseja um conjunto de reflexões sobre o exercício profissional. Desta forma, em comemoração a data, escreverei uma série de artigos reflexivos acerca da economia e do exercício profissional do economista no Brasil contemporâneo e especificamente no estado do Pará. Propositadamente escolhi para este ensaio inaugural o surgimento da Ciência Econômica.
Os livros clássicos de introdução a economia apresentam que a etimologia da palavra economia deriva do grego oikonomia, na qual oiko significa casa, propriedade, riqueza ou fortuna, e nomos significa regra, lei, organização ou até mesmo gestão. Neste sentido, na Grécia Antiga a economia era o ramo do conhecimento que cuidava da administração da comunidade doméstica, indo desde aspectos micro relacionados ao oikos até aspectos macro relacionados à Pólis (cidade, campo ou território). Convém ressaltar, entretanto, em que pese alguns poucos autores insistirem que Xenofontes (430-355 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) teriam sido os autores seminais desta ciência, que na Grécia Antiga não havia um estudo sistemático que observasse princípios autônomos neste ramo do conhecimento. A economia era apenas um campo do conhecimento integrante da “Ciência mãe”, a filosofia, estando integrada a um arranjo social e político mais amplo da qual não podia ser dissociada.
Um estudo mais aprofundado sobre a etimologia da palavra economista nos revela que ela deriva do latim oeconomus e esta do grego oikonomo, significando literalmente servo, mordomo ou dispensado, podendo ser entendida no sentido mais usual da época como o administrador de uma grande propriedade ou de uma instituição pública ou particular. Ou seja, em seus primórdios, na Grécia Antiga, o economista era claramente um servidor público, entendido este como aquele que serve aos outros ou a coisa pública. Esta visão mais de mil anos depois pode ainda ser encontrada em São Tomaz de Aquino (1225-1274), um clássico teólogo e filósofo da Idade Média que denominava de economos quem administrava bens, rendas e despesas do lar ou, como ele mais usualmente utilizava, monastérios.
No ano de 1615 um autor mercantilista francês denominado Antoine de Montchrétien (1575-1621) publicou a obra Tratado de Economia Política na qual pela primeira vez a expressão Economia Política aparece. Esta obra é simbólica na medida em que com ela pode-se perceber que a economia passa a figurar para os autores mercantilistas como um campo do conhecimento relacionado à gestão do Estado, inclusa, portanto, no campo de interesse das Ciências Políticas, sobrepujando desta forma as demais visões que denominavam este campo do conhecimento de “Crematística” ou “Catalactica”, palavras derivadas do grego khrema e katallactein que significam respectivamente Ciência da Riqueza e Ciência das Trocas.
Em 1755 foi publicada post-mortem a obra Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral do irlandês residente na França Richard de Cantilon (1680-1734), escrita ainda na década de 1730. A obra de Richard de Cantilon permaneceu obscura até por volta de 1880 quando William Stanley Jevons (1835-1882), um renomado economista da Escola Neoclássica, deu os devidos créditos ao ineditismo deste livro destacando-o como a mais metódica e completa formulação econômica anterior a Adam Smith, chamando o autor inclusive de primeiro economista político. De fato é indiscutível a influencia que as idéias de Cantilon tiveram sobre as formulações da Escola Clássica, a começar por Adam Smith, e da Escola Fisiocrata, com destaque para a teoria dos salários relativos, a visão circular da renda, a teoria do valor da terra, o papel dos metais preciosos na economia internacional e a relação entre moeda e inflação.
Outra data importante para a história desta ciência é o ano de 1758 quando o autor fisiocrata francês François Quesnay publicou o tratado Tabela Econômica mostrando pela primeira vez que a atividade produtiva funcionava a partir de uma lógica sistêmica, com a economia nacional sendo formada por conjuntos interdependentes (agricultura, indústria e comércio) articulados pela formação, distribuição e consumo das riquezas.
Entretanto, o surgimento formal da Ciência Econômica é atribuído ao lançamento do livro Um Inquérito sobre a Natureza e as Causas das Riquezas das Nações do filósofo escocês Adam Smith no ano de 1776, obra que estabeleceu a economia como ramo do conhecimento independente da Filosofia e da Ciência Política. Nesta obra Smith construiu um modelo abstrato e relativamente coerente da natureza, estrutura e funcionamento do sistema capitalista, no qual havia importantes ligações entre as principais classes sociais, os vários setores da produção, circulação e distribuição, riqueza e renda, comércio, moeda, formação dos preços e dinâmica de crescimento econômico. Este sistema, para Smith, poderia ser explicado por sua própria lógica interna.
Sua formulação teórica foi o reflexo de três progênies. Em primeiro lugar foi enfaticamente influenciada pelo ambiente da Grã-Bretanha nos idos da Revolução Industrial, aonde a visão de mundo anteriormente apregoada iria ruir em prol de uma nova sociedade regulada pelo e para o mercado. O segundo pilar estrutural de sua análise fundamentava-se no pensamento sociológico influenciado diretamente pela doutrina do individualismo através do pensamento de Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), Anthony Ashley-Cooper – Terceiro Conde de Shaftesbury – (1671-1713), Francis Hutcheson (1694-1746), Bernard Mandeville (1670-1733) e David Hume (1711-1776). A terceira fonte de influência foi o iluminismo, mais especificamente a concepção de “ordem natural” das coisas, importando a idéia de que o mundo é regido por “leis naturais” como arquitetada por Isaak Newton (1643-1727) para as ciências naturais. Tal fenômeno filosófico derivou-se, fundamentalmente, do surgimento na Europa do racionalismo embutido nos ideais iluministas no qual o homem começou a buscar explicações racionais para os acontecimentos, suplantando a idéia de “ordem natural”. Assim, influenciada pela filosofia das luzes, a sociedade passava de uma visão de mundo teocêntrica para outra racional, visando transpor leis comportamentais do mundo físico para o âmbito do social, dando início à Economia Política como disciplina autônoma na qual a preocupação com a “lei natural” pressupunha a identificação de um princípio unificador que reduzisse todos os fenômenos da vida econômica a um sistema inteligível e coerente.
Não há dúvida que a obra de Smith apresenta um conjunto teórico mais amadurecido e consistente que os seus antecessores, mas a alcunha de “Pai da Economia” certamente só lhe foi outorgada pelo fato do autor de A Riqueza das Nações ter participado do movimento das luzes, ter escrito na língua inglesa e em um período de intensas transformações pelo qual passava a Grã-Bretanha, posteriormente batizado de Revolução Industrial, no qual se tornava fundamental a formulação de modelos teóricos de referência que permitissem a explicação dos fenômenos econômicos e sociais. Assim, a partir de Adam Smith a economia passou a estudar a formação, distribuição e consumo das riquezas com base em modelos econômicos autônomos, estando este desiderato muito claro nas formulações de autores clássicos como Thomas Robert Malthus (1766-1834), John Stuart Mill (1806-1873), David Ricardo (1772-1823) e Jean Baptiste Say (1767-1832).

domingo, 12 de junho de 2011

É a economia, Obama!

Objetivo e direto editorial da FOLHA DE S. PAULO sobre a atual situacao de Barack Obama.
Foram efêmeros os efeitos positivos do assassínio de Bin Laden na popularidade do presidente americano, Barack Obama. Segundo pesquisa do jornal "Washington Post" com a rede de TV ABC, sua aprovação era de 47% em abril, pulou para 56% após a morte do terrorista e, neste mês, retornou ao nível anterior.
Não é bem uma surpresa. Nada menos que 59% dos americanos desaprovam, hoje, a condução da economia pelo presidente, nível mais alto desde a eleição do candidato do Partido Democrata. O descontentamento é generalizado e profundo: 89% acreditam que a economia é um problema, e 57% dizem que o país nem começou a sair da recessão.
Se as eleições fossem hoje, um dos potenciais contendores do Partido Republicano, Mitt Romney, teria 49% dos votos dos eleitores registrados, contra 46% de Obama. Um empate técnico, já que a margem de erro é de 3,5 pontos para mais ou para menos.
As pesquisas mostram fraqueza de Obama, mas dizem pouco sobre o que poderá ocorrer em 2012. O quadro pré-eleitoral nos EUA é sempre muito variável, e a corrida para selecionar um candidato republicano está longe de uma definição. Há várias facções influentes e antagônicas, como o movimento conservador Tea Party.
A economia, de fato, vai mal. A volta do crescimento para o patamar próximo de 2,5%, entre meados de 2009 e o primeiro trimestre deste ano, não tem sido suficiente para gerar empregos rapidamente. Apenas 2 milhões de postos de trabalho foram criados desde 2009, uma fração das 8,5 milhões de vagas perdidas na crise.
A persistir o ritmo recente, de 200 mil novos postos por mês, o emprego retornaria ao nível pré-crise apenas em 2014. Mesmo assim, a taxa de desemprego, atualmente em 9,1%, persistiria muito acima do padrão histórico -próximo de 5%- por mais de uma década. O desemprego se tornou um problema crônico: o tempo médio sem trabalho passou de 15 semanas (média desde 1980) para quase 40 semanas, atualmente.
Ainda pesam sobre os ombros das famílias americanas o excesso de endividamento e a queda dos preços dos imóveis. O crédito bancário permanece estagnado, mesmo depois da injeção de US$ 1,85 trilhão na economia.
A apreensão com o deficit público, da ordem de 10% do PIB, indica que em 2012 os maciços programas de expansão de gastos públicos devem reduzir-se, o que afetará o crescimento no ano eleitoral.
Obama certamente terá problemas na eleição por conta da situação econômica. Mas os republicanos também enfrentarão dificuldades, entre elas encontrar um candidato com propostas convincentes para gerar empregos.

Carta de DILMA para FHC - Parabéns 80 anos!

Fiquei extremamente satisfeito com a mensagem abaixo enviada pela presidente Dilma ao presidente Fernando Henrique na comemoracao de seus 80 anos. Isso demonstra que, apesar de tudo, ainda existe educacao e civilizacao neste país. Parabéns a ambos.

Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.

O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.

Mas quero aqui destacar também o democrata. O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje.

Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidaçãoo da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.

Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito.

Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiraçãoo por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.

Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Inflacao: o assunto do momento.

Leio No VALOR on line que o Brasil não corre o risco de voltar a ter inflação galopante, como em décadas passadas. Essa é a avaliação do economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, que ministrou nesta quinta-feira, a convite do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), uma palestra sobre as perspectivas para a economia brasileira.
O governo está agindo com todos os instrumentos que dispõe para trazer a inflação à meta”, comentou, referindo-se à taxa básica de juros (Selic) e às medidas macroprudenciais, que incluem o câmbio e o compulsório.
“As medidas macroprudenciais são importantes, mas seguramente a Selic tem efeito maior sobre a expectativa de inflação”, afirmou, estimando uma desaceleração no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que chegaria ao final de 2011 com alta de 5,5%.
Em maio, a inflação em 12 meses chegou a 6,55%, ultrapassando o teto da meta proposta pelo governo – de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Ainda indicando preocupação com o avanço generalizado de preços, o Banco Central (BC) elevou ontem a Selic de 12% para 12,25% ao ano, e sinalizou que novos aumentos virão. Embora classifique os juros no Brasil como “um escândalo”, Delfim Netto não deixou de tecer elogios ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao presidente do BC, Alexandre Tombini.
“Mantega e Tombini estão fazendo o correto”, ressaltou. “Os juros altos são simplesmente um processo de defesa. Se não fossem uma necessidade, o governo não faria.”
Para Delfim Netto, a economia já apresenta os primeiros sintomas de redução nas pressões inflacionárias. Pelos seus cálculos, os preços externos não devem continuar subindo como nos últimos meses.
Entretanto, o economista destaca que isso não significa que haverá uma volta aos valores antigos. “Inflação não é preço alto. É crescimento de preço. Mesmo que os preços continuem altos, há uma tendência de estabilização”, explicou.
Ele ainda mostrou que o comportamento da inflação no Brasil não difere muito do verificado em outros países. “Não há nada de excepcional na inflação brasileira. O país está sofrendo os mesmos efeitos que outras economias ao redor do globo”, concluiu.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Economia hoje.

Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, a análise de MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE, economista, professora da PUC-RJ e diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, sobre a atual situação econômica e política.

A saída de Antonio Palocci altera os rumos da política monetária? A julgar pela reação dos mercados e pela última decisão de juros, não. Segundo os analistas, desde que eclodiu a crise política com as revelações sobre a evolução do patrimônio do ex-ministro, a sua provável queda já estava "no preço".
Além disso, o Banco Central já sinalizara, tanto no relatório de inflação quanto na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, que as incertezas externas e internas exigiam ritmo mais cauteloso de aperto monetário, embora, possivelmente, mais prolongado.
O julgamento do Copom sobre a exacerbação da incerteza é justificado. O desastre japonês afetou cadeias de produção, a crise fiscal europeia se agravou e a economia americana tropeçou nos dois últimos meses.
A inflação brasileira, que desacelerou em maio e deve continuar branda nos próximos dois ou três meses, também respalda o gradualismo do Banco Central.
No curto prazo, portanto, a saída de Palocci não repercute nos cenários de inflação e juros, e tampouco na percepção do mercado sobre a atuação do Banco Central. Entretanto, tudo se complica no médio prazo.
A desaceleração constatada no primeiro trimestre deste ano, e que deve se intensificar no segundo, ainda é desequilibrada, afetando mais a indústria do que o setor de serviços, o algoz da inflação brasileira.
Os salários, que crescem acima da produtividade industrial, ganharão novo impulso com os dissídios do terceiro trimestre e com o aumento do salário mínimo no ano que vem.
E a suavização do crescimento mundial, que reverteu a alta das commodities, pode ser apenas temporária.
Já era pouco provável que a convergência da inflação para o centro da meta em 2012 fosse alcançada.
Agora, com um governo que ficou sem o seu principal articulador político e com um Banco Central que perdeu um importante aliado contra a visão de que é possível crescer um pouco mais tolerando alguma inflação adicional, o quadro macroeconômico ficou ainda mais nebuloso.
Se a presidente Dilma não conseguir recuperar a tração política, a execução dos cortes orçamentários e a manutenção de um regime de maior austeridade ficarão comprometidas.
Se a inflação voltar a acelerar no fim do ano, necessitando de ajuste mais intenso da política monetária e de freio maior na atividade, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não poderá contar com o auxílio do ex-ministro Palocci.
Apesar do episódio lamentável que resultou na sua queda, o ex-chefe da Casa Civil fará falta. Sobretudo ao Banco Central.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Selic está em 12,25% ao ano!!!

Leio no UOL que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta-feira (8) elevar a taxa básica de juros (a Selic) em 0,25 ponto percentual, para 12,25% ao ano, o maior nível desde janeiro de 2009, quando era de 12,75%. A decisão do Copom foi unânime.

A alta já era esperada pela maioria dos analistas do mercado financeiro. Ao elevar a Selic, o objetivo do BC é fazer com que o crediário também suba e, com isso, diminua o consumo da população para conter a alta da inflação.

Esta foi a quarta reunião do Copom sob o mandato da presidente Dilma Rousseff e com o BC sob o comando de Alexandre Tombini.

Em todas elas, o comitê decidiu elevar a taxa. Nas duas primeiras, a alta foi de 0,5 ponto percentual. A desta quarta-feira foi a segunda seguida com elevação de 0,25 ponto percentual.

PIB BRASIL.

Antonio Delfim Netto, escreve hoje na FOLHA DE S. PAULO sobre o PIB brasileiro.

Para um entendimento mais adequado do comportamento do PIB nos últimos três anos, talvez seja melhor trabalhar com o seu nível em lugar da sua taxa de crescimento.
Por definição, o PIB é o valor adicionado de todos os bens e serviços produzidos numa certa unidade de tempo.
Para eliminar as variações dos preços, o IBGE construiu estimativas do PIB "físico" escolhendo os preços do ano-base 1995 e com eles calculou o valor do PIB de cada ano.
É evidente que, se medirmos todos os PIBs anuais (ou trimestrais) aos preços vigentes num determinado ano (chamado de "base") teremos uma série que será uma razoável aproximação do PIB "físico", a despeito da enorme variedade de seus produtos.
Pode-se, assim, estimar a taxa de crescimento do PIB comparando-o com o PIB "base". Pois bem, medido aos preços médios vigentes em 1995, o PIB do primeiro trimestre de 2010 foi de R$ 264,6 bilhões e o de 2011, de R$ 275,6 bilhões.
Logo, a estimativa do crescimento real ("físico") entre o primeiro trimestre de 2011 em relação a 2010 pode ser encontrada dividindo R$ 275,6 bilhões por R$ 264,6 bilhões: 4,2%, como indicou o IBGE.
Qual o significado desse dado? Grosseiramente, podemos considerá-lo como a demanda total (privada e pública) atendida pela estrutura produtiva interna somada às importações que a complementam.
Esse entendimento é fundamental para não se deixar enganar pelo truque estatístico que identifica, por exemplo, o alta de 9,3% do primeiro trimestre de 2010 sobre o seu homólogo de 2009, como "excessiva demanda global com relação ao produto potencial".
O PIB "físico" atingiu o índice mais alto da série (150,3 em relação à base 100 de 1995) no terceiro trimestre de 2008, quando a taxa de inflação era de quase 4,5%.
A explosão da crise do Lehman Brothers nos atingiu fortemente. No primeiro trimestre de 2009, o PIB físico desabou, com ajuste sazonal, para 141,3, uma queda de 6%! Na média, o PIB de 2009 caiu 0,6% em relação a 2008. Ele só voltou ao nível anterior de 151,2 no quarto trimestre de 2009, com a "criação" da demanda induzida pelos programas de estímulos do governo.
O crescimento do PIB de 9,3% no primeiro trimestre de 2010, de 9,2% no segundo, de 8,4% no terceiro e de 7,5% no quarto semestre são só reflexos da recuperação da demanda sobre uma estrutura produtiva relativamente estável. O aumento do PIB nunca foi superior a 5% nos últimos anos.
O número do IBGE, de 4,2% para o primeiro trimestre de 2011/2010, revela um ajustamento para baixo que provavelmente vai continuar: a taxa de aumento do consumo está diminuindo e a taxa de investimento recuperou o nível de 18,4% do PIB (com um deficit em conta-corrente de 2,6%).

A taxa de desemprego e os presidentes americanos.

Li no blog do Ricardo Noblat o post abaixo, com origem na BBC.

Os novos números do mercado de trabalho divulgados pelo governo americano podem complicar a vida do presidente Barack Obama, no momento em que ele começa a intensificar sua campanha à reeleição.

A queda acentuada na geração de vagas e o aumento da taxa de desemprego surpreenderam analistas, que esperavam um desempenho melhor.

Também serviram de combustível para inúmeras análises na imprensa americana sobre como o estado da economia pode afetar as chances de reeleição do presidente no pleito do ano que vem.

Desde que anunciou a morte de Osama Bin Laden, no início de maio Obama, Obama vem gozando de um aumento nos índices de aprovação, ultrapassando a marca de 50%.

No entanto, o histórico das eleições americanas mostra que, no fim das contas, o que importa para o eleitor é a economia. E a taxa de desemprego de 9,1%, com quase 14 milhões de americanos sem trabalho, é um obstáculo considerável no caminho de Obama rumo ao segundo mandato.

Um levantamento divulgado pela imprensa americana mostra que, dos dez presidentes que tentaram a reeleição a partir de 1945, todos os que governavam com taxa de desemprego abaixo de 6% na época da votação foram reeleitos.

Nos casos em que a taxa era maior de 6%, o único que conseguiu se reeleger foi Ronald Reagan, com desemprego de 7,2%, mas em forte trajetória de queda na época do pleito.

Como o próprio governo americano já disse que deve levar "vários anos" até que a taxa de desemprego volte a girar em torno de 5% ou 6%, resta conferir se Obama vai conseguir fugir à regra ou vai acabar no indesejável time dos presidentes americanos de um mandato só.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tudo é político by Paul Krugman.

Logo que li o artigo do PETER DIAMOND fiquei imaginando a humilhacao de um NOBEL perante seus colegas. Agora a pouco, PAUL KRUGMAN poe o dedo na ferida e esclarece esta triste história. Se isso acontece com um economista considerado por KRUGMAN como EXCELENTE, fico pensando o que acontece com meros aprendizes de economia.

Peter Diamond tem um artigo de opinião deprimente no New York Times de hoje, eximindo-se de disputar um assento no Conselho de Administração do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em face da oposição republicana.

O que é preciso saber sobre Peter é que ele não é apenas um excelente economista, mas um economista de economistas – um teórico profundamente respeitado, não absolutamente alguém que se fez como ideólogo. Seu trabalho é basicamente apolítico.

Exceto que hoje em dia tudo é político.

Pouco importam as preocupações obviamente falsas sobre se ele é adequado ou não ao Fed. Obviamente, Peter não foi aprovado em função de dois pecados: ser pessoalmente um democrata, e ter sido nomeado por Obama.

A questão é que o Fed supostamente devia ficar acima e ao lado da disputa partidária. Nunca ficou completamente – mas esse era um ideal a ser alcançado. Não é mais.

Acho que a rejeição de um premiado com o Nobel para um assento no Fed está ligada, de maneira fundamental, à disposição de economistas com reputações profissionais decentes de aderirem às proclamações cada vez mais insanas emitidas por políticos republicanos. Sejam eles honestos consigo mesmos ou não, o que perceberam é que estão diante de um teste de lealdade – ou talvez seja um teste de apparatchik; se tiverem alguma ambição de servirem num cargo político, eles precisam se mostrar dispostos a seguir a linha do partido onde quer que ela vá.

Não há nada comparável no outro lado. Primeiramente, não se encontram pessoas como Christy Romer ou, bem, eu tomando posições em questões de política que vão diretamente contra o que elas disseram em seus escritos profissionais, enquanto se vê muito disso no lado republicano. E ex-autoridades do lado democrata como Christy ou Jared Bernstein estão muito dispostas a criticar políticas de Obama, ainda que de uma posição basicamente amistosa.

A maneira como a polarização de nossa política está corrompendo a teoria e a prática da economia não é, com certeza, seu maior custo. Mas ele não é trivial tampouco.

When a Nobel Prize Isn’t Enough

Até laureados com o NOBEL tem seus momentos de tristeza e desilusão com o ser humano. Neste artigo no The New York Times de June 5, 2011, o NOBEL PETER DIAMOND se queixa de seus colegas por não ratificarem seu nome como um dos integrantes do FED. Imaginem o que acontece conosco, simples mortais...

By PETER A. DIAMOND is a professor of economics at the Massachusetts Institute of Technology.

Last October, I won the Nobel Prize in economics for my work on unemployment and the labor market. But I am unqualified to serve on the board of the Federal Reserve — at least according to the Republican senators who have blocked my nomination. How can this be?

The easy answer is to point to shortcomings in our confirmation process and to partisan polarization in Washington. The more troubling answer, though, points to a fundamental misunderstanding: a failure to recognize that analysis of unemployment is crucial to conducting monetary policy.

In April 2010, President Obama nominated me to be one of the seven governors of the Fed. He renominated me in September, and again in January, after Senate Republicans blocked a floor vote on my confirmation. When the Senate Banking Committee took up my nomination in July and again in November, three Republican senators voted for me each time. But the third time around, the Republicans on the committee voted in lockstep against my appointment, making it extremely unlikely that the opposition to a full Senate vote can be overcome. It is time for me to withdraw, as I plan to inform the White House.

The leading opponent to my appointment, Richard C. Shelby of Alabama, the ranking Republican on the committee, has questioned the relevance of my expertise. “Does Dr. Diamond have any experience in conducting monetary policy? No,” he said in March. “His academic work has been on pensions and labor market theory.”

But understanding the labor market — and the process by which workers and jobs come together and separate — is critical to devising an effective monetary policy. The financial crisis has led to continuing high unemployment. The Fed has to properly assess the nature of that unemployment to be able to lower it as much as possible while avoiding inflation. If much of the unemployment is related to the business cycle — caused by a lack of adequate demand — the Fed can act to reduce it without touching off inflation. If instead the unemployment is primarily structural — caused by mismatches between the skills that companies need and the skills that workers have — aggressive Fed action to reduce it could be misguided.

In my Nobel acceptance speech in December, I discussed in detail the patterns of hiring in the American economy, and concluded that structural unemployment and issues of mismatch were not important in the slow recovery we have been experiencing, and thus not a reason to stop an accommodative monetary policy — a policy of keeping short-term interest rates exceptionally low and buying Treasury securities to keep long-term rates down. Analysis of the labor market is in fact central to monetary policy.

Senator Shelby also questioned my qualifications, asking: “Does Dr. Diamond have any experience in crisis management? No.” In addition to setting monetary policy in light of a proper understanding of unemployment, the Fed is responsible for avoiding banking crises, not just trying to mop up afterward.

Among the issues being debated now is how much we should increase capital requirements for banks. Selecting the proper size of the increase requires a balance between reducing the risk of a future crisis and ensuring the effective functioning of financial firms in ordinary times. My experience analyzing the properties of capital markets and how economic risks are and should be shared is directly relevant for designing policies to reduce the risk of future banking crises.

Instead of going to the Fed, however, I will go about my congenial professional existence as a professor at M.I.T., where I have taught and researched since 1966, and I will take advantage of some of the many opportunities that come to a Nobel laureate. So don’t worry about me.

But we should all worry about how distorted the confirmation process has become, and how little understanding of monetary policy there is among some of those responsible for its Congressional oversight. We need to preserve the independence of the Fed from efforts to politicize monetary policy and to limit the Fed’s ability to regulate financial firms.

Concern about the (seemingly low) current risk of future inflation should not erase concern about the large costs of continuing high unemployment. Concern about the distant risk of a genuine inability to handle our national debt should not erase concern about the risk to the economy from too much short-run fiscal tightening.

To the public, the Washington debate is often about more versus less — in both spending and regulation. There is too little public awareness of the real consequences of some of these decisions. In reality, we need more spending on some programs and less spending on others, and we need more good regulations and fewer bad ones.

Analytical expertise is needed to accomplish this, to make government more effective and efficient. Skilled analytical thinking should not be drowned out by mistaken, ideologically driven views that more is always better or less is always better. I had hoped to bring some of my own expertise and experience to the Fed. Now I hope someone else can.

domingo, 5 de junho de 2011

A agenda neoliberal do PT.

Recebi via professor CARLOS PIO o artigo da SUELY CALDAS, professora da PUC RJ, publicado hoje no ESTADÃO, com o sugestivo título: A AGENDA NEOLIBERAL DO PT.

Para provar que o governo não parou com a crise Palocci, na última semana o governo Dilma anunciou três importantes novidades da chamada "agenda positiva": a privatização de três aeroportos, o plano Brasil sem Miséria e a abertura do mercado de TV a cabo para as empresas de telecomunicações. Neste momento difícil para seu governo e para os dois maiores partidos que a apoiam, Dilma Rousseff precisava reagir rapidamente e provar ao País que sua gestão tem rumo, não está perdida nem imobilizada. Recorreu a uma agenda para sair do inferno e recuperar o otimismo, propondo ações que, em passado bem recente, o PT rotulava de "neoliberais", sem saber direito o que dizia e sem preocupação em conhecer, por puro e oportunista preconceito ideológico.

Seguindo a estrutura do programa Bolsa-Família, o Brasil sem Miséria aboliu o princípio da universalização em programas sociais - defendido por ideólogos do PT até a ascensão de Lula (vide o programa Renda Mínima, do senador Eduardo Suplicy) - e adotou o princípio da focalização, que esses mesmos ideólogos condenavam pelo simples fato de ser recomendado pelo "neoliberal" Banco Mundial. O foco na miséria e na pobreza foi o princípio que estruturou o Bolsa-Escola, criado no governo FHC e que deu origem ao Bolsa-Família, o mais bem-sucedido programa social de todos os tempos, que tirou da miséria 28 milhões de brasileiros.

O Brasil sem Miséria traz duas intrigantes novidades. A primeira: ao longo de dois anos 70 mil famílias muito pobres receberão doação de R$ 2.400, em parcelas trimestrais, para preservar florestas e vender sua produção de alimentos. Não se sabe como o governo mapeou e identificou essas famílias, mas, fora da Amazônia, não há pessoas muito pobres com terras tão extensas a ponto de abrigar florestas. A segunda novidade é universalizar o acesso à água, com a construção de cisternas para uso de 600 mil famílias na área rural. Uma meta factível, nada difícil de cumprir, visto que, segundo o IBGE, dos 5.564 municípios brasileiros, só 33 não dispõem de água potável. Porém, surpreendentemente, o programa que promete erradicar a miséria ignora o escasso acesso à coleta de esgotos e detritos, potencial fonte reprodutora de pobreza, doenças e exclusão social. A urgência de uma ação eficaz nessa área contrasta com a lentidão da ação de sucessivos governos: de 2000 a 2010, a rede de esgotos instalada no País cresceu só de 42% para 45% dos lares. Sem atacar o problema, fica difícil falar em acabar com a miséria.

Como chega com enorme atraso, a decisão de privatizar os Aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos exige cuidado redobrado em todo o processo, porque a pressa pode custar caro ao País. Primeiro, é indispensável capacitar e fortalecer a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), torná-la eficiente na fiscalização e regulação e não permitir exageros dos consórcios privados vencedores, a começar pelas tarifas cobradas dos 43,7 milhões de usuários desses aeroportos. Segundo, a definição do modelo operacional e dos editais de licitação deveria ser confiada a uma empresa experiente e especializada, claro, sob orientação da Secretaria de Aviação Civil e do BNDES. Esse momento é crucial em qualquer privatização, quando definições de metas de expansão, prazos de concessão, regras de reajuste de tarifas, inúmeros detalhes de interesse público são firmados em contrato com os consórcios vencedores. O governo precisa avançar nessa direção o quanto antes.

Por último, a abertura do mercado de TV a cabo para empresas de telefonia foi enfim formatada pela Anatel. Bem-vindas a expansão do serviço e a concorrência, onde hoje só há monopólio, e a banda larga e a internet, onde não há nada. Em oposição ao monopólio, a abertura de mercado é sempre acompanhada do ingresso de novas empresas no setor, aumento do faturamento, queda de preços ao consumidor e geração de empregos. No Brasil isso ocorreu com o fim do monopólio da Petrobrás e da Telebrás e a privatização das teles estaduais. Na época o PT foi contra, preferia o paralisado e anacrônico monopólio estatal.

CAÇANDO EICHMANN.

Aficcionado por livros que tratam da Segunda Guerra Mundial, encontrei em CAÇANDO EICHMANN um relato extraordinário e, da maneira mais detalhada possível, de como ocorreu a captura do nazista mais notório do mundo.
Leitura saborosa e que você ler sem desejar parar um segundo.
Altamente recomendável, inclusive para os meus colegas economistas. Afinal, este blog também é cultura.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...