segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Teoria dominante versus velha escola europeia.


Ricardo Schiller Freiburghaus é economista, graduado em Economia pela Universidade de Fribourg (Suíça) e pós-graduado pela Universidade de Dijon (França). Autor do livro "Inflação em Tese", escreveu este artigo especialmente para o VALOR ECONÔMICO.

A atual teoria econômica dominante defende que, para se combater a alta do índice de preços, é preciso aumentar a taxa de juros. Contudo, se o aumento da taxa de juros leva ao aumento dos custos, como podemos baixar os preços que estão diretamente ligados a tais custos?

A teoria dominante se defende ao explicar que, se os juros ficarem altos, a demanda de crédito cairá, e, consequentemente, o consumo diminuirá, fazendo com que os estoques aumentem nas indústrias, haja menos trabalho nas empresas de serviços e a economia doméstica fique menos endividada. Em seguida, as empresas baixariam os preços de seus produtos para ter alguma receita, a fim de pagar suas contas, como salários, enfim os custos. Finalmente, concluímos que os custos das empresas não baixariam, mas, sim, as margens de lucro recuariam, proporcionando queda dos preços.

Assim, se a intenção do governo é mesmo diminuir a demanda por crédito, a única solução realmente adequada é utilizar a política de taxa de juros ou pode-se adotar uma medida diferente? Pensamos que sim: uma política de controle de crédito - diminuir a atual facilidade do crédito, sem necessidade de aumentar a taxa de juros.

A princípio, a taxa de juros é fixada em função entre demanda e oferta de poupança e investimento, mas constatamos que a realidade é outra: a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fixar a taxa de juros é quase exclusivamente devida à variação do índice de preços, e pouco se fala da variação de poupança disponível.

A velha escola europeia dita que a taxa de juros "normal" pouco influencia na variação do índice de preços; por exemplo: na prática, quando na entressafra do etanol o preço do combustível sobe, aumentando o índice de preços, o Copom, a fim de combater o aumento, eleva a taxa de juros. Portanto, perguntamos o que os juros têm a ver com a produção de etanol?

Ao nosso entender, nada. O que se deve esclarecer é que o controle da variação do índice de preços tem de se fazer por uma gestão empresarial dos produtos que compõem o índice, do mesmo modo que uma empresa privada administra seus negócios.

No dia em que chegarmos a administrar e planejar a necessidade de produtos que compõem a cesta básica da nação Brasil, a variação do índice de preços estará sob controle. Economicamente, é difícil justificar a contínua alta dos juros no Brasil, que tem grau de investimento e, ao mesmo tempo, medida que aumenta sua dívida, obrigando a novos empréstimos para pagar um preço alto! Atualmente o Copom vem baixando os juros, mais ainda se baseando na noção do índice de preço.

As taxas de juros elevadas criam uma distorção no câmbio, anomalia que é causada pela própria política econômica do governo brasileiro, obrigando o Banco Central a impor medidas de controle de fluxo de entrada de divisas, na tentativa de trazer o câmbio para o equilíbrio de mercado. A velha escola europeia nos ensina que a moeda não tem poder sobre o preço da mercadoria e tampouco sobre o estado de trocas; então, a moeda é neutra.

Há, entretanto, as transações internacionais - como no caso do Brasil, em que parte da divisa que é trocada pelo real não é para comprar um produto brasileiro (seja físico ou serviço), mas, sim, para um ganho em rendimento. Nesse momento, se dá a origem da valorização do real, indesejada pelo resto da economia brasileira e, como é uma demanda pela moeda, sem contrapartida da produção nacional, o Banco Central intervém na compra de divisa, arcando com os custos financeiros.

Da mesma maneira que no início do Plano Real, o câmbio foi fixado de maneira arbitrária, independentemente do crescimento da produção nacional, e deve uma correção do câmbio para o equilíbrio real do mercado. Atualmente, pensamos que, no momento em que juros caírem ou houver uma reversão do fluxo de divisas, também haverá uma correção do câmbio, mas de maneira mais suave, porque o Brasil tem e paga caro o seguro para enfrentar este inevitável evento que são suas reservas de divisas.

A teoria econômica dominante nos ensina que a inflação é medida por índices de preços: quando os preços dos produtos sobem, surge a inflação. Então, podemos concluir, segundo a lógica do pensamento dessa escola econômica, que seria bom se os preços dos produtos ficassem estáveis e seria perfeito se os preços dos produtos ficassem fixos de maneira que não se alterassem no tempo; desse modo, viveríamos no mundo econômico perfeito, sem inflação nem deflação. O único problema é que não estaríamos vivendo no sistema capitalista e nem no planeta Terra.

A velha escola europeia já nos ensinou, há muito tempo, que o preço nada tem a ver com a inflação, mas, sim, com a redistribuição de riqueza entre as diferentes classes no interior da nação, que os preços refletem a dinâmica do mercado econômico e que cada país deve controlar sua cesta básica com a finalidade de manter os preços em equilíbrio e garantir um crescimento constante. Além disso, também nos ensina que a inflação é devida a um mau funcionamento do mecanismo econômico, e que tem sua origem na maneira de monetizar ou contabilizar a produção da economia, deixando bem claro que é totalmente independente da variação de preços, noção não existente na teoria dominante.

Finalmente, o que diferencia a velha escola europeia em sua análise da atual situação da política econômica brasileira? Pensamos que não é por meio da política de taxa de juros que se deve corrigir o índice de preços, e também nada tem a ver com a inflação. Seria necessário baixar a taxa de juros progressivamente, chegando a cerca de IPCA + 2%, deixar o câmbio chegar ao novo equilíbrio do mercado sem intervenção do Banco Central, controlar a política de crédito, diminuindo a facilidade de crédito ao público para compras de produtos em setores que estão aquecidos. Nossa maior divergência teórica, entretanto, é na definição da inflação.

domingo, 27 de novembro de 2011

No iPad de Dilma.


Leio no ESTADÃO de hoje, um texto micro e macro sobre a economia presidencial. 

Preocupada com o impacto da crise mundial no Brasil, a presidente Dilma Rousseff lê todo dia, religiosamente, dois boletins econômicos: um de manhã e outro à tarde.

Os papers são preparados pelo Ministério da Fazenda e contêm dados sobre câmbio, taxa de juros, preço de commodities e risco país. Dilma recebe as análises por e-mail criptografado e acompanha os cenários em seu iPad.

Nessas ocasiões, não é raro ela passar a mão no telefone e cobrar mais detalhes do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Vira e mexe "Guidinho", como é chamado pela presidente, tem de correr ao Palácio do Planalto para reuniões não agendadas.

Depois de cruzar informações de todos os cantos, Dilma chegou a uma conclusão: os primeiros três meses de 2012 vão caminhar "devagar". A partir do segundo trimestre, porém, a economia brasileira começará a reagir, na esteira do aumento do salário mínimo, do corte de juros e das desonerações de impostos para setores estratégicos. A equipe econômica estima que, mesmo com o abalo internacional, o crescimento pode chegar a 4,5% ou até 5%, no ano que vem, se houver investimento privado.

É isso o que Dilma tem dito em conversas reservadas com empresários, como Josué Gomes da Silva, da Coteminas; Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo. Banqueiros do porte de Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, também integram o time de interlocutores da presidente.

Embora tenha estilo diferente, Dilma mantém alguns hábitos do antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva. Gosta, por exemplo, de ouvir economistas de fora do governo, como Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico, Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo. "A locomotiva do governo Dilma é a economia, já que as crises políticas são uma constante. Sob nenhuma hipótese ela vai deixar isso fazer água", resumiu um auxiliar da presidente.

Para enfrentar a turbulência, Dilma decidiu fortalecer a economia doméstica e turbinar os investimentos. Ela está convencida de que os juros podem cair até chegar a 9% ao ano, por volta de maio de 2012. Atualmente, ela tem três obsessões: acelerar o crescimento, fazer a inflação convergir para 4,5%, que é o centro da meta, e monitorar a taxa de câmbio.

O governo trabalha com um cenário pessimista para a economia mundial no ano que vem. Não é só: acredita que problemas políticos na Europa e nos EUA podem agravar o quadro, com consequências a longo prazo. Apesar das incertezas, Dilma avalia que já tomou as medidas necessárias para amortecer os efeitos da crise, ao menos por enquanto. A questão, agora, é apenas de calibragem.

Depois da queda de seis ministros - cinco dos quais sob suspeita de corrupção - e com uma reforma da equipe prevista para o início de 2012, a presidente faz de tudo para mostrar que o Brasil pode escapar da crise sem sobressaltos.

Caro amigo paraense.

Por favor, caro amigo paraense, leia com atenção o excelente artigo anexo, publicado pelo Roberto Pompeu de Toledo na VEJA que chegou agora nas bancas.    
Clique primeiro na imagem; depois, em "abrir imagem em uma nova guia" e, finalmente, amplie e leia.

Ronan Farrow - genial.



 Li este texto hoje no UOL e lembrei que não inventaram nada melhor do que a inteligência.

"Aquele garotinho? Tem certeza de que é com aquele garotinho ali que você quer falar?", perguntou, incrédulo, o assessor de imprensa do Departamento de Estado americano.

Durante uma festa do governo, ele se desdobrava para trazer figurões, como a secretária de Estado, Hillary Clinton, até os jornalistas.

O tal garotinho é Ronan Farrow, 23 anos, assessor especial de Hillary para questões da juventude mundial.

Ele é também o único filho biológico da atriz Mia Farrow com o cineasta Woody Allen. Menino prodígio, começou a falar aos sete meses e ler aos dois anos, entrou para a universidade aos 11 e foi aceito no curso de direito de Yale aos 16. Mas, no Departamento de Estado, ele ainda é "aquele garotinho".

"Já passei por vários momentos embaraçosos por ser jovem e desconhecido. A velha guarda fala comigo com condescendência e, às vezes, até certo menosprezo. O que importa é que a chefe dá apoio total ao meu trabalho", diz Ronan, em entrevista à Serafina.

Filho de Woody Allen e Mia Farrow, Ronan Farrow destaca-se como garoto-prodígio ao lado de Hillary Clinton

Não foi fácil falar com o rapaz. Flashes e gravadores provocam nele um óbvio desconforto. Natural para alguém que, aos quatro anos, se viu no centro de um escândalo de repercussão mundial.

Vale relembrar alguns momentos dessa história. Depois de dois casamentos fracassados -- com Frank Sinatra e com o músico André Previn --, Mia Farrow teve um relacionamento de 12 anos com Woody Allen, que também já tinha sido casado duas vezes.

Eles viviam em casas separadas pelo Central Park, em Nova York. Os dois gostavam de se observar com binóculos, de caminhar de manhã lado a lado no parque e de trabalhar.

Juntos, fizeram 13 filmes -- entre eles, "Hannah e Suas Irmãs" (1986), "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985) e "A Era do Rádio" (1987).

Juntos, também adotaram duas crianças e, finalmente, tiveram Ronan. "A falta de entusiasmo de Woody (com a gravidez) era deprimente", escreveu Mia em sua biografia, "What Falls Away", de 1997. O nascimento do garoto não ajudou. De fato, Woody contaria depois que o relacionamento sexual do casal começou a se deteriorar com a chegada do filho.

A vida, então, tomou um rumo "woodyalleano" e, em janeiro de 1992, Mia encontrou fotos polaroides de Soon-Yi, sua filha adotiva com Previn, na casa do cineasta. A menina de 21 anos estava nua, de pernas abertas.

A atriz ainda estava filmando o que seria a sua última parceria com o cineasta, o ótimo e muito autobiográfico "Maridos e Esposas". Na história, ele faz o papel de um professor casado (com a personagem de Mia), que se envolve com uma jovem aluna (Juliette Lewis).

Na vida real, Soon-Yi se mudou para o apartamento de Woody, no East Side. Chocada, Mia ainda acusou o cineasta de abusos sexuais contra uma das crianças que o casal adotou, Dylan, uma menina dois anos mais velha que Ronan.

Ele, então, resolveu brigar na justiça pela custódia dos três filhos. As acusações de abuso nunca foram provadas.

Mas Mia ganhou a briga e ficou com a guarda das crianças. Woody ganhou o direito de ver Ronan três vezes por semana, em visitas monitoradas de duas horas.

A relação de pai e filho, que nunca tinha sido muito boa, se deteriorou. Ronan não tem qualquer contato com o pai desde 1995, quando ainda tinha sete anos.

De volta a 2011, não é difícil entender porque o assessor do Departamento de Estado leva mais de dez minutos para convencer "aquele garotinho" a ir até a área dos jornalistas.

Quando finalmente veio, encheu a repórter de perguntas. Por fim, deu o contato de sua secretária e, depois de duas semanas, concordou em dar uma entrevista por telefone -- desde que fosse sobre sua trajetória profissional.

Só quando o assunto é trabalho, Ronan abre a guarda, fala sem parar e até dá seu email e o número do telefone celular.

"Desde cedo, fiz viagens incríveis com minha mãe para locais de conflito. Em Darfur, no Sudão, sofri muito ao ver as condições de vida do povo. Na volta, tive minha maior vitória: participei de um protesto que acabou fazendo com que os fundos de pensão das universidades parassem de comprar ações de empresas que negociam com o Sudão", conta, empolgado.

Mia e o filho têm muito em comum. Os olhos azuis, os cabelos louros acinzentados e o interesse por direitos humanos são algumas características compartilhadas.

Entre os 14 filhos da atriz -- quatro biológicos e dez adotivos--, Ronan sempre foi o mais próximo. Quando, aos 11 anos, ele entrou para o Bard College, Mia levava o filho às aulas diariamente. Dirigia sua minivan verde por uma hora e meia desde a casa da família, em Connecticut, para onde se mudou depois da separação.

Como Ronan era muito novo para ir de uma sala de aula à outra, a atriz passava o dia no campus com o filho.

Do pai, ele herdou o corpo franzino, a pouca altura (1,68m) e o gosto por música. Assim como Woody faz com o clarinete, Ronan toca guitarra para relaxar: "Tem uma sala de música no Departamento. É para onde vou quando sobra tempo".

Ao que parece, não sobra muito. Depois de três anos vivendo em Washington, ele nunca apareceu em colunas sociais.

O restaurante que mais frequenta é a cafeteria do trabalho. "Tem dia que faço as três refeições lá", diz ele, que costuma contar o que comeu no Twitter. "Se a China soubesse o que a cafeteria do Departamento de Estado vende como comida chinesa, teríamos um incidente diplomático", escreveu.

Ronan nunca se interessou pela carreira dos pais e dos avós maternos. Atriz de "O Bebê de Rosemary" e de mais de 40 outros filmes, Mia é filha do diretor John Farrow e da atriz Maureen O'Sullivan, que ficou famosa como a Jane do Tarzan.

Desde cedo, seu interesse é por ativismo e política. Antes de assumir, em junho, o cargo de assessor de Hillary e diretor do setor de juventude mundial, Ronan trabalhou dois anos no próprio Departamento de Estado, como assessor especial para Assuntos Humanitários e ONGs com foco no Afeganistão e no Paquistão.

Ele também tem no currículo o cargo de porta-voz da Unicef na Nigéria, Angola e Darfur e o Prêmio Humanitário McCall-Pierpaoli de 2008. Para completar o histórico, Ronan publicou artigos em jornais como "Wall Street Journal" e "International Herald Tribune" e trabalhou, nos tempos de Yale, como advogado para uma firma conceituada de Nova York.

Um dos próximos destinos do ativista político é o Brasil, que já foi citado em seus discursos e no Twitter:

"Temos vários programas interessantes em conjunto, como o dos Jovens Embaixadores. O Brasil tem aparecido no cenário mundial com uma resposta vibrante à realidade da população jovem. No ano que vem, finalmente vou conhecer o país durante o Rio+20 [Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro, em junho de 2012]."

Curiosamente, Ronan Farrow já trocou de nome duas vezes. Nos primeiros anos de vida, era chamado pelo primeiro nome, Satchel, homenagem do pai a um famoso jogador de beisebol americano.

Depois que o casal se separou, Satchel passaria a ser chamado de Seamus. Ao se formar em Yale, virou Ronan.

"Não mudei de nome legalmente. Tenho vários nomes e posso escolher", justifica, dizendo que na certidão seu nome é Satchel Seamus Ronan O'Sullivan Farrow.

O sobrenome do pai não entrou porque Mia já tinha oito filhos quando Ronan nasceu e não queria que ele fosse o único diferente entre seis Previns e dois Farrows. Quem disse que nome não é destino?

*
Linha do tempo
A vida de Ronan Farrow e a obra de seu pai.

19/12/1987
Ronan nasce de cesariana e mora com a mãe e os irmãos no apartamento de oito quartos da Central Park West, onde Allen filmou os jantares de "Hannah e Suas Irmãs".

1 ano (1988)
Segundo o cineasta, no aniversário de um ano do filho, a relação já era "totalmente platônica". Neste ano, Woody lança o filme "A Outra" (1988). Mia faz o papel de uma grávida que pensa em suicídio.

2 anos (1989)
O cineasta não quer que a atriz amamente o filho, o que ela faz até os dois anos e meio. Os pais fazem três outros filmes juntos: "Crimes e Pecados" (1989), "Contos de Nova York" (1989) e "Simplesmente Alice" (1990). Neste último, a personagem de Mia deixa o marido, vai criar os filhos sozinha e se dedicar a trabalhos voluntários.

4 anos (1991)
Mia reúne os filhos mais velhos e Soon-Yi para discutir a crise familiar. O caçula, Ronan, assiste à "Pequena Sereia" na sala ao lado. Soon-Yi decide deixar a família.

8 anos (1995)
Ronan já lê Kafka, Camus e Sartre. Woody lança "Poderosa Afrodite" (1995). O filme conta a história de um casal que adota uma criança brilhante, filho de uma prostituta.

10 anos (1997)
Woody e Soon-Yi se casam na Itália. O filme do cineasta deste ano é "Desconstruindo Harry" (1997), em que ele faz o papel de um escritor em crise criativa e odiado pelas três ex-mulheres.

11 anos (1998)
Ronan se torna o estudante mais jovem do Bard College e entra para o Hall da Fama dos Jovens Superdotados (YEGS Hall of Fame, em inglês). Woody, que está lançando "Poucas e Boas" (1999), fica sabendo da novidade por jornalistas.

12 anos (1999)
O cineasta assina um contrato de cinco filmes com a DreamWorks, de Steven Spielberg. Seriam considerados alguns dos piores do diretor.

15 anos (2002)
Ronan escreve uma tese sobre ciência política e se forma com nota máxima no Bard College. A DreamWorks lança a comédia "Igual a Tudo na Vida" para atrair 
o público jovem aos filmes de Woody Allen.

16 anos (2003)
Ronan é aceito para o curso de direito da Universidade de Yale. Ele já trabalha como porta-voz da Unicef e assistente de político. No filme "Melinda e Melinda" (2004), um personagem diz: "O importante é quem você conhece. A vida é uma rede de contatos".

17 anos (2004)
O "Daily Mail" entrevista Ronan: "Ele é meu pai e se casou com minha irmã. Isso é uma transgressão moral. Eu não posso vê-lo. Não posso ter uma relação com meu pai e ser moralmente consistente". Woody Allen diz que o escândalo foi um golpe de sorte em sua vida. O brilhante "Match Point", sobre sorte e destino, entra em cartaz.

2008 / 21 anos
Ronan entra no Departamento de Estado. Woody lança "Tudo Pode Dar Certo", sobre o relacionamento de um homem mais velho com uma mulher jovem. Ele e Soon-Yi continuam juntos e têm duas meninas adotivas. Elas não conhecem o irmão.

sábado, 26 de novembro de 2011

Pará: derrota do SIM?


Hoje li está análise na FOLHA DE S. PAULO e compartilho com os meus quase ainda dois (milhões de) fiéis e-leitores. 

A julgar pela segunda rodada de pesquisa Datafolha, nem Duda Mendonça conseguirá convencer a maioria da população do Pará de que é melhor dividir o Estado em três no plebiscito marcado para daqui a 15 dias.

A prevalência do "não", levemente ampliada mesmo depois de 20 dias de propaganda no ar, mostra que o sentimento separatista, de fato muito presente nas regiões sudeste (Carajás) e oeste (Tapajós), não foi suficiente para sobrepujar as dúvidas sobre a viabilidade econômica e política da divisão do Pará.

O paradoxal é que, caso se confirme esse prognóstico nas urnas no dia 11 de dezembro, o risco maior é que se amplie a divisão da população das três áreas do Estado.

Isso porque haverá uma grande dose de inconformismo com o resultado nas duas regiões, que viram na aprovação do plebiscito uma chance que já julgavam remota de ter atendido o desejo de autodeterminação administrativa e política.

Nas suas peças publicitárias, a frente contrária à divisão elenca uma série de inconvenientes da criação dos novos Estados, mas não faz nenhum aceno a que haverá maior presença do governo do Pará nessas regiões, que se sentem sub-representadas em investimentos e presença do aparelho estatal.

Em junho, quando a Folha visitou as três regiões para uma ampla reportagem, o governador Simão Jatene reconhecia que haveria necessidade de uma repactuação política caso a separação fosse derrotada no plebiscito.

A pesquisa mostra que, se quiser manter uma interlocução com líderes políticos e econômicos das áreas emancipandas após a consulta, deve acelerar as conversas para essa reconciliação.

Os principais pleitos das regiões oeste e sudeste são a descentralização da aplicação dos impostos e dos investimentos em saúde, infraestrutura viária, educação e segurança. Sem isso, a unidade do Pará continuará sendo só uma convenção formal.

Nós somos os 99,9%.


PAUL KRUGMAN, hoje especialmente na FOLHA DE S. PAULO. 

A ideia de que a superelite nos EUA é composta por criadores de empregos é ciência econômica falha.

"NÓS SOMOS os 99%" é um grande slogan. Define corretamente a questão como sendo classe média X elite (em oposição a classe média X pobres). E combate a noção do establishment de que a desigualdade crescente se deve aos mais bem instruídos, que se saem melhor que os menos instruídos; os grandes vencedores nesta nova Era Dourada vêm sendo algumas poucas pessoas muito ricas, e não pessoas diplomadas.

Mas o slogan dos 99% ainda diz pouco. Uma grande parcela dos ganhos do 1% mais rico na realidade se concentra em um grupo ainda menor, o 0,1% mais rico -o milésimo mais rico da população.

Segundo relatório de 2005, de 1979 até esse ano, a renda líquida, ajustada para a inflação, dos americanos na faixa de renda mediana subiu 21%. O aumento equivalente do 0,1% mais rico foi de 400%.

Então, por que os republicanos defendem cortes ainda maiores nos impostos dos muito ricos, ao mesmo tempo em que avisam sobre deficit e exigem cortes dramáticos nos programas de seguro social?

A resposta de praxe é que a superelite é feita de "criadores de empregos" -ou seja, que ela faz uma contribuição especial para a economia. Isso é ciência econômica falha.

Afinal, em uma economia de mercado idealizada, cada trabalhador ganharia o equivalente ao que contribui para a economia por optar por trabalhar -nem mais, nem menos. Isso se aplicaria igualmente a operários que recebem US$ 30 mil por ano e executivos que ganham US$ 30 milhões. Não haveria razão para considerar que as contribuições de quem ganha US$ 30 milhões merecem tratamento especial.

Alguns dos muito ricos ficam muito ricos por produzir inovações que valem muito mais para o mundo do que a receita que ganham. Mas, se olharmos para quem realmente compõe o 0,1%, é difícil deixar de concluir que, de modo geral, a superelite ganha demais pelo que faz.

Quem são os membros do 0,1%? Muito poucos são inovadores como Steve Jobs; a maioria é formada por figurões de grandes empresas e executivos do setor financeiro, profissões longe de ter relação clara entre a receita da pessoa e a contribuição econômica que ela faz.

Salários de executivos, que subiram vertiginosamente, são definidos por conselhos diretores nomeados pelas próprias pessoas cujos ganhos eles determinam. CEOs de baixo desempenho recebem salários generosos. E executivos fracassados, muitas vezes, ganham milhões quando deixam empresas.

Enquanto isso, a crise mostrou que boa parte do valor criado pelo setor financeiro moderno era uma miragem. Nas palavras recentes de um diretor do Banco da Inglaterra, os retornos altos antes da crise simplesmente refletiram os riscos adicionais -não dos próprios especuladores, mas de investidores ingênuos ou contribuintes, que levaram prejuízo quando tudo deu errado.

Como observou o diretor: "Se assumir riscos adicionasse valor, os jogadores de roleta russa fariam uma contribuição desproporcional para o bem-estar global".

Será que os 99,9% deveriam odiar o 0,1%? De maneira alguma. Mas deveriam ignorar a propaganda sobre "geradores de empregos" e exigir que a superelite pague substancialmente mais em impostos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Barbas de molho.


Carlos Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Escreveu este artigo especialmente para o VALOR ECONÔMICO.

Sou de uma geração treinada em ler nas entrelinhas. Vivi as longas décadas de regimes ditatoriais latino-americanos e aprendi a pesquisar as intenções nos discursos oficiais. O dr. Ulysses Guimarães me ensinou que se deve prestar atenção aos silêncios nos discursos.

Percebo uma crescente preocupação da presidente Dilma com a China e suas pretensões geopolíticas e geoeconômicas. Na reunião do G-20, a presidente declarou sua preocupação com a ausência de compras chinesas de produtos industriais brasileiros (leia-se, nas entrelinhas, que o Brasil é exportador de alimentos e matérias-primas sem processamento: soja em grão, minério de ferro bruto, couro de vaca sem curtição etc). 

Em passado relativamente recente, exportamos geradores para a grande usina do Rio Amarelo; agora, estamos importando geradores da China. Vendemos aviões da Embraer. Bobamente, aceitamos instalar uma filial na China; os chineses clonaram a fábrica da Embraer e, hoje, competem com o avião brasileiro no mercado mundial. Esta semana, a presidência declarou sua preocupação com a tendência chinesa à aquisição de grandes glebas agrícolas no Brasil. A percepção presidencial não resolve o problema das relações Brasil-China, porém já é meio caminho andado que o poder executivo nacional tenha aquelas dimensões presentes.

O enigma chinês é fácil decifrar. O Brasil cresceu, de 1930 a 1980, 7% ao ano. Depois dessas décadas, mergulhamos na mediocridade e patinamos com uma taxa média ridícula de 2,5%. A China, nas últimas décadas, vem crescendo anualmente entre 9% e 10%. Entretanto, está em situação potencialmente pior que o Brasil. Hoje, mais de 80% da população brasileira está em áreas urbanas e 50% em metropolitanas e nem chegamos aos 200 milhões de habitantes. A China tem uma população de 1,34 bilhão, sendo que menos de 50% estão na área urbana. Como a renda média do chinês rural é um terço da do chinês urbano, é inexorável uma transferência equivalente a duas vezes a população brasileira para as cidades chinesas, nos próximos 20 anos. É fácil entender o sonho de urbanização do chinês rural. A periferia urbana das cidades chinesas já está "favelizada".

Sabemos que o Brasil tem uma péssima distribuição de renda e riqueza. Houve uma melhoria da participação dos salários na renda nacional, que evoluiu, desde 2000, de 34% para 39%. A elevação do poder de compra dos salários foi importante, entretanto o leque salarial se tornou mais desigual e houve pouca geração de empregos de boa qualidade. O salário médio brasileiro é muito baixo, entretanto é, por mês, igual ao limite de pobreza chinês ao ano (cerca de €150), isto é, o brasileiro pobre ganha 12 vezes mais que o chinês pobre. Nosso governo fala de uma "nova classe média" e esconde que o lucro real dos grandes bancos brasileiros cresceu 11% por ano no período FHC e 14% durante os dois mandatos do presidente Lula. Enquanto os colossais bancos chineses têm uma rentabilidade patrimonial inferior a 10%, os bancos brasileiros chegam a 20%.

É impensável o futuro demográfico chinês. No passado, cada família só podia ter um filho; agora, essa regra está sendo relaxada. A urbanização e a industrialização chinesas já comprometeram o lençol freático da China do Norte. Com restrições de água, e necessitando transferi-la cada vez mais para a sede da indústria e população urbana, a China não produzirá alimentos suficientes. Se o consumo interno da China crescer cada vez mais, haverá falta não só de água, mas também de energia fóssil e hidráulica, além de, obviamente, todo um elenco de matérias-primas.

O planejamento estratégico de longo prazo da China é para valer. O projeto geopolítico e a geoeconômico chinês está transformando a África e parte da Ásia do sudeste em fronteira fornecedora de alimentos e matérias-primas. Em busca de autossuficiência de minério de ferro, a China já está desenvolvendo as enormes reservas do Gabão. A petroleira chinesa já está nas reservas de petróleo de gás do coração da África e a ocupação econômica de Angola é prioridade diplomática e financeira da China. O extremo sul da América Latina é objeto de desejo expansionista chinês, que se propôs a fazer e operar uma nova ferrovia ligando Buenos Aires a Valparaíso, perfurando um túnel mais baixo na Cordilheira dos Andes. O Chile - com pretensão de se converter na "Singapura" do Pacífico Sul - e os interesses agro-exportadores argentinos adoram a ideia. Carne, soja, trigo, madeira, pescado e cobre estarão na periferia da China do futuro. A presidência argentina é relutante em relação a esse projeto, porém o Mercosul está sob o risco de se converter, dinamicamente, em pura retórica.

O Império do Meio, unificado pela dinastia Han (ainda antes de Cristo), atravessou séculos com Estado centralizado e burocracia profissional estruturada. No século XIX, a China balançou pela penetração da Inglaterra vitoriana; enfrentou a perfídia mercantil do ópio controlado pela Índia britânica. Sua república, no século XX, foi ameaçada pela expansão japonesa, e somente após a Segunda Guerra Mundial conseguiu, com o Partido Comunista Chinês (PCC) restaurar a centralidade.

Com um pragmatismo secularmente desenvolvido, a China combinou o Estado hipercontrolador com a "economia de mercado". "Casou" com os EUA e criou um G-2, aonde mais de 3 mil filiais americanas produzem na China e exportam para o mundo (70% das exportações de produtos industriais são de filiais americanas). O superávit comercial chinês é predominantemente aplicado em títulos do Tesouro. Esse é um sólido matrimônio, em que os cônjuges podem até brigar, mas não renegam a aliança mutuamente conveniente. Enquanto isso, a China repete a proposta da Inglaterra vitoriana para a periferia mundial: fonte de matérias-primas e alimentos, a periferia mundial é, progressivamente, endividada com os bancos chineses e seu espaço econômico é ocupado por filiais da China. A Revolução Meiji, que modernizou e industrializou o Japão, está em plena marcha na China, que procura ser a campeã mundial em ciência e tecnologia. A estratégia da China combina as chaves do sucesso da Inglaterra vitoriana com a prioridade científico-tecnológica japonesa.

Que a China faça o que quiser, porém o Brasil não deve se converter na "bola da vez" da periferia chinesa. País tropical, com enormes reservas de terra agriculturável, água e fontes de energia fóssil e hidrelétrica, imagine-se a prioridade estratégica para o planejamento chinês em sua marcha pela periferia.

O discurso da globalização, a fantasia da "integração competitiva", a ilusão de ser "celeiro do mundo" com brasileiros ainda famintos, e a atrofia da soberania nacional podem vir a ser um discurso de absorção da proposta neocolonizadora da China.

Leio, nas palavras da presidente, uma percepção do risco do "conto do vigário" chinês. Temo os vendilhões da pátria, entregando energia e alimentos para o neo-sonho imperial.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lobistas.


Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e a sua análise sobre os “lobistas”.

Em relação ao mercado financeiro, há pelo menos dois fatos sobre os quais cabem muito poucas dúvidas:

1º) Do ponto de vista internacional, as "inovações" produzidas pelos "econofísicos" (os famosos "quants") acabaram sendo causa eficiente da crise bancária. Esta mostrou a fraqueza e a vulnerabilidade da "rede" de relações do sistema financeiro internacional, que até agora continua na UTI (o Fed, o BCE e o Banco da Inglaterra).

2º) Do ponto de vista nacional, a crise de 1997 e a enérgica ação do Banco Central do Brasil ajudaram a construir um sistema financeiro hígido, ágil e seguro, com um amplo espectro de fiscalização. Custou cerca de 4% do PIB, mas dispomos hoje de sofisticados mecanismos de intermediação financeira a altura dos melhores e mais seguros do mundo.

Nos EUA, após longa batalha, o governo acabou promulgando, há mais de um ano, a lei Dodd-Frank, que estabeleceu novos controles sob o mercado financeiro.

A lei (com mais de 2.000 páginas, devido à forte ação dos lobbies para torná-la inexequível) fixou "regras gerais" que estão sendo detalhadas e serão executadas por uma centena de mecanismos. Isso mostra a confusão cuidadosamente construída no Congresso americano pela ação política dos influentes lobbies de que dispõe o armipotente sistema financeiro.

O cabo de guerra entre o Executivo e o sistema financeiro (sob os olhares furtivos de parte importante do Legislativo) continua a crescer.

James Dimon, o cínico e competente presidente do JP Morgan, não tem pudor em afirmar que o controle sugerido pela lei "reduzirá o crescimento econômico" e deve ser considerado "antiamericano porque coloca os EUA numa situação competitiva desvantajosa". Só se for em relação aos "predadores europeus" que, ele sugere, continuarão com as mãos livres!

A American Bankers Association e o Institute of International Finance dão suporte pretensamente "científico" a tal proposição. Em 2009, o sistema financeiro gastou mais de US$ 90 milhões com "lobbiyng"; em 2010, mais do que US$ 100 milhões e, em 2011, até hoje, US$ 50 milhões.

Felizmente, o BIS (o banco central dos bancos centrais) acaba de publicar um estudo tranquilizador produzido por representantes de bancos centrais de 15 países -o do BC foi feito pelo competente Marcos Ribeiro de Castro, que desmonta completamente os argumentos do custoso "lobby".

O efeito da regulação será modestíssimo na taxa de crescimento (menos de 0,01% por ano durante os anos de sua implantação), mas produzirá substancial redução dos riscos de destruidoras crises financeiras. 

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...