domingo, 13 de julho de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
Brasil x Chile: na economia é Chile. No futebol, daqui a pouco saberemos.
Apesar
de ler no site chileno latercera.com que o Chile está preocupado com Neymar,
momentos de tensão nos aguardam a partir das 13h de hoje.
Cada
acción o gesto de Neymar es fotografiada velozmente por los reporteros gráficos
presentes en Sesc Venda Nova, el complejo donde Brasil entrenó ayer por última
vez antes de enfrentar este mediodía a Chile, en el estadio Mineirao, de Belo
Horizonte, por los octavos de final del Mundial.
Las
cámaras fotográficas no paran de sonar. La máxima figura de los pentacampeones
del mundo se roba la película, como siempre. En la mañana, el Scratch ensayó
penales y el crack de Barcelona metió nueve de 10 lanzamientos.
Ahora,
en el entrenamiento vespertino, el delantero vuelve a poner el balón en el
disco blanco y patea tres veces, después de haber practicado por varios minutos
tiros libres con su amigo Dani Alves. Esta vez pierde dos y anota uno. Todos
los envió hacia su derecha y a media altura.
Cuando
va por el cuarto tiro, Luiz Felipe Scolari, su técnico, le impide que siga. Al
parecer, no quiere que la prensa mire a su estrella practicando remates desde
los doce pasos. Neymar hace caso y se da la mano con el arquero Jefferson de
Oliveira.
Sin
duda, el jugador formado en el Santos FC es el futbolista más desequilibrante
que posee Felipao y su arma más peligrosa. Incluso, hasta secreta, pues por
algo no le deja seguir practicando penales ante las cámaras de prensa.
“Neymar
va a camino a ser uno de los mejores jugadores del mundo. Está haciendo un gran
Mundial y no está jugando para ser el mejor, sino que está jugando para que
Brasil gane la Copa del Mundo. Me ha sorprendido la manera en que ha jugado
hasta ahora, es muy maduro para su edad, cómo enfrenta los problemas. Es un
chico muy tranquilo”, afirmó el DT de la Verdeamarilla, defendiendo a su pupilo
de las comparaciones con el ídolo argentino Lionel Messi.
En
los primeros tres partidos de este Mundial, que también son los primeros que
disputa en su carrera, Neymar, de 22 años, ha concretado un inicio brillante,
con cuatro goles. Esa marca lo tiene como uno de los tres máximos artilleros
del certamen, junto a la Pulga y al alemán Thomas Muller. En momentos en que el
Scratch no luce como en años anteriores, Neymar se ha transformado en la
principal esperanza de un país de volver a conquistar el máximo cetro, que no
alza desde el 2002. Y pese a su corta edad, ha colmado las expectativas de la
prensa local.
Es
la principal amenaza para Chile. El técnico de la Roja, Jorge Sampaoli,
adelantó el plan que tiene para frenarlo. “El sistema que vamos a emplear
es estar muy cerca de Neymar cuando tenga la pelota, pero no será un marcaje de
forma individual, sino que colectivamente. Vamos a ser muy cautos y estaremos
muy atentos a cada movimiento que haga para neutralizarlo lo más rápido
posible. Es un jugador distinto que pasa por un gran momento”, reconoció.
Además
de su nivel superlativo, el compañero de Alexis Sánchez en el Barcelona es muy
querido dentro de su selección. Pese a su juventud, es un líder para el equipo.
“No tengo dudas de que Messi es el mejor del mundo en estos momentos, pero
Neymar alcanzará o superará su nivel porque tiene todo para ser el mejor”,
advirtió el defensa Thiago Silva sobre su compañero. Detener a la máquina
Neymar será el gran desafío de Chile.
PIB: previsão para 2014 e 2015.
O
Boletim Focus – Relatório de Mercado divulgado pelo BACEN em 20 de junho passado continua apontando redução na expectativa do mercado para o crescimento do PIB.
Ainda refletindo o fraco crescimento no primeiro trimestre e uma perspectiva
negativa quanto à atividade econômica no curto prazo, a mediana para o
crescimento em 2014
passou de 1,24% para 1,16%,
enquanto para 2015
o recuo foi de 1,73% para 1,60%.
Uma
pena. E lá vem o Brasil descendo a ladeira...
Delfim Netto na USP: um exemplo de acadêmico.
Leio
no UOL uma ótima notícia não somente para os economistas, mas para quem tem o
prazer de visitar uma boa biblioteca. Parabéns ao mestre Delfim Netto pela
iniciativa. Infelizmente no Brasil isso ainda não é uma prática comum. Que outros colegas também façam a mesma coisa.
A
Universidade de São Paulo inaugura na próxima terça (1º) a maior biblioteca
especializada em economia, administração e contabilidade da América Latina.
Serão ao todo 430 mil volumes, sendo que 250 mil vieram da coleção particular
do ex-ministro Delfim Netto, 86, professor emérito da instituição.
Há
dois anos, Delfim decidiu doar a biblioteca que ficava em seu sítio, em Cotia
(interior de São Paulo).
"Queria que outras pessoas tivessem acesso a esses livros, que são na
verdade material de pesquisa", disse.
Apegado
às obras, Delfim fez uma série de exigências a quem ficasse com os livros - além da USP, a Faap estava no páreo. A principal é que continuasse expandindo
o acervo, adquirindo novos volumes e periódicos.
O
ex-ministro também negociou acesso privilegiado a seus livros e ganhou uma
salinha dentro da biblioteca.
Junto
do acervo, Delfim também doou móveis antigos, quadros, mapas e até o seu
"bibliotecário" particular,Eduardo Frim. O ex-ministro continua pagando o salário dele, que é na verdade
administrador de empresas, mas ficará locado na USP para organizar os volumes.
E
o acervo continua crescendo. Delfim envia cerca de 40 volumes por semana para a
FEA (Faculdade de Economia e Administração).
A
biblioteca revela um pouco sobre a personalidade e a metodologia de trabalho do
pesquisador Delfim Netto.
O
ex-ministro costuma fazer "compêndios" de temas de interesse, um
dossiê que reúne em um mesmo volume (ele manda encadernar) artigos, trechos de
livros e de obras de referência.
A
maioria das obras contém notas manuscritas. As mais recorrentes são pedidos a
sua equipe (marcadas com uma flecha) para comprar determinada obra citada no
rodapé ou na bibliografia. "A flecha significa que temos que nos virar
para encontrar esse livro", disse Frim.
Para
abrigar a coleção, a FEA reformou o prédio, que aumentou a área instalada de 1.500 m² para 5.000 m² e consumiu R$ 14,7 milhões -R$ 6,7 milhões de recursos da USP e mais R$ 8 milhões em doações feitas por
empresas, ex-alunos e funcionários.
As
empresas contaram com incentivo fiscal da Lei Rouanet, que permite a dedução
integral do valor no Imposto de Renda. Entre elas, estão os bancos Safra, Itaú
Unibanco e Santander, as construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht e a Cutrale.
As
pessoas físicas, a maioria ex-alunos e funcionários, porém, doaram a fundo
perdido. "Tivemos doações a partir de R$ 200. Captamos R$ 644 mil de 566
pessoas", disse Reinaldo Guerreiro, diretor da FEA-USP.
Popular
nos EUA, as doações para universidades são pouco comuns no Brasil. Guerreiro
afirma que, além da falta de incentivo fiscal e de tradição, há uma resistência
de parte do setor acadêmico de aceitar doações do setor privado para projetos,No
lugar de doações, as unidades da USP encontraram nas fundações uma forma de
viabilizar projetos de pesquisa e de ensino. A FEA tem três fundações filhotes:
FIA (administração), Fipe (pesquisas econômicas) e Fipecafi (contabilidade),
que prestam consultoria, pesquisa e organizam cursos.
terça-feira, 10 de junho de 2014
Copa das Copas - Dilma Roussef - 2014
A partir desta quinta-feira, os olhos e os
corações do mundo estarão voltados para o Brasil. Trinta e duas seleções,
representando o melhor do futebol mundial, estarão disputando a Copa do Mundo,
a competição que de quatro em quatro anos transforma a todos nós em torcedores.
É o momento da grande festa internacional do
esporte. É também o momento de celebrarmos, graças ao futebol, os valores da competição
leal e da convivência pacífica entre os povos. É a oportunidade de revigoramos
os valores humanistas de Pierre de Coubertin. Os valores da paz, da concórdia e
da tolerância.
A “Copa das Copas”, como carinhosamente a
batizamos, será também a Copa pela paz e contra o racismo, a Copa pela inclusão
e contra todas as formas de preconceito, a Copa da tolerância, da diversidade,
do diálogo, do entendimento e da sustentabilidade.
Organizar a Copa das Copas é motivo de orgulho
para os brasileiros. Fora e dentro de campo, estaremos unidos e dedicados a
oferecer um grande espetáculo. Durante um mês, os visitantes que estiverem em
nosso país poderão constatar que o Brasil vive hoje uma democracia madura e
pujante.
O país promoveu, nos últimos doze anos, um dos
mais exitosos processos de distribuição de renda, aumento do nível de emprego e
inclusão social do mundo. Reduzimos a desigualdade em níveis impressionantes,
elevando, em uma década, à classe média 42 milhões de pessoas e retirando da
miséria 36 milhões de brasileiros.
Somos também um país que, embora tenha passado
há poucas décadas por uma ditadura, tem hoje uma democracia vibrante.
Desfrutamos da mais absoluta liberdade e convivemos harmonicamente com
manifestações populares e reivindicações, as quais nos ajudam a aperfeiçoar
cada vez mais nossas instituições democráticas.
Em todas as 12 cidades-sedes da Copa, os
visitantes poderão conviver com um povo alegre, generoso e hospitaleiro. Somos
o país da música, das belezas naturais, da diversidade cultural, da harmonia
étnica e religiosa, do respeito ao meio ambiente.
De fato, o futebol nasceu na Inglaterra. Nós
gostamos de pensar que foi no Brasil que fez sua moradia. Foi aqui que nasceram
Pelé, Garrincha, Didi e tantos craques que encantaram milhões de pessoas pelo
mundo. Quando a Copa volta ao Brasil depois de 64 anos é como se o futebol
estivesse de volta para a sua casa.
Somos o País do Futebol pelo glorioso
histórico de cinco campeonatos e pela paixão que cada brasileiro dedica ao seu
clube, aos seus ídolos e a sua seleção. O amor do nosso povo por esse esporte
já se tornou uma das características de nossa identidade nacional. Para nós o
futebol é uma celebração da vida.
Em nome de 201 milhões de brasileiras e
brasileiros, estendo as boas-vindas aos torcedores estrangeiros e a todos os
visitantes que vierem ao Brasil compartilhar conosco a “Copa das Copas”.
sábado, 7 de junho de 2014
Thomas Piketty na VEJA,
Do site da VEJA trechos da entrevista com o economista Thomas Piketty.
Desde os tempos do britânico John Maynard
Keynes, um dos maiores pensadores econômicos do século XX, o trabalho de um
economista não despertava debates tão acirrados quanto O Capital no Século XXI,
do francês Thomas Piketty (que será lançado pela Editora Intrínseca no Brasil
em novembro). O livro traz um apanhado histórico da evolução da riqueza e da
desigualdade nas sociedades capitalistas e propõe remédios para os males que
enxerga — como a adoção de um imposto progressivo de até 80% sobre o patrimônio
dos mais ricos. Piketty rapidamente se tornou vedete de ganhadores do Nobel alinhados
à esquerda, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, mas também viu a consistência
dos dados que embasam seu livro ser duramente contestada — por exemplo, numa
longa investigação do jornal britânico Financial Times. Em entrevista a VEJA
concedida em seu escritório na Escola de Economia de Paris, onde leciona,
Piketty defendeu sua pesquisa e procurou se dissociar de qualquer campo
político. Diz ele: “Fui beneficiado por pertencer a uma geração que tem acesso
mais fácil aos dados devido à tecnologia e que não é movida necessariamente
pela ideologia”.
O senhor dedicou toda a sua carreira à pesquisa sobre a desigualdade.
Por que o tema o atrai tanto? A divisão da
riqueza sempre foi um tema central para a política e a economia. Contudo,
minha motivação foi perceber que um tema tão interessante tinha tão poucos
dados disponíveis para pesquisa. Pouquíssimas pessoas estudaram a desigualdade
do ponto de vista histórico. O debate sempre existiu, mas sem muitos dados que
o embasassem. Ninguém havia feito uma pesquisa completa nos arquivos fiscais de
diferentes países para analisar a evolução da desigualdade no mundo, por
exemplo. Parecia ser um trabalho histórico demais para os economistas e
econômico demais para os historiadores. A originalidade da minha pesquisa está
justamente em juntar essas perspectivas e contar a história desse dinheiro ao
longo dos últimos séculos. Fui beneficiado por pertencer a uma geração que tem
acesso mais fácil aos dados devido à tecnologia e que não é movida
necessariamente pela ideologia.
No tom e nas propostas, como a de taxação da riqueza, semelhante à
encampada pelo presidente francês François Hollande há algum tempo, o senhor
parece bastante alinhado com o socialismo francês. Faço
parte de uma geração pós-Guerra Fria. Tinha 18 anos quando o Muro de Berlim
caiu. Nunca fui tentado pelo comunismo. Durante a Guerra Fria era difícil
avançar no debate sobre o tema, porque havia um embate político muito forte
entre os dois blocos. O recuo temporal de hoje, aliado aos dados mais
acessíveis, nos permite retomar este que foi um dos grandes debates do século
XIX, a saber, o debate sobre a desigualdade no capitalismo.
O senhor acredita que o capitalismo é um sistema que precisa ser
superado? Eu acredito no capitalismo, no livre mercado
e na propriedade privada, não apenas como origem de eficácia e crescimento, mas
também como elemento de liberdade individual. Sou muito positivo quanto a isso.
Mas vejo que há um risco se não mostrarmos que existem formas de repartir os
ganhos da globalização de forma mais equilibrada. Para que o processo virtuoso
do capitalismo continue, é preciso que todos se beneficiem. Caso contrário,
surgem tentações como as que assombram a Europa de hoje. Quando não conseguimos
resolver nossos problemas domésticos e sociais, procuramos um culpado, que pode
ser o imigrante, a Alemanha, a China, o Brasil.
O jornal britânico Financial Times publicou uma reportagem que
contradiz a base de sua pesquisa histórica, que é justamente o aumento da
desigualdade desde 1970. Sua base de dados é inconsistente? De
forma alguma. Serei bem claro sobre isso. Não há nenhum erro na minha pesquisa.
É claro que ela pode ser melhorada. É por isso que tudo foi colocado na
internet. Mas o ponto é que as pequenas correções feitas pelo Financial Times,
com as quais eu não concordo, têm impacto mínimo no resultado geral. No caso
dos dados sobre o aumento da desigualdade nos Estados Unidos, a pesquisa mais
recente dos economistas Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, da Universidade da
Califórnia, reforça meu estudo. No caso da Grã-Bretanha, outro foco de críticas
do jornal, é óbvio que pesquisas que são baseadas em declarações entregues
pelos próprios contribuintes não mostram um quadro fiel sobre o aumento da renda
em nenhum lugar do mundo, ao contrário do que afirma o jornal. É um fato: todos
os rankings de riqueza indicam que os mais ricos estão cada vez mais ricos, e
cada vez mais rápido. O que não é errado. É apenas um fato que o jornal
quer ignorar. Eu acho que eles estão com medo do meu livro, mas deveriam estar
com medo do aumento da desigualdade.
O senhor discorda de que o crescimento econômico, e não as medidas
redistributivas criadas por lei, seja a ferramenta primordial para melhorar a
vida das pessoas? De forma alguma acredito que o
crescimento da riqueza seja algo inútil. Para os países emergentes, como o
Brasil, o crescimento é a chave do desenvolvimento e da melhora da qualidade de
vida. Ele é fundamental, mas não suficiente. É preciso refletir sobre a
desigualdade. O que observamos nos países ricos é que a riqueza do topo da
pirâmide, ou seja, da parcela de 1% da população, avança três vezes mais rápido
que o crescimento do produto interno bruto (PIB). E isso, eventualmente, vai
acontecer com os emergentes também. Até onde isso irá? Eu não sei. Não posso
ter certeza das taxas de crescimento econômico dos anos que virão. Se os países
ricos conseguirem crescer mais de 4% ao ano, por exemplo, a desigualdade tende
a se equilibrar. Mas não há evidências de que isso deva ocorrer. Então é melhor
termos outro plano caso essa taxa de crescimento não ocorra. O que eu digo
no livro é que será preciso transparência sobre a renda e a riqueza dos
indivíduos. Isso servirá para que possamos produzir informações sobre a
evolução do nível de renda e do patrimônio e, em consequência, fortalecer nossa
democracia, para que ela disponha de mais dados sobre ela mesma.
A base para sua tese sobre a desigualdade é a relação r>g , segundo
a qual a renda sobre o capital (r) é sempre maior que o crescimento econômico
(g). Por que, para sua tese, é tão vital relacionar essas duas variáveis, uma
microeconômica e outra macro?São duas variáveis
certamente de natureza distinta. Mas a comparação entre r e g é importante,
porque uma diferença muito grande entre elas significa que a desigualdade
inicial de riqueza tende a se ampliar a ponto de ameaçar a estabilidade em
muitos países. A ideia de comparar essas duas variáveis não é novidade. Quando
se abre um romance do francês Balzac, que viveu na primeira metade do século
XIX, um período de crescimento nulo e retorno sobre o capital de 4% a 5% ao
ano, essa preocupação está muito clara. Essa relação é, inclusive, a base da
sociedade tradicional, pois permite que um grande proprietário viva da renda de
seu patrimônio. Um ponto crucial do livro é mostrar que a industrialização não
mudou fundamentalmente essa dinâmica. Mesmo que tenhamos passado de um mundo de
crescimento zero para um mundo de crescimento positivo, a longo prazo a
produtividade não se mostrou tão alta assim, foi de 1% ou 2% ao ano. Uma taxa
de crescimento de 4% só é possível para países ainda em desenvolvimento. Em
países que já estão na dianteira do avanço tecnológico, um crescimento de 4% ao
ano parece improvável. Seria necessário um salto inaudito de produtividade. Ou
talvez um choque, como uma guerra mundial que leve a um longo processo de reconstrução. Suponho que não queremos isso. Em vez de depender de
um milagre de crescimento, deveríamos nos acostumar a viver com um crescimento
positivo mas limitado e pensar no que mais somos capazes de fazer.
O senhor propõe uma taxação progressiva de até 80%. O Estado já não
abocanha uma fatia grande demais da riqueza produzida por empresas e
indivíduos? Certamente. Por isso, minha proposta
para a Europa é, na verdade, reduzir os impostos para a classe média e
aumentá-los para os maiores patrimônios. O problema na Europa é que a
concorrência fiscal entre os países faz com que as grandes empresas paguem
muito pouco imposto em comparação às pequenas e médias. Por outro
lado, aumentam-se as taxas sobre os salários, ou o IVA, que é o imposto
sobre o consumo. Então, o problema não é aumentar os impostos, e sim
reparti-los melhor. Por exemplo, o principal tributo sobre o patrimônio nos
Estados Unidos e na Europa é o imposto proporcional sobre o valor dos
imóveis. Eu não proponho aumentá-lo, mas transformá-lo num imposto
progressivo sobre o patrimônio líquido. Se um indivíduo tem um apartamento que
vale 300 000
euros, mas foi financiado em 290 000
euros, sua riqueza líquida sobre esse bem é de 10 000
euros. Hoje, esse indivíduo
paga o mesmo imposto que aquele que não
tem financiamento, herdou seu apartamento ou tem várias casas e uma ampla carteira de
investimentos. Eu proponho mudar essa lógica.
Para aumentar tributos, é preciso que a população confie no Estado como
gestor. Como essa proposta se sustenta se essa confiança está cada vez menor? Tem razão.
Uma das complicações nos países ricos é que, ao mesmo tempo em que há um
questionamento sobre a desregulamentação, há um questionamento sobre o papel do
Estado. A desconfiança é totalmente justificável. Nos países ricos hoje,
quando temos 40% ou 50% do PIB em carga tributária, não dá para aumentar mais.
Mas há outras formas de perseguir o mesmo objetivo. Uma delas é permitir um
pouco de inflação, o que traz riscos enormes. A outra é pôr em prática o
imposto progressivo sobre o patrimônio, que atinge de forma concentrada a
camada mais alta da população e, ao mesmo tempo, protege a classe média.
Medidas como essa não desencorajam o empreendedorismo? Por que se
arriscar em um empreendimento quando se sabe de antemão que seus frutos serão
duramente taxados? Não se trata de “cortar a cabeça”
dos ricos ou interditar o enriquecimento. É crucial que um país tenha
empreendedores, ricos, classe média e pobres. Não há nenhum problema nisso. Mas
precisamos assegurar que a riqueza dos diferentes grupos cresça num ritmo
minimamente coerente. Não precisa ser exatamente o mesmo ritmo, mas, se a
riqueza das classes mais altas cresce três ou quatro vezes mais que as outras,
há um desequilíbrio. É preciso que as instituições democráticas e fiscais
ajudem a retomar o equilíbrio desse crescimento. Mas a taxação não é a única
saída. A meu ver, aliás, a educação é e continuará sendo a maior força de
redução da desigualdade.
O senhor trata executivos com altos salários como vilões da
desigualdade. Salários altos são pagos para atrair gente capaz e talentosa. Há
algo errado com a meritocracia? As desigualdade
salariais são fundadas na lógica do mérito e da produtividade. O problema
é que o aumento dos salários dos grandes executivos pode ser justificado por
muitos indicadores, menos pelas estatísticas de produtividade das empresas. Nos
Estados Unidos, quando se comparam empresas que pagam a seus executivos 10
ou 50 milhões de salário anual com empresas que pagam muito menos, não se
verifica que as empresas que pagam mais bônus cresceram mais. Então, esse
discurso precisa ser visto com cautela. Mas é certo que a meritocracia é melhor
que os sistemas do passado. Ela permite que as pessoas consigam construir um
patrimônio sem que tenham sido beneficiadas por uma herança. O problema é que o ideal da meritocracia foi, em muitos casos, deturpado.
O Brasil dificulta o acesso a dados e ficou fora de sua pesquisa. Algo
mudou depois da publicação do livro? O Brasil foi o país
em que tivemos mais dificuldades, e, por enquanto, continuamos sem dados
significativos. É uma pena, porque foi um dos países que mais conseguiram, nos
últimos anos, conciliar crescimento e redistribuição de renda. Mas as conversas
avançam. Não se pode ter medo da transparência, da democracia. Espero, em
breve, ter o Brasil em nossa base de dados.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
domingo, 1 de junho de 2014
FHC: O desmazelo fiscal.
Para reflexão o artigo dominical do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
O volume de empréstimos
do Tesouro a bancos públicos aumentou cerca de vinte vezes desde 2007, passando
de 0,5% para mais de 9% do PIB.
Alguns analistas repetem
o refrão: vistos em conjunto os governos Itamar Franco/Fernando Henrique e
Lula/Dilma serão percebidos no futuro como uma continuidade. Houve a
estabilização da economia, as políticas sociais foram ativadas e, a democracia,
mantida. Sim e não, digo eu.
É certo que, no primeiro
mandato de Lula, as políticas macroeconômicas foram sustentadas pelo chamado
“tripé” (Lei de Responsabilidade Fiscal, metas para a inflação e câmbio
flutuante) e que a crise de 2008 foi razoavelmente bem manejada. Mas depois o
governo lulista sentiu-se à vontade para levar adiante o sonho de alguns de
seus membros.
A, então poderosa,
ministra-chefe da Casa Civil se opôs desde logo aos economistas, inclusive do
governo, que propunham limitar a expansão do gasto público ao crescimento do
PIB. Na área fiscal, só fizemos piorar. Ao mesmo tempo, pouco se fez para
sanear a máquina pública, infiltrada por militantes e operadores financeiros, e
estancar a generalização do dá cá (apoio ao governo e votos), toma lá
(nomeações para ministérios, empresas públicas e áreas administrativas).
O governo alardeia estar
cumprindo as metas de superávit primário, quer dizer, o resultado das contas
públicas antes do pagamento dos juros da dívida. Cumprir essas metas é
essencial para assegurar a queda da dívida como proporção do PIB. Desde 2009, o
governo vem se valendo de expedientes para “cumpri-las”, às vezes mediante
fabricação de receitas por contabilidade criativa, como em 2012, ora com uso de
receitas extraordinárias, como em 2014, quase sempre com o adiamento de
despesas que vão engordando os chamados restos a pagar.
Afirma o governo que o
superávit de 2014 será igual do ano anterior. Será? Custo a crer, pois o
superávit de 2013 computou o resultado do leilão da concessão de exploração de
petróleo no poço de Libra (R$ 15 bilhões) e a antecipação incentivada à Receita
de R$ 22 bilhões devidos por empresas. Somados esses recursos geraram R$ 37
bilhões, ou 0,8% do PIB, quase a metade do superávit primário do ano passado
(1,9%).
De onde virão as receitas
extraordinárias em 2014? Fará o governo leilões do pré-sal usando a
“amaldiçoada” lei anterior que não exige capitalização da Petrobras e antecipa
maiores recursos ao Tesouro? Seria a suprema ironia.
A única certeza é a de
que a expansão do gasto público é crescente: em janeiro do ano em curso (mês no
qual em geral as despesas caem com relação a dezembro do ano anterior) houve
uma expansão de R$ 4 bilhões. Ou seja, o que não foi pago em dezembro de 2013
será pago no ano em curso. Se tivesse sido pago, o superávit de 2013 teria sido
de apenas 1%, dos quais 0,8% proveniente de receitas extraordinárias!
A tendência à expansão do
gasto vem de longe. E se acentuou no governo de Dilma. Em 2013, a despesa
atingiu 19% do PIB (era de 11% em 1990). O crescimento do gasto como proporção
do PIB nesses últimos três anos foi mais de duas vezes superior ao observado em
meu segundo governo, quando se instituiu o regime de metas de inflação e
responsabilidade fiscal, com metas de superávit primário e controle do gasto
público.
O governo atual alega que
a dívida líquida não cresceu nesse período e que a dívida bruta, embora tenha
aumentado, estaria sob controle. É fato que, como proporção do PIB, a dívida
líquida não cresceu e que a bruta, em comparação com a de alguns países
desenvolvidos, aparentemente não deveria nos preocupar. Seria verdade, não
fosse pelo “detalhe” de que o custo da nossa dívida é muito maior.
Basta um exemplo: no ano
passado, com uma dívida bruta de 66% (segundo o FMI) ou um pouco menos de 60%
(segundo o governo), o Brasil gastou 5,2% do PIB com juros da dívida. Já a
arruinada Grécia, com uma dívida bruta de mais de 170% do PIB, gastou 4%!
O não crescimento da
dívida líquida se deve, em boa medida, mais uma vez, a um truque fiscal. Ele
consiste em fazer o Tesouro tomar dinheiro emprestado no mercado, mais de R$
300 bilhões desde 2009, e repassar o dinheiro ao BNDES. Na contabilidade da
dívida líquida, uma operação anula a outra, pois a dívida contraída com o setor
privado pelo Tesouro se transforma em crédito do mesmo Tesouro contra o BNDES,
que é 100% controlado pelo governo.
Ocorre que os juros que
incidem sobre a dívida contraída com o mercado são muito mais altos do que os
juros cobrados pelos empréstimos do BNDES, para não falar no risco de parte
desses empréstimos não ser paga jamais. O Tesouro deveria compensar o BNDES por
esta benevolência, mas não o vem fazendo. Ao final de 2013, já eram R$ 17
bilhões devidos pelo Tesouro ao BNDES para equalizar a diferença nas taxas de
juros.
Os empréstimos do Tesouro
ao BNDES não são um caso isolado. Dados do economista Mansueto Almeida mostram
que o volume de empréstimos do Tesouro a bancos públicos aumentou cerca de
vinte vezes desde 2007, passando de 0,5%, para mais de 9% do PIB! Vamos, de
truque em truque, em marcha firme para a produção do que, no passado,
chamávamos de “esqueletos” ou dívidas não reconhecidas.
Tudo isso foi feito com a
justificativa de que era necessário para estimular a economia. Porém, em lugar
de mais investimento e mais crescimento, colhemos apenas mais inflação e maior
fragilidade fiscal.
Como o lulopetismo sabe
que é difícil enganar sempre, tenta agora desacreditar os adversários. Alardeia
que diante desse quadro, se o PSDB e as oposições ganharem, vão tratar os
consumidores e o povo a pão e água. Puro desvario. O controle sobre o
desarranjo fiscal e a inflação não precisa recair sobre o povo.
As bolsas consomem apenas
0,5% do PIB. Fizemos a estabilização da moeda, controlamos gastos do governo e,
ao mesmo tempo, aumentamos o salário mínimo, realizamos a reforma agrária,
universalizamos o ensino fundamental, fortalecemos o SUS e introduzimos
programas de combate à pobreza.
Está na hora de pôr ordem na casa, e o governo nas mãos de quem sabe governar.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Thomas Piketty e Delfim Netto novamente na FOLHA.
Antonio Delfim Netto e o seu artigo de hoje na FOLHA DE S. PAULO: DESIGUALDADE.
A Folha presta
um excelente serviço à sociedade brasileira ao continuar dando espaço à
interessante discussão em torno do livro do economista francês Thomas Piketty,
"O Capital no Século 21".
Foi imenso o
"choque" que a obra produziu após o lançamento de sua tradução em
inglês. Olhada com cuidado, a sua tese está longe de provar empiricamente o
inevitável fim do "capitalismo", imposto por alguma "lei"
histórica (o que Marx pensou ter feito com o uso de argumentos lógicos).
Reduzida à sua essência,
ela é o resultado de pura aritmética: se a taxa de retorno do capital (que ele,
como a maioria dos economistas em seus modelos chama de "r") for
permanentemente maior do que a taxa de crescimento do PIB (que ele, como os
economistas, chama de "g"), então haverá, necessariamente, uma
acumulação de renda e patrimônio que, ao fim e ao cabo, submeterá a democracia
ao controle do capital e tornará o "capitalismo" disfuncional.
O problema não é
econômico, é político! Não tem nada a ver com "esquerda" ou
"direita". Instituições mal construídas permitem que uma classe se
aproprie do excedente econômico produzido pelo trabalho, como ocorria no regime
colonial e ocorre no capitalismo de "compadres"...
O problema é que
"g" e "r" não são constantes e não satisfazem,
necessariamente, a desigualdade: "r" sempre maior do que
"g". Dependem da qualidade das instituições e, portanto, são de
extrapolação duvidosa. A relação entre eles controla aritmeticamente, no longo
prazo, a distribuição da renda entre o trabalho e o capital e a acumulação dos
patrimônios. São as instituições e o jogo dialético permanente entre o bom
funcionamento dos "mercados" e o bom funcionamento das
"urnas" que determinam a relação entre "g" e "r".
O livro de Piketty já
produziu dois resultados notáveis. O primeiro, muito triste para nós que amamos
a França. Infelizmente, o francês transformou-se numa língua paroquial em
matéria de economia, para prejuízo do próprio pensamento econômico universal. O
livro só teve a merecida repercussão quando vertido para o inglês.
O segundo, é que mostra a
insanidade do "cientificismo" que domina a pobre modelização de
alguns economistas que têm inveja da física e se recusam entender que o átomo
da economia (o cidadão comum, sujeito da política do governo) tem memória,
aprende e reage num jogo dinâmico com a autoridade. E, o que é pior e mais
grave, protesta e vota!
A distribuição da renda
sempre implicará uma valorização filosófica. Como ensinou Adam Smith há mais de
250 anos ("A Teoria dos Sentimentos Morais", 1759), se a economia for
um dia "ciência", ela há de ser uma ciência moral.
terça-feira, 13 de maio de 2014
Thomas Piketty: Um admirador crítico do capitalismo
Direto do The New York Times, leio na Folha mais uma matéria sobre o Thomas Piketty e o seu livro, atual sucesso mundial.
PARIS - Quando o Muro de
Berlim caiu, em 1989, Thomas Piketty tinha 18 anos, o que o poupou do debate
intelectual sobre as virtudes e os vícios do comunismo, que durou décadas na
França.
Segundo ele, mais
reveladora foi a viagem que fez com um amigo à Romênia no início dos anos 1990,
após a queda da União Soviética.
"Quando vi aquelas
lojas vazias, aquelas pessoas fazendo fila inutilmente na rua, ficou claro que
nós precisamos de propriedade privada e instituições de mercado, não só por uma
questão de eficiência econômica, mas também pela liberdade individual."
Mas o desencanto com o
comunismo não significa que Piketty deu as costas para o legado intelectual de
Karl Marx.
Como o alemão, ele é um
crítico ferrenho das desigualdades econômicas e sociais produzidas pelo
capitalismo desenfreado -as quais, para ele, se agravarão. "Sou de uma
geração que jamais teve atração pelo Partido Comunista. De certa maneira, isso
facilita retomar com frescor essas grandes questões sobre capitalismo e
desigualdade."
Em seu novo livro de 700
páginas, "Capital in the Twenty-First Century" [O Capital no Século
21], Piketty, 42, desmonta teses sobre a benevolência do capitalismo e prevê
desigualdade crescente em países industrializados, com impacto sobre valores
democráticos como justiça e equidade.
O livro, que está na
lista dos mais vendidos do "New York Times", pretende ser um retorno
ao tipo de história econômica e economia política escrito no passado por Marx e
Adam Smith.
A obra se empenha em
compreender sociedades ocidentais e as regras econômicas que as sustentam. E em
seu decorrer, ao desmascarar a ideia de que "a riqueza ergue todos os
barcos", Piketty desafia governos democráticos a lidarem com o abismo crescente
entre ricos e pobres.
Piketty cresceu em um lar
impregnado de política. Seus pais, esquerdistas, participaram das manifestações
em 1968 que sacudiram a França tradicional.
Mais relevantes e
importantes, disse ele, são as "experiências fundamentais" de sua
geração: o colapso do comunismo, a degradação do Leste Europeu e a Guerra do
Golfo. Tais eventos o incitaram a tentar entender um mundo no qual ideias
econômicas tinham consequências tão nefastas.
Piketty entrou na
elitista École Normale Supérieure aos 18 anos. Sua dissertação de doutorado
sobre a teoria da redistribuição da riqueza, concluída quando ele tinha 22
anos, ganhou prêmios.
Então ele se mudou para
os Estados Unidos, para lecionar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT), mas se decepcionou com o estudo de economia americano e voltou para a
França.
"Percebi rapidamente
que havia pouco empenho para coletar dados históricos sobre renda e riqueza,
então comecei a fazê-lo".
Com a ajuda dos potentes
computadores atuais, suas conclusões se baseiam em séculos de estatísticas
sobre o acúmulo de riqueza e o crescimento econômico em países industriais
desenvolvidos.
Elas também são
enunciadas de maneira simples: a taxa de crescimento da renda do capital é
várias vezes maior que o ritmo do crescimento econômico.
Isso significa que uma
parcela comparativamente decrescente vá para a renda ganha com salários, os
quais raramente aumentam mais rápido que a atividade econômica.
A desigualdade aumenta
quando a população e a economia crescem lentamente.
A desigualdade em si é
aceitável, diz ele, à medida que incita a iniciativa individual e a geração de
riqueza que, com a ajuda da taxação progressiva e outras medidas, ajuda a
melhorar a situação de todos na sociedade.
"Não vejo problema
na desigualdade, desde que ela seja de interesse comum", afirmou.
Porém, Piketty diz que a
desigualdade extrema "ameaça nossas instituições democráticas". A
democracia não significa apenas cada cidadão um voto, mas a promessa de
oportunidades iguais.
A última parte do livro
apresenta as ideias de Piketty sobre políticas públicas. Ele defende uma
taxação global progressiva sobre a riqueza real (menos dívida), com os
resultados decorrentes não entregues a governos ineficientes, mas
redistribuídos para os que têm menos capital.
O livro tem despertado
críticas, especialmente às prescrições políticas de Piketty, consideradas
ingênuas. Ele recebe bem as críticas. "Certamente estou aguardando
ansiosamente os debates."
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