MARCELO
KFOURY MUINHOS, superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil e PhD em Economia por
Cornell (Estados Unidos) e LEONARDO PORTO DE ALMEIDA, economista
sênior do Citi Brasil e doutor em Teoria Econômica pela FEA/USP, escreveram especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.
O
PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre deste ano deverá ter
crescimento de 1% em relação aos três meses anteriores, caracterizando-se como
o primeiro trimestre em que a economia brasileira expandirá acima do seu
potencial, desde o início do governo de Dilma Rousseff em 2011.
Ainda
que haja dúvidas sobre a sustentabilidade desse crescimento nos próximos
trimestres, devido às prováveis influências positivas de alguns fatores
temporários, o correto diagnóstico de algumas evidências paradoxais contribui
para uma melhor avaliação do cenário prospectivo da economia brasileira.
1)
Primeiramente, é importante olhar com atenção para o fato de que a indústria de
transformação tem apresentado desempenho muito abaixo do restante da economia
desde 2011.
Para
nós, a crise nos países desenvolvidos (em especial na Europa) tem papel crucial
sobre o entendimento da pior performance da indústria em relação ao PIB,
agravado pelo fato de o mercado de trabalho brasileiro se encontrar
extremamente aquecido.
2)
Com relação ao mercado de trabalho, é surpreendente o fato deste se manter
extremamente aquecido mesmo diante de um crescimento do PIB abaixo das suas
potencialidades.
Enxergamos
que a maior concentração do crescimento no setor de serviços (devido à crise no
setor industrial) e suas características intrínsecas de ser intensivo em mão de
obra e, consequentemente, apresentar menor expansão da produtividade, seriam
algumas das possíveis explicações para este paradoxo.
3)
Contudo, mesmo diante de condições tão favoráveis no mercado de trabalho, como
explicar a evidência contraditória da taxa de inadimplência dos empréstimos
bancários ter atingido o patamar mais elevado desde dezembro de 2009?
Uma
possível explicação seria o aumento significativo da formalização do emprego
desde 2004, que permitiu que uma parcela relevante da população acessasse o
crédito bancário sem uma avaliação suficientemente satisfatória sobre as reais
condições de pagamento desta dívida.
4) E
como explicar que uma queda da taxa Selic (taxa básica de juros) em mais de 500
pontos pudesse ocasionar uma resposta tão fraca da atividade econômica depois
de mais de um ano?
Acerca
disso, a crise internacional e suas implicações ao setor industrial brasileiro,
a resistência à queda da taxa de inadimplência, a resposta mais tímida do BNDES
e da política fiscal em comparação ao afrouxamento monetário de 2009 apontam na
direção de que outros fatores têm restringido o impacto expansionista da atual
política monetária.
5)
Por fim, diante de um crescimento tão pouco representativo da economia, não
seria de se esperar que a inflação estivesse orbitando em patamares mais
próximos ou até mesmo abaixo do centro da meta de 4,5%?
Sobre
isso, o já mencionado aquecido mercado de trabalho, ao exercer pressões de alta
sobre os salários e consequentemente manter a inflação de serviços em torno de
8,5% -acima dos 5,5% verificados no IPCA-, parece exercer papel crucial no
entendimento deste paradoxo.
Como
qualquer outra conjectura, nossas explicações para as inconsistentes evidências
que vêm prejudicando a economia brasileira requerem maior comprovação.
Um
denominador comum, entretanto, parece balizar todos os paradoxos acima
relatados. Ele reside nos impactos que a crise internacional exerce sobre os
diversos fundamentos macroeconômicos.
Nesse
sentido, se estivermos certos de que a crise sobre os países desenvolvidos
deverá perdurar por mais alguns anos, tais paradoxos tenderão a se manter por
mais algum tempo.
Um comentário:
Se os países desenvolvidos estão em crises, ou outros geralmente estão muito pior, e as economias não avançam.
Antes eu tinha muitos pares de oculos vogue, e agora só compro um cada verão.
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