quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PIB sonolento.


Editorial da FOLHA e uma análise da atual situação econômica brasileira.  

Passada a letargia do primeiro semestre, parece confirmar-se o prognóstico de lenta recuperação do PIB neste final de ano, até o ritmo de 3,5% anualizados, que, espera-se, poderá se manter em 2013.

Os dados da indústria e das vendas no varejo apontam melhora desde o terceiro trimestre, sobretudo no setor de automóveis.

Seria um erro, porém, considerar o dinamismo setorial um indicativo forte do restante da economia. Um fator importante para o crescimento anda fraco: o crédito ao consumidor está estagnado, e a capacidade de endividamento das famílias parece chegar ao fim.

Os estímulos ao consumo, úteis como medida pontual para sustar a desaceleração, não têm, contudo, restaurado o funcionamento da máquina produtiva. As evidências indicam que, agora, o gargalo está na capacidade de produção.

Custos crescentes dificultam o investimento privado. A inflação salarial de 10% ao ano, fruto de um mercado de trabalho apertado, está bastante acima dos ganhos de produtividade e explica em parte o decepcionante desempenho da indústria. A produção de bens de capital teve queda de 12,4% de janeiro a setembro deste ano, na comparação com 2011.

Os indicadores de confiança empresarial até têm melhorado, mas nada muito animador. Sem a retomada forte do investimento, dificilmente o PIB superará, de forma sustentável, os 3,5% esperados.

A combinação de escassez de mão de obra e consumo pressionado resulta em mais inflação. Não há perda de controle, mas um crescimento do PIB de 2% ao ano (média de 2011 e 2012) e uma inflação de 6% começam a compor o cenário mais temido: a economia patina, mas os preços sobem.

No curto prazo, a queda recente dos preços agrícolas e a expectativa de redução nas tarifas de eletricidade permitem projetar inflação na marca de 5,5% ao ano.

Não se pode descartar, porém, uma escalada para cerca de 6,5%, teto da meta de inflação. Se isso ocorrer, com o PIB em 3,5%, o governo terá mais dificuldade para manter a economia em ordem.

A melhor forma de minimizar tal risco é insistir em medidas que reduzam os custos e aumentem a produtividade. O governo dá sinais de que atenta para esses imperativos, ao reduzir preços de energia e desonerar a folha de pagamento em alguns setores, mas os resultados ainda tardarão. O clima não melhorará tão cedo a ponto de despertar o espírito animal dos empresários da hibernação.

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