Antonio Delfim Netto comenta hoje na FOLHA DE S. PAULO recente entrevista da presidente Dilma ao jornal
espanhol "El País".
A entrevista deve ser um breviário para mitigar a desconfiança
que cerca seu governo por parte de importantes setores industriais e
financeiros.
Alguns não creem que ela, sem abandonar o
objetivo de desejar uma sociedade mais razoável onde se persegue a igualdade de
oportunidades, tenha mudado sua visão do mundo.
"Com os anos -disse a presidente-
comprovei o excesso de ingenuidade e romantismo e falta de compreensão da
realidade". No fundo sua grande "certeza" sobre a reconstrução
do mundo evoluiu para a "dúvida criadora" indispensável para
melhorá-lo.
Nos seus discursos na Espanha a presidente
defendeu a posição liberal (da esquerda americana) de Paul Krugman e outros
keynesianos, que o excesso de "austeridade" acabará levando todos os
países a uma espiral descendente e poderá destruir o euro, que classificou como
"uma das maiores conquistas da humanidade, mas um projeto ainda inacabado".
A presidente recusou-se, no fundo, a
aceitar a ideia dos conservadores (da direita americana e dos alemães), que o
problema é o "tamanho do Estado" e, também as velhas posições
monetaristas e o novo "monetarismo de mercado", que não acreditam na
capacidade do investimento público de estimular o crescimento.
Um magnífico artigo de cinco excelentes
economistas (Almunia, M. e outros -"From Great Depression to Great Credit
Crisis", "Economic Policy", vol. 25, 2010) usando história e
econometria, comprova a existência -em condições fáticas adequadas- do poder do
multiplicador keynesiano.
A posição brasileira revela-se, portanto,
tecnicamente bem ancorada e mais antenada com a realidade do que a dos
"austerianos", que se recusaram a entender que o que pode ser
verdadeiro para um país isoladamente -ajustar as suas finanças
("austeridade"), sustentar sua taxa de inflação com política
monetária adequada e controlar o seu deficit em conta-corrente (com a
desvalorização cambial)- não tem o menor risco de dar certo quando se aplica a
um conjunto de países interconectados pelo câmbio fixo.
A solução é que os países credores
concordem em ampliar a sua demanda interna, aumentar a sua taxa de inflação e
eliminar o seu saldo em conta-corrente. Aqui também as considerações brasileiras
foram corretas.
O sucesso do euro (ou melhor, da Comunidade
Econômica Europeia) depende de um controle fiscal mais centralizado, de um
controle central das instituições financeiras e de uma união bancária,
exatamente o que fizemos no Brasil a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Um comentário:
Acho que este é o próximo passo para fortalecimento e consolidação do euro no longo prazo. A união bancária, fiscal e monetária sem causar desequilíbrios internos.
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