domingo, 16 de dezembro de 2012
Por que os juros caíram?
Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, Samuel Pessoa, discorre sobre a queda na taxa de juros.
Desde
agosto de 2011 a taxa básica de juros reduziu-se em 5,25 pontos percentuais. A
queda para valores próximos aos praticados nas demais economias representa o último
passo que falta para que a estabilização macroeconômica da economia, iniciada
com o Plano Real, em 1994, se complete.
A
questão que se apresenta é sabermos os motivos que motivaram essa queda e, a
partir desse diagnóstico, investigar se a queda será perene ou se será
revertida à frente. Minha avaliação é que a queda da taxa básica de juros desde
agosto de 2011, apesar de ser fato auspicioso e longamente esperado por todos,
é sintoma de perda de produtividade e dinamismo da economia.
Se
as condições que produziram a perda de dinamismo persistirem, a queda terá sido
perene. Caso contrário, poderá haver em algum momento forte ciclo de alta de
juros.
Intuitivamente
associamos juros básicos elevados às situações de risco e de desempenho ruim da
economia. O motivo é que durante muitas décadas a taxa de juros era instrumento
utilizado para estabilizar o setor externo da economia.
Explico-me:
o país tinha uma grande dívida externa e apresentava dificuldade para financiar
a rolagem dessa dívida. Os investidores previam que, por conta dessa
dificuldade, haveria uma forte desvalorização do câmbio, que faria com que sua
riqueza aplicada no Brasil, medida em dólar, se desvalorizasse muito.
Respondiam, portanto, tentando retirar sua riqueza do país.
Para
contrabalançar, os juros domésticos elevavam-se para compensar os investidores
pelo risco percebido de desvalorização e, portanto, "convencê-los" a
não transferir seus recursos para fora do país.
Ou
seja, mesmo em momentos em que a inflação não estava em elevação, os juros
podiam subir. Esse mecanismo foi claríssimo no primeiro mandato de FHC antes da
alteração do regime cambial, em razão dos diversos choques externos
experimentados pela economia. Minha avaliação é que, desde 2004, quando o
regime de política econômica implantado no segundo mandato de FHC consolidou-se
no primeiro mandato de Lula, a taxa de juros deixou de oscilar em razão dos
riscos percebidos de perda patrimonial e passou a responder aos excessos de
demanda sobre a oferta da economia.
Na
linguagem da profissão, diz-se que desde 2004 a taxa de juros passou a
responder aos fundamentos do mercado de bens e serviços.
Por
que motivo o juro real foi tão elevado entre 2004 e 2010? Minha resposta é que
esse foi um período em que a demanda agregada -a soma de consumo e
investimento- cresceu a taxas superiores à taxa de crescimento do produto,
gerando uma situação de permanente excesso de demanda que pressionava preços e
mantinha a inflação permanentemente elevada, o que requeria a subida dos juros
para esfriar a economia e combater a inflação.
Se é
verdade que esse foi um período de forte avanço do consumo (de 2004 a 2010 o
consumo cresceu 5,5% ao ano para uma expansão do produto de 4,3%), a alta do
investimento no mesmo período, de 8,7%, foi ainda maior. No período mais
recente, de 2010 até 2012, o avanço do consumo continuou sendo superior ao
crescimento do produto, mas expansão do investimento ficou abaixo: 4,6% ante
4,4% anuais.
Assim
o fraco crescimento do investimento, aquém do produto, contribuindo para reduzir
a demanda, explica a redução dos juros domésticos desde agosto de 2011.
Esse
processo de juros em baixa deve persistir por mais uns trimestres: a projeção
no Ibre-FGV é que o investimento continue crescendo aquém da produção ao menos
no quarto trimestre de 2014, quando deve registrar o sexto trimestre seguido
com crescimento negativo.
A
questão é: os juros subirão se e quando o investimento voltar a crescer
fortemente? Há duas possibilidades para que não ocorra a subida dos juros.
A
primeira é que, com o retorno do investimento, a poupança doméstica cresça na
mesma medida, de forma a não ser necessário recorrer à elevação da poupança
externa para financiar a elevação do investimento.
A
segunda é que a política econômica aceite uma elevação da absorção de poupança
externa e, consequentemente, uma valorização do câmbio, quando o investimento
retornar. Isso terá consequências não triviais para a indústria.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
De Obama@org para Dilma@gov.
Elio Gaspari, esta semana, na FOLHA DE S. PAULO.
De Obama@org para Dilma@gov
COMPANHEIRA
DILMA,
Permita-me
esse tratamento, apesar de estar atravessada na minha memória aquele dia de
caça aos ovos de Páscoa nos jardins da Casa Branca em que a senhora veio aqui
me dar aula de economia. Resta-lhe o crédito das minhas filhas terem adorado
seu palácio, que o Ronald Reagan achou parecido com sede de empresa de seguros
do Texas.
Decidi
escrever-lhe porque há tempo suspeito que a senhora cometeu o mesmo erro que eu.
Dispondo de três nomes para o Ministério da Fazenda, nomeei os três. Pus o
Timothy Geithner no Tesouro, o Paul Volcker num conselho e o Larry Summers numa
assessoria.
(Imagine o que esse gênio de Harvard mandou pedir: um carro,
presença em eventos e convites para jogar golfe comigo.) Deu tudo errado.
Summers e Volcker foram-se embora e, se Deus me ajudar, troco o Geithner no ano
que vem.
Esses
jornalistas que sabem tudo dizem que eu quase capotei na curva por causa desse
erro. Não foi assim. O Geithner garantiu-me um norte: a busca obsessiva pela
confiança do empresariado. Sem isso, o país teria ido à breca. Sinceramente,
sua turma está espancando essa gente. Aí, como cá, o sujeito tem uma sala no
palácio e pensa que manda. Eu não sei o que a senhora quer fazer com as
concessionárias de energia e de portos, mas sei que conseguiram produzir uma
enorme confusão.
Lá
pelo final de 2009, durante a discussão da política nacional de saúde, caiu-me
a ficha. Meu problema não estava na economia, mas naquilo que vocês chamam de
Casa Civil. A máquina da Presidência simplesmente não funcionava. Livrei-me de
dois.
Sei
que a senhora não tem sorte nesse tipo de escolha. Agora sua chefe da Casa
Civil é candidata ao governo de um Estado. Essa é a receita da encrenca. Os êxitos
caem por gravidade no colo do presidente, mas os fracassos dão-lhe a impressão
que vão para a conta dos outros. É engano, companheira. Os fracassos grudam na
gente com mais força que os sucessos. Enquanto estamos no palácio, todos nos
dizem que isso não acontece.
Quando vamos para rua pedir votos, vemos o tamanho
do erro.
Redesenhe
seu palácio, fuja dessas salas de eventos, vá para a rua, siga seus instintos,
enquadre os ministros candidatos a governos. Sua tarefa é muito mais fácil que
a minha. Se aqui houvesse uma oposição como a que há aí, eu passaria metade do
meu tempo jogando basquete ou paparicando a Michelle. Antes que eu me esqueça,
não perca tempo com a "The Economist". Desde 1848, quando foi
fundada, ela ensina ao mundo que não há salvação fora da ortodoxia liberal. Que
ninguém me ouça: a Inglaterra provou esse remédio e cada dia se parece mais com
a Holanda.
Finalmente,
um palpite, sem qualquer vestígio de torcida: admita que seu rival em 2014 será
o juiz Barbosa. Quando eu lancei minha candidatura, o Vernon Jordan, respeitado
líder negro, apoiava minha rival. A certa altura trocou de posição a
explicou-se: "É duro disputar
contra um movimento".
Lula,
"o cara", representou um movimento.
Michelle,
Malya e Sasha mandam-lhe um abraço. Marian, minha sogra, de quem talvez a
senhora se lembre, acompanha-as, mas fala todo dia nesse juiz Barbosa.
Do
companheiro Barack.
A "The Economist" de Delfim Netto.
Delfim Netto, recentemente na FOLHA DE S. PAULO.
Leio semanalmente "The Economist"
desde 1952, quando "filava" os exemplares recebidos pelo grande
professor W. L. Stevens, a quem o Brasil deve a introdução da estatística
fisheriana. Sempre admirei a clareza, a relativa imparcialidade e o tom
doutoral e provocador da revista.
Ela se considera, convictamente, a
portadora de uma ciência econômica universal, independente da história e da
geografia. Dela extraí (com lógica invejável) as receitas de política econômica
que levarão ao bem-estar social do mundo, com, talvez, um viés de maior
conforto ao capital e às finanças.
Criada em 1843 por James Wilson -sogro do
gigante Walter Bagehot, a quem entregou a sua editoria-, tinha por objetivo
fundamental defender a liberdade de comércio então em discussão na Inglaterra.
Fala, em seu benefício, que nos últimos 169 anos não mudou. Com altos e baixos,
sobreviveu bravamente até tornar-se -não é possível ignorar este fato- a mais
importante revista econômica internacional. Isso está longe, entretanto, de
garantir a validade dos seus conceitos.
Se há uma virtude escassa na excelente
"The Economist" é a humildade: ter ao menos uma pequena dúvida.
Recusou, desde a sua origem, a lição do grande economista Ferdinando Galiani
(1728-1787), que ensinou ser muito perigoso extrair conclusões políticas de
abstrações universais!
O deselegante e injusto ataque "ad
hominem" ao ilustre ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, partiu
de duas premissas falsas:
1ª) O Brasil não estava
"bombando" no início de 2011. O PIB caíra 0,3% em 2009 e, por puro
efeito estatístico, aumentara 7,5% em 2010. O crescimento médio de 2009/10 foi
de 3,6%, o mesmo número medíocre que vimos obtendo nos últimos 20 anos;
2ª) O ministro não errou sozinho quando
sugeriu que o crescimento do terceiro sobre o segundo trimestre estaria entre
1,1% e 1,3%. Analistas financeiros no Brasil e no mundo, inclusive o "The
Economist" (por seu instituto), acreditavam na mesma coisa.
O resultado apurado pelo IBGE (sobre o qual
não paira qualquer dúvida de credibilidade) foi mesmo uma surpresa (0,6%). Isso
nos deixa com um problema. Se os inúmeros estímulos postos em prática
produzirem um crescimento de 0,8% do quarto sobre o terceiro trimestre, o PIB
de 2012 será da ordem de 1%, um crescimento "per capita" nulo.
O baixo crescimento tem pouca coisa a ver
com as políticas monetária, fiscal e cambial. Tem mais a ver com uma redução
dos investimentos gerada por uma desconfiança exagerada entre o setor privado e
o governo. Fez muito bem a presidente Dilma quando rejeitou a impertinente
sugestão da revista.
domingo, 2 de dezembro de 2012
Joelmir Beting.
JOÃO BATISTA NATALI e sua homenagem ao tradutor do economês sem trair a ECONOMIA.
Perguntaram certa vez a Joelmir Beting por
qual razão ele preferia escrever para as donas de casa, e não para os
empresários. Sua reação: "Não escrevo para a dona de casa. Eu escrevo é
para a empregada dela".
Mesmo que não tenha sido bem assim, a
resposta exemplifica a imensa novidade que Beting introduziu no jornalismo
econômico. Inventou uma nova forma de explicar coisas complexas, com bom humor
e boas metáforas, recheadas de erudição a caipirismos.
Sua coluna diária foi lançada pela Folha
em 1970 e, a partir de 1991, passou a ser publicada por "O Estado de S.
Paulo" e "O Globo".
Sua ascensão no jornalismo se deu em fins
de 1968, quando o AI-5 impôs um silêncio à vida político-partidária. O
jornalismo procurou outros temas, e a economia ganhou espaço.
Beting sabia cautelosamente relatar os
conflitos entre setores empresariais e o então "czar" da economia, o
poderoso ministro Delfim Netto. Os tecnocratas de Brasília passaram a falar um
idioma desconhecido, o "economês" e o colunista virou um tradutor que
não levava a sério o jargão.
Joelmir Beting foi um homem ordeiro,
metódico. Nasceu em Tambaú, interior de São Paulo. Descendia de alemães
imigrados em meados do século 19. Seu pai, boia-fria, arrastava os filhos para
o trabalho de colher limão e jabuticaba.
Chegou à capital paulista em 1955. Passou
no vestibular em ciências sociais, na USP.
Mantinha-se como professor primário.
Entrou na Folha em 1966, como o
encarregado de introduzir textos que atraíssem o leitor aos classificados de
automóveis. Dois anos depois, virou editor do caderno de economia.
A coluna diária trouxe a ele imediata
notabilidade. Na década de 1980, com inflação crescente, o enfoque de Beting
passou a ser a proteção do poder aquisitivo. Duas frases criadas por ele:
"Inflação é quando a mão fica maior que o bolso"; "Derrubar a
inflação a golpe de recessão é como matar a vaca para acabar com o
carrapato".
Rompeu com a reputação de próximo do regime
militar ao publicar, em 1984, "Igreja, Classe Trabalhadora e
Democracia", em parceria com d. Paulo Evaristo Arns e João Pedro Stédile.
Sua carreira sofreu uma reviravolta em
2003. Aceitou participar de uma campanha publicitária do banco Bradesco. Em
resposta, "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" suspenderam a
publicação de sua coluna.
Beting prosseguiu no rádio e na TV. Sempre
afirmou ter uma rotina de 15 horas diárias de trabalho. Não teria feito a
metade do que fez sem a retaguarda de sua mulher, Lucila Beting, mãe de seus
dois filhos, o publicitário Gianfanco e o jornalista esportivo Mauro.
O grande legado de Joelmir Beting está em
dissociar o complicado da economia do complicado da linguagem. Ao encontrar
formas mais simples de dizer as coisas, sem trair a teoria econômica, mostrou
que o jargão é discriminatório, uma espécie de gíria inventada para assustar os
menos iniciados. Por exemplo, a empregada da dona de casa.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Prêmio Jabuti 2012 - Miriam Leitão.
Merecido o prêmio Jabuti 2012 categoria não-ficção para MIRIAM LEITÃO pelo excelente SAGA BRASILEIRA: A LONGA LUTA DE UM POVO POR SUA MOEDA.
Uma aula de economia com o prazer de reviver um momento muito especial da minha vida.
Parabéns MIRIAM e que venham mais livros.
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