Recentes dois artigos do Luiz Carlos
Mendonça de Barros publicados no VALOR avaliam a situação econômica brasileira,
bem como previsões para 2014. Neste, o foco é a eleição e a economia.
A condução da política
econômica no Brasil está dando sinais de estar passando por mudanças
importantes. Os analistas precisam incorporar os efeitos de uma eleição
presidencial - que se mostra hoje mais difícil do que as que consolidaram a
hegemonia do PT no quadro político brasileiro - em suas previsões. Vou dividir
com os leitores do Valor algumas observações que tenho sobre esse tema,
embora deva ressaltar que ainda são ideias iniciais e que só os próximos meses
poderão robustecê-las.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o
PT é um partido que segue os princípios do cientista político italiano Antonio
Gramsci, adaptado ao cenário brasileiro ao longo dos últimos dez anos. E nesse
quadro de princípios a manutenção do poder é um de seus principais itens. Em
outras palavras, para o PT e sua liderança política, eleição é uma coisa muito
séria que justifica tudo, inclusive a mudança de posições consolidadas ao longo
do tempo. A própria presidenta nos lembrou, recentemente, desse fato ao dizer
que em época de eleições faz-se o diabo para ganhá-las.
Um segundo ponto que gostaria de
desenvolver diz respeito a uma observação feita pelo ex-governador Paulo
Hartung - outro político que também leva a questão de eleições a sério - em
recente conversa. Para ele as eleições presidenciais do próximo ano serão as
mais difíceis que o PT enfrentará na sua fase "poder". As razões são
várias, mas as mais importantes me parecem as seguintes:
1 - a economia em 2014 não será a
maravilha que vivemos em 2006 e 2010;
2 - a se confirmarem as candidaturas que
estão postas hoje, a presidente Dilma terá que enfrentar no Nordeste um
político local e de grande visibilidade como Eduardo Campos e que certamente
vai roubar muitos votos do PT;
3 - em Minas Gerais (outro curral
eleitoral do PT nas últimas eleições) a presença do ex-governador Aécio Neves
vai alterar de forma importante a distribuição dos votos;
4 - Marina Silva também pode representar
uma alternativa eleitoral interessante para eleitores que votaram nos
candidatos do PT nas últimas eleições;
5 - Em um eventual segundo turno entre
Dilma Rousseff e Eduardo Campos os riscos de derrota aumentam muito;
Por tudo isso o governo e o PT sabem que o
estado da economia vai ter um papel importante no comportamento do eleitor. E
os resultados dos dois últimos anos não garantem que um cenário de céu de
brigadeiro vá acontecer em 2014. Essa é a razão porque acredito que vamos
assistir a algumas mudanças significativas na condução da política econômica
nos próximos meses. A direção desses movimentos será nitidamente no sentido de
reduzir o mau humor do setor privado em relação ao governo em função de traços
claros de um autoritarismo estatal - que não ocorreu nos anos Lula - nas suas
decisões.
A presidenta Dilma mudou de forma clara o
soft econômico herdado de Lula, reduzindo o espaço e a liberdade da dinâmica
privada na economia e aumentando as intervenções do governo, principalmente via
regulação e ações de empresas estatais. A presidenta acredita em um modelo
econômico em que o Estado deve liderar as ações na economia, inclusive
interferindo em contratos em vigor como aconteceu recentemente com o setor
elétrico. Por outro lado o governo tem demonstrado pouca disciplina na gestão
das âncoras macro que herdou dos governos Fernando Henrique e Lula.
Com isso vem perdendo o apoio de amplas
faixas do setor privado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje o Brasil é
visto com desconfiança pelos mercados financeiros, apesar ainda de ser um polo
importante de investimentos de empresas que querem participar do fortalecimento
do mercado de consumo nos próximos anos.
Por essa razão, apesar do mau humor dos
investidores meramente financeiros, o volume de investimento direto do exterior
continua forte, na faixa dos US$ 60 bilhões anuais. Mas o peso dos chamados
mercados na construção do clima de negócios em um país emergente como o Brasil
é suficiente para que, como acontece agora no Brasil, ocorra uma redução dos
investimentos privados. A realidade do PIB do ano passado, com uma queda
expressiva da formação bruta de capital, deve ter mostrado aos dirigentes do PT
e ao governo a necessidade de restabelecer uma ponte de credibilidade com os
mercados.
Alguns sinais dessa nova postura começam a
aparecer em decisões do governo e, principalmente, no vazamento pela imprensa
de comentários de fontes oficiais. No caso das concessões de serviços públicos
parece que o governo vai aceitar que os leilões sejam realizados com taxas de
rentabilidade compatíveis com os riscos envolvidos. Também nas negociações
sobre a MP dos Portos essa postura, mais realista e favorável ao capital
privado, parece estar ocorrendo.
Mas virão das decisões
do Copom e das intervenções no mercado de câmbio nos próximos meses as
indicações mais importantes destas mudanças. A dimensão e a velocidade da
elevação dos juros Selic diante de uma inflação perigosa - inclusive para as
eleições - e uma valorização maior do real nos mercados de câmbio mostrarão até
onde o governo pretende ir para fortalecer a reeleição da presidenta Dilma.