Pessimista editorial do ESTADÃO em 31.05.2013.
Mais que um
tropeço, o fraco desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre, com
expansão de 0,6% em relação aos três meses anteriores, é um péssimo prenúncio.
Se o ritmo for mantido, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentará apenas 2,4%
neste ano, menos que nos primeiros 12 meses do governo da presidente Dilma
Rousseff.
A cúpula
federal havia decidido, segundo informou o Estado na terça-feira, batalhar por
um crescimento de pelo menos 2,7%,"igual ao de 2011 - algo parecido com
uma questão de honra. Pelos números divulgados na quarta-feira, a luta por esse
objetivo será mais dura do que devem ter imaginado, poucos dias atrás, os
formuladores da política econômica. O ministro da Fazenda, Guido Mantega,
referiu-se ao ritmo atual de atividade como equivalente a 2,2% ao ano, ao
comentar os novos números das contas nacionais.
Pelo menos o
investimento cresceu vigorosamente e isso aponta maior capacidade de produção
nos próximos tempos, podem argumentar as autoridades. O volume de recursos
destinado à compra de máquinas e equipamentos, à construção civil e a obras de
infraestrutura foi 4,6% maior que o do trimestre final de 2012. Isso é
consequência, segundo o ministro da Fazenda, dos estímulos proporcionados pela
política oficial Mas o aumento indicado pelos novos números nem sequer
compensou a forte retração do ano anterior.
O total
investido ficou 3% acima do contabilizado um ano antes, mas a comparação entre
períodos de 12 meses ainda acusa uma redução de 2,8%. Além disso, o País
investiu no primeiro trimestre apenas 18,4% do PIB. Nos primeiros três meses do
ano passado essa taxa havia ficado em 18,7%. Qualquer das duas taxas é muito
inferior àquela fixada pelo governo como objetivo para os próximos anos, algo
em torno de 24%.
Vários países
emergentes, incluídos alguns latino-americanos, investem a cada ano pelo menos
o equivalente a 25% do PIB. Na Ásia são encontradas taxas acima de 30%. Além
disso, o Brasil tornou-se mais dependente do capital externo para investir,
porque a poupança interna caiu de 15,7% do PIB no primeiro trimestre de 2012
para 14,1% um ano depois. Todos conhecem a explicação: o governo continua
gastando em custeio mais do que deve e dificultando a formação da poupança
nacional.
O ministro
procurou também enfeitar os números muito ruins do amplo setor industrial. A
queda de 0,3% em relação ao trimestre final de 2012, afirmou, resultou
basicamente do recuo de 2,1% da mineração. A indústria de transformação,
acrescentou, produziu mais que nos três meses anteriores. As duas afirmações
são verdadeiras, mas o trabalho de maquiagem foi inútil De fato, o produto da
indústria de transformação cresceu, mas apenas 0,3%, e ainda foi 1,4% inferior
ao de um ano antes.
Um dia antes
a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) havia divulgado suas
novas projeções para o ano: o crescimento do PIB foi revisto de 3% para 2,5%; o
da indústria de transformação, de 2,4% para 1,9%; o da construção civil, de
3,3% para 1,9%; o dos serviços, de 3% para 2,7%; e o da agropecuária, de 3,4%
para 3,7%.
A fraqueza da
economia brasileira é visível de longe. A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por economias desenvolvidas e algumas
emergentes com histórico de boas políticas, cortou para 2,9% em 2013 e 3,5% em
2014 o crescimento estimado para o Brasil. As projeções feitas no fim de 2012
eram de 4% e 4,1%.
Não há novos
estímulos na agenda, disse o ministro Mantega. É uma boa notícia, diante do
fracasso previsível das medidas já adotadas, um conjunto de incentivos
improvisados. Beneficiaram alguns setores, pouco ajudaram o conjunto da
produção e agravaram a situação das contas públicas. Sem mais estímulos desse
tipo, o governo terá uma oportunidade para agir mais seriamente, controlando
seus gastos, contribuindo para o combate à inflação e cuidando com mais
eficiência dos problemas de competitividade. Mas é preciso ser muito otimista
para apostar nessa mudança.