segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

2012: o detalhe que falta.


GUSTAVO CERBASI, autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar sua Vida Financeira" (Elsevier Campus), hoje na FOLHA DE S. PAULO.

Em 2012, não deixe para depois os cuidados com a saúde, com a família e com as suas relações pessoais.

Há pessoas que se consideram injustiçadas pela vida, porque não tiveram as mesmas oportunidades ou a mesma sorte de outras. De maneira oposta, há também quem negue definitivamente o fator sorte como motivo para se distanciar de problemas na vida. Os preparativos para as celebrações natalinas mostram bem essas diferenças.

Nesta semana, muitas pessoas perderão dezenas de horas e muita saúde na correria das compras de final de ano e na obrigação de concluir suas tarefas de trabalho. Seja no trânsito, seja no caixa do estacionamento do shopping center ou simplesmente à espera do atendimento de um vendedor, muitos testarão sua paciência em filas.

Será uma semana de ansiedade. A pauta de reflexão será algo do tipo: "Terei de estender o horário de trabalho, mas ainda não comprei o presente do meu amigo secreto... Bom, ainda bem que as lojas fecharão mais tarde hoje". Sem tempo para escolher. Sem muitas opções, já que os produtos estarão se esgotando nas prateleiras. O preço está alto? "Não importa, é a opção que resta..." Presentes sairão caro.

Nesta mesma semana, outras pessoas estarão curtindo um merecido descanso em alguma praia ou em qualquer outro lugar longe do agito das compras.

Em alguns lares, famílias estarão se esmerando nos detalhes da decoração para a ceia de Natal, entregando presentes para crianças carentes, rasgando papéis velhos e começando a tradicional faxina para começar um 2012 com menos restos inúteis do passado.

Os mais caprichosos estarão cortando as fitas para fazer os laços dos presentes, cujas cores foram escolhidas de acordo com as preferências dos presenteados. Os presentes já estão arrumadinhos debaixo da árvore.

Nos escritórios, também haverá gente retocando os planos para o próximo ano, ensaiando discursos criativos para a festa do amigo secreto ou até ensaiando uma poesia para declarar seu amor na tão esperada festa de fim de ano.

Enquanto um grupo sabe de antemão que sua vida será um inferno nesses dias, outro estará desfrutando da deliciosa sensação de relembrar os últimos detalhes e apagar gradualmente as luzes de um ano que se vai. Em qual grupo você gostaria de estar? Certamente, do lado dos mais tranquilos.

Existe uma sutil diferença entre os que desfrutam e os que se afobam. É a mesma que existe entre os que fazem seu dinheiro render bem com boas escolhas e os que pagam caro por entregas expressas e outros serviços de conveniência. A diferença está no hábito de planejar. Ou, na falta desse hábito, dependendo de qual lado começa a comparação.

Há quem credite à falta de sorte suas dificuldades na carreira, a falta de dinheiro, o investimento mal escolhido e a falta de vagas no estacionamento do shopping.

E há também quem passa a vida sem desfrutar dessas amargas experiências, porque em algum momento escolheu antecipar seus movimentos e escolher um caminho de menor sofrimento.

Descobri, ao longo dos anos, que quem planeja sua agenda acaba tendo mais tempo para pesquisar alternativas e analisar melhor as informações. Com isso, gasta menos dinheiro e tem mais consumo ou mais poupança. Também cheguei à conclusão de que quem planeja suas finanças conta com mais recursos disponíveis, o que possibilita comprar ferramentas e tecnologias que ajudem a economizar tempo.

Pouco importa, portanto, se sua prioridade é planejar a agenda ou planejar suas finanças. O detalhe que pode fazer grande diferença em sua vida é o planejamento. Então, aproveite que 2011 está se esvaindo e está chegando a hora de fazer promessas, e faça uma promessa definitiva: dedique em 2012 mais tempo para sua organização pessoal, para que você seja mais eficiente no que quer que faça.

Não esqueça de cuidar da agenda, das datas festivas, das liquidações pós-festejos e de suas finanças pessoais, mas também não deixe para depois os cuidados com a saúde, com a família e com as suas relações pessoais. Todos esses elementos ganham em qualidade quando há um mínimo de planejamento.

A equação não fecha.


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

Uma política que combina alta cambial com aumento nominal de salários é suicida no médio prazo.

A aposta do governo é que o mercado interno salvará a economia brasileira: que o aumento dos salários acima da produtividade, além de reduzir a desigualdade, criará demanda para a indústria e compensará a taxa de câmbio sobreapreciada. Em outras palavras, a mesma receita que deu bons resultados no governo Lula poderia ser repetida no governo Dilma.

Mas desta vez temo que a equação não feche. Ainda será possível elevar salários reais sem alta da inflação, porque o preço global das commodities tende a baixar, mas é exatamente isso que tira espaço à política econômica do governo.

Durante o governo Lula, a taxa de crescimento do PIB dobrou, enquanto que a diminuição da desigualdade econômica, que já vinha ocorrendo, se acelerou. Mas isso foi alcançado sem que o governo enfrentasse o problema fundamental: a taxa de câmbio sobreapreciada.

Em vez disso, aproveitou a contínua apreciação do real para manter a inflação baixa, ao mesmo tempo em que os salários aumentavam.

Nesse quadro, a desindustrialização iniciada em 1990 prosseguiu, mas o setor sobreviveu porque contou com o mercado interno duplamente aquecido: pelo aumento do mínimo e pelo aumento dos salários reais decorrente da baixa do dólar.

O país, que deveria apresentar elevado superavit graças ao aumento do preço das commodities, voltou ao deficit em conta-corrente.

A médio prazo uma política de crescimento voltada para o mercado interno é tão inviável quanto a alternativa de uma economia voltada para as exportações. Mercado interno e exportações precisam crescer concomitantemente.

Uma política que combina apreciação cambial com aumento nominal de salários é suicida no médio prazo porque em pouco tempo empresas menos eficientes que as nossas ocuparão nosso mercado interno. É o que acontece atualmente.

O Brasil deverá crescer menos de 3% neste ano e é pouco provável que tenha desempenho melhor no próximo ano. Os investidores não estão sendo estimulados a investir nem pelo mercado interno nem pelo externo. Este está em plena queda, puxado pela Europa e acompanhado pela China e pela Índia.

Neste quadro global adverso, e sem espaço interno para política econômica, o mais provável é que a economia continue crescendo pouco. E sempre há o risco de uma queda forte no preço das commodities, que terá efeito desastroso.

Por enquanto, o único grande gesto do governo Dilma na área econômica foi a baixa da taxa de juros, que abriu espaço para o Estado investir mais em infraestrutura.

O aumento forte do salário mínimo, já previsto em lei, será outro estímulo. Mas são insuficientes. O país continuará a crescer lentamente, e os economistas ortodoxos e as classes médias alienadas que eles guiam continuarão a atribuir a desindustrialização à "ineficiência" das empresas brasileiras.

Assim como os conservadores atribuem a culpa da pobreza e da exclusão aos pobres, os neoliberais estão agora atribuindo a desindustrialização aos empresários.

É o reacionário processo de culpabilização da vítima que se repete, ainda que aplicado a vítimas muito diferentes. E o governo parece paralisado diante desse quadro.

domingo, 18 de dezembro de 2011

2012: previsões econômicas brasileiras.


Mais previsões para 2012: agora de quatro conceituados economistas que enviaram as mesmas para a EXAME.com.  Last but not least, previsões devem sempre serem consideradas. 

Os maias, alguns místicos e até Hollywood, todos já anunciaram que 2012 deve ser um ano apocalíptico. Por mais cético que se possa ser, olhar para a situação econômica da Europa, por exemplo, chega mesmo a levantar leves suspeitas. Mas quando se fala em Brasil, grandes economistas apostam que o próximo ano não chega a ter ares de “fim de mundo”.

Um time de especialistas formado por Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria Tendências; José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e sócio da MB Associados; Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco; e Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco, enviaram a EXAME.com suas projeções para os principais indicadores econômicos em 2012.

Em 2011 a economia brasileira caminhou por um caminho mais complicado do que no ano anterior e deve crescer menos que 3% - bem abaixo dos 7,5% em 2010. Esta queda em grande parte foi causada pelos impactos da piora nas condições da economia mundial.

Além disso, o ciclo de aperto monetário iniciado pelo governo no começo do ano ajudou a desacelerar a economia. Entretanto, a previsão é que o crescimento do país seja maior em 2012, ganhando ainda mais força em 2013.

PIB
O crescimento da economia em 2012 deve ficar acima dos 3%. A maior projeção é de Octávio de Barros, do banco Bradesco, 3,7%. Já Maílson da Nóbrega estima o menor crescimento, de 3,2%

Economista                           PIB
Octávio de Barros               3,7%
J.R. Mendonça de Barros  3,5%
Ilan Goldfajn                        3,5%
Maílson da Nóbrega           3,2%

Todos os economistas ouvidos por EXAME.com fizeram projeções para inflação acima do centro da meta, que é de 4,5%. Entretanto, nenhum deles acredita que o IPCA, índice oficial de inflação calculado pelo governo, vá passar do teto da meta, que é de 6,5%.

Economista                             IPCA
Octávio de Barros                 5,3%
J.R. Mendonça de Barros    5,5%
Ilan Goldfajn                          5,20%
Maílson da Nóbrega             5,40%

Taxa Selic
Em 2011 o comportamento da Selic teve duas fases distintas. Até agosto, o governo mantinha um ciclo de alta que fez a taxa básica pular de 10,75% ao ano em janeiro para 12,50% em julho.

Em agosto, porém, sob o argumento de piora na economia global, o Banco Central não só interrompeu o ciclo de alta, como também começou a cortar os juros. A taxa fechou o ano em 11%. No fim de 2012, o esperado é que a Selic esteja por volta dos 9% ao ano.

Economista                          Selic
Octávio de Barros              9,5%
J.R. Mendonça de Barros  9%
Ilan Goldfajn                        9%
Maílson da Nóbrega           9,5%

O último boletim Focus publicado pelo Banco Central, na segunda-feira, trazia a projeção dos analistas para o câmbio entre real e dólar no fim de 2011 em R$ 1,80. Já para 2012, a menor projeção, de Maílson da Nóbrega, é de R$ 1,65. A maior é de R$ 1,80, feita por J.R. Mendonça de Barros.

Economista                          Câmbio
Octávio de Barros               R$1,7
J.R. Mendonça de Barros  R$1,8
Ilan Goldfajn                        R$1,75
Maílson da Nóbrega           R$1,65

Balança comercial
Ilan Goldfajn, do Itau-Unibanco, projeta um saldo positivo de 15 bilhões de dólares para a balança comercial brasileira em 2012. A projeção de Maílson da Nóbrega é bem superior: 28 bilhões.

Economista                         Balança Comercial
Octávio de Barros              US$ 23 bilhões
J.R. Mendonça de Barros         --
Ilan Goldfajn                       US$ 15 bilhões
Maílson da Nóbrega          US$ 28 bilhões

Previsões 2012: relatório Banco Central.


Matéria na EXAME resume o relatório FOCUS e as previsões para 2012.

O mercado financeiro voltou a reduzir as previsões para a inflação oficial e a Selic em 2012, ao mesmo tempo em que diminuiu as estimativas para o crescimento da economia neste ano e no próximo, mostrou o relatório Focus do Banco Central (BC) nesta segunda-feira.

A estimativa para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - referência para o regime de metas de inflação no Brasil - em 2012 caiu para 5,42 por cento, ante 5,49 por cento na semana anterior. A expectativa para 2011 ficou inalterada em 6,50 por cento, exatamente no teto da meta do governo, que tem centro em 4,5 por cento e tolerância de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

"Este movimento de queda deverá persistir nas próximas semanas, à medida que o mercado incorpora a mudança de pesos na POF e as medidas de estímulo recém-divulgadas pelo governo (que terão impacto baixista sobre a inflação de duráveis)", afirmou a LCA Consultores em nota.

A queda na estimativa do IPCA para 2012 mostrada pelo Focus ocorre poucos dias após o BC também informar redução em sua estimativa para a inflação no próximo ano, de acordo com a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa básica de juros, a Selic, foi reduzida a 11,00 por cento ao ano.

Na ata, a queda na projeção de inflação para 2012 veio acompanhada de uma perspectiva mais deteriorada da economia internacional. A autoridade monetária continuou a considerar que o impacto na economia brasileira será de 25 por cento do visto na crise internacional de 2008 e 2009.

A crise internacional foi a justificativa dada pelo BC para os três cortes seguidos sobre a Selic desde agosto, que já tiraram 1,50 ponto percentual da taxa. As fracas perspectivas para a economia global e seus impactos sobre a atividade doméstica têm levado investidores a preverem a manutenção do ciclo de afrouxamento monetário no próximo.

Nesse contexto, investidores voltaram a reduzir o prognóstico para a Selic em 2012 para 9,50 por cento ao ano, queda de 0,25 ponto percentual comparado à previsão de 9,75 por cento trazida pelo documento anterior.

Apesar do estímulo via política monetária e medidas fiscais, o mercado seguiu diminuindo as perspectivas para o crescimento econômico neste ano e no próximo. Para 2011, a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu para 2,97 por cento, ante 3,09 por cento no documento anterior. A previsão para 2012 também foi cortada: para 3,40 por cento, contra 3,48 por cento no Focus da semana passada.

Tais previsões são as primeiras pelo Focus após a divulgação de que a economia brasileira teve crescimento nulo no terceiro trimestre ante o segundo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o país voltou a acelerar neste quarto trimestre, mas admitiu que um crescimento de 3,8 por cento neste ano não é mais possível e citou uma faixa de aumento do PIB entre 4 e 5 por cento para 2012, abaixo da de 4,5 e 5 por cento informada ao divulgar medidas de estímulo à economia neste mês.

Previsões de Jim O'Neill para 2012.


No excelente site da EXAME, as previsões de Jim O’Neill para 2012. 

Trata-se do presidente do Goldman Sachs Asset Management, a gestora de recursos de terceiros do maior banco de investimentos do mundo, que acaba de divulgar o relatório “Visões da Sala do Presidente” com suas previsões para o próximo ano. O economista se notabilizou por ter criado o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e por há tempos propagar ao redor do mundo a ideia de que os países emergentes ganhariam poder no cenário mundial. Veja a seguir o que O’Neill acredita que veremos no próximo ano:

1 – A crise europeia vai arrefecer
“Não vamos falar tanto sobre a Europa nos próximo ano, ainda que isso possa acontecer nas primeiras semanas de 2012. A Europa continuará a ser a Europa. Com alguma sorte, a região será tão entediante como costumava ser (especialmente agora que Mancheter United foi eliminado da Liga dos Campeões).”

2 – Algo grande vai acontecer na Itália
“A zona do euro não pode sobreviver sem a Itália. E a Itália não pode sobreviver se tiver de pagar 6% ou 7% de retorno com seus títulos de 10 anos. O modo como a crise evoluiu nas últimas semanas é tão assustador quanto excitante. Decida você mesmo para que lado a crise vai caminhar.”

3 – EUA, Brasil e Índia podem ser surpresas positivas
“Há diversos riscos econômicos, políticos e sociais para 2012. Mas não são todos negativos. É bem concebível que não apenas os Estados Unidos continuem a surpreender positivamente como também outros países o façam. Isso inclui alguns dos BRICs, como o Brasil e a Índia.”

4 – O PIB europeu deve desapontar
“A Europa pode facilmente desapontar em termos de crescimento ainda mais do que se espera, mesmo considerado que a previsão do Goldman Sachs já esteja abaixo do consenso de mercado.”

5 – As bolsas dos EUA vão subir
“É mais provável que o índice Standard & Poor’s [hoje em 1.220 pontos] suba para 1.400 pontos do que caia para 1.000.”

6 – A China não terá nem pouso suave nem forçado
“Na verdade, a China não terá nem um pouso suave nem forçado. Eles vão continuar crescendo.”

7 – Os emergentes continuarão a ganhar importância
Os BRICs, a Indonésia, a Coreia do Sul, o México e a Turquia vão continuar a ganhar importância no cenário mundial, tanto no aspecto econômico quanto em relação aos mercados financeiros.

8 – O euro tende a cair mais
“É mais provável que o euro caia para 1,10 dólar no próximo ano do que suba para 1,50. Eu não acho que as duas coisas vão acontecer. Talvez nenhuma das duas seja vista. Mas 1,10 é mais provável que 1,50.”

9 – O iene vai se desvalorizar
O dólar deve se valorizar ante a moeda japonesa. “O dólar tem mais chance de valer 100 ienes do que 60 ienes. Eu suspeito que a possibilidade de 100 ienes é muito alta - ainda que eu já achasse que isso fosse acontecer em 2011”

10 – Manchester vai dominar o futebol inglês
“Um time de Manchester será o campeão da liga inglesa nesta temporada.” Após 15 rodadas, o Manchester City lidera o campeonato com 38 pontos, seguido pelo Manchester United, com 36.

Previsões para 2012: um ano acidentado.


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics". Este artigo foi publicado hoje na FOLHA DE S.PAULO e o autor conhece o que escreve.  

Fragilidade e desequilíbrio em 2012.

A perspectiva da economia mundial em 2012 é clara, mas não bonita: recessão na Europa, crescimento anêmico (na melhor das hipóteses) nos Estados Unidos e desaceleração acentuada na China e na maioria das economias emergentes.

As economias asiáticas estão expostas à China. A América Latina está exposta à queda nos preços das commodities (causada pela desaceleração econômica na China e nas economias avançadas).

A Europa Central e Oriental está exposta à zona do euro. E os tumultos no Oriente Médio estão causando sérios riscos econômicos -na região e no resto do mundo-, porque o risco geopolítico continua elevado e os altos preços do petróleo restringirão o crescimento mundial.

Os Estados Unidos enfrentam consideráveis riscos diante da crise na zona do euro. Também precisam enfrentar um arrocho fiscal significativo, o processo de redução de dívidas em curso no setor domiciliar, a crescente desigualdade de renda e o impasse político.

Entre as demais economias avançadas, o Reino Unido já está atravessando uma recessão de duplo mergulho, porque a consolidação fiscal apressada e a exposição à zona do euro solapam seu crescimento. No Japão, a recuperação pós-terremoto vai se esgotar porque os governos fracos que se sucedem no país não conseguirão implementar reformas estruturais.

Enquanto isso, as falhas no modelo de crescimento chinês estão se tornando evidentes. A queda nos preços dos imóveis está iniciando uma reação em cadeia que terá efeito negativo sobre os incorporadores imobiliários, o investimento e a arrecadação do governo. O boom de construção começa a se estagnar, no exato momento em que as exportações líquidas começam a prejudicar o crescimento, devido à demanda fraca nos Estados Unidos e especialmente na zona do euro.

Tendo buscado esfriar o mercado imobiliário com medidas que conterão os preços em disparada, os líderes chineses enfrentarão dificuldade para promover uma retomada do crescimento. E não serão os únicos. EUA, União Europeia e Japão também vêm postergando as sérias reformas estruturais de que necessitam para restaurar um crescimento equilibrado e sustentável.

Ao mesmo tempo, alguns desequilíbrios cruciais em conta-corrente -entre os EUA e a China (e outras economias de mercado emergente), e dentro da zona do euro, entre os países centrais e os periféricos- continuam largos. Um ajuste ordeiro desse problema requer demanda interna menor nos países que gastam mais e acumulam grandes deficit em conta-corrente e superavit comerciais menores nos países que poupam demais, via valorização cambial nominal e relativa.

A fim de manter o crescimento, os países que gastam demais precisam de depreciação nominal e real para melhorar suas balanças comerciais. Já os países superavitários precisam estimular a demanda interna, notadamente o consumo.

Mas esse ajuste de preços relativos via movimentos cambiais está parado, porque os países superavitários resistem à valorização das taxas de juros e preferem impor recessão deflacionária aos países deficitários. As batalhas cambiais resultantes estão sendo travadas em várias frentes: intervenções em mercados cambiais, relaxamento quantitativo e controles sobre influxos de capital. E, com o enfraquecimento do avanço mundial em 2012, essas batalhas talvez cresçam a ponto de virarem guerras comerciais.

Por fim, as autoridades econômicas estão esgotando suas opções. A desvalorização cambial é uma ferramenta finita, porque nem todos os países poderão depreciar suas moedas e melhorar suas exportações líquidas ao mesmo tempo. A política monetária será relaxada e tornará a inflação irrelevante nas economias avançadas (e menos relevante nos mercados emergentes).

Restaurar um crescimento robusto já seria suficientemente difícil sem o espectro permanente da redução de dívidas e a séria escassez de ferramentas de política econômica. Mas é esse o desafio que a economia mundial, frágil e desequilibrada, enfrentará em 2012.

Para parafrasear Bette Davis em "A Malvada": "Apertem os cintos: o ano será acidentado".

sábado, 17 de dezembro de 2011

Belo Monte: Racionalidade sempre.


Na VEJA Online:
A Justiça Federal no Pará revogou, nesta sexta-feira, liminar que determinava a paralisação das obras da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu. O juiz federal Carlos Eduardo Castro Martins revogou a liminar que ele mesmo concedeu no final de setembro depois de avaliar melhor a questão.

A determinação foi resultado de uma ação movida pela Associação dos Criadores e Exportadores de Peixes Ornamentais de Altamira (Acepoat). Segundo a associação, mil famílias que dependem da pesca serão prejudicadas pela hidrelétrica.

O juiz afirmou que, ao contrário de sua avaliação inicial, a pesca não será impedida durante a construção da usina, pois o curso da água não será alterado. O parecer ainda diz que estão sendo desenvolvidos projetos de incentivo à pesca sustentável pela Norte Energia.

Agora, estão liberadas as obras no leito do rio Xingu, como implantação de porto, explosões, implantação de barragens, escavação de canais e outras necessárias para construir a hidrelétrica. Segundo a assessoria do consórcio Norte Energia, empresa responsável pela construção, a decisão não prejudicou o andamento das obras, pois as atividades ainda não atingiram o curso do rio Xingu.

Brasil: previsões 2012.


Do blog do sempre bem informado Paulo Moreira Leite, na ÉPOCA, destaco o post abaixo, onde constam as previsões econômicas do BRADESCO para o Brasil em 2012. 

O destino do Brasil no ano que vem é a verdadeira conversa neste fim de ano. Depois de um 2011 decepcionante, que pode fechar em 3%, a pergunta decisiva é saber como o país ficará nos próximos doze meses.   Para contribuir neste debate, o blogue publica a íntegra de uma nota de Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Líder de uma equipe de 29 economistas que monitora o pulso de vários setores da economia brasileira e de países estratégicos no cenário mundial, Octávio de Barros está convencido de que o país voltará a subir para um patamar em torno de 3,7%.

É um número inferior aos 5% que o governo federal tem anunciado mas próximo da média dos dois mandatos do governo Lula, que foi de 4%. Em 2010 o Brasil cresceu 7,5% e em 2007, o ano anterior ao colapso de Wall Street, rodava a 6,1%. Mas no primeiro ano de seu governo, o crescimento foi de 1,1%.

O centro do raciocínio de Octávio de Barros é que a principal causa de nosso esfriamento em 2011 não se encontra na crise externa e sim nas medidas internas, que a equipe economica de Dilma Rousseff tomou ao longo de 2011. Os juros sofreram uma grande alta no primeiro semestre, e só começaram a ser reduzidos em 31 de agosto. O crédito sofreu um arrocho e os investimentos públicos — que seguem sendo um fator crucial para o crescimento brasileiro — também foram reduzidos. Nas últimas semanas, essas medidas foram revertidas e o país vive hoje um  processo que ele define como “afrouxamento monetário sem precedentes.” Em bom português, isso quer dizer que o governo abriu o arsenal de medidas anti-recessivas para mudar a curva da economia.  A experiência ensina que projeção econômica não é uma atividade infalível, por mais cuidadosa que seja sua análise.

Mas convém conhecer a logica de um dos economistas que, até por sua posição no coração de uma das mais influentes instituições financeiras do país, tornou-se uma das vozes mais acatadas nos debates que envolvem a conjuntura. Vamos ler a íntegra de sua análise:

1. De quem é a culpa pela desaceleração brasileira e qual o alcance da retomada em 2012?
-Nossa visão é a de que alguns fatores vão tornar possível a “reaceleração” da economia brasileira em 2012. Primeiro, não podemos subestimar o impacto do afrouxamento monetário em curso sem precedentes. A reversão parcial das medidas macroprudenciais, o aumento dos investimentos públicos de infraestrutura, a expectativa de um BNDES mais ativo, as eleições municipais, um mercado de trabalho ainda apertado e o aumento significativo do salário mínimo completam os ingredientes para a retomada. Não bastasse isso, as recentes medidas de redução da taxação sobre ingressos de capitais, desoneração de IOF do crédito, redução de IPI de determinados bens duráveis, os estímulos setoriais etc, poderão reforçar nossa previsão atual de 3,7% para o crescimento de 2012. Tudo isso em um ambiente onde a confiança do empresário não industrial está praticamente intacta e a dos consumidores em alta. Seguimos apostando em um ciclo que nos levaria a 9,5% de Selic nominal. Dado o nosso cenário de não ruptura com excessiva volatilidade, consideramos que o real seguirá oscilando ao final do ano que vem entre R$1,70 e R$ 1,80 por dólar. Mesmo o investimento sendo uma variável cíclica, ele seguirá relativamente insensível à desaceleração de curto prazo na economia brasileira.

2. Cenário doméstico para 2012: aceleração do crescimento à vista em um cenário global de desaceleração e riscos
- Para o ano novo, projetamos expansão de 3,7% do PIB, taxa que deverá ser puxada pela retomada do consumo das famílias e dos investimentos. O setor externo será marcado pela ausência de dificuldades de financiamento externo. Já a política fiscal será caracterizada pelo superávit primário menor e aumento de gastos, mas sem prejudicar a trajetória cadente da relação dívida/PIB. Finalmente, esperamos desinflação para o primeiro semestre do ano que vem, ajudada pela desaceleração global. Vislumbramos que há espaço para que a taxa básica de juros seja reduzida nas três primeiras reuniões do Comitê de Política Econômica (Copom) de 2012, em passos graduais de 50 pbs, alcançando 9,5% em abril, quando o ciclo de afrouxamento será encerrado.

3. A economia global representa o principal risco a ser monitorado
- O desafio europeu e o ajuste da economia global retirarão um pouco menos que 1,5 ponto percentual do PIB mundial em 2012, sendo o pior momento do PIB mundial possivelmente no primeiro trimestre do ano que vem. Na nossa visão, a economia global representa o principal risco a ser monitorado, lembrando que nosso cenário base é de estagnação no mundo desenvolvido, mas não de ruptura. De forma resumida: (i) na Europa, a crise de dívida soberana em uma união monetária cria situação complexa; (ii) nos EUA, a recessão pode ser evitada, mas crescimento do PIB será bastante moderado em 2012; (iii) na China, a desaceleração da atividade é real e será limitada pela disposição do governo em acelerar os estímulos fiscais e monetários.

4. Setores de bens de consumo e de serviços serão o eixo da dinâmica do crescimento setorial em 2012
- Os segmentos de bens de consumo, do comércio e dos serviços serão o eixo da dinâmica de expansão da economia em 2012, estimulados pelo cenário positivo para o mercado de trabalho e para a renda, além da expansão do crédito e as mudanças estruturais na economia brasileira A indústria como um todo deverá continuar registrando desempenho inferior ao do comércio varejista, influenciada pela desaceleração mundial, ociosidade manufatureira observada nos países desenvolvidos e penetração das importações, que mudou de patamar (para cima) a partir de 2009/2010.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...