Li na FOLHA extensa matéria sobre um grupo de 10 jovens economistas brasileiros que estão ofertando uma nova visão de estudo da nossa Economia. Abaixo os colegas em destaque:
GABRIEL ULYSSEA
COORDENADOR DA ÁREA DE MERCADO DE TRABALHO DO IPEA - Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na
PUC-Rio e doutorado em Chicago.
Estudos sobre a
informalidade no mercado de trabalho acompanham o economista Gabriel Ulyssea
desde o mestrado, na PUC-Rio. No ano passado, sua tese de doutorado (também
sobre o tema) foi premiada pela Anpec (associação que reúne alunos de
pós-graduação em economia).
Concluiu os estudos na
Universidade de Chicago, orientado pelo Prêmio Nobel James Heckman.
Aos 34 anos, Ulyssea tem
uma vivência de governo que o diferencia dos economistas de sua idade.
Participou da formulação do Fundeb (fundo que provê recursos para o pagamento
de professores do ensino básico), quando o prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad, ainda era secretário de Tarso Genro, então ministro da Educação.
"Foi interessante
ver a política sendo feita", diz. "É a maneira mais direta de
impactar a realidade. Isso me motiva muito."
Entrou para o Ipea
(instituto governamental de pesquisa econômica) e foi trabalhar com Ricardo Paes
de Barros, referência nos estudos sobre desigualdade.
Em 2006, escreveu
capítulos e ajudou Paes de Barros a organizar o livro "Desigualdade de
Renda no Brasil: uma Análise da Queda Recente", reunião dos principais
estudiosos do tema no país.
Isso tudo antes dos 27
anos, quando partiu para a Universi- dade de Chicago. Estudou como a
informalidade afeta a rotina das empresas.
Constatou que a redução
dos impostos na folha de pagamentos pode aumentar a formalização das empresas,
mas pouco afeta a vida dos trabalhadores.
"Com o ganho de
margem, elas podem contratar mais funcionários informais e há pouco impacto
sobre os salários."
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MONICA DE BOLLE
PROFESSORA DA PUC-RIO - Graduação e mestrado em economia na PUC-Rio e doutorado na London School of Economics.
PROFESSORA DA PUC-RIO - Graduação e mestrado em economia na PUC-Rio e doutorado na London School of Economics.
Monica Baumgarten de
Bolle tem se destacado no debate público no país. Herdou o interesse pela
economia do pai, Alfredo Luiz Baumgarten, ex-presidente da Finep, morto em
1990.
Depois do doutorado, foi
trabalhar no FMI, no qual desenvolveu na prática seu interesse teórico por
crises financeiras.
Estava no Fundo quando a
Argentina entrou em default, em 2001. Antevendo os efeitos no Uruguai, pediu
que ficasse responsável pelo país, que despertava pouco interesse na época.
Quando estourou a crise
uruguaia, de Bolle foi uma das principais responsáveis pela bem-sucedida
reestruturação da dívida do país, que serviria mais tarde de modelo para o caso
da Grécia.
"Quando começou a
crise, pensei: Que maneiro, lá vou eu'."
Seu chefe era Tim
Geithner, posteriormente secretário do governo Obama. De volta ao Brasil,
passou pelo mercado financeiro e foi trabalhar com Dionísio Carneiro na
Galanto. Depois da morte de Carneiro, assumiu a consultoria e dá aulas na
PUC-Rio.
-
BERNARDO GUIMARÃES
PROFESSOR DA FGV-SP - Graduação em engenharia na USP, com mestrado em economia na USP e doutorado em Yale.
PROFESSOR DA FGV-SP - Graduação em engenharia na USP, com mestrado em economia na USP e doutorado em Yale.
O que mais preocupa o
economista Bernardo Guimarães, 41, é o Brasil estar entre os piores do mundo
para fazer negócios. O mais recente "Doing Business", do Banco
Mundial, colocou o país em 116º entre 189 economias.
"A inflação chegar a
6,5% não é uma tragédia. O pior é não termos, há anos, reformas que melhorem o
ambiente de negócios", diz. "O que faz diferença em uma economia é
produzir e contratar."
Em 2003, escreveu um
artigo com Nouriel Roubini sobre países que recebem ajuda do FMI.
Depois de lecionar por
seis anos na London Business School, decidiu voltar ao Brasil. Não tem
pretensão de trabalhar no governo. "Eu sinto que ajudo mais o país
ensinando as pessoas."
Economista de linha
ortodoxa, diz que o termo não faz jus a pesquisadores como ele. "Ninguém
quer reproduzir o passado, a ortodoxia. Queremos superá-la."
Dedica-se atualmente a
pesquisar a relevância das instituições no desenvolvimento e a relação entre as
expectativas e o desempenho econômico.
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JOÃO M. PINHO DE MELLO
PROFESSOR DO INSPER - Graduação em administração pública na FGV, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Stanford.
PROFESSOR DO INSPER - Graduação em administração pública na FGV, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Stanford.
Estudar eventos que
aparentemente nada têm a ver com economia é a rotina de João Manoel Pinho de
Mello, 40.
Em seus artigos recentes,
há medições sobre os efeitos do Bolsa Família nos índices de criminalidade, do
desarmamento nos homicídios e até do tempo de exposição na TV, no horário
eleitoral, no sucesso dos candidatos nas eleições.
Sua área de atuação é a
economia aplicada às ciências sociais. Atualmente, avalia se reduz a violência
o fechamento dos bares às 23h, como manda a lei em algumas cidades do interior
paulista.
"Minha área não
existia no passado. Todos os economistas estudavam inflação; esse tema sugou a
energia de duas gerações. Estudos voltados para assuntos como crime, saúde,
economia bancária não existiam."
Em trabalho sobre
concorrência, uma de suas especialidades, analisou as consequências da atuação
dos bancos públicos no mercado. Constatou que eles tendem a
"expulsar" os privados de alguns nichos, o que reduz a competição.
"O que indica que a atual ação dos bancos públicos não é muito
alvissareira."
Professor e pesquisador,
diz ter vontade e trabalhar no governo, "mas depende dos termos".
"Se é para aprovar políticas que eu considero fracassadas, não. Mas, se
for possível ter um debate inteligente, eu iria", afirma.
Mello se intitula um
economista "mainstream" e afirma que não entende muito os heterodoxos.
"A imperfeição dos mercados está descrita no mainstream' há 70 anos."
-
CARLOS EDUARDO GONÇALVES
PROFESSOR DA USP - Graduação em engenharia na USP, com mestrado e doutorado em economia na USP e pós-doutorado na London School of Economics.
PROFESSOR DA USP - Graduação em engenharia na USP, com mestrado e doutorado em economia na USP e pós-doutorado na London School of Economics.
Carlos Eduardo Gonçalves,
40, se dedica ao estudo da macroeconomia, mas com "cara de
microeconomia", como diz.
O que significa estudar
os grandes movimentos econômicos, como taxa de juros e inflação, atento a
evidências, causas e consequências.
O objetivo é investigar
pensamentos aparentemente consensuais, como se o dólar alto ajuda a indústria
ou se economias abertas têm mais investimentos.
Em artigo publicado em
2008 com o economista João Moreira Salles demonstrou que, em 36 economias que
adotaram o regime de metas, a inflação e a volatilidade do PIB se reduziram.
O economista prefere a
coluna do meio quando o debate ruma para o confronto entre ortodoxos e
heterodoxos.
"A ortodoxia do
mercado financeiro não entende as falhas de mercado. A inflação baixa nem
sempre é boa, na Europa ela é ruim agora. Às vezes o governo tem que intervir
na economia", afirma. "Mas não existe tese sem estatística, sem
modelo. Não aceito a heterodoxia do blá-blá-blá."
Já escreveu dois livros
de economia para não economistas. E prepara um terceiro, em parceria com Bruno
Giovannetti, da USP, com verbetes econômicos e financeiros, que deve se chamar
"Econopédia".
É autor, com outros
economistas, do blog "Economista X".
-
ANDRÉ MODENESI
PROFESSOR DA UFRJ - Graduação em economia na PUC-Rio e em ciências sociais na UERJ, com mestrado na UFF e doutorado na UFRJ.
PROFESSOR DA UFRJ - Graduação em economia na PUC-Rio e em ciências sociais na UERJ, com mestrado na UFF e doutorado na UFRJ.
A lembrança da
hiperinflação e a mudança na realidade provocada pelo Plano Real fizeram André
Modenesi, 38, interessar-se pela economia. Com pós-graduação em ciências sociais,
seu olhar, porém, foi moldado para a observação das pessoas.
Macroeconomista de
orientação heterodoxa, foi influenciado por pesquisadores de John Maynard
Keynes, como Fernando Cardim, na UFRJ. Mas isso não quer dizer que rejeite a
estatística, contrariando os críticos dessa escola, que dizem que ela é
divorciada da matemática.
"A economia não é
uma ciência dura' como a física. Mas eu me preocupo em buscar regularidades
empíricas", diz. "A diferença é a maneira de olhar."
Durante o doutorado
passou um ano estudando com o americano Werner Baer, brasilianista na
Universidade de Illinois.
"Fiz uma opção, a
falta de conexão com a realidade torna a ortodoxia muito abstrata. Isso me
incomoda", afirma. "Em geral os modelos estão precisos, mas a
hipótese básica não faz sentido."
Atualmente, estuda os
mecanismos de funcionamento do sistema de metas de inflação e quais os custos
entre escolher mais juros ou menos inflação. "Não quero que a inflação
volte, eu estudo isso há anos. Mas isso não impede que se façam balanços de
custos e benefícios da política."
Considera que o modelo
adotado no Brasil desde 1999 não tem obtido êxito porque os canais de
comunicação do Banco Central com a realidade de empresas e consumidores
emperraram no sistema bancário.
-
MARCELO FERNANDES
PROFESSOR DA FGV-SP - Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na FGV, doutorado na Solvay Business School Université Libre de Bruxelles e pós-doutorado no European University Institute.
PROFESSOR DA FGV-SP - Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na FGV, doutorado na Solvay Business School Université Libre de Bruxelles e pós-doutorado no European University Institute.
Como um cientista,
Marcelo Fernandes, 41, afirma que busca isolar os problemas econômicos para
descrevê-los e analisá-los com rigor. A lente do economista são modelos
matemáticos sofisticados.
"Em vez de pensar na
pergunta e buscar os dados, encontre os dados e pense em quais perguntas pode
fazer", afirma.
Dessa maneira, ele passou
seis anos fazendo um estudo teórico que buscava testar a assimetria em uma
distribuição, estatística pura. Depois disso, decidiu se reconciliar com dados
reais.
É considerado um dos
nomes mais promissores da econometria (estatística aplicada à economia) voltada
às finanças.
Prepara um estudo, com
Walter Novaes, da PUC-Rio, que busca estimar como a interferência do governo
afetou as ações de empresas com participação estatal, mesmo minoritária.
Constatou que os papéis
com direito a voto (ON), normalmente mais valiosos, perderam vantagem sobre as
demais ações. "Houve uma expropriação dos sócios com direito a voto",
diz.
De linha ortodoxa, diz
que a contraposição com heterodoxos é debate que hoje só se encontra no Brasil.
-
FLÁVIO CUNHA
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DA PENSILVÂNIA - Graduação em economia na UFMG, mestrado na FGV e doutorado em Chicago.
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DA PENSILVÂNIA - Graduação em economia na UFMG, mestrado na FGV e doutorado em Chicago.
O economista Flávio Cunha
tem contribuído para pesquisas que mostram que boa parte da defasagem de
desenvolvimento cognitivo existente entre jovens de famílias de baixa renda e
aqueles com maior poder aquisitivo é gerada ainda na infância.
Publicou importantes
estudos sobre esse tema em coautoria com o Prêmio Nobel James Heckman, um dos
economistas que Cunha mais admira.
Professor-assistente da
Universidade da Pensilvânia, Cunha tem no capital humano seu principal foco de
estudo:
"O capital humano de
um país determina, em parte, o potencial de crescimento de longo prazo de sua
economia", afirma.
"O conhecimento, a
experiência, as habilidades, a persona- lidade e até mesmo a saúde física e
mental que uma pessoa possui são exemplos de diferen- tes componentes do seu
capital humano."
Com base nos resultados
de sua pesquisa e de outros economistas que estudam o mesmo tema, Cunha defende
uma aten- ção maior das políticas públicas à pré-escola.
Como outros economistas
de sua geração, diz que não pensa na divisão de sua área em termos de ortodoxia
e heterodoxia.
Vê com otimismo o amplo
debate na sociedade brasileira sobre a necessidade de melhorar a qualidade da
educação.
Mas se preocupa com o
pouco esforço para a coleta de dados necessários para a compreensão do que é
necessário para essa empreitada.
Seus planos incluem
aumentar sua participação científica no Brasil, já que boa parte do que
pesquisa atualmente é baseada em dados dos EUA.
"Gostaria de coletar
dados, estudar e implementar programas que venham a melhorar o desenvolvimento
de capital humano no Brasil."
-
RODRIGO SOARES
PROFESSOR DA FGV-SP - Graduação em economia na UFMG, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Chicago.
PROFESSOR DA FGV-SP - Graduação em economia na UFMG, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Chicago.
O nível de criminalidade,
a qualidade da saúde pública e as tendências demográficas têm forte impacto no
desenvolvimento de um país.
A interação entre esses
fatores e sua influência na produtividade da mão de obra são alguns dos objetos
de estudo de Rodrigo Soares, um dos economistas brasileiros com maior número de
pesquisas publicadas.
Atualmente professor da
FGV-SP, Soares deu aula anteriormente na Universidade de Maryland e na PUC-Rio,
depois de cursar doutorado em Chicago.
Diz ter encontrado um
país diferente, melhor, quando voltou dos EUA, em 2005.
"Eu percebi um
progresso grande em áreas como saúde e educação, com queda da mortalidade
infantil e aumento das matrículas no ensino básico."
Mas acredita que, desde a
década passada, o processo de melhorias estancou ou regrediu.
"Acho que a política
pública baseada em evidência, em entender o que estava acontecendo, que
prevaleceu de meados dos anos 1990 a 2000, foi um pouco deixada de lado."
Soares diz que gostaria
de participar de um governo no futuro, embora não tenha isso como ambição ou
objetivo.
Para ele, as tentativas
de tratar a economia de forma ideológica afetam o debate acadêmico de forma
negativa no Brasil.
"Acho que o debate
seria mais produtivo se fosse focado em tentar entender políticas boas e ruins,
com base em evidências."
-
TIAGO BERRIEL
PROFESSOR DA PUC-RIO - Graduação e mestrado na PUC-Rio, doutorado em Princeton.
PROFESSOR DA PUC-RIO - Graduação e mestrado na PUC-Rio, doutorado em Princeton.
Orientado pelo
ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga no mestrado e pelo Nobel de
Economia Christopher Sims no doutorado, Tiago Berriel, 33, dedica-se a analisar
os efeitos das políticas monetária e fiscal.
Professor da PUC-Rio e
responsável pela análise macroeconômica da gestora Pacífico, Berriel diz que
sua formação é considerada tão ortodoxa que ele "nem sabe direito o que é
o outro lado".
Tem interesse por
questões como a independência do BC e os custos da política monetária.
Concluiu há pouco uma
pesquisa em coautoria com Eduardo Zilberman sobre os efeitos macroeconômicos do
Bolsa Família, avaliando seu impacto sobre a pobreza, a desigualdade de renda e
a oferta de mão de obra.
"O Bolsa Família é
uma decisão de política fiscal, por isso seus efeitos me interessam."
A recente deterioração
das contas do governo o preocupa atualmente. Seu temor é que o mercado passe a
apostar que a situação fiscal vai piorar.
Isso pode levar a uma
forte desvalorização da moeda, com impacto negativo sobre a inflação, forçando
o BC a elevar os juros:
"Essa é uma situação
que pode ocorrer mesmo quando o país está com um nível de endividamento
razoável, que é o caso do Brasil, mas a boa notícia é que não é difícil de
consertar".
Diz que não tem como meta
a vida pública, mas gosta do debate de ideias. "No fim, o objetivo das
pesquisas é influenciar a formulação de políticas e o debate."