terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DEZEMBRO COM DELFIM NETTO

Para iniciar o melhor mês do ano, vamos lendo o colega ANTONIO DELFIM NETTO, direto do VALOR, com o sugestivo artigo Para salvar a teoria econômica.

Creio que pelo menos alguns economistas que dominam brilhantemente as “modelagens” matemáticas (se forem um pouco menos cínicos do que o prêmio Nobel Robert Lucas) devem repetir para si mesmos a pergunta que a rainha Elizabeth II fez aos professores da famosa London School of Economics em novembro de 2008: “Como foi possível que, depois de mais de um século de estudos, os senhores foram incapazes de prever a crise que colocou em risco a economia mundial?O fracasso da macroeconomia em matéria de “previsão” é fato passado em julgado. E (com razão ou não) muitos acadêmicos garantem que “prever” não é obrigação dos economistas e não é a finalidade da teoria econômica “científica”, o que não parece fora de propósito. O fato curioso é que eles mesmos, quando assumem o papel de “analistas” no mercado financeiro (a serviço de bancos, fundos e “tutti quanti”), não fazem outra coisa a não ser “prever”, para induzir “cientificamente” os compradores de seus papéis. Aquela atitude defensiva, entretanto, não poupa a teoria econômica. De um “cientifismo equivocado” que lhe deu imensa visibilidade e prestígio, há pouco mais de uma década, ela hoje é vista com desconfiança, quando não desmoralizada.

O sentimento de frustração é geral. Todas as tribos que constituem a confederação dos economistas sentem esse rebaixamento da opinião pública com relação às suas aspirações de sugerir políticas capazes de manter a economia num estado de equilíbrio dinâmico interno e externo. Em resposta à sua incômoda pergunta, a rainha recebeu duas cartas. Uma assinada por um grupo de economistas “neoclássicos”, encabeçada pelo professor Tim Besley, da British Academy. Outra de economistas relativamente fora do “mainstream”, encabeçada pela professora Sheila Dow, da University of Stirling.

A primeira é um relato das conclusões de um fórum realizado em 17/6/2009 na British Academy (especialmente para responder à perplexidade da rainha). Dele participaram homens de negócios, especialistas do mercado financeiro (da City), reguladores, professores de economia e membros do governo. Ela desfila uma longa lista de dificuldades e justificativas. Em resumo diz a carta:

1) muitos economistas previram a possibilidade da crise, mas não o momento de sua eclosão. O BIS, entretanto, chamou sistematicamente a atenção dos governos e do mercado para tal risco;

2) apesar da imensidão de analistas (apenas um banco inglês que hoje é do governo tinha um time de 4.000!), os riscos eram considerados isoladamente usando “as melhores mentes matemáticas nacionais e estrangeiras”, mas ignorando uma visão global;

3) apesar dos avisos, a maioria estava convencida de que “os bancos sabiam o que estavam fazendo”. Estavam crentes que o “mercado” mudara. Banqueiros e economistas estavam encantados por ele. Os modelos pareciam prever os pequenos riscos no curto prazo, mas poucos economistas estavam equipados para dizer o que aconteceria se as coisas dessem erradas como deram;

4) havia um consenso que seria melhor lidar com as “bolhas” depois que houvessem ocorrido do que explodi-las preventivamente. Como a inflação permanecia baixa, a taxa de juros foi mantida muito baixa por muito tempo, estimulando a ação dos agentes.

Prometendo um novo Fórum da Academia no futuro, a primeira carta termina dizendo: “Tudo isso, combinado com uma psicologia de rebanho e o mantra dos gurus financeiros e governamentais, conduziu a uma receita perigosa. Pequenos riscos individuais podem ter sido estimados corretamente, mas os riscos (não percebidos) do sistema global eram imensos.”

A segunda carta ratifica essas críticas, mas sugere que “a preferência pelas técnicas matemáticas com relação à substância do mundo real desviou os economistas da análise do todo”. Termina dizendo que o que fez falta foi “uma sabedoria profissional informada por seguros conhecimentos de psicologia, das estruturas institucionais e dos precedentes históricos”.

A mesma discussão se processa no mundo inteiro. Não se trata, entretanto, de abolir a matemática. Pelo contrário, ela é indispensável, mas deve ser combinada com a história, a geografia, a psicologia etc., com inteligência, moderação e respeito à realidade. Esta não é a primeira vez que o desencanto com as promessas da ciência econômica acontece. Já em março de 1892, W. Cunnigham, num artigo publicado no “Economic Journal”, dizia que “se existe uma coisa que mais do que qualquer outra tem imposto sofrimento à economia política (o velho, sério e modesto nome da atual teoria econômica) é o fato que o público formou uma opinião exagerada do que ela pode realmente fazer e, portanto, desapontou-se porque ela não foi capaz de satisfazer tais expectativas”.

A despeito disso é mais do que evidente que o conhecimento econômico é fundamental para uma administração pública que deseje estimular o crescimento com alguma Justiça social e equilibrios interno e externo, e que ignorá-lo tem custos sociais imensos. O exemplo mais claro é a obediência às identidades da Contabilidade Nacional que governos mais sanguíneos tentam frequente e inutilmente violar e pagam caro por isso.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O BRASIL NA FOREIGN POLICY 2009

Final de ano chegando, amanhã já estamos em DEZEMBRO/2009, e começam as famosas listas anuais. Diretamente da revista FOREIGN POLICY - edição de dezembro, os 100 principais intelectuais do mundo, vários deles nossos colegas de ECONOMIA. Encabeçada pelo BEN BERNANKE - CHAIRMAN, FEDERAL RESERVE - WASHINGTON - for staving off a new Great Depression, a lista registra a presença de um brasileiro, o presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, conforme abaixo.

11. Fernando Henrique Cardoso - for calling the war on drugs what it is: a disaster.

Cardoso has never been afraid to ask tough questions. As president of Brazil, he shook the country's huge but lethargic market back to life with tough fiscal policy and pioneering social programs. So it was no surprise this year when, together with fellow Latin American ex-presidents César Gaviria and Ernesto Zedillo, Cardoso took on a new challenge: the U.S.- led war on drugs. "Prohibitionist policies based on eradication, interdiction and criminalization of consumption simply haven't worked," they wrote in the Wall Street Journal.

Cardoso's broadside, laid out in full in a report last February, reinvigorated a moribund debate over the legalization of drugs. He pushed to rebrand the problem as one of global health, rather than mere criminality. And his timing couldn't have been better: Barack Obama once called the drug war an "utter failure," and he seems to prefer treating users to locking them up. The man who called himself Brazil's "accidental" president may have just done more for his country and his region than many of its more deliberate leaders.

Reading list: Alliance: The Inside Story of How Roosevelt, Stalin and Churchill Won One War and Began Another, by Jonathan Fenby; Prisoner of the State, by Zhao Ziyang; Grown up Digital, by Don Tapscott.

Wants to visit: Iran, where I never have been. It is fascinating from a sociological point of view (secularization vs. fundamentalism), from a political point of view (an autocracy with elections), and from the point of view of global affairs, as Iran plays a crucial role in the Middle East.

Gadgets: Twitter and BlackBerry.

domingo, 29 de novembro de 2009

PROJEÇÕES 2009/2010 BRASIL

Relatório de projeções macroeconômicas do grupo SANTANDER registra para 2009 um PIB ZERO, enquanto para 2010 projeta um crescimento de 4,8%.
A conferir.

ECONOMIA, GOVERNO E MERCADO

Alguns colegas gostam de lembrar a este blogueiro que, como defensor do livre mercado, hoje devo reconhecer que o governo salvou o capitalismo.
DISCORDO.
A "mão invisível" de ADAM SMITH - de 1776, continua "invisível" e funcionando. No entanto, é necessário que exista, de fato, governo e que ele mantenha as instituições básicas da economia, além de garantir o direito dos cidadãos. O que o governo NÃO deve fazer é praticar política econômica com finalidade eleitoral.

BRASIL DE PRIMEIRO MUNDO?

Quando leio hoje no jornal O LIBERAL, de Belém do Pará, que um estudo da nossa FGV informa que no PARÁ "95% DAS CASAS NÃO SÃO LIGADAS À REDE DE ESGOTO", ou quando vejo a mensagem do Mestre SINFRÔNIO, lá da nossa Fortaleza, no DIÁRIO DO NORDESTE sobre o "apagão carioca", eu fico a perguntar: AFINAL, que país é este para sediar Copa e Olimpíada? Quando teremos um BRASIL de primeiro mundo? Por que não podemos ser realmente um país com educação e qualidade de vida?

JOSÉ SERRA E O PÓS LULA

Este post vai para o meu colega Vitor Wilher http://www.vitorwilher.com, quando li a pouco na Folha de S. Paulo, na coluna do Gaspari: Felizmente acaba de sair o livro "Retrato de Grupo", comemorativo do 40º aniversário do Cebrap, o centro de pesquisas criado em torno de Fernando Henrique Cardoso. Nele há uma boa entrevista de Serra, dada em julho do ano passado. Ele reclama dos juros caros, do dólar barato, dos gastos do governo e resume uma vaga plataforma econômica:
"Temos de pensar o seguinte: o Brasil deve ter hoje 190 milhões de habitantes, perto disso; daqui a dez anos, teremos dezenas de milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho. O modelo primário exportador, para onde o país está caminhando, não é capaz de gerar empregos com o dinamismo que a oferta de trabalho exige. Ele não vai gerar desenvolvimento sustentado (e sustentável), e o país está caminhando para isso. Então é um grande desafio reinventar o desenvolvimento, como se dizia na linguagem da Cepal, hacia dentro [para dentro], junto com hacia fuera [para fora], porque voltar o desenvolvimento só hacia fuera, que é o que está acontecendo, não vai dar conta dos problemas principais do país".

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

AOS FUMANTES OU NÃO...

Segundo o epidemiologista THOMAS FRIEDEN, o TABACO é a maior causa EVITÁVEL de MORTE no mundo. Neste ano, mais de 5.000.000 de pessoas morrerão por causa do cigarro, um total superior ao que mata a aids, a tuberculose e a malária somadas.
Diante disso, pense bem antes de acender um cigarro, exceto em alguns momentos especiais...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

SOB A LUPA DO ECONOMISTA

Que o blog http://colunas.epoca.globo.com/sobalupadoeconomista/ dos colegas Carlos Eduardo Gonçalves e Mauro Rodrigues, Professores de Economia da USP, hospedado na revista ÉPOCA é daqueles que é um prazer de leitura, isso é fato. Autores do livro SOB A LUPA DO ECONOMISTA, texto que une o útil ao agradável na Economia de maneira divertida, quando da sua leitura observei que o título de um dos textos (e tem cada um melhor do que o outro) "MAIS COMÉRCIO, MENOS PAÍSES", contrariava o que eles tão bem esclareciam no corpo do texto. Pensei até que fosse um tipo de “pegadinha”. Ao comentar o fato na página dos autores, recebi hoje a seguinte postagem:

João,

Não tem nenhuma pegadinha não. Nós erramos mesmo o título do texto. Você está completamente certo; deveria ser “mais comércio, mais países”. Inacreditável como estas coisas passam, mesmo depois de repetidas revisões. Agradeço muito por ter chamado nossa atenção para esse problema. Pediremos à editora faça a correção para eventuais re-impressões.

Grande abraço,

Mauro.

Como é bom tratar com pessoas inteligentes, educadas e sábias. PARABÉNS e que vendam MUITOS livros. Vocês merecem. Afinal, um livro com prefácio do HERÓDOTO BARBEIRO e comentários de MAILSON DA NÓBREGA, GIULIANO GUANDALINI, SÉRGIO LAMUCCI, do sempre lúcido ALEXANDRE SCHWARTSMAN e do Professor SAMUEL PESSOA da nossa FGV RJ, merece ser lido sem contra indicações.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SHAKESPEARE E A ECONOMIA

Por essa eu não esperava: SHAKESPEARE na nossa ECONOMIA. Que o colega GUSTAVO FRANCO está sempre com novidades no prelo, tudo bem. Porém, um livro com o título SHAKESPEARE E A ECONOMIA foi a boa surpresa neste início de semana. Se SHAKESPEARE já era um gênio por toda a sua obra, agora com economia deve permanecer mesmo no OLIMPO ao lado de outros DEUSES.

Livro analisa a economia a partir da vida e obra de William Shakespeare:

E segundo a FOLHA DE S. PAULO, Economia não é a primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa em Shakespeare, mas um novo lançamento está mostrando que a vida e a obra do grande bardo podem servir de suporte para pensarmos sobre a economia e a origem do capitalismo.

"Shakespeare e a Economia" traz dois ensaios de abordagens distintas, porém que se complementam. O primeiro é um texto de 1931 de Henry W. Farlan que analisa os primórdios da economia como ciência a partir das peças do dramaturgo, abordando conceitos como os valores de troca. Revelando que mesmo que o dramaturgo não pensasse a economia como os pensadores modernos, muitos conceitos embrionários já estavam presentes em suas peças.

A obra entrelaça também o aspecto empresarial de Shakespeare com o ensaio do economista Gustavo Franco, que mostra que o dramaturgo não era apenas um bom artista, mas também um empresário de sucesso. Franco também aborda a economia do teatro, a linguagem, as companhias teatrais, sua organização e seus resultados financeiros, além de surpreender o leitor com cálculos que mostram como Shakespeare era dono de uma fortuna considerável.

CÂMBIO ALTO É A SOLUÇÃO?

Recebo dos meus colegas de Economia Politica, um artigo do Márcio G. P. Garcia, PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, publicado no VALOR ECONOMICO e divulgo com os meus quase dois leitores. (www.econ.puc-rio.br/mgarcia)

Afirmou o ministro da Fazenda: "... com um câmbio a R$ 2,60, venceríamos todos. Venceríamos os chineses, a indústria coreana" (O Globo, 18/11/2009, página 21). O tom transcendente em que tal frase foi proferida, em um encontro de industriais, parecia conferir ao câmbio alto (depreciado) status semelhante ao da paz entre os homens ou ao do fim da fome; ninguém poderia ser contra tal objetivo. O câmbio depreciado é mesmo tão bom para a economia brasileira?

Isoladamente, o câmbio depreciado parece ótimo, pois amplia as exportações, a produção, o emprego e os lucros dos exportadores (ainda que esse aumento seja sempre esquecido quando empresários defendem o câmbio alto). O problema é que nada em economia, como na vida, ocorre isoladamente. Há sempre uma miríade de relações de causa e efeito entre variáveis econômicas que podem gerar, e frequentemente geram, resultados indesejáveis a partir de ações bem intencionadas.

Em primeiro lugar, cabe indagar como o governo poderia empurrar a taxa de câmbio para cima. A forma tradicional de desvalorizar a taxa de câmbio é o governo, normalmente via Banco Central (BC), comprar dólares até que o preço da moeda (a taxa de câmbio) suba ao nível pretendido. A contrapartida da compra de dólares pelo BC, que leva à depreciação da taxa de câmbio, é o aumento da base monetária e a diminuição da taxa de juros. Mas, a sistemática de metas para inflação, usada no Brasil, requer que se mantenha a taxa de juros em níveis próximos à meta Selic fixada pelo Copom, sob o risco de elevar a inflação. Assim, para impedir a queda da taxa Selic, com consequente aumento da inflação, o BC esteriliza o aumento da base monetária, via operações contracionistas de mercado aberto (venda de títulos públicos). A esterilização torna a compra de dólares pelo BC muito menos eficiente em desvalorizar o câmbio. Por isso, países que controlam a taxa de câmbio normalmente praticam, ao menos parcialmente, intervenções não-esterilizadas.

O problema é que a prática frequente de intervenções não-esterilizadas não é compatível com nosso regime de política monetária. Será que queremos abrir mão do regime de metas para inflação para voltarmos a um regime de câmbio administrado? Se a proposta for essa é necessário haver ampla discussão, informada por debates técnicos que esclareçam ao público os possíveis efeitos de tal mudança, sobretudo quanto à inflação futura. O que não se pode fazer é escamotear o abandono do sistema de metas de inflação caso se decida por intervenções não-esterilizadas.

Mas, por que a depreciação do câmbio poderia provocar inflação? A resposta pode ser vista por dois ângulos diferentes, mas umbilicalmente interligados: o dos preços e o das quantidades. É intuitivo o efeito que tem a depreciação do câmbio sobre os preços dos bens importados, majorando os preços internos. Menos intuitivo, mas igualmente importante, é o fato de que o câmbio depreciado torna os bens que exportamos, cujos preços são fixados em moeda estrangeira, mais caros em reais. Assim, tais bens também ficam mais caros internamente, como é o caso da carne, do açúcar, da soja e muitos outros.

A ótica das quantidades provê visão alternativa complementar. A depreciação cambial aumenta as exportações e diminui as importações. Ou seja, aumenta o PIB. Isto é desejável, mas até certo ponto. Caso o aumento das exportações leve o PIB para acima da capacidade produtiva da economia, o PIB potencial, a inflação se acelerará. Naturalmente, o PIB potencial também cresce. Mas, o crescimento do PIB potencial depende da taxa de investimento da economia, que, no Brasil, é muito baixa. Além disso, como tem salientado Affonso Celso Pastore, há uma relação muito alta entre importações e investimento. Nos períodos de câmbio apreciado ocorre muita importação de máquinas e equipamentos, fundamentais para a difusão de inovações tecnológicas com impactos positivos sobre a produtividade.

Mas a China não mantém uma taxa de câmbio artificialmente depreciada e é o país que mais cresce no mundo, sem inflação? Por que não podemos fazer o mesmo? Há, certamente, muitas diferenças entre a economia chinesa e a brasileira. Mas, a diferença mais relevante, no que tange à possibilidade de intervir na taxa de câmbio, aumentando as exportações e o crescimento do PIB, sem causar muita inflação, parece ser a elevadíssima taxa de poupança da economia chinesa. Como a taxa de poupança da China é mais do que o dobro da do Brasil, nosso espaço de manobra é muito mais reduzido. Basta olhar o que ocorreu com a Argentina, que tentou fazer política monetária com objetivo de manter o câmbio alto. Voltou a ter sério problema inflacionário, mascarado por estatísticas oficiais manipuladas nas quais ninguém acredita.

O aumento da taxa de poupança da economia brasileira é fundamental, não para podermos interferir no câmbio flutuante, mas para permitir maiores taxas de investimento e crescimento econômico. Para aumentar essa taxa, a maior contribuição que a política econômica poderia dar seria a de reduzir o forte crescimento do dispêndio público. A diminuição do crescimento do gasto público também ajudaria a depreciar a taxa real de câmbio. Infelizmente, desde 2005, o governo deixou de lado qualquer pretensão de controlar seus gastos e abraçou insensato programa de expansão dos gastos públicos de custeio, não havendo mais esperança que tal rumo seja mudado até 2011.

Mas nossos "policy-makers" permanecem sob forte pressão para "resolver" a questão cambial. Algumas medidas, como o IOF sobre entradas de capitais, estão sendo implementadas. Tais medidas não devem ter efeitos substanciais sobre a taxa de câmbio, embora tenham efeitos nocivos sobre o custo de capital das empresas, prejudicando o investimento produtivo. Medidas de liberalização cambial são boas "per se", mas tampouco é claro que, se adotadas, causem significativa depreciação.

A pressão sobre o BC para desvalorizar o câmbio se parece com a do paciente que questiona seu médico: "Dr., sei que estou gordo, tenho vida sedentária, muito estresse, fumo e bebo. Não quero mudar isso. Mas quero um jeito de manter boa saúde." O final desse filme é conhecido. Mudança de médico. Aí é que mora o perigo!

ENTREVISTA COM DELFIM NETTO

A leitura de grandes biografias e entrevistas com pessoas inteligentes estão sempre na minha tela. Por isso, é com satisfação que leio na FOLHA DE S. PAULO de hoje uma entrevista com o Mestre ANTONIO DELFIM NETTO, uma aula de economia, política e ciência.

FOLHA - Em um recente artigo, o senhor tratou o aparelhamento do Estado brasileiro como um defeito comum a todos os governos, não apenas àqueles com DNA sindical, como o atual. O aparelhamento, então, não tem credo ou ideologia?
ANTONIO DELFIM NETTO - Continuo com a convicção de que sindicato mais política é igual à corrupção. Essa fórmula, descoberta no século passado pelo sociólogo alemão Robert Michels, continua válida. Eu só quis dizer que cada governo aparelha a seu modo, por motivos diferentes. Veja o caso de Brasília. Na primeira leva, a cidade recebeu mineiros. Depois vieram maranhenses, alagoanos e paulistas. Agora, sindicalistas. O grande drama desse problema é que ninguém sai, só entra. É isso. Se fizermos uma análise geológica de Brasília, fatiagráfica, notaremos camadas que se superpõem. E qual é a regra do jogo? É a nova camada respeitar cuidadosamente os benefícios recebidos pela que está sendo substituída.

FOLHA - Qual é o efeito desse acúmulo?
DELFIM NETTO - Isso está levando o Estado a uma situação de quase insolvência fiscal. Está armado aí um enrosco da maior gravidade. O problema mais grave é da sustentação do sistema da seguridade social e da Previdência. Não é possível carregar um país onde o salário médio do aposentado do Judiciário é mais de 30 vezes o salário do trabalhador aposentado no INSS. No Legislativo, é 20 vezes; no Executivo, 12 a 14. Uma casta se instalou em Brasília e, com as camadas de aparelhamento, aprofundou essa divergência. Não há controle sobre o serviço público.

FOLHA - Qual é a evidência de que essa situação é insustentável?
DELFIM NETTO - É simples. O Brasil vai ficar velho antes de ficar rico. A população brasileira vai começar a diminuir em 2035 ou 2040. Temos a mais rápida redução da taxa de fertilidade no Ocidente. A situação pode parecer confortável hoje, mas, olhando dez anos à frente, o quadro muda. Há, também sob o ponto de vista da análise demográfica, o risco do câmbio real fora da posição. Se perdurar, essa disfunção vai alterar a estrutura produtiva.
O Brasil, daqui a dez anos, vai ter 250 milhões de habitantes. Vai ter que dar emprego razoável para 140 milhões de pessoas. Se essa gente não receber oportunidades de emprego com remuneração razoável, não tem solução. Esses empregos não virão da agricultura. Só a indústria e os serviços podem dar conta disso. E o câmbio errado destrói esses setores.

FOLHA - Como o governo lida com essas questões?
DELFIM NETTO - Só agora o governo está se mexendo para resolver o problema do câmbio. Mas ainda há aqueles que acham, sem evidência empírica, que não se pode atuar para consertá-lo. Uma imbecilidade. Quanto aos gastos públicos, o comportamento tanto do Executivo como do Congresso é apavorante. Estudo feito pelo competente economista José Roberto Afonso, ligado ao PSDB, aponta que os projetos malucos em tramitação no Congresso, além das maluquices do Executivo, representam uma despesa pública adicional de mais de R$ 100 bilhões por ano.

FOLHA - Mas não é natural aumentar gasto público na crise? Não é disso que se trata a política anticíclica?
DELFIM NETTO - No mundo inteiro a política anticíclica termina quando a demanda privada volta ao nível anterior. Aqui ela continua carregando o custeio depois de terminado o ciclo. No Brasil, política anticíclica nunca é anticíclica.

FOLHA - Mas e o sucesso do país no enfrentamento à crise?
DELFIM NETTO - O país se recuperou mesmo tendo políticas fiscais e monetárias erradas. O diferencial foi o bate-caixa do Lula. O presidente liderou o país ao pedir aos brasileiros que continuassem a consumir. Nenhum economista ousaria fazer isso. Seria considerado um louco heterodoxo. Além disso, o Brasil havia melhorado muito. Na verdade, a Constituição de 1988, apesar de seus exageros, de ter inventado gastos que não cabiam no PIB, criou uma estrutura institucional que está sendo seguida. O Brasil é o país com melhor situação institucional entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China). Somos uma democracia constituída.

FOLHA - E o risco de autoritarismo popular apontado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
DELFIM - O Fernando é um sujeito extremamente inteligente, esperto, e não consegue viver sem um alto protagonismo público. É um provocador enorme. Ele se diverte com esse negócio. As pessoas imaginam que ele está empenhado num estudo sociológico. Que nada. Ele está empenhado numa diversão. E, quando o sujeito responde agressivamente ao Fernando, ele está cumprindo a missão que o Fernando impôs a ele. Esse alerta que ele fez não ajuda em nada.

FOLHA - Por que não ajuda?
DELFIM - Se fosse ele o presidente, teria aceitado o terceiro mandato e destruído a democracia. Essa foi a inteligência do Lula. Resistir a um terceiro mandato a despeito de tudo o que fizeram para que ele aceitasse. Isso faz uma diferença.
Outra injustiça do Fernando é ignorar que o Lula teve um papel decisivo na rápida superação da crise. Nenhum intelectual, nenhuma pessoa que pretenda ter um conhecimento maior de economia teria assumido o risco que o Lula assumiu. Todos pediram para encolher, para pisar no freio. Os banqueiros privados foram os primeiros. O Lula pôs todo o seu patrimônio em risco dizendo: consuma, o desemprego só virá se você não consumir.

FOLHA - Qual é o potencial de transferência de votos do presidente Lula?
DELFIM - A ministra Dilma é uma administradora competente. Quem duvidar disso vai se decepcionar. Mas a transferência de votos não é segura. Tivemos uma prova empírica disso com a última derrota eleitoral da Marta [Suplicy] em São Paulo (nas eleições municipais de 2008). O Lula passeou de mãos dadas com ela duas vezes na cidade, na zona leste. Na segunda vez, trouxe cinco governadores com ele. E qual foi o resultado? Muito pequeno. Talvez no Nordeste você tenha um efeito maior, mas, na verdade, onde conta, do rio Grande para baixo, o poder de transferência parece não valer tanto.

FOLHA - Como o sr. avalia a cautela do governador Serra em se atirar na disputa?
DELFIM - O Serra é sem dúvida um grande administrador, tem ideias próprias que são bastante razoáveis e está fazendo um bom governo. É um competidor muito forte e está se cuidando. Seu problema é que o PSDB não se decidiu. Tem o Aécio nesse processo, que não é só um candidato "redoutable" [temível], mas um agente político eficiente, um centrifugador. Enquanto o PSDB não se decidir, os dois agirão com cuidado.

FOLHA - O que está em jogo nas eleições do ano que vem?
DELFIM - Acho que todos têm que entender, inclusive a Dilma, que o próximo governo não será uma continuação do Lula. O próximo governo terá de enfrentar os problemas do século 21, que embute uma mudança radical na estrutura produtiva. Principalmente na maneira como vamos fornecer energia para o desenvolvimento.

FOLHA - Há 50 anos o sr. publicou "O Problema do Café no Brasil". Como seria recebido hoje um trabalho econômico com a mesma abordagem histórica?
DELFIM - Não seria aceito em lugar nenhum. Hoje estamos controlados por uma matemática bastarda. Há um domínio do brilhantismo, da técnica manipuladora sobre o realismo. Naquele tempo eu usava a matemática de forma moderada. Não havia, como há hoje, nenhum axioma que viola a realidade. Não redigi o artigo com lemas, pois a economia trata de dilemas. A matemática é que trata de lemas.

FOLHA - Como essa visão matemática afeta a análise econômica?
DELFIM - Em novembro de 2008, a rainha [Elizabeth 2ª, do Reino Unido] chegou à London School of Economics e disse: "A única coisa que eu quero saber é o seguinte: há um século os senhores estão aqui estudando. Como é que não previram essa crise?". Vários grupos de professores, então, prepararam respostas a ela. Os neoclássicos detectaram problemas de cálculos, erros em fórmulas. Já aqueles de orientação mais keynesiana disseram simplesmente que os economistas haviam abandonado a economia. Substituíram-na por uma matemática exagerada. Esqueceram a história, esqueceram a filosofia, esqueceram a psicologia, a geografia. É isso mesmo.

FOLHA - O sr. teve um problema de saúde recente. Teve mais sorte com médicos do que com economistas?
DELFIM - Nunca tinha entrado num hospital, nunca tinha feito uma operação. Aos 81 anos, costumo dizer, tive minha primeira experiência. Fiquei dois meses baleado, mas estou bem, estou voltando a trabalhar. Aprendi a respeitar os médicos muito mais do que respeitava. O médico é muito menos ortodoxo do que um economista formado na visão única.

domingo, 22 de novembro de 2009

CALCULANDO A BUSCA NO GOOGLE

JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO, graduado e mestre pela USP, professor de matemática do colégio Santa Cruz, escreve na FOLHA interessante artigo sobre como o GOGLE ordena as buscas.

De acordo com levantamentos recentes, em outubro de 2009 a internet registrou um total de 230 milhões de sites. Nesse oceano de informação, endereços de busca como Google, Yahoo e AltaVista necessitam ordenar os sites de acordo com a sua importância.
Por exemplo, se você digitar no Google a palavra "folha", o primeiro site listado será a Folha Online, e isso não se deve a uma predileção do Google pela Folha Online, mas sim ao fato de que o site é classificado com alto PageRank ou PR, um índice que mede o grau de "importância" da página. O PR é uma medida do número de links direcionados para uma determinada página. O cálculo do PR de um site é um problema essencialmente matemático, como veremos a seguir.
Imaginemos uma web com apenas três sites, A, B e C. Chamaremos de PR(A), PR(B) e PR(C) o PageRank dos sites A, B e C, respectivamente. O Google utiliza a seguinte fórmula para o cálculo do PR de um site X dessa nossa microweb de apenas três sites: PR(X)=0,15+0,85.K, onde K é a soma dos quocientes de PR dos sites que compõem a web (exceto o site X) e dispõem de link indicando X, pelo número de links indicados em cada um desses sites (links para quaisquer sites da web). Entenderemos melhor o uso dessa fórmula através de três exemplos.
No exemplo 1, para o cálculo de PR(A) temos K=0, porque nem B nem C indicam links para o site A. Nesse caso, temos PR(A)=0,15.
No mesmo exemplo 1, PR(B)=0,15+0,85.[PR(A)/1]. No cálculo de PR(B), o valor de K leva em conta apenas PR(A), porque A é o único site que indica link para B; e PR(A) está sendo dividido por 1 porque A faz uma única indicação de link na web. Finalmente, PR(C)=0,15+0,85.[PR(B)/1], por razões análogas ao caso anterior. Para determinar PR(B) e PR(C), basta resolver o sistema de equações, o que resultará PR(B)=0,2775 e PR(C)=0,385875.
Nesse caso, obtivemos PR(A)PR(B)PR(C), o que sugere uma ordenação razoável da importância dos três sites se analisarmos com atenção a configuração dessa web.
No exemplo 2 temos uma configuração de web onde A, B e C têm a mesma importância. O sistema de equações a ser resolvido é: PR(A)=0,15+0,85.[PR(C)/1], PR(B)=0,15+0,85.[PR(A)/1] e PR(C)=0,15+0,85.[PR(B)/1], cuja solução será PR(A)=PR(B)=PR(C)=1, tal qual o esperado.
No exemplo 3, as equações são as seguintes: PR(A)=0,15+0,85.[PR(B)/1], PR(B)=0,15+0,85.[PR(A)/2 +PR(C)/1] e PR(C)=0,15+0,85.[PR(A)/2], cuja solução é: PR(A) 1,1634, PR(B)1,1922 e PR(C)0,6444. O site B tem maior PR porque é apontado pelos outros dois sites, e o site A fica em segundo lugar porque é apontado por B, que é o site de maior PR.
Saindo da nossa microweb de três sites para a web real, com mais de 230 milhões de sites, o calculo do PR de um site por sistemas de equações é absolutamente intratável, mesmo se forem usados supercomputadores. Na web real, a determinação do PR de um site é feita por aproximação usando as mesmas ideias aqui apresentadas, mas através de cálculos iterativos.

ECONOMIA: RESPONSABILIDADE E COOPERAÇÃO

Direto da FOLHA, o colega ANTONIO DELFIM NETTO escreve que “A crise financeira mundial trouxe de volta a lembrança de que o capitalismo, para funcionar adequadamente, não prescinde de um grau elevado de cooperação social nem da confiança entre as pessoas que livremente elegeram esse sistema para viver. Ela reincorporou igualmente a ideia de que não há contradição entre a presença de um Estado forte e a organização dos mercados.
O Estado constitucionalmente regulado precede e sustenta o desenvolvimento dos mercados, cuja dinâmica é alimentada pela liberdade criativa dos indivíduos. Os mercados não sobrevivem nem no Estado absoluto nem no estado de anarquia.
Por definição, o Estado constitucionalmente organizado é o "garante" da atividade econômica, através dos mecanismos dos mercados. É ele que a salva quando o acidente destrói o fator catalítico que a sustenta: a confiança.
O esquecimento dessas verdades explica por que os males produzidos na crise foram absorvidos, neutralizados ou rebatidos de forma tão diferenciada entre os países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, de início, houve muita demora na intervenção do Estado, embora todos soubessem que, a partir do momento em que foi quebrada a confiança no setor financeiro, era apenas questão de tempo o colapso no setor real da economia. Tal hesitação contribuiu para o prolongamento da recessão.
Entre nós, percebeu-se rapidamente que o fenômeno transcendia os aspectos financeiros: o que realmente ameaçava a continuidade do desenvolvimento era a perda da confiança, aquele fator catalítico que sustenta a coesão social e o bom funcionamento da economia real. É fato que o governo Lula vivia um período de estabilidade política e de crescimento econômico bem melhor que seus colegas Bush e Obama, mas isso não diminui os méritos de sua reação à crise desde os primeiros instantes.
O exercício da boa regulação pelas autoridades monetárias manteve o sistema bancário nacional fora das práticas irresponsáveis que destruíram um bom pedaço das instituições financeiras nos países industrializados. Ele foi atingido pelo pânico com a morte súbita do crédito externo e teve que ser socorrido pelo Estado brasileiro, com alguma hesitação, mas seguramente com medidas corretas, que restabeleceram os níveis de confiança necessários para a normalização das linhas de crédito.
O fator decisivo, contudo, que permitiu ao Brasil afastar a recessão mais rapidamente que qualquer outro país foi que não se quebrou a confiança estabelecida entre um governo decididamente indutor e a sociedade (trabalhadores, empresários).”

sábado, 21 de novembro de 2009

O HUMOR NA ECONOMIA AMERICANA

Lá como cá, todos precisamos rir de determinadas situações econômicas e políticas. Com vocês, direto da revista TIME, série "cartoon of the Week".

KRUGMAN: WORLD OUT OF BALANCE

Paul Krugman, Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, venceu o prêmio Nobel de economia em 2008 e registra no The New York Times de 15/11/09 seu artigo MUNDO FORA DE ORDEM. Boa leitura e reflexão.

As viagens internacionais de líderes mundiais em geral servem de gestos simbólicos. Ninguém espera que o presidente Barack Obama volte da China com grandes novos acordos de política econômica ou de qualquer outra coisa.

Esperemos, contudo, que quando as câmeras não estiverem rodando, Obama e seus anfitriões travem alguma conversa franca sobre política monetária, pois o problema do desequilíbrio no comércio internacional está prestes a se tornar substancialmente pior. E, a não ser que a China se corrija, haverá um confronto potencialmente feio adiante.

Uma breve descrição do quadro: a maior parte das moedas do mundo "flutuam" umas contras as outras. Ou seja, seus valores relativos sobem ou descem dependendo das forças de mercado. Isso não necessariamente significa que os governos são totalmente isentos: os países algumas vezes limitam a saída de capitais quando há uma corrida contra sua moeda (como fez a Islândia no ano passado) ou toma medidas para desestimular a entrada de dinheiro quente quando temem que especuladores exagerem em sua avaliação positiva (o que o Brasil está fazendo agora). Atualmente, porém, a maior parte das nações tenta manter o valor de sua moeda alinhado com os fundamentos econômicos de longo prazo.

A China é a grande exceção. Apesar dos enormes superávits comerciais e do desejo de muitos investidores de entrarem nesta economia que cresce rapidamente - as forças que deveriam ter fortalecido o yuan, a moeda da China - as autoridades chinesas mantiveram a moeda persistentemente fraca. Eles fizeram isso principalmente trocando yuans por dólares, acumulado em grandes quantidades.
E nos últimos meses a China executaram uma desvalorização, mantendo o índice do câmbio yuan-dólar fixo enquanto o dólar caía fortemente contra outras importantes moedas. Isso deu aos exportadores uma vantagem competitiva crescente sobre seus rivais, especialmente produtores em outros países em desenvolvimento.
O que torna a política monetária da China especialmente problemática é o estado deprimido da economia mundial. O dinheiro barato e o estímulo fiscal parecem ter evitado uma segunda Grande Depressão. Contudo, as políticas não conseguiram gerar suficiente consumo, público ou privado, para combater o desemprego em massa. E a atual moeda artificialmente fraca na China exacerba o problema, de fato desviando a demanda tão necessária do resto do mundo para os bolsos de exportadores chineses artificialmente competitivos.
Mas por que eu digo que este problema está prestes a piorar? Porque no último ano a verdadeira escala do problema chinês foi mascarada por fatores temporários. Daqui para frente, podemos esperar tanto um aumento do superávit comercial da China quanto do déficit comercial dos EUA.

Esse é o argumento de um novo artigo de Richard Baldwin e Daria Taglioni do Instituto Graduate, Genebra. Eles observam que os desequilíbrios comerciais, tanto o superávit chinês quanto o déficit norte-americano, recentemente estiveram muito menores do que há poucos anos, mas que "essas melhoras globais são em grande parte ilusórias, o efeito colateral transitório do maior colapso comercial que o mundo já viu".

De fato, o mergulho no comércio mundial em 2008-09 foi um recorde e refletiu principalmente o fato do comércio moderno ser dominado por vendas de bens manufaturados duráveis. Diante da crise financeira severa e de sua acompanhante incerteza, tanto os consumidores quanto as corporações adiaram suas compras de tudo o que não fosse imediatamente necessário. Como isso reduziu o déficit comercial americano? A importação de bens como automóveis despencou, assim como algumas exportações dos EUA, mas como entramos na crise importando muito mais do que exportávamos, o efeito líquido foi uma redução da diferença comercial menor.
A crise financeira, contudo, está arrefecendo, e esse processo será revertido. Na semana passada, o relatório comercial dos EUA, mostrou um forte aumento no déficit entre agosto e setembro. E haverá muitos outros relatórios desse tipo.
Tente imaginar: mês após mês, manchetes justapondo os déficits comerciais americanos e os superávits comerciais chineses com o sofrimento de trabalhadores americanos desempregados. Se eu fosse o governo chinês, estaria realmente preocupado com essa perspectiva.
Infelizmente, os chineses não parecem entender: em vez de enfrentarem a necessidade de mudar sua política monetária, eles vêm dando lições aos EUA, dizendo-nos que devemos aumentar a taxa de juros e conter os déficits fiscais - ou seja, tornar nosso problema de desemprego ainda pior.
E tampouco tenho certeza que o governo Obama entende a gravidade da situação. As declarações do governo sobre a política monetária chinesa parecem pro forma , sem sentido de urgência.
Isso precisa mudar. Eu não vejo com maus olhos as oportunidades fotográficas e os banquetes de Obama. Eles fazem parte de seu papel, mas, por trás das cenas, espero que esteja advertindo os chineses que estão jogando um jogo perigoso.

O DÓLAR DO BRADESCO

Relatório do BRADESCO revisa a projeção da taxa de câmbio para R$/US$ 1,60 em até 31/12/09. A confirmar...

O FILME DO ANO JÁ ESTÁ ESCOLHIDO?

E já que postei sobre o filme LULA, O FILHO DO BRASIL, vamos melhorar o nosso sábado com essa beleza de charge, diretamente de FORTALEZA, do nosso DIÁRIO DO NORDESTE, feita por Mestre SINFRÔNIO.

EDUCAÇÃO OU FALTA DE E SUA RELAÇÃO COM POPULARIDADE

ESTE É O NOSSO BRASIL: Uma pesquisa do Instituto Pró-Livro confirma que o brasileiro lê pouco. São 77 milhões de não leitores, dos quais 21 milhões são analfabetos. Já os leitores, que somam 95 milhões, leem, em média, 1,3 livro por ano. Incluídas as obras didáticas e pedagógicas, o número sobe para 4,7 - ainda assim baixo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a população lê, em média, 11 livros por ano. Já os franceses leem sete livros por ano, enquanto na Colômbia, a média é de 2,4 livros por ano.

Por isso não temos surpresa com popularidades superiores a 80%...

LULA, O FILHO DO BRASIL?

A princípio, e por uma questão de princípio, não estou comprando ingresso para assistir, logo que possível, ao filme LULA, O FILHO DO BRASIL. Cearense, lá do interior de IBIAPINA, posso afirmar que conheço razoavelmente o que aconteceu com a trajetória de LULA. E sempre prefiro DRAMA, a uma estória romanceada.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...