quinta-feira, 18 de agosto de 2011

As melhores universidades do mundo.

A universidade Jiao Tong de Shangai, na China, divulgou uma lista com as 500 melhores universidades do mundo. O ranking é feito desde 2003 e leva em conta seis indicadores, entre eles o número de professores e alunos que ganharam prêmios Nobel e outros prêmios em ciências e economia, menções a seus pesquisadores e artigos publicados em jornais científicos. Abaixo as 10 melhores do mundo. Do Brasil, a USP obtém a melhor colocação entre o 102º e 0 150º  


1Harvard UniversityEstados Unidos1100.0
2Stanford UniversityEstados Unidos272.6
3Massachusetts Institute of Technology (MIT)Estados Unidos372.0
4University of California, BerkeleyEstados Unidos471.9
5University of CambridgeReino Unido170.0
6California Institute of TechnologyEstados Unidos564.7
7Princeton UniversityEstados Unidos661.2
8Columbia UniversityEstados Unidos760.4
9University of ChicagoEstados Unidos857.5
10University of OxfordReino Unido256.4

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

7.000.000.000

Até o final deste ano seremos sete bilhões de habitantes neste planeta selvagem. Considerando que em favelas cariocas, subúrbios europeus, tribos africanas ou megalópoles asiáticas, há evidência empírica de alta correlação entre maior escolaridade e menor número de filhos, precisamos estudar somente até determinada hora da noite, senão ficará difícil chegarmos aos 7.000.000.001.  

EUA e a crise.


ANTONIO DELFIM NETTO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre os  EUA e a crise.



Acabam de ser publicadas as estimativas corrigidas do crescimento real do PIB dos EUA (medido a preços constantes de 2005) e que dão uma visão mais realista do que aconteceu à economia americana nos últimos quatro anos (2º trim. 2011/2º trim. 2008).


Ela apenas retornou ao nível em que se encontrava no 2º trimestre de 2007! Há quatro anos o PIB está estagnado. Como a população cresceu, isso significa que o PIB per capita diminuiu. Considerando que em condições normais de pressão e temperatura o PIB real americano cresce à taxa de 2% ao ano, a flutuação dos últimos quatro anos representa qualquer coisa entre 10% e 15% de um PIB anual (mais ou menos um PIB anual do Brasil) que potencialmente deixou de ser produzido pela disfuncionalidade do sistema financeiro.



As consequências sobre o endividamento interno foram importantes. De um lado, pela redução da receita e, de outro, pelo aumento das despesas com o desemprego. Paralelamente, aumentou a desigualdade na distribuição de renda, o que acentuou o mal-estar da sociedade com relação ao presidente Obama.


É cada vez mais evidente que as políticas monetária e fiscal foram incapazes de cooptar a confiança do setor privado, de forma que seus efeitos sobre a recuperação do consumo e ampliação dos investimentos têm sido pífios.


Basta dizer que as empresas não financeiras têm em caixa qualquer coisa como US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões aplicados em papéis do Tesouro americano. Por que não investem? Porque continuam a desconfiar do presidente Obama e não têm certeza de que encontrarão demanda no futuro.



Enquanto isso, o crescimento do consumo é inibido por um desemprego total ou parcial de mais de 25 milhões de pessoas, que continuam assustadas com o comportamento do mercado de trabalho, especialmente na construção civil.


Deveria ser claro que o problema só poderá ser resolvido com um aumento da demanda privada que até agora não tem respondido aos imensos estímulos monetários e fiscais.



A resposta não é "mais do mesmo", mas entender por que não funcionou. Em nossa opinião, porque: 1º) o comportamento de Obama foi hostil com o setor real da economia no início de sua administração; 2º) ele foi submisso e leniente em relação ao setor financeiro, que precisava mesmo ser preservado, mas não os seus agentes mais conspícuos e 3º) gastou o enorme patrimônio político do "we can" com programas necessários, mas discutíveis, em lugar de utilizá-lo cooptando e dando confiança ao setor privado para reduzir o desemprego.


O problema dos EUA não é econômico: é a falta de confiança da sociedade na ação do Executivo e do Legislativo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Taxa de juros.


Neste agitado mundo econômico, a FOLHA DE S. PAULO de hoje traz breve matéria sobre um seminário na Fundação Getúlio Vargas, onde economistas desenvolvimentistas discutiram juros e recomendaram cautela para baixá-los.


Contumazes defensores da redução dos juros, economistas chamados "desenvolvimentistas" dizem que o governo pode aproveitar a crise econômica internacional para baixar taxas, mas que não deve fazê-lo imediatamente.


O professor Yoshiaki Nakano argumenta que ainda há pressões inflacionárias e, por isso, não se pode cortar logo os juros. "Mas [a crise] pode ser uma boa oportunidade", diz.


Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, é preciso agir com cautela, mas acredita que o corte será feito. Não agora, mas em breve.
"Se tiver outra rodada de incentivos nos EUA, haverá nova pressão no câmbio. Como o governo [brasileiro] vai manter uma taxa de juros como essa?", questiona Belluzzo, para quem isso provocaria pressão ainda maior de valorização do real.


Já o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira disse que o governo "não parece que vai resolver isso", referindo-se à valorização do real. "Estão empurrando o problema com a barriga", diz.

Um ajuste fiscal convencional.


Também recebo do Professor Carlos Pio, artigo do FABIO GIAMBIAGI, publicado no O GLOBO de hoje, sobre UM AJUSTE FISCAL CONVENCIONAL.


Divulgados os dados fiscais do primeiro semestre, é uma ocasião propícia para fazer uma análise do ajuste em curso, para avaliar até que ponto ele segue os cânones do que se pretendia implementar por ocasião do anúncio dos cortes em fevereiro ou se, pelo contrário, a realidade está se configurando distinta em relação aos planos oficiais.


Os dados sugerem que a sábia sentença de Churchill, de que "jamais se deve colocar um princípio em pedestal tão alto que não se possa abaixá-lo um pouco para se adaptar às circunstâncias", mais uma vez terá mostrado a sua validade. Recapitulemos o cenário existente no começo do ano: na ocasião, alegava-se que seria necessário um ajustamento fiscal, mas que ele seria diferente dos ajustes praticados em outras ocasiões, por governos associados a uma orientação supostamente mais liberal, uma vez que o investimento não seria cortado.


Havia quatro coisas que causavam certa espécie em tal conjunto de informações. A primeira era o erro de diagnóstico: até as pedras da rua sabem que antes de 1999 não havia ajuste fiscal e os dados da União, no site da STN, no item "Balanço orçamentário", provam que o investimento da União na média dos 4 anos 1999/2002 foi de 0,83% do PIB, contra uma média de 0,74% do PIB nos 4 anos 1995/1998. O mesmo critério, aliás, devido ao colapso do investimento em 2003, mostra que nos primeiros quatro anos do Governo Lula tal variável diminuiu para 0,64% do PIB. Em outras palavras, quem "arrochou" o investimento em relação ao governo anterior foi o Governo Lula I, e não o Governo FHC II.


A segunda causa de perplexidade acerca da racionalidade da retórica pró-ajuste adotada no começo de 2011 era o pano de fundo político. Discursos em defesa de "colocar ordem na casa" são habituais em começo de governo, quando a antiga oposição assume o poder, mas são pouco frequentes na presença de governos de continuidade, como é o caso da administração atual em relação à anterior.


A terceira causa de inadequação lógica na formulação do ajuste era o contexto em que isso se dava. Quadros de ajuste são defensáveis, mesmo se o governo é de continuidade, quando há um fenômeno novo em pauta. Às vezes um governo promete algo e depois se vê em dificuldades para cumprir as promessas, porque o quadro muda. Acontece nas melhores famílias. Nesse caso, basta explicar, pois o cidadão em geral entende que a viabilidade das propostas depende das condições de contexto. Ocorre que o quadro que estávamos vivenciando no começo de 2011 não diferia daquele que era viável imaginar por ocasião da campanha eleitoral de 2010. Cada um pode ter as preferências políticas que quiser, mas precisamos todos respeitar a lógica. Sendo o contexto de 2011, em que se tomaram as medidas, previsível à luz do cenário de dificuldades imaginado por dez entre dez analistas em 2010, de duas uma: ou as promessas de campanha eram viáveis - e nesse caso o ajuste seria desnecessário - ou o ajuste seria necessário, e nesse caso prometeu-se ao eleitorado ano passado um produto que não poderia ser entregue. Diga-se, a bem da verdade, que a mesma crítica cabe também à oposição, com sua proposta de aumentar o salário mínimo para R$600.


A quarta causa de desconforto é em relação ao futuro. O ajuste foi apresentado como uma forma de preservar a saúde fiscal do país para poder acelerar o ritmo de gasto em investimento no futuro. Ora, ou o aumento já contratado do gasto corrente para 2012, devido ao salto do salário mínimo em janeiro do ano que vem, vai fazer do aumento do investimento futuro mais uma promessa inexequível, ou, para que o investimento depois aumente, haverá na virada da esquina uma piora do resultado primário. Nesse caso, porém, o ajuste de 2011 acabaria daqui a cinco meses...


O fato, quando se olha para os números, é que no primeiro semestre as despesas de investimento caíram 5% em termos reais, e as despesas correntes aumentaram 5%, também em termos reais, usando o IPCA como deflator. Não houve corte algum do gasto agregado, que aumentou 4% reais. Estamos diante de um ajuste convencional: mais carga tributária na veia - a receita aumentou 13% reais! - e redução do investimento. Em outros tempos, dir-se-ia, trata-se de um ajuste "nos moldes do FMI"...

Não basta cortar os juros.


Recebo do Professor Carlos Pio, editorial do ESTADÃO de hoje sobre o fato de que NÃO BASTA CORTAR OS JUROS.


Não é tão fácil baixar os juros, teria dito a presidente Dilma Rousseff, na semana passada, numa reação às pressões de empresários, sindicalistas e políticos empenhados em conseguir um afrouxamento da política monetária. Com o agravamento da crise internacional, a campanha se intensificou, reforçada pela voz de alguns analistas. Baixar o custo do dinheiro - este é o argumento - ajudará a manter saudável a economia brasileira, se o mundo rico entrar em nova recessão. Também no governo há quem defenda esse ponto de vista. O recuo da inflação nos últimos dois meses também é lembrado para justificar essa medida. Mas a presidente da República tem-se mostrado cautelosa e empenhada em avançar no esforço para consolidar as contas públicas. Não basta cortar os juros sem cuidar do lado fiscal.


Não há nenhum coro, no entanto, a favor de um tratamento prudente do gasto público. Empresários e seus porta-vozes tocam no assunto de vez em quando, sem muita insistência. Tampouco há notícia de alguma campanha contra subsídios custeados pelo Tesouro. Nem mesmo tem havido protestos contra a concessão de favores a grupos selecionados para ser campeões.


O silêncio é ainda mais profundo nos meios sindicais e políticos, quando se trata de combater o uso imprudente ou mesmo criminoso do dinheiro público. Alguma voz se levanta, ocasionalmente, mas ninguém se dispõe a combater com seriedade e empenho as emendas de interesse pessoal ou paroquial e as propostas de aumento de gastos. Há no Congresso pelo menos 19 dessas propostas em diferentes etapas de tramitação. Quase todas tratam da remuneração de servidores, propondo reajustes, enquadramento funcional, instituição de gratificações, criação de pisos, etc.


Uma das mais perigosas - já aprovada na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados - proporciona um ajuste de 56% ao pessoal do Judiciário. Um projeto desse tipo tem repercussões diretas e indiretas, porque desencadeia reivindicações em todos os níveis da administração.


Ao mesmo tempo, o Executivo se empenha em conseguir a prorrogação, mais uma vez, da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Esse dispositivo tinha um alcance muito maior em sua forma original. Com o tempo, a desvinculação foi limitada, mas o governo ainda tem interesse em mantê-la.


Quanto menos as verbas forem amarradas a determinadas aplicações e transferências, mais o governo poderá usá-las de acordo com as prioridades do momento. Em tese, é mais fácil conferir racionalidade a um orçamento mais flexível. Há muito tempo se reconhece a rigidez do orçamento como um grave problema para a administração fiscal no Brasil. Mas o Executivo terá dificuldade para conseguir a nova prorrogação da DRU. Sua base parlamentar, tão ampla quando fisiológica, tem pouco ou nenhum interesse na racionalização orçamentária.


A presidente e sua equipe econômica terão muita dificuldade para montar para 2012 um orçamento adequado a uma situação de crise internacional. Os problemas já são consideráveis, mesmo sem novos compromissos com gastos improdutivos. Benefícios concedidos ao funcionalismo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda afetam as contas, porque alguns dos ajustes foram planejados para vigorar gradualmente. Neste ano, mesmo sem novos aumentos, a folha salarial supera a de 2010. A elevação continuará em 2012.


Sem a garantia de uma efetiva contenção de gastos, a redução de juros será arriscada. Basear essa decisão nos últimos dados da inflação pode ser muito precipitado, porque a demanda continua vigorosa, como se vê pela expansão do comércio interno e também das importações. O gasto público é um componente importante dessa demanda. O corte de R$ 50 bilhões alardeado pelo governo pouco representa, na prática, em termos de estabilização econômica. A presidente Dilma Rousseff parece conhecer o roteiro mais seguro, mas terá dificuldade para segui-lo, por causa da baixa qualidade de seu apoio parlamentar. O BC cometerá um erro perigoso, se cortar os juros antes de assegurado um avanço na área fiscal.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ideias sombrias by Krugman.


Paul Krugman, no ESTADÃO, e suas ideias sombrias. 

Ser um economista hoje em dia  e basicamente da linha de Keynes via John Kicks que concluiu quando o Lehman faliu que estávamos numa armadilha de liquidez clássica com tudo o que isso implicava – é uma experiência agridoce, muito mais amarga do que doce.

A boa notícia é que o nosso modelo subjacente tem tido um bom desempenho. As taxas de juro se mantiveram baixas apesar dos empréstimos do governo; o “crowding out” (redução dos investimentos privados) tem estado completamente ausente; grandes aumentos da base monetária não provocaram grandes altas inflacionárias.

A má notícia é que os responsáveis pelas políticas no país falharam completamente e parecem determinados a não aprender as lições da experiência, histórica,  ou o que vivenciamos nos últimos anos. Como diz Joe Stiglitz,
Quando a recessão começou falou-se muito e sensatamente que tínhamos aprendido as lições tanto da Grande Depressão como do longo marasmo da economia do Japão. Agora sabemos que não aprendemos uma coisa. Nosso estímulo foi fraco demais, muito rápido e não foi bem planejado. Os bancos não foram obrigados a voltar a emprestar. Nossos líderes tentaram ocultar as fragilidades da economia – talvez por receio de que, se fossem muito honestos a respeito delas, a confiança já frágil da sociedade seria totalmente corroída. Mas agora perdemos essa aposta.  Hoje, a dimensão do problema está tão aparente que  uma nova confiança surgiu:  de que as coisas vão ficar ainda piores, sejam quais forem as medidas adotadas. E uma longa depressão parece ser o cenário mais otimista.

Robert Reich, conversando com pessoas do governo, diz que foi deliberado o foco nas questões erradas, sabendo que eram erradas.
Assim, em vez de lutar por um plano de empregos corajoso, a Casa Branca aparentemente decidiu que era politicamente mais sensato continuar lutando na questão do déficit. A ideia era manter a sociedade concentrada no drama do déficit – convencer as pessoas de que suas dificuldades econômicas atuais tem a ver com o déficit era uma forma de criticar a paralisia de Washington em resolver a situação e então  clamar vitória no caso de qualquer resultado que surgisse do processo de negociação para resolver o problema.  Eles esperam que tudo isso desviasse a atenção do público do fracasso do presidente em fazer alguma coisa para acabar com o alto nível de desemprego e a anemia econômica.

E na Europa, diz Kantoos Economics,  a meta de inflação baixa tornou-se um ícone sagrado mesmo que todas as evidências –incluindo a experiência com o padrão ouro – digam que isso será fatal.
Eu sinceramente espero ter lido os jornais errados e não ter entendido todos esses economistas e comentaristas europeus esbravejando a respeito (ou melhor: que eu estou errado). Mas quando tento ouvir alguma coisa, o que ouço é apenas silêncio – ou então Axel Weber criticando rispidamente Olivier Blanchard. Enquanto isso, os estrategistas políticos e presidentes de bancos centrais europeus estão destruindo um dos mais fascinantes projetos da história da humanidade, a unidade e amizade entre os países da Europa. Isso vai além da depressão. Muito além.

Ainda estou tentando ver o sentido deste fracasso intelectual global. Mas os resultados não estão em questão: estamos fazendo um total imbróglio de um problema passível de solução, com consequências que vão nos assombrar nas próximas décadas.

sábado, 13 de agosto de 2011

Hoje é o dia do Economista.



Parabéns a todos os colegas economistas pela comemoração do nosso dia. Também hoje comemoramos os 60 anos da lei que regulamentou a profissão e estabeleceu a criação dos Conselhos de Economia, o federal e os regionais. Ser economista é uma satisfação pessoal pela oportunidade que temos de melhor conhecer como funciona e caminha a humanidade, além de nos fazer formadores de opinião e defensores de ideias sempre visando o bem-estar da sociedade. Neste ano, na imagem do brilhante e genial MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN, a minha homenagem a todos os colegas que fazem da economia a sua história de vida.  

A crise que foi feita refém.


PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre A CRISE QUE FOI FEITA REFÉM.


A turbulência dos mercados assustou você? Você tem razão em estar com medo. Está claro que a crise econômica que começou em 2008 não acabou, de maneira alguma.


Mas há outra emoção que você deveria sentir: raiva. Pois estamos vendo o que acontece quando pessoas influentes exploram uma crise, em vez de tentar solucioná-la.


Há mais de um ano e meio, temos uma conversa pública que vem sendo dominada por preocupações com o Orçamento e, na maior parte do tempo, ignora o desemprego.


A necessidade supostamente urgente de reduzir deficits vem dominando o discurso a tal ponto que na segunda-feira, em meio a um pânico nos mercados, Obama dedicou a maior parte de suas observações ao deficit, em lugar de tratar do perigo imediato de recessão renovada.


O que tornou isso tão bizarro foi o fato de os mercados estarem assinalando, com a maior clareza possível, que nosso maior problema é o desemprego, e não o deficit.


Imediatamente após um rebaixamento da classificação de crédito dos EUA, algo que supostamente deveria assustar os investidores em títulos do governo, o que aconteceu de fato foi que esses juros mergulharam para níveis baixos recordes.


O que o mercado estava dizendo -quase gritando- era "não estamos preocupados com o deficit, mas com a economia fraca!". Isso porque uma economia fraca significa tanto juros baixos quanto ausência de oportunidades econômicas. 


Como foi que o discurso de Washington passou a ser dominado pela questão errada?


Os republicanos exerceram um papel nisso. Mas nosso discurso não teria se desviado tanto do que interessa se outras pessoas influentes não estivessem ansiosas por mudar de assunto, afastando o discurso da questão dos empregos, mesmo diante de um desemprego de 9%.


Procure a página de opinião de qualquer jornal importante e você provavelmente encontrará algum autoproclamado centrista declarando que não há soluções de curto prazo para essas dificuldades. Quando encontrar, saiba que pessoas desse tipo são a razão principal pela qual estamos em situação tão difícil.


Neste momento, a economia precisa desesperadamente de uma solução de curto prazo. Quando você está sangrando, você quer um médico que enfaixe a ferida, não um que faça sermão sobre a importância de um estilo de vida saudável.


Quando milhões de pessoas jovens, capacitadas e dispostas estão desempregadas e o potencial econômico está sendo desperdiçado no valor de quase US$ 1 trilhão por ano, queremos responsáveis políticos que trabalhem para garantir uma recuperação rápida, e não pessoas que façam sermões sobre a necessidade de sustentabilidade fiscal.


O que envolveria uma resposta real a nossos problemas? Para começar, envolveria mais gastos governamentais, e não menos. Envolveria iniciativas agressivas para reduzir a dívida das famílias. E envolveria um esforço total para fazer a economia avançar outra vez. Claro que os suspeitos de sempre tacharão essas ideias de irresponsáveis. Mas você sabe o que é realmente irresponsável? É sequestrar a discussão sobre a crise, deixando que a economia continue a sangrar.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As contas americanas conferem?

Na FOLHA DE S. PAULO, esclarecedora entrevista com o economista Carlos Pinkusfeld Bastos, da UFRJ, especialista em contas americanas.

Folha - Como analisa a turbulência dos últimos dias?

Carlos Pinkusfeld - Sempre olhei com maior cuidado a situação da Europa que a dos EUA. Como disse Alan Greenspan, ex-presidente do BC americano: ninguém dá calote na própria moeda porque pode imprimi-la. Na Europa, os países precisam se endividar numa moeda que não é a sua, e não há uma autoridade fiscal central garantindo aumento de gastos na recessão.

O problema de confiança nos EUA teve causa política? Certamente. O Partido Republicano levou ao extremo o impasse do teto da dívida. O presidente negociou muito e só conseguiu algo na margem: que o corte orçamentário não recaia sobre Medicaid (programa de saúde para pobres) ou Previdência. Só o Medicare (para idosos) deve ser afetado. Nem Ronald Reagan (1981-89) mexeu nesses programas.

Reagan subiu gastos.

Ele baixou impostos no início, mas voltou atrás. Para reduzir a carga dos mais ricos, aumentou a contribuição previdenciária. Dizem que a dívida americana é quase 100% do PIB, mas a dívida real foi de 56% em 2010, menor que a da Alemanha (87%). Há diferença porque uma reforma de 1983 fez com que a receita da Previdência fosse maior do que a despesa e esse excesso fosse guardado em títulos do governo. Há uma enorme quantidade de títulos que não está na mão do público e não exerce pressão sobre juros, confiança etc.

Não há problema de dívida?

Nem de dívida nem de deficit fiscal, no curto prazo. Os EUA têm dois problemas. O primeiro é político, que é a radicalização de uma direita que há tempos fala em reduzir o tamanho do Estado. A estratégia para isso é a "starve the beast" [mate a besta de fome] -você corta impostos para que surja um buraco nas contas e depois ataca gastos sociais. Os EUA têm carga tributária de 30% do PIB, contra 38% na média dos países ricos. Há espaço para resolver questões estruturais pelo lado do gasto. Mas há uma particularidade que prejudicou a eficiência de políticas contra a crise. Ao contrário do governo federal, os Estados quase não subiram gastos desde 2008: 28 deles impõem limites ao aumento de despesas. O deficit sobe quando a economia desacelera. Aumentou desde 2008 e não há nada puxando o crescimento. A combinação de deficit elevado e falsa percepção de fracasso da política expansionista leva água ao moinho dos falcões fiscais.

Qual é o segundo problema?

O que mais cresce nos EUA são as transferências pessoais, que chegam a 70% do gasto federal. Não é a Previdência, são os gastos com saúde. O custo por pessoa é o maior do mundo. São gastos pouco flexíveis. A reforma original de Obama, que incluía um plano público para concorrer com os privados, iria aumentar as despesas de imediato. Em longo prazo, se servisse para conter a trajetória de gastos, o problema fiscal americano estaria solucionado.

Standard & Poor's não tem credibilidade para avaliar dívida dos EUA

PAUL KRUGMAN é totalmente radical quando o assunto é a avaliação do risco americano. O texto é didático, inteligente e dirime as dúvidas ainda existentes.

Para entender todo o furor em torno da decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de rebaixar os títulos da dívida do governo dos Estados Unidos, é preciso que se leve em consideração duas ideias aparentemente (mas não realmente) contraditórias. A primeira é que os Estados Unidos não são de fato mais aquele país estável e confiável que era no passado. A segunda é que a própria Standard & Poor’s tem ainda menos credibilidade; esta agência é a pior instituição à qual alguém deveria recorrer para receber opiniões sobre as perspectivas do nosso país.

Comecemos pela falta de credibilidade da Standard & Poor’s. Se existe uma única expressão que melhor descreve a decisão da agência de classificação de risco de rebaixar os Estados Unidos, esta palavra é chutzpah (cara de pau) – tradicionalmente definida pelo exemplo do jovem que mata os pais e depois suplica por clemência pelo fato de ser órfão.

O grande déficit orçamentário dos Estados Unidos é, afinal de contas, basicamente o resultado da queda econômica que se seguiu à crise financeira de 2008. E, a Standard & Poor’s, juntamente com as outras agências de classificação de riscos, desempenhou um papel importante no que se refere a provocar aquela crise, ao conceder classificações AAA a papeis lastreados em hipotecas que acabaram se transformando em lixo tóxico.

E a má avaliação não parou aí. É notório o fato de a Standard & Poor’s ter dado ao Lehman Brothers, cujo colapso provocou um pânico global, uma classificação A no mês em que aquele banco faliu. E como foi que a agência de classificação de risco reagiu depois que a instituição financeira de nota A foi à falência? Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.

Então, são essas as pessoas que agora decretam que os Estados Unidos da América não são mais dignos de crédito?

Mas esperem, essa história fica ainda melhor. Antes de rebaixar os papeis da dívida dos Estados Unidos, a Standard & Poor’s enviou um esboço preliminar do seu novo relatório ao Departamento do Tesouro. Os funcionários do departamento identificaram rapidamente um erro de US$ 2 trilhões nos cálculos da Standard & Poor’s. E o erro era daquele tipo que nenhum especialista em orçamento poderia cometer. Após discussões, a Standard & Poor’s admitiu que estava errada – e rebaixou os Estados Unidos assim mesmo, após remover uma parte da sua análise econômica do relatório.

Conforme eu explicarei daqui a pouco, não se deveria dar muito crédito, de qualquer maneira, a tais estimativas de orçamento. Mas o episódio não gera exatamente confiança na avaliação da Standard & Poor’s.

De forma mais geral, as agências de classificação de risco jamais nos proporcionaram qualquer motivo para que nós levássemos a sério as suas avaliações sobre solvência nacional. É verdade que nações que declararam moratória geralmente foram rebaixadas antes que isso acontecesse. Mas em tais casos as agências de classificação de risco estavam simplesmente seguindo os mercados, que já haviam repudiado esses devedores problemáticos.

E, nos casos raros em que as agências de classificação de risco rebaixaram países que, como os Estados Unidos neste momento, ainda gozavam da confiança dos investidores, essa decisão por parte delas se revelou consistentemente equivocada. Vejamos, particularmente, o caso do Japão, que foi rebaixado pela Standard & Poor’s em 2002. Bem, nove anos depois o Japão ainda consegue pegar dinheiro emprestado livremente e a juros módicos. De fato, na última sexta-feira, a taxa de juros sobre os títulos de 10 anos do Japão era de apenas 1%.

Portanto, não existe motivo para levar a sério o rebaixamento dos Estados Unidos ocorrido na sexta-feira passada. As últimas pessoas em cuja avaliação deveríamos confiar são os analistas da Standard & Poor’s.

No entanto, os Estados Unidos têm de fato grandes problemas.

Esses problemas têm muito pouco a ver com a aritmética orçamentária de curto prazo ou mesmo com a de médio prazo. O governo dos Estados Unidos não está tendo problemas para pegar dinheiro emprestado para cobrir a sua dívida atual. É verdade que nós estamos acumulando dívida, sobre a qual teremos que pagar juros. Mas se fizermos de fato as contas, em vez de ficarmos repetindo os números enormes com voz sinistra, descobriremos que até mesmo déficits muito elevados no decorrer dos próximos anos terão um impacto pequeno sobre a sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos.

Não, o que faz com se tenha a impressão de que os Estados Unidos não são confiáveis não é a matemática orçamentária, mas sim a política. E, por favor, não vamos repetir as declarações usuais de que ambos os lados são culpados. Os nossos problemas são quase que inteiramente provocados por um dos lados – eles são causados, especificamente, pelo crescimento de um extremismo de direita que está preparado para criar crises repetidas em vez de ceder um centímetro sequer em relação às suas exigências.

O fato é que, no que se refere à economia básica, os problemas fiscais de longo prazo dos Estados Unidos não devem ser tão difíceis assim de se resolver. É verdade que uma população em processo de envelhecimento e o aumento dos custos dos serviços de saúde provocarão um aumento mais rápido - sob as atuais políticas - dos gastos do que das receitas tributárias. Mas os Estados Unidos têm custos com saúde bem mais elevados do que os de qualquer outra nação desenvolvida, e impostos muito baixos segundo os padrões internacionais. Se nós pudéssemos nos aproximar, ainda que parcialmente, das normas internacionais nessas duas frentes, os nossos problemas orçamentários seriam resolvidos.

Então, por que é que não podemos fazer isso? Porque temos neste país um movimento político poderoso que gritou “comitês da morte” ao se deparar com tentativas modestas de utilização mais efetiva das verbas do Medicare, e que preferiu que nós corrêssemos o risco de uma catástrofe financeira do que concordar com a cobrança de um único centavo em impostos adicionais.

O verdadeiro problema enfrentado pelos Estados Unidos, mesmo em termos puramente fiscais, não é determinar se nós cortaremos um trilhão aqui ou um trilhão ali do nosso déficit. O problema é saber se os extremistas que estão atualmente bloqueando qualquer tipo de política responsável podem ser derrotados e marginalizados.

Uma boa notícia: Prêmio para mestrandos e doutorandos

Atenção colegas de mestrado e doutorado: um prêmio sempre é resultado do bom trabalho realizado. Diante disso, quem desejar ganhar um, please leia a mensagem abaixo:

A ANBIMA (Associação Brasileiro das Entidades dos Mercados e de Capitais) em parceria com o IEPE/CdG (Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças) bonificará com R$60.000,00 em prêmio os autores dos melhores projetos de dissertação de mestrado e tese de doutorado com tema relevante para o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

Para participar, o candidato deve estar matriculado em uma instituição com programa de mestrado ou doutorado dos cursos de Economia, Administração de Empresas ou Direito, reconhecidos pelo MEC e atender as demais condições previstas no Regulamento do Prêmio.

Regulamento: ( http://www.anbima.com.br/mostra.aspx/?id=1000000021 )

Uma bolsa no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para os 2 (dois) melhores projetos de dissertação de mestrado e 1 (uma) bolsa no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para o melhor projeto de tese de doutorado. Além do prêmio em dinheiro, os vencedores receberão um certificado de premiação e poderão ter seus trabalhos publicados pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) caso sejam indicados pela comissão julgadora.

As inscrições tiveram início em 02/05/11 e se encerram em 30/09/11. Página sobre o Prêmio e Inscrição: http://www.anbima.com.br/_aanbima/mcpremio.aspx

A Associação promove o Prêmio ANBIMA de Mercado de Capitais desde 2005, tendo como objetivo fomentar o debate sobre as diretrizes, desempenho e crescimento do mercado de capitais no Brasil por intermédio de trabalhos inéditos.

Para além do vaivém das Bolsas.

O keynesiano LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, hoje na FOLHA DE S. PAULO, comenta sobre as últimas turbulências econômicas.

Incríveis as oscilações de preços nos mercados financeiros nas últimas duas semanas. Depois de um longo movimento de quedas diárias, e que destruiu trilhões de dólares de valor nos três cantos do mundo, estamos agora vivendo um vaivém insensato. Em um dia os preços das ações -no Brasil e no mundo- caem mais de 4%; no dia seguinte, sobem com a mesma intensidade, para em seguida voltar a cair forte.

Essa mesma gangorra acontece com a cotação do franco suíço, do iene japonês e do ouro, ativos vistos pelo mercado como mais seguros do que o dólar americano.

A moeda suíça -uma das mais estáveis do mundo- chegou a se valorizar em mais de 5% em relação ao dólar em um só dia. Mesmo os títulos emitidos pelo Tesouro americano tiveram seus preços flutuando diariamente em níveis também muito acima do padrão histórico.

Isso apesar de serem eles os títulos financeiros de maior liquidez em circulação no mundo e, portanto, difíceis de serem manipulados pelos especuladores.

Vou usar um derivativo que mede a variação dos preços das ações na Bolsa de Nova York -o chamado índice VIX- para dar ao leitor da Folha uma ordem de grandeza da loucura deste período. O VIX, que em tempos normais vale 15 pontos, chegou a mais de 40 nesta semana.

As perguntas que chegam hoje a todos os que ocupam um espaço de reflexão sobre economia e finanças são quase sempre as mesmas: como explicar esse estado de irracionalidade coletiva, e do que depende a volta de um comportamento mais previsível aos mercados?

A causa mais importante de toda essa volatilidade é, sem dúvida nenhuma, a volta do risco de uma nova recessão nos Estados Unidos.

Essa ameaça -que, por vários meses, parecia afastada- voltou com força a partir da divulgação do crescimento do PIB americano no segundo trimestre deste ano e, principalmente, das revisões dos números relativos aos trimestres anteriores.

As estatísticas mostraram a todos duas verdades explosivas: a recessão em 2009 foi mais profunda do que medida anteriormente e o crescimento no início deste ano foi muitíssimo mais fraco do que o que havia sido medido pelo governo americano e por instituições privadas há alguns meses.

O quase pânico que se instalou nos mercados após a divulgação desses dados deveu-se ao reconhecimento de que as medidas que vinham sendo tomadas pelo governo e pelo Fed não estavam sendo suficientes para colocar a maior economia do mundo de volta à rota do crescimento sustentado. Tinha havido uma recuperação ao longo de 2010, mas os números agora revelavam que isso tinha sido apenas um espasmo de crescimento.

Além disso, mesmo os mais fervorosos economistas keynesianos, como eu, sabiam que não existem novos medicamentos a serem ministrados ao paciente. E todos sentiam a frustração de reconhecer que os ensinamentos e os conselhos do velho mestre não estavam funcionando desta vez.

No meio dessa decepção, a crise criada pelo impasse na renegociação do teto da dívida pública americana funcionou como elemento adicional no imaginário já pessimista dos mercados. A recuperação da economia dos Estados Unidos, todos sabem, é um elemento fundamental para que a Europa possa administrar sua própria crise fiscal.

Na medida em que a confiança nesse cenário desaparecia e se transformava em um fantasma recessivo das piores proporções, a crise europeia mudava de dimensão.

Com esse futuro negro à frente, o mercado passou a criar seus próprios monstros. O maior deles foi o mito da fuga dos investidores tanto dos títulos emitidos pelo governo americano como do dólar.

Felizmente, essa ameaça durou apenas um fim de semana, pois na segunda feira seguinte à decisão da agência Standard & Poor's os investidores corriam para comprar esses papéis e a moeda americana.

Com os mercados mais calmos, e bem mais baratos, creio que teremos um período de maior racionalidade à espera de novos dados econômicos que mostrem a economia ainda crescendo e do início de um entendimento no Congresso americano sobre a questão fiscal nos EUA.

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