A psicanálise foi criada e fundada por S.Freud no fim do século
XIX e começo do século XX, após a publicação do livro a Interpretação dos
Sonhos. Depois de sua experiência com a técnica de ab-reação e da hipnose,
Freud expandiu seus trabalhos de pesquisa sobre o funcionamento da mente
humana, e criou a técnica da “associação livre”, ou seja, o analisando falaria
tudo o que lhe viesse à mente e o analista o escutaria numa atitude de “atenção
flutuante”(ouvir sem intenção pré-concebida). Essa técnica tem como elementos
de observação, a transferência, a associação livre e a interpretação dos
sonhos. Sonhos sonhados durante a noite, e sonhos (devaneios e atividade
imaginativa) diurnos, não pensados.
Dois fatos marcantes ocuparam Freud durante suas pesquisas: primeiro
o sonhar, a atividade onírica. Freud descobre sua importância a partir dos
sonhos de seus pacientes, e principalmente dos próprios sonhos. Esse fato leva
o pai da psicanálise a fazer a análise dos seus sonhos, a auto-análise, e
aprofundar a interpretação dos sonhos de seus analisandos. Com isso, estava se
abrindo outro vértice de sua pesquisa - a análise da pessoa do psicanalista.
Como segundo fato, surge na experiência analítica um fenômeno chamado –
transferência - ou seja, afetos e desejos projetados na figura do analista pelo
analisando. Logo a seguir a contraparte na pessoa do analista – a
contratransferência. Isso fala da importância novamente, da pessoa do
psicanalista. Porque enfatizo isso?
Porque daí em diante, Freud percebe a importância da “análise do
psicanalista” como meio de apurar sua capacidade de observação. Quanto mais um
analista fizer análise pessoal, mais terá condições de discriminar e não
misturar seus conflitos com os dos seus analisandos, além de sofisticar a sua
capacidade de observação da realidade psíquica. Com essa descoberta, Freud
passar a exigir na formação de um psicanalista, que o mesmo faça com um colega
mais experiente, pelo menos cinco anos de análise pessoal em sua formação, e de
tempos em tempos volte à sua análise. Essa é uma exigência formal nos
Institutos de Psicanálise filiados à Associação Internacional de Psicanálise, com sede em Londres. Para algumas escolas ditas “de
psicanálise”, a análise do psicanalista é tida como coisa secundária e o peso
recai sobre a formação teórica e técnica. Desse modo, não se preocupa com a
pessoa do psicanalista e sua saúde mental. Como analisar outras mentes sem
cuidar da sua própria! Os psicanalistas são humanos, têm conflitos,
preconceitos, atitudes moralistas e julgadoras, aspectos que jamais podem
influir em suas análises. Caso contrário, estarão “fazendo a cabeça dos
outros”, professando “suas crenças e preconceitos”, e não sendo objetivos,
livres, criativos e respeitosos com seus analisandos. Se for uma profissão que
exige uma ética sem “moralismo”, “racismos”, “fundamentalismos”, ou o “ismo”
que queira, é a profissão de psicanalista. O psicanalista não pode julgar, dar
conselhos morais e educacionais, emitir juízo de valor, caso contrário – a
liberdade para se conhecer e ser si mesmo – jamais acontecerá com seu cliente.
Freud quando largou a técnica da hipnose, estava renunciando o “suposto poder”
que o analista teria sobre a outra pessoa!
Psicanalista, ainda que seja humano e “filho de Deus” está vetado
em atitudes moralistas. Sua função primordial é pensar as experiências
emocionais não pensadas dos seus clientes, e assim, fazê-los conhecer melhor
seus conflitos e minorar, desse modo, a angústia de viver.Freud fugiu do
nazismo; enfrentou experiências dolorosas por mostrar a importância da
sexualidade nos conflitos psíquicos; combateu o preconceito contra os Judeus;
frisou sempre que a liberdade de pensar e sentir era um caminho para a saúde
mental e mostrou, principalmente, que a destrutividade humana é a raiz de todos
os males mentais. Por todos esses motivos e preocupações, ele tinha uma atitude
firme na formação de um psicanalista – a necessidade de sua análise pessoal –
para evitar efeitos maléficos na pessoa de seus analisandos.
O que quero enfatizar hoje, prezados leitores, é que a Psicanálise
só se desenvolve, e isso está sendo feito sempre, se o crescimento mental e a
saúde mental dos psicanalistas forem cuidados, sempre. Cabe aos Institutos de
Psicanálise essa função: cuidar dos seus alunos e futuros analistas para que
sua prática e sua pessoa não sejam comprometidas. A psicanálise oferece um
serviço de atendimento social, e como tal, faz parte e tem como finalidade,
proporcionar o crescimento psíquico das pessoas.
Carlos de Almeida Vieira - psicanalista e psiquiatra
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