quinta-feira, 14 de outubro de 2010

POR QUE OS EUA VÃO GANHAR ESSA GUERRA

No VALOR ECONÔMICO, Martin Wolf, editor e principal comentarista econômico do FINANCIAL TIMES, comenta sobre o assunto do momento: a cotação do dólar. Como aqui não é o twitter, é possível postar texto um pouco mais longo.

As moedas dominaram as discussões nos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) neste ano. Mais precisamente, duas moedas o fizeram: o dólar e o yuan, a primeira por ser considerada desvalorizada demais e a última por ser considerada inflexível. Mas, por trás da briga, há um grande desafio: como administrar melhor o ajuste da economia mundial.

Em sua apresentação do novo Panorama Econômico Mundial, Olivier Blanchard, assessor econômico do FMI, declara: "Alcançar uma "recuperação mundial sustentável, equilibrada e forte" - para citar a meta traçada em Pittsburgh pelo G-20 - não era para ser algo fácil. Exige duas ações de reequilíbrio econômico fundamentais e difíceis."

A primeira é o reequilíbrio interno - que os países avançados voltem a depender da demanda privada e que ocorra a diminuição dos déficits fiscais abertos com a crise. A segunda é o reequilíbrio externo - que os Estados Unidos e alguns outros países avançados dependam mais das exportações líquidas e que alguns países emergentes, mais notavelmente a China, dependam mais da demanda doméstica. Infelizmente, conclui o professor Blanchard, "essas duas ações de reequilíbrio vêm ocorrendo de forma muito lenta".

Podemos considerar esse reequilíbrio em duas dimensões. Primeira, os países avançados precisam desalavancar seus setores privados na jornada em direção ao que Mohamed El-Erian, da empresa de investimentos Pimco, chamou de "o novo normal", em sua palestra na fundação Per Jacobsson. Segunda, as taxas de câmbio reais das economias com posições externas robustas, fortes oportunidades de investimento ou ambas as coisas, precisam valorizar-se, com a expansão da demanda doméstica compensando o consequente obstáculo às exportações líquidas.

Sem meias palavras, os EUA querem inflacionar o resto do mundo, enquanto o resto do mundo tenta deflacionar os EUA. Os EUA deverão ganhar, já que possuem munição infinita: não há limite para os dólares que o Federal Reserve pode criar. O que precisa ser discutido são os termos da rendição mundial: as mudanças necessárias nas taxas de câmbio nominais e das políticas domésticas por todo o mundo.

Se você desejar entender até que ponto a política dos EUA pode tornar-se agressiva, leia um recente discurso de William Dudley, presidente do Fed regional de Nova York. Ele destaca que "nos últimos trimestres, o ritmo de crescimento vem sendo decepcionante mesmo em relação a nossas expectativas mais modestas no início do ano". Por trás disso está a desalavancagem das famílias dos EUA, em particular. Portanto, o que a política monetária pode fazer a respeito? Sua resposta é que "taxas de juros muito baixas podem ajudar a suavizar o processo de ajuste ao respaldar o valor dos ativos, inclusive deixando as residências mais acessíveis e permitindo que alguns captadores reduzam os pagamentos de juros das dívidas. Além disso, (..) até quando a política monetária puder "cortar a cauda" da distribuição de possíveis resultados econômicos adversos (...) poderá ajudar a encorajar essas famílias e empresas com dinheiro para gastar a fazê-lo".

Em resumo, as autoridades monetárias dos EUA farão o que for necessário para evitar a deflação. De fato, o Fed prosseguirá até que os EUA estejam satisfatoriamente "reflacionados". O que esses esforços farão para o resto do mundo não é motivo de preocupação para eles.

As consequências globais são evidentes: a política monetária elevará os preços dos ativos de longo prazo e encorajará o capital a fluir para países com políticas monetárias menos expansionistas (como a Suíça) ou com maiores retornos (como as economias emergentes). É isso que está acontecendo. O Instituto Internacional de Finanças (IIF), cuja sede fica em Washington, prevê entrada líquida de capital externo nas economias emergentes de mais de US$ 800 bilhões em 2010 e 2011. Também prevê intervenções maciças dos recipientes de capital, embora em ritmo declinante.

Os recipientes da entrada de capital, sejam países emergentes ou avançados, deparam-se com escolhas incômodas: deixar a taxa de câmbio valorizar e, portanto, prejudicar a competitividade externa; intervir nos mercados cambiais e, portanto, acumular dólares indesejados, ameaçando a estabilidade monetária doméstica e prejudicando a competitividade externa; ou restringir a entrada de capital, via impostos e controles. Historicamente, os governos escolheram combinações dessas três opções. Desta vez, também será esse o caso.

Naturalmente, é possível imaginar uma rota oposta. De fato, a China opõe-se aos imensos déficits fiscais dos EUA e políticas monetárias não convencionais. A China também está determinada a manter a inflação baixa e limitar a valorização de sua moeda. A implicação dessa política é clara: os ajustes nas taxas de câmbio reais deverão ocorrer via queda dos preços domésticos dos EUA. A China quer impor um ajuste deflacionário nos EUA, assim como a Alemanha está fazendo com a Grécia. Isso não vai ocorrer. Nem seria do interesse da China que ocorresse. Como credor, gozaria de um aumento no valor real do que reivindica dos EUA. Mas a deflação dos EUA ameaçaria uma depressão mundial.

O professor Blanchard está evidentemente certo: os ajustes pela frente serão muitos difíceis; e mal começaram. Em vez de uma cooperação nos ajustes das taxas de câmbio e das contas externas, os EUA estão buscando impor sua vontade, via impressão de dinheiro. Os EUA vão ganhar a guerra de uma forma ou de outra: ou inflacionarão o resto do mundo ou obrigarão que suas taxas de câmbio nominal subam em relação ao dólar. Infelizmente, o impacto também será desordenado, com as economias menos protegidas (como Brasil ou África do Sul) sendo obrigadas a ajustar-se e as outras, protegidas por controles de câmbio (como a China), conseguindo administrar melhor esse ajuste.

Seria muito melhor para todos buscar um resultado cooperativo. Talvez os líderes do Grupo dos 20 até sejam capazes de usar seu "processo de avaliação mútua" para alcançar exatamente isso. Quanto à vontade de fazer o necessário, há muitas dúvidas. Na pior fase da crise, os líderes se uniram, pendurando-se juntos. Agora, o Fed está se preparando para pendurá-los separadamente.

POLÍTICA COM HUMOR EM 2010?

Nesta época de eleições, cuidado para não sujar sua vida. Direto de Fortaleza, o Mestre SINFRÔNIO mostra o Brasil que a maioria não vê.

A POLÍTICA ECONÔMICA DO NOVO GOVERNO.

Carlos Francisco Ribeiro de Lessa, professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ, foi presidente do BNDES e hoje na FOLHA DE S. PAULO escreve sobre a política econômica do novo presidente.

O primeiro turno das eleições não permitiu perceber, com nitidez, qual seria a política econômica que daria sustentação a um projeto brasileiro. Temos, agora, pouco mais de vinte dias para tentar perceber as diferenças político-econômicas dos dois candidates à presidência.

A candidata da continuidade fez a exaltação sistemática dos feitos do governo Lula e prometeu continuar - e mesmo ampliar - os programas estritamente sociais, e enfrentar os temas da educação, saúde e segurança. Fez, de modo parcelado, referências a ferrovias que incluem o trem-bala. Não ouvi referências à reordenação da infraestrutura brasileira e, pelas promessas, a candidata parece fazer repousar na moradia popular o principal e - praticamente único - programa voltado para as redes metropolitanas e urbanas. Li que a candidata, antes do início da disputa, declarou que o Brasil necessitava "de um choque de capitalismo". Se o objetivo é gerar mais empregos de melhor qualidade e renda, estaria (?) atrás da ideia de "choque" uma significativa mudança político-econômica.

Sei que o presidente Lula acompanhou de perto o ingresso do dr. Meirelles no PMDB e houve uma forte campanha para que o PMDB indicasse o nome de Meirelles para vice-presidente. Quando Meirelles abriu mão da candidatura a governador de Goiás, disse que o presidente lhe havia solicitado a permanência no comando da política econômica. Fontes me informam que há um programa de governo em elaboração no PMDB, por um grupo que integra, entre outros, Meirelles e Delfim Netto. Sei que, quando da última viagem aos EUA, Meirelles afirmou que tudo permaneceria como antes e um importante banqueiro declarou que, no caminho certo que o Brasil seguiria, alterações cambiais fariam pouca importância. Dado o silêncio da candidata sobre a política econômica (posso crer que quem cala consente), manteremos a âncora cambial para o processo inflacionário e seguiremos praticando juros primários hiperelevados.

A equação brasileira acumula dólares em busca de uma rentabilidade anual garantida em 11,85% em papel pré-fixado do Tesouro brasileiro com vencimento em 2021. O nosso Banco Central aplica a maior parcela das reservas internacionais brasileira em títulos do Tesouro americano, com vencimento em 2021. É uma brincadeira de mau gosto a decisão de elevar o IOF sobre investimentos externos em renda fixa de 2% para 4%. A continuidade político-econômica levará o Brasil a um crescimento medíocre; apenas uns poucos setores - bancos e instituições do mercado financeiro, bem como concessionários de serviços públicos, com tarifa indexada - terão rentabilidade espetacular.

Os brasileiros endividados pagam mais juros do que a própria prestação. Segundo estudo do Banco Central, as famílias já gastam 13,3% do salário com o pagamento de juros e apenas 10,1% com a dívida principal.

O ponto de inovação mais surpreendente está no destino do pré-sal que, para a candidata, gerará as exportações necessárias "para que a transição do Brasil para uma era cuja economia e produção industrial sejam baseadas na baixa emissão de carbono". Meu espanto decorre de o presidente Lula haver afirmado que "o Brasil não será exportador de óleo cru".

O projeto brasileiro não é nacional e propõe ampliar, pelo produto geopoliticamente mais perigoso - o petróleo -, a densidade das exportações brasileiras. Assim sendo, é de se supor que a globalização, com o real cada vez mais valorizado, irá atrofiar atividades produtivas internas. É de se supor que, para o Nordeste, serão multiplicadas as termelétricas e será confirmada a política de intensificar vendas financiadas de carros bebedores de petróleo e derivados.

O outro candidato também não perfilou que política econômica pretende, nem qual é o seu projeto nacional de desenvolvimento. Ele sabe que o Brasil pode crescer muito mais e de forma sustentada. Certamente, podem ser afastados os riscos de apagões e é possível estimular o mercado interno para produtores instalados no Brasil, se for modificada a política cambial. Porém, o candidate, até agora, pouco falou sobre política econômica. Em um relâmpago de lucidez, afirmou ser contrário à autonomia do Banco Central, porém fez silêncio sobre o que é óbvio: com a massa de juros que o governo federal paga, é impossível tocar para a frente, no tamanho e ritmo necessários, a infraestrutura bem como promover a elevação da qualidade de ensino, saúde e segurança.

Na eleição presidencial anterior, em que Lula derrotou Alckmin, foram realizados dois longos debates na TV. Resumindo o conteúdo, foi algo assim: o tema educação era muito importante para os dois candidatos, Lula disse que recebeu uma condição deteriorada e Alckmin falou maravilhas do que estava sendo feito em São Paulo. Nada de realmente importante foi colocado nos dois debates esterilizados daquele segundo turno.

Espero que agora, ao contrário do que ocorreu, os dois candidatos construam e divulguem proposições mais sólidas. Afinal, a crise mundial está aí e, provavelmente, terá ressurgências. A taxa de investimento macroeconômica (18% do PIB) é ridícula; se o Brasil quiser crescer modestos 5%.a.a, necessita de uma taxa de 22% e duplicação dos gastos de investimento público. A pauta que os brasileiros esperam é o que os candidatos propõem como projeto nacional e que ajustes deverão ser realizados na política econômica. Creio que a candidata Marina conseguiu seu surpreendentes 20% com um discurso muito suave em que afirmava que é necessário pensar um projeto global para o Brasil.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

THE PRIZE IN ECONOMIC SCIENCES 2010.

11 October 2010

The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel for 2010 to

Peter A. Diamond - Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, MA, USA,
Dale T. Mortensen – Northwestern University, Evanston, IL, USA

And Christopher A. Pissarides London School of Economics and Political Science, UK

"for their analysis of markets with search frictions"

Markets with search costs

Why are so many people unemployed at the same time that there are a large number of job openings? How can economic policy affect unemployment? This year's Laureates have developed a theory which can be used to answer these questions. This theory is also applicable to markets other than the labor market.

On many markets, buyers and sellers do not always make contact with one another immediately. This concerns, for example, employers who are looking for employees and workers who are trying to find jobs. Since the search process requires time and resources, it creates frictions in the market. On such search markets, the demands of some buyers will not be met, while some sellers cannot sell as much as they would wish. Simultaneously, there are both job vacancies and unemployment on the labor market.

This year's three Laureates have formulated a theoretical framework for search markets. Peter Diamond has analyzed the foundations of search markets. Dale Mortensen and Christopher Pissarides have expanded the theory and have applied it to the labor market. The Laureates' models help us understand the ways in which unemployment, job vacancies, and wages are affected by regulation and economic policy. This may refer to benefit levels in unemployment insurance or rules in regard to hiring and firing. One conclusion is that more generous unemployment benefits give rise to higher unemployment and longer search times.

Search theory has been applied to many other areas in addition to the labor market. This includes, in particular, the housing market. The number of homes for sale varies over time, as does the time it takes for a house to find a buyer and the parties to agree on the price. Search theory has also been used to study questions related to monetary theory, public economics, financial economics, regional economics, and family economics.


Peter A. Diamond, US citizen. Born 1940 in New York City, NY, USA. Ph.D. 1963, Institute Professor and Professor of Economics, all at Massachusetts Institute of Technology (MIT), Cambridge, MA, USA.

http://econ-www.mit.edu/faculty/pdiamond

Dale T. Mortensen, US citizen. Born 1939 in Enterprise, OR, USA. Ph.D. 1967 from Carnegie Mellon University, Pittsburgh, PA, USA. Ida C. Cook Professor of Economics at Northwestern University, Evanston, IL, USA

http://faculty.wcas.northwestern.edu/~dtmort

Christopher A. Pissarides, British and Cypriot citizen. Born 1948 in Nicosia, Cyprus. Ph.D. 1973, Professor of Economics and Norman Sosnow Chair in Economics, all at London School of Economics and Political Science, UK

http://personal.lse.ac.uk/pissarid

NOBEL DE ECONOMIA 2010

Os professores americanos Peter Diamond e Dale T. Mortensen e o britânico-cipriota Christopher Pissarides são os ganhadores do Nobel de Economia de 2010, segundo anunciou nesta segunda-feira, em Estocolmo, a Academia Sueca de Ciências.

Os três economistas foram premiados pela elaboração de uma teoria abrangente que estuda os efeitos negativos ligados às atuais altas taxas de desemprego, marca da crise econômica, segundo a Academia.

Os estudos focam nos chamados "search markets" (mercados de busca), como o mercado de trabalho, nos quais é necessário empregar tempo e recursos econômicos para que se encontrem oferta e demanda.

Isso cria "atritos" na busca, que se traduzem em trabalhadores parados, insatisfeitos e sem renda, o que também afeta negativamente as empresas.

A teoria dos três economistas é "extremamente útil" para que sejam desenvolvidas as políticas econômicas, e para explicar problemas em microeconomia, consumo das famílias e questões do mercado imobiliário, segundo a Academia.

"As atuais taxas de desemprego são um grande problema em termos de política econômica. Os modelos tradicionais não encaixavam bem com a nova realidade" derivada da crise, explicou o professor Pissarides, que desenvolve sua atividade na London School of Economics and Political Science, no Reino Unido.

Diamond é professor de Economia no Instituto de Tecnologia de Massachussets (Estados Unidos), enquanto Mortensen trabalha na Northwestern University (EUA).

Com o anúncio do Nobel de Economia, foram finalizadas hoje as nomeações dos prêmios de mais prestígio. Todos serão entregues em 10 de dezembro, em cerimônias paralelas em Estocolmo -- para os correspondentes ao âmbito cientista, econômico e de Literatura -- e em Oslo -- Nobel da Paz.

Cada um dos prêmios é dotado de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,5 milhão).

Na última segunda-feira (6), foi anunciado o britânico Robert G. Edwards como o agraciado do prêmio de Medicina; ao que seguiu o de Física, na terça-feira, partilhado pelos russos Andre Geim e Konstantin Novoselov.

Na quarta-feira, o Nobel de Química foi anunciado para o americano Richard Heck e os japoneses Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki. Um dia depois, o peruano Mario Vargas Llosa foi nomeado para o prêmio de Literatura.

O Nobel da Paz ficará a cargo do dissidente chinês Liu Xiaobo, que está preso.

Fonte: FOLHA DE S. PAULO.

sábado, 9 de outubro de 2010

GUERRA CAMBIAL?

Nesta semana, o FINANCIAL TIMES alertou que a guerra cambial é ameaça que não deve ser tratada levianamente. Abaixo o texto publicado, onde é citado criticamente o ministro GUIDO MANTEGA.

Depois de uma série de intervenções cujo objetivo era segurar o valor das moedas, as autoridades econômicas expressaram temores de uma perigosa corrida de baixa na política cambial. É uma ameaça que não deveria ser tratada levianamente.
A guerra cambial ainda não irrompeu, ao contrário do que disse o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, na semana passada.
As intervenções de Japão, Coreia do Sul, Suíça e Taiwan ao longo dos últimos 12 meses foram modestas. Mas a probabilidade de que as ações sejam renovadas não deveria ser desconsiderada.
Não surpreende que países tentem estimular suas exportações. Mas, da perspectiva global, é contraproducente. Todos os países não podem resolver seus problemas econômicos simultaneamente por meio de exportações.
A perspectiva de nova rodada de relaxamento quantitativo nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que geraria pressão de baixa sobre suas moedas, reforçou as tensões.
O fluxo de liquidez excedente em direção aos mercados emergentes pressionaria as taxas de câmbio dos países destinatários.
Não é inconcebível que o resultado seja um círculo vicioso de reduções de taxas de câmbio para derrotar as moedas de outros países.
Caso isso venha a ocorrer, a culpa caberá em medida considerável à China. Como comprovam suas reservas cambiais de quase US$ 2,5 trilhões, Pequim intervém em escala muito maior que qualquer outro governo.
Como maior exportador mundial de bens industrializados, as ações da China têm grande impacto sobre os padrões mundiais de comércio.
Reequilibrar a economia mundial decerto requereria mais que uma flutuação mais livre do yuan. Os superavit comerciais chineses têm outras causas importantes, como baixos salários e elevado índice de poupança.
As taxas de câmbio oferecem solução apenas parcial. Mesmo assim, é melhor que a guerra falsa do câmbio não se torne conflito real.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

BRASIL 2010: ELEIÇÃO SEM EDUCAÇÃO.

A jovem democracia brasileira festejou em 03/10/2010 eleições gerais para presidente da república, dois senadores, deputados federais, estaduais e distritais. Após uma campanha onde as propostas dos candidatos deram lugar a discussões estéreis, o eleitor foi constrangido a votar em candidatos fabricados pelo marketing político, ao invés de fazer sua escolha por ideias e por planos de governo realistas.
Um total de quase 136 milhões de eleitores votou em seus candidatos e um segundo turno não esperado pelo governo afinal realizou-se, onde a candidata governista Dilma Rousseff (PT) obteve 46,91% dos votos válidos, tendo agora que enfrentar o oposicionista José Serra (PSDB) e seus 32,61% de votos. A sociedade brasileira espera agora que os graves problemas que existem no Brasil sejam afinal debatidos e enfrentados pelo vencedor ou vencedora na eleição que ocorrerá no próximo dia 31/10/2010.
Na realidade, favorecida pela enorme popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelos bons resultados apresentados nas pesquisas eleitorais, a campanha da concorrente Dilma Rousseff de certa maneira sentiu-se vencedora antecipadamente à abertura das urnas e não observou o crescimento da aspirante presidencial Marina Silva (PV), o que levou um enorme número de jovens eleitores, defensores do meio ambiente e de crescimento com sustentabilidade a sufragarem seu nome nas urnas. Em longa entrevista publicada na última edição da The Economist, o próprio presidente Lula disse que acreditava na vitória de Dilma Rousseff e que a mesma surpreenderá o mundo quando chegar ao poder.
Herdeiro e mantenedor da política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula surfou durante o período de 2002 a 2010 nos bons ventos da economia mundial, conservando políticas que atenuaram no país os efeitos da crise mundial de 2008. E para melhorar ainda mais os números da contabilidade nacional, consegue passar para a população que o Brasil encontra-se com total equilíbrio em suas contas, quando, pelo contrário, os gastos do governo aumentaram de 14% em 2003 para 18% em 2009, em proporção do PIB, o que está colaborando para o aumento da dívida pública e um déficit nas transações correntes para 2010 de quase US$ 50 bilhões.
O mundo real é muito diferente da visão desejada pelo governo, apesar dos avanços sociais que a sociedade brasileira conseguiu nestes últimos 16 anos. No entanto, como escreveu Claudio de Moura e Castro, especialista em educação, “a péssima qualidade da educação é marca registrada do Brasil desde sempre.” Como um país deseja pertencer ao primeiro mundo, se entre suas universidades nenhuma figura na lista das melhores do mundo? A educação é o principal problema da sociedade brasileira e enquanto os governos de ontem e hoje não tiverem isso como a meta principal a ser atingida, teremos um grande país, um dos maiores mercados de consumo do mundo, porém uma população que tem um dos maiores índices de desigualdade do mundo, onde temos regiões com padrão nórdico e outras quase haitianas. Será que os nossos candidatos terão vontade política de colocar a educação como a sua principal bandeira de campanha?

BRASIL 2010: ELEIÇÃO SEM EDUCAÇÃO.

A jovem democracia brasileira festejou em 03/10/2010 eleições gerais para presidente da república, dois senadores, deputados federais, estaduais e distritais. Após uma campanha onde as propostas dos candidatos deram lugar a discussões estéreis, o eleitor foi constrangido a votar em candidatos fabricados pelo marketing político, ao invés de fazer sua escolha por ideias e por planos de governo realistas.
Um total de quase 136 milhões de eleitores votou em seus candidatos e um segundo turno não esperado pelo governo afinal realizou-se, onde a candidata governista Dilma Rousseff (PT) obteve 46,91% dos votos válidos, tendo agora que enfrentar o oposicionista José Serra (PSDB) e seus 32,61% de votos. A sociedade brasileira espera agora que os graves problemas que existem no Brasil sejam afinal debatidos e enfrentados pelo vencedor ou vencedora na eleição que ocorrerá no próximo dia 31/10/2010.
Na realidade, favorecida pela enorme popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelos bons resultados apresentados nas pesquisas eleitorais, a campanha da concorrente Dilma Rousseff de certa maneira sentiu-se vencedora antecipadamente à abertura das urnas e não observou o crescimento da aspirante presidencial Marina Silva (PV), o que levou um enorme número de jovens eleitores, defensores do meio ambiente e de crescimento com sustentabilidade a sufragarem seu nome nas urnas. Em longa entrevista publicada na última edição da The Economist, o próprio presidente Lula disse que acreditava na vitória de Dilma Rousseff e que a mesma surpreenderá o mundo quando chegar ao poder.
Herdeiro e mantenedor da política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula surfou durante o período de 2002 a 2010 nos bons ventos da economia mundial, conservando políticas que atenuaram no país os efeitos da crise mundial de 2008. E para melhorar ainda mais os números da contabilidade nacional, consegue passar para a população que o Brasil encontra-se com total equilíbrio em suas contas, quando, pelo contrário, os gastos do governo aumentaram de 14% em 2003 para 18% em 2009, em proporção do PIB, o que está colaborando para o aumento da dívida pública e um déficit nas transações correntes para 2010 de quase US$ 50 bilhões.
O mundo real é muito diferente da visão desejada pelo governo, apesar dos avanços sociais que a sociedade brasileira conseguiu nestes últimos 16 anos. No entanto, como escreveu Claudio de Moura e Castro, especialista em educação, “a péssima qualidade da educação é marca registrada do Brasil desde sempre.” Como um país deseja pertencer ao primeiro mundo, se entre suas universidades nenhuma figura na lista das melhores do mundo? A educação é o principal problema da sociedade brasileira e enquanto os governos de ontem e hoje não tiverem isso como a meta principal a ser atingida, teremos um grande país, um dos maiores mercados de consumo do mundo, porém uma população que tem um dos maiores índices de desigualdade do mundo, onde temos regiões com padrão nórdico e outras quase haitianas. Será que os nossos candidatos terão vontade política de colocar a educação como a sua principal bandeira de campanha?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O CISNE NEGRO NAS ELEIÇÕES.

Foi comum ouvir hoje de vários colegas que os institutos de pesquisas erraram feio na comparação entre os números divulgados para os candidatos e o resultado real obtido diretamente das urnas. Nisso eu fico com o MARTIN WOLF, principal comentarista econômico do FINANCIAL TIMES, que ao ser questionado pela revista ÉPOCA sobre qual foi a principal lição que ele aprendeu em mais de 20 anos trabalhando no jornalismo econômico, ele respondeu:

O INESPERADO ACONTECE.

E A VIDA CONTINUA NESTE 2010.

Deixando a economia dormindo após esta esta gloriosa ressaca eleitoral, nada como ouvir Marisa Monte, Janis Joplin, Maysa, Madonna, Aretha Franklin, Carmem Miranda, Tina Turner, Rita Lee, Billie Holiday e Elis Regina, até hoje considerada a maior intérprete da música brasileira. E a vida continua...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

CONTABILIDADE BRASILEIRA!

Precisamos bem entender o que hoje escreve Míriam Leitão: Toda semana o governo está criando truques contábeis. Quem acompanha a evolução das contas públicas está horrorizado, porque o governo consegue transformar dívida em receita. É um milagre. Um dinheiro inventado, o que é muito perigoso. Está escondendo o déficit e dando uma falsa impressão de equilíbrio nas contas.

THE ECONOMIST E O BRASIL.

Neste final de governo, novamente LULA está nas páginas da The Economist e em longa entrevista, ele afirma que Um ex-presidente deve se recolher para algum lugar confortável e tranquilo, e não ficar dando palpite sobre política nacional, deixando seja lá quem for eleito governar o país, cometer erros e acertar, mas deixando eles governarem o país”. Você acredita que vai ser assim?

Gostei demais da foto acima que acompanha a entrevista no site da revista: não é a cara do Brasil de hoje?

HORÁRIO ELEITORAL - ADEUS!

Finalmente não teremos mais que assistir ao macabro horário eleitoral. Que já vai tarde, sem adeus. Por isso, pelo menos vale ver a charge do CLAYTON no jornal O POVO, na sua edição de hoje.

ECONOMIA E ELEIÇÃO EM 2010.

Quem acreditaria que véspera de mais uma eleição presidencial no Brasil, o dólar comercial estaria sendo cotado a R$ 1,6810, o Ibovespa passando dos 70.000 pontos, o risco pais em 203 pontos e a inflação de agosto, medida pela IPCA, em 0,04%? No entanto, meus caros e-leitores, apesar desses exemplos de números mágicos, não se deixem enganar. A economia brasileira necessita de urgentes ajustes e o (a) próximo (a) presidente (a?) deverá tomar medidas “antipáticas”, se realmente deseja transformar o Brasil num país desenvolvido. Ou vocês estão felizes em saber, por exemplo, que os números de saneamento básico no Brasil estão próximos aos dos mais pobres países africanos? Somente à título de exemplo, recentemente o respeitado IBGE registrou que 4 em cada 10 domicílios do País não têm saneamento básico. Portanto, imaginem essa informação dentro do contexto de um país tão grande como o BRASIL

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O CONSELHO DE JIM O'NEILL.

Hoje no UOL, direto da BBC, o “pai” dos BRICs alerta quefortalecer classe média é chave para desenvolvimento do Brasil.

Políticas públicas para fortalecer a classe média podem ser a chave para que o Brasil deixe de ser apenas um país emergente para se estabelecer como um país desenvolvido, na avaliação do economista britânico Jim O’Neill, considerado o “pai” dos Brics.

O'Neill, que está deixando o cargo de economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs para gerir a divisão de administração de ativos da instituição, cunhou o acrônimo Bric para se referir aos quatro gigantes emergentes da economia mundial – Brasil, Rússia, Índia e China.

O economista é um dos especialistas ouvidos pela BBC Brasil como parte da série O que falta ao Brasil?, que discute os desafios do Brasil para se tornar um país desenvolvido.

Se há uma diferença específica entre uma economia tipicamente desenvolvida e uma em desenvolvimento, é talvez o tamanho da classe média. E a melhor maneira para (a classe média) aumentar e prosperar é por meio da elevação da renda real”, avalia O'Neill.

domingo, 26 de setembro de 2010

MARTIN WOLF NO BRASIL.

O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e a BM&FBovespa promovem, no próximo dia 5 de outubro, o seminário “World economy: what lies ahead?", com o principal comentarista econômico do jornal britânico Financial Times, Martin Wolf. O evento acontece na sede do iFHC, no Centro de São Paulo, das 17h00 às 19h00. A palestra será em inglês, sem tradução simultânea.

Para quem estiver em São Paulo, trata-se de um evento imperdível.

sábado, 25 de setembro de 2010

FHC NO FINANCIAL TIMES

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO hoje no FINANCIAL TIMES:

As we prepare to leave, I ask Cardoso what he thinks history will make of Lula? “I think he will be remembered for growth and continuity, and for putting more emphasis on social spending. He’s a Lech Walesa who worked out.”

And of his own importance?

I did the reforms. Lula surfed the wave.”

FHC NO FINANCIAL TIMES

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO hoje no FINANCIAL TIMES:

As we prepare to leave, I ask Cardoso what he thinks history will make of Lula? “I think he will be remembered for growth and continuity, and for putting more emphasis on social spending. He’s a Lech Walesa who worked out.”

And of his own importance?

I did the reforms. Lula surfed the wave.”

domingo, 19 de setembro de 2010

ESTUDE ECONOMIA COM OS MELHORES.

Na análise de TODD G. BUCHHOLZ, em 200 anos de ECONOMIA, ou seja, de 1776 a 1976 apenas CINCO livros reinam sobre a ciência econômica. São eles: A riqueza das nações de SMITH, os Princípios de RICARDO, os Princípios de MILL, os Princípios de MARSHALL e o nosso clássico Economics de SAMUELSON.

É na genialidade desses mestres que continuamos a estudar ECONOMIA. Outros economistas escreveram e escrevem buscando na economia caminhos para uma sociedade mais justa, mas nem sempre suas ideias permanecem ativas, tanto quanto a dos cinco acima citados.

O papel do Estado na economia brasileira.

Sobre qual deve ser o papel do Estado na economia brasileira, a opinião de dois analistas conscientes do momento atual:

Segundo LUIS CARLOS MENDONÇA DE BARROS, “gosto de olhar a história da economia como o movimento de um pêndulo que oscila entre duas posições extremas. Podemos caracterizá-las entre Estado de um lado e iniciativa privada de outro. Vivemos um desses momentos em que o pêndulo começa a ser mover rapidamente de uma posição para outra.”

Para PAULO RABELLO, “estamos administrando uma democracia de fachada. Vou cobrar a absoluta falta de projeto dos candidatos e dos partidos que os abrigam. As pessoas que se candidatam a ‘síndico’ deste ‘condomínio’ não têm compromisso com qualquer acerto.

Ainda chegaremos LÁ?

Bem, se depender do que estamos participando nesta campanha eleitoral de 2010, por mais otimista que eu seja, considero essa possibilidade impossível. Estou sabendo que SE a nossa taxa média de crescimento for de 7,2% ao ano, levaremos TRINTA anos para atingir o atual patamar americano de US$ 46,000 de renda per capita. Na realidade, AINDA estamos abaixo da renda americana registrada na década de 40.

E enquanto deveríamos estar discutindo as alternativas para MUDAR isso, ficamos o dia todo lendo sobre dossiês...

O PREÇO DE BENS NO BRASIL.

CARLOS PIO foi meu professor na Universidade de Brasília e é um intelectual inteligente que conhece da economia política à economia. Por isso, divulgo para os meus quase dois leitores, e-mail que ele recentemente enviou ao jornalista CARLOS SARDENBERG - TV GLOBO, sobre um assunto que tem tudo a ver com o nosso mundo real: o preço dos bens que pagamos no Brasil. Afinal, quem nunca questionou quanto é caro comprar determinados bens no Brasil?

Prezado Jornalista,

Sua campanha para denunciar que pagamos mais pelos mesmos produtos globais do que os nossos vizinhos e para explicar porque isso ocorre é maravilhosa.

Como professor de Economia Política Internacional da UnB há mais de 10 anos, tenho obtido muito sucesso em cruzada muito semelhante, semestre após semestre, com turmas de 50 alunos que chegam do ensino médio sabendo de cor todos os argumentos protecionistas recitados pelos professores de Geografia e História e pelos nossos empresários e governantes por meio da imprensa. (Vide, nas duas últimas semanas, a cruzada em defesa da proteção comercial e do subsídio liderada por gente como Correia de Lacerda, Steinbruch, Skaff, Mantega, Coutinho, etc.)

Acho que nos seus próximos artigos vc deveria reforçar vários pontos, que me animo em apontar:

1. A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelos diferencias de preços de produtos globais que chegam aqui e em outros países. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil enquanto custa o dobro aqui. Almocei semanas atrás com um diplomata de país asiático recém-chegado a Brasília que me disse que o novo Hyunday i35 custa US$ 18 mil em seu país e US$ 110mil aqui. Mesmo podendo abater os impostos domésticos praticados no Brasil, ele preferiu pagar US$ 20mil a uma importadora (por ser diplomata estrangeiro servindo no Brasil ele tem direito de importar o carro que quiser) para lhe entregar o carro em sua casa.

2. Os formuladores de políticas industriais e comerciais (ou de desenvolvimento) e os políticos de todos os partidos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil, por isso é vantajosa. Que a crença é falsa, a literatura empírica especializada já tratou de demonstrar há muito tempo -- vide os textos clássicos de Krugman, Bhagwati, Irwin, Anne Krueger, Eliana Cardoso, etc. O argumento defendido por nossos influentes políticos e tecnocratas heterodoxos não se sustenta porque a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, pela falta de liberdade para importar tecnologia e insumos) que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário pouco competitivo internacionalmente ainda ganha um bônus na forma de subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm que comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.

Para continuar com meu exemplo anterior do Honda Civic, as empresas de aluguel de veículos, como a Localiza e a Unidas, têm que optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade -- como o Pálio 1.0, câmbio manual -- e os carros "nacionais" de luxo exorbitantemente mais caros do que se pratica no resto do mundo. Com os preços altos aqui e a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.

O burocrata heterodoxo acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.

3. Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Argumentei isso em artigo publicado no caderno de Economia do Estado de S. Paulo ("São as importações, estúpido!"), publicado em 30/1/2010. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem.

Mais uma vez, parabéns pela iniciativa!

Abraço,

Carlos Pio Professor of International Political Economy, Universidade de Brasília.

O PREÇO DE BENS NO BRASIL.

CARLOS PIO foi meu professor na Universidade de Brasília e é um intelectual inteligente que conhece da economia política à economia. Por isso, divulgo para os meus quase dois leitores, e-mail que ele recentemente enviou ao jornalista CARLOS SARDENBERG - TV GLOBO, sobre um assunto que tem tudo a ver com o nosso mundo real: o preço dos bens que pagamos no Brasil. Afinal, quem nunca questionou quanto é caro comprar determinados bens no Brasil?

Prezado Jornalista,

Sua campanha para denunciar que pagamos mais pelos mesmos produtos globais do que os nossos vizinhos e para explicar porque isso ocorre é maravilhosa.

Como professor de Economia Política Internacional da UnB há mais de 10 anos, tenho obtido muito sucesso em cruzada muito semelhante, semestre após semestre, com turmas de 50 alunos que chegam do ensino médio sabendo de cor todos os argumentos protecionistas recitados pelos professores de Geografia e História e pelos nossos empresários e governantes por meio da imprensa. (Vide, nas duas últimas semanas, a cruzada em defesa da proteção comercial e do subsídio liderada por gente como Correia de Lacerda, Steinbruch, Skaff, Mantega, Coutinho, etc.)

Acho que nos seus próximos artigos vc deveria reforçar vários pontos, que me animo em apontar:

1. A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelos diferencias de preços de produtos globais que chegam aqui e em outros países. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil enquanto custa o dobro aqui. Almocei semanas atrás com um diplomata de país asiático recém-chegado a Brasília que me disse que o novo Hyunday i35 custa US$ 18 mil em seu país e US$ 110mil aqui. Mesmo podendo abater os impostos domésticos praticados no Brasil, ele preferiu pagar US$ 20mil a uma importadora (por ser diplomata estrangeiro servindo no Brasil ele tem direito de importar o carro que quiser) para lhe entregar o carro em sua casa.

2. Os formuladores de políticas industriais e comerciais (ou de desenvolvimento) e os políticos de todos os partidos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil, por isso é vantajosa. Que a crença é falsa, a literatura empírica especializada já tratou de demonstrar há muito tempo -- vide os textos clássicos de Krugman, Bhagwati, Irwin, Anne Krueger, Eliana Cardoso, etc. O argumento defendido por nossos influentes políticos e tecnocratas heterodoxos não se sustenta porque a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, pela falta de liberdade para importar tecnologia e insumos) que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário pouco competitivo internacionalmente ainda ganha um bônus na forma de subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm que comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.

Para continuar com meu exemplo anterior do Honda Civic, as empresas de aluguel de veículos, como a Localiza e a Unidas, têm que optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade -- como o Pálio 1.0, câmbio manual -- e os carros "nacionais" de luxo exorbitantemente mais caros do que se pratica no resto do mundo. Com os preços altos aqui e a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.

O burocrata heterodoxo acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.

3. Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Argumentei isso em artigo publicado no caderno de Economia do Estado de S. Paulo ("São as importações, estúpido!"), publicado em 30/1/2010. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem.

Mais uma vez, parabéns pela iniciativa!

Abraço,

Carlos Pio Professor of International Political Economy, Universidade de Brasília.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...