domingo, 26 de fevereiro de 2012

O armário econômico de Romney.


PAUL KRUGMAN, na Folha de S. Paulo, num texto que não dá para não ler.   

De acordo com Michael Kinsley, uma gafe é o que acontece quando um político acidentalmente fala a verdade. Foi sem dúvida o que aconteceu com Mitt Romney na terça, quando, em um momento de franqueza ele acabou por se entregar.

Falando no Michigan, Romney ouviu uma pergunta sobre redução do deficit e disse em resposta algo inteiramente razoável: "Se você apenas cortar, se você pensar unicamente em reduzir gastos, à medida que reduzir os gastos você vai desacelerar a economia".

Como se poderia prever, a polícia ideológica da direita ficou horrorizada; o Clube para o Crescimento imediatamente denunciou a declaração, dizendo que ela mostra que Romney não é "um conservador que defende o governo limitado".

E um porta-voz de Romney tentou retirar o que o pré-candidato havia dito, afirmando: "O que o governador quis dizer foi que apenas cortar o Orçamento, sem políticas afirmativas em prol do crescimento, é insuficiente para imprimir uma virada na economia".

Sabemos com quem Romney vai buscar conselhos econômicos; lideram a lista Glenn Hubbard, da Universidade Columbia, e N. Gregory Mankiw, de Harvard. Embora eles sejam partidários republicanos leais, ambos também possuem longos históricos como economistas profissionais. E o que esses históricos profissionais deles sugerem é que nenhum dos dois acredita em nenhuma das proposições que viraram provas decisivas para os pré-candidatos republicanos.

Considere-se o caso de Mankiw, em especial. Os republicanos modernos detestam Keynes; Mankiw é editor de uma coletânea de artigos intitulada "New Keynesian Economics". Numa das primeiras edições de seu livro didático, que é um best-seller, ele descreveu a economia baseada no estímulo à oferta -a doutrina à qual aderiu o endeusado Ronald Reagan- como sendo a criação de "excêntricos e charlatães". E, em 2009, ele pediu por inflação mais alta como solução para a crise, posição que é terminantemente rejeitada por republicanos como Paul Ryan, presidente do Comitê de Orçamento da Câmara.

Em vista de seus assessores, portanto, parece seguro supor que aquilo que Romney falou sem querer reflita suas ideias econômicas reais.

Então será que aqueles que não compartilham as crenças da direita deveriam sentir-se reconfortados com as evidências de que Romney não acredita em nada que anda dizendo? Em especial, deveríamos presumir que, uma vez eleito, ele adotaria políticas econômicas sensatas? Lamentavelmente, não.

Pois o cinismo e a falta de coragem moral que têm estado tão evidentes na campanha não desapareceriam assim que Romney pusesse os pés na Casa Branca. Se ele não ousa discordar das bobagens econômicas agora, por que imaginar que se disporia a contestá-las no futuro? E vale lembrar que, se for eleito, ele será observado estreitamente, em busca de sinais de qualquer apostasia, pelas próprias pessoas que agora se esforça para agradar.

II Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia


Está chegando o grande dia do II Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia:

Data: 9 de Março de 2012 (Sexta-Feira)

Local: IBMEC-MG

Endereço: Rua Rio Grande do Norte, 300. Bairro Funcionários - Belo Horizonte-MG.

Horário: Das 13:30 à 18:30

Programação
13:30 Abertura
13:40 Painel Temático I – A Blogosfera e as Crises Econômicas
15:10 Intervalo
15:20 Painel Temático II – Os Blogs Como Ferramenta de Ensino da Economia
16:50 Intervalo
17:00 Painel Temático III – A Política Fiscal na Blogosfera
18:30 Encerramento

Organizadores:
Cláudio D. Shikida – De Gustibus Non Est Disputandum
Cristiano M. Costa – Blog do Cristiano M. Costa

Painel I
Anônimo - Drunkeynesian
Celso Toledo - A Consciência de Três Liberais
Ângelo Fasolo - The Duke of Hazard
Fábio Kanczuk - A Consciência de Três Liberais

Painel II
Roseli da Silva – Random Walk
Cláudio D. Shikida – De Gustibus Non Est Disputandum
Thomas Kang - Oikomania
Ronald Hillbrecht – Escolhas e Conseqüências

Painel III
Fernando Meneguin - Brasil, Economia e Governo
Felipe Salto - Blog do Felipe Salto
Mansueto Almeida - Blog do Mansueto

Ano 1 depois da Dilma.


MARCELO NERI, 48, é economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, na Fundação Getulio Vargas, e autor de "Microcrédito, o Mistério Nordestino e o Grameem Brasileiro" (editora da Fundação Getulio Vargas) e "A Nova Classe Média" (editora Saraiva). Escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO. 

No dia 1º de janeiro deste ano escrevi neste espaço sobre as perspectivas sociais do novo ano. Meu ponto era que o impacto da crise europeia aqui seria conhecido somente no dia seguinte após a passagem do ano gregoriano. As crises asiática de 1997 e do Lehman Brothers de 2008, ambas de setembro, repercutiram nas séries apenas em janeiro do ano seguinte (a crise de desemprego e a ressaca de 2009).

Entre os dois artigos, desci aos microdados da POF, os mais completos em termos de abrangência dos conceitos de renda e de despesa. Constatei que a crise aportou no bolso do brasileiro na primeira semana de 2009. A pobreza sobe 11% quando comparada à última semana de 2008. Tal como os dados semanais da PME sugeriam, a crise de 2008 não foi nem tsunami nem marolinha, mas ressaca tão forte quanto passageira.

Nos idos de 2009, divulgamos pesquisa com dados até dezembro de 2008 sem observarmos nenhum impacto relevante nos primeiros três meses e meio depois da crise. Desigualdade e pobreza mantiveram viés de baixa até a reversão da primeira semana de 2009. A ponto de lançarmos logo novo capítulo do que virou a série "Crônica de uma crise anunciada".

Apesar das limitações da PME, todas as grandes inflexões de distribuição de renda dos últimos 20 anos foram antecipados por ela (www.fgv.br/cps/debatesocial), como aquelas provocadas pela estabilização do Plano Real, a quebra da desigualdade inercial e a ascensão da nova classe média (real do Lula). Ou você quer ficar ilhado na última Pnad disponível (hoje, a de setembro de 2009)?

Lanço no dia 7 de março, às 19h, na Bolsa de Valores de São Paulo, livro que ensina todos os nós de marinheiro para você navegar com os emergentes. Fecha parênteses.

A fim de não nos afogarmos na flutuação dos números, esperamos a virada da maré de janeiro para aferir o efeito da instabilidade europeia intensificada em agosto.

Janeiro de 2012 coincide com o marco ano 1 depois da Dilma. Pois bem, as variações de 12 meses mostram:

1) crescimento da renda familiar per capita média da PME de 2,7%, que coincide com o crescimento observado entre 2002 e 2008, apelidado por muitos de "era de ouro mundial", e superior ao 0% do ano 1 depois da crise de 2008; 2,7% de crescimento também coincide com o crescimento do PIB total de 2011, recém-anunciado pelo Banco Central. A diferença é o crescimento populacional de pouco menos de 1%, mantendo a tendência, observada desde o fim da recessão de 2003, da renda das pesquisas domiciliares crescerem mais que o PIB;

2) A desigualdade tupiniquim continua em queda de 2,13% ao ano, ante o 1,11% observado no período de 2001 a 2009, conhecido como o de "queda da desigualdade brasileira". O Gini brasileiro foi, de 1970 a 2000, quase uma constante da natureza. A desigualdade brasileira está hoje 3,3% abaixo do seu piso histórico de 1960;

3) Como consequência, a pobreza segue sua saga descendente ao ritmo de 7,9% ao ano, superior aos 7,5% ao ano da "era de ouro" citada. Reduzimos em 2011 a pobreza num ritmo três vezes mais rápido que o necessário para cumprir a Meta do Milênio da ONU de reduzir a pobreza à metade em 25 anos.

Na leitura de 2011, não devemos esquecer que o Pibão e a histórica queda de 16,3% da pobreza observados em 2010 foram ao sabor da retomada da crise e do ciclo político eleitoral que inflam a amplitude de comparação.

A economia brasileira estava superaquecida no começo de 2011, assim como em 2008. A crise, como uma inesperada chuva de verão, esfriou a inflação de demanda anunciada. Sorte ou não, os resultados sugerem que o brasileiro, tal como Ayrton Senna, anda bem debaixo de chuvas e trovoadas de uma crise internacional. Nosso desempenho relativo depois das crises foi melhor do que a da "era de ouro mundial".

Agora, como se diz, o ano novo brasileiro só começa na semana depois do Carnaval. Nesse caso, temos de esperar para ver o que acontece amanhã -primeira segunda-feira após o Carnaval.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Oscar - O ano da nostalgia - 2012.


Li no Valor Econômico e como amanhã tem Oscar 2012, vale a leitura neste econômico sábado. 

A nostalgia é a nova moda, a julgar pelos concorrentes ao prêmio de melhor filme do Oscar 2012, cuja cerimônia de entrega acontece no próximo domingo, em Hollywood. Dos nove indicados, seis exaltam o passado. "A Invenção de Hugo Cabret" e "O Artista", os favoritos na categoria, por exemplo, prestam uma clara homenagem à infância e à magia do cinema. Mas seria essa tendência escapista do cinema um reflexo de alienação política?

Para Annette Insdorf, professora de cinema da Universidade Columbia, o Oscar 2012 não reflete a situação corrente dos Estados Unidos, ainda convalescentes de uma crise econômica iniciada em 2008. "A sugestão de uma volta ao passado tem força. O saudosismo não é só em relação ao cinema mudo", diz Insdorf ao Valor. "'Meia-Noite em Paris' trata da atmosfera intelectual da Paris dos anos 1920. 'Cavalo de Guerra' é descaradamente antiquado. Mesmo 'A Árvore da Vida' tem um ar nostálgico por conta do enredo calcado em fatos passados, assim como 'Histórias Cruzadas', com a sua exploração dos conflitos raciais nos Estados Unidos de 50 anos atrás."

Nos Estados Unidos, historicamente, o cinema floresceu em épocas de crise. "Os últimos anos têm sido difíceis no país e, tal como a Academia, os espectadores veem o cinema como uma possibilidade de escape e não de reflexão sobre a atualidade", afirma Betsy Sharkey, crítica de cinema do jornal "Los Angeles Times".
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Para ela, isso explica o fato de filmes com temas políticos, sociais e econômicos, como "Margin Call - O Dia Antes do Fim", que acompanha o comportamento de funcionários de um banco de investimentos às vésperas de uma crise financeira, e "Tudo pelo Poder", sobre políticos desonestos, estarem fora da categoria principal. "Existe uma rejeição aos temas pessimistas, Neste ano a Academia parece disposta a contemplar os filmes de temática mais esperançosa."

Produções que têm recebido prêmios mundo afora e elogios da crítica, como "Melancolia", que aborda a depressão e o fim do mundo, "Shame", sobre um viciado em sexo, e "Precisamos Falar sobre o Kevin", que mostra o massacre em uma escola, foram completamente ignorados no Oscar deste ano.

"Existe uma saudade das histórias bem contadas. 'O Artista', por exemplo, é uma história clássica de amor, com um trilha sonora fantástica, que poderia ser narrada em qualquer época, apesar do seu contexto específico", diz a brasileira Paoula Abou-Jaoude, integrante da The Hollywood Foreign Press Association, responsável pela premiação do Globo de Ouro.

Com o sucesso inesperado de "O Artista", a indústria do entretenimento passou a explorar o filão. Até o fim deste ano, vai estrear na Broadway um musical sobre a vida de Charlie Chaplin (1889-1977). "Silent Life", filme sobre Rodolfo Valentino (1895-1926), ator do cinema mudo que morreu precocemente, está em fase de pós-produção. O longa-metragem tem Isabella Rossellini no elenco.

A alienação do Oscar deste ano é uma posição contrária à do Festival Sundance, ocorrido em Utah entre 19 e 29 de janeiro. Segundo reportagem de Brooks Barnes para o jornal "The New York Times", o evento, de perfil mais alternativo, mostrou como a tecnologia digital ajuda os cineastas a capturar "o momento". Os filmes, sobretudo os documentários, exibiram "o sonho americano transformado em pesadelo".

Não por acaso, o júri elegeu como melhor filme "Beasts of the Southern Wild", de Benh Zeitlin, o qual aborda, em essência, o descaso histórico com o Sul dos Estados Unidos. O melhor documentário foi "The House I Live In", de Eugene Jarecki, uma análise sobre a política do governo norte-americano de combate às drogas durante as últimas quatro décadas.

Antes os filmes tinham "um atraso de três a cinco anos para tratar da realidade do país", escreveu Barnes. Foi assim, por exemplo, com os ataques ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001 ("Tão Longe e Tão Perto", que aborda o tema, é um dos concorrentes ao Oscar de melhor filme; leia texto nesta página). Por obra da tecnologia digital, esse intervalo foi superado. Programas de edição permitem que um filme seja finalizado em até quatro meses e sem tantos custos. Agora, os cineastas trabalham em casa e com rapidez.

O Oscar mostra, porém, que o uso da tecnologia digital pode ter outro tipo de influência. "Ela também serve para arrecadar", diz Paoula Abou-Jaoude. "Hoje o espectador pode escolher entre ver uma imagem bárbara de 3D em uma sala IMAX ou assistir a um filme em casa, o que é mais barato." Existe uma mudança no modo como se veem e distribuem as obras cinematográficas. Os estúdios estão mais atentos à sedução tecnológica que pode tirar as pessoas do conforto do lar.

"Filmes via internet são o futuro", diz Paoula. O serviço, oferecido por Netflix e Amazon, por exemplo, é um fenômeno que perturba os grandes estúdios de Hollywood. Ele representa um obstáculo ao lucro outrora obtido pelos estúdios com a venda de DVDs.

Para se ter uma ideia, por US$ 3,99, o espectador compra na Amazon e vê pelo computador filmes como "Meia-Noite em Paris", "Histórias Cruzadas" e "O Homem que Mudou o Jogo", todos indicados ao Oscar de melhor filme. O preço médio de um ingresso de cinema em Nova York - US$ 12,50 - quase paga a mensalidade de um dos pacotes do Netflix. Por US$ 15,98, um assinante tem direito à entrega de DVDs pelo correio e a uma quantidade imensa de longas-metragens disponíveis para exibição via internet. O preço cai pela metade (US$ 7,99) se o pacote oferecer apenas filmes on-line.

Segundo a empresa de telecomunicações AT&T, o Netflix, tendo mais de 24 milhões de assinantes, chega a ser o responsável por cerca de 30% do fluxo de dados gerado na rede virtual dos Estados Unidos e Canadá. "Cada vez mais o controle se transfere dos estúdios para as mãos da audiência", diz Betsy Sharkey, do "Los Angeles Times".

A possibilidade de exibir a sua obra pela internet fez com que os cineastas não ficassem escravos dos altos custos de distribuição. "De 5 a 7 milhões de pessoas podem hoje assistir a um filme que talvez nunca chegasse às salas de cinema", diz Paoula. A guerra atual se trava entre a tela grande e a tela do computador. A nostalgia vem de mais um momento de transição na história cinematográfica. Para Sharkey, "pertencemos a uma cultura da demanda e os filmes acabam seguindo essa tendência." Se existe limite para o poder da imaginação, ele é estabelecido pelo bolso dos espectadores.

Universidade reprovada.


Para reflexão, editorial de ontem  na FOLHA DE S.PAULO.

Um artigo do físico Carlos Henrique de Brito Cruz nesta Folha revelou a medíocre evolução do ensino superior no país, na última década, ao coligir informações sobre o número de formandos nas faculdades e universidades brasileiras.

Segundo dados oficiais do Ministério da Educação reunidos pelo diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), houve queda expressiva na ampliação dos cursos superiores nos últimos anos, quando se considera o total de alunos que, de fato, obtiveram diplomas.

Entre 1995 e 2005, a taxa média de crescimento do total de diplomados pelas universidades -vale dizer, instituições que se dedicam tanto ao ensino quanto à pesquisa- foi de 11% ao ano. Entre 2005 e 2010, o incremento anual decaiu para ínfimo 0,2%.

A situação é mais grave nas escolas de elite do ensino superior sob responsabilidade direta do poder público. Entre 2004 e 2010, diminuiu o número absoluto de alunos graduados em instituições públicas de nível superior. No segundo ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 202.262 estudantes obtiveram diplomas nessas faculdades; em seu último ano na Presidência, 178.407 alunos chegaram ao fim de seu curso universitário em instituições públicas.

Não se trata de insuficiência exclusiva do último mandatário, nem apenas do governo federal, uma vez que os dados dizem respeito também a instituições estaduais e municipais. Além disso, a queda no ritmo de expansão do ensino superior reflete deficiências de formação escolar anterior.

De todo modo, a gestão Lula não se sai bem mesmo quando considerados os números de ingressantes no nível universitário -sempre maior que o de egressos- em seus dois mandatos. Entre 1995 e 2002, o total de alunos que chegou à universidade em cursos presenciais (ou seja, excluído o ensino a distância) mais que dobrou, de 510 mil para 1,2 milhão. Sob Lula, a quantidade de novos alunos cresceu só cerca de 30%, para 1,6 milhão de estudantes.

O número decepcionante de formandos provavelmente decorre do despreparo de muitos estudantes para cursar a universidade. O fulcro do problema, na avaliação de Brito Cruz e outros, está na etapa escolar anterior, o ensino médio.

Há uma década o número de adolescentes formados no nível secundário se encontra estagnado em cerca de 1,8 milhão por ano, enquanto o total de vagas abertas a cada ano no ensino superior já supera esta marca, se incluídos também os cursos a distância.

Será impossível ampliar o total de formandos nas universidades, com ênfase na qualidade, sem reformar também o ensino médio.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sofrimento sem nenhum benefício.


E por falar em Paul Krugman, abaixo sua coluna aqui publicada pela FOLHA. 

A Comissão Europeia confirmou aquilo que todos suspeitavam: as economias estudadas pela organização estão encolhendo, e não crescendo como dizem algumas pessoas. Ainda não se trata de uma recessão oficial, mas a única dúvida diz respeito à gravidade desse desaquecimento econômico.

E essa crise está atingindo nações que jamais se recuperaram da última recessão. Apesar de todos os problemas dos Estados Unidos, o produto interno bruto norte-americano finalmente superou o seu pico anterior à crise. Já na Europa isso não ocorreu. E o sofrimento enfrentado por algumas nações europeias tem uma intensidade digna da Grande Depressão: a Grécia e a Irlanda registraram quedas de produção de dois dígitos, a Espanha está com um índice de desemprego de 23% e a crise no Reino Unido já dura mais do que aquela da década de trinta.

Mas o pior é que os líderes europeus – e muitos indivíduos influentes aqui nos Estados Unidos – ainda estão apegados à doutrina econômica que foi a responsável pelo desastre.

A situação não tinha necessariamente de ser assim tão ruim. A Grécia enfrentaria problemas graves de qualquer maneira, independentemente de que decisões políticas fossem tomadas, e o mesmo aconteceria, em menor grau, com outros países da periferia europeia. Mas a situação tornou-se muito pior do que seria necessário devido à maneira como os líderes europeus, e de forma mais geral a elite política do continente, substituíram a análise pela moralização e as lições da história por fantasias.

Especificamente, no início de 2010, a austeridade econômica – a insistência em que os governos têm de cortar gastos mesmo diante de um alto índice de desemprego – tornou-se o mantra das capitais europeias. A doutrina afirma que os efeitos negativos diretos dos cortes de gastos sobre os empregos seriam compensados por mudanças no “nível de confiança”, que reduções rigorosas de investimentos gerariam uma onda de gastos por parte de consumidores e empresas, enquanto que as nações que não tomassem tais medidas amargariam fuga de capital e taxas de juros elevadas. Tem razão quem acha que tal receita poderia ter sido prescrita por Herbert Hoover. Foi exatamente o que ele fez.

Agora os resultados estão aí. E eles foram exatamente aquilo que análises econômicas feitas durante três gerações e todas as lições históricas indicaram que ocorreria. O aumento da confiança não passava de uma falsa história: nenhum dos países que cortaram gastos experimentaram o aquecimento previsto do setor privado. Em vez disso os efeitos deprimentes da austeridades fiscal foram reforçados pela redução dos investimentos privados.

Além do mais, os mercados de títulos continuam se recusando a cooperar. Até mesmo os pupilos mais notáveis da austeridade, países que, como Portugal ou Irlanda, fizeram tudo o que foi exigido deles, ainda se deparam com custos imensos para empréstimos. Por que? Porque a redução dos gastos deprimiu profundamente a economia dessas nações, solapando as suas bases fiscais a tal ponto que a proporção entre dívida e produto interno bruto, o indicador padrão do progresso fiscal, está ficando cada vez pior.

Enquanto isso, países que não embarcaram no trem da austeridade – dos quais os mais notáveis são Japão e Estados Unidos – continuam apresentando custos de empréstimos muito baixos, desafiando as previsões sombrias dos conservadores fiscais.

Mas nem tudo deu errado. No final do ano passado os custos de empréstimos espanhol e italiano dispararam, ameaçando provocar uma catástrofe financeira generalizada. Atualmente esses custos caíram, para o alívio geral. Mas essa boa notícia foi na verdade um triunfo para o campo contrário à austeridade: Mario Draghi, o novo presidente do Banco Central Europeu, desprezou os economistas que disseminam o medo da inflação e colocou em prática uma grande expansão do crédito, o que foi exatamente o que havia sido prescrito.

Sendo assim, o que será necessário para convencer a Congregação do Sofrimento, aquele grupo de pessoas dos dois lados do Atlântico que insistem em dizer que nós podemos prosperar por meio dos cortes de gastos, de que ela está equivocada?

Afinal, os suspeitos usuais não perderam tempo em decretar a morte da ideia de estímulo fiscal depois que os esforços do presidente Barack Obama não produziram uma queda rápida do desemprego – ainda que muitos economistas tivessem advertido que o pacote de estímulos do presidente era muito pequeno. No entanto, até onde eu posso dizer, a austeridade ainda está sendo considerada como medida responsável e necessária, apesar de ela ter, na prática, fracassado catastroficamente.

O fato é que nós poderíamos fazer muito para ajudar as nossas economias simplesmente revertendo a austeridade destrutiva que foi aplicada nos últimos dois anos. Isso se aplica até mesmo aos Estados Unidos, que evitaram medidas de austeridade drástica no nível federal, mas onde houve grandes cortes de gastos e empregos nos níveis estadual e municipal. Vocês se lembram de toda a agitação no sentido de determinar se havia suficientes projetos de construção para tornar viável um projeto de estímulo de grande escala? Bem, não se preocupem.

Tudo o que o governo federal precisa fazer para dar um grande impulso à economia é fornecer ajuda a governos da alçada estadual e municipal, possibilitando que esses governos voltem a contratar as centenas de milhares de professores que foram demitidos e que eles reiniciem os projetos de construção e manutenção que cancelaram.

Eu entendo que pessoas influentes estejam relutando em admitir que as ideias tidas como profunda sabedoria não passavam na verdade de uma loucura destrutiva. Mas é hora de colocar de lado todas essas crenças ilusórias nas supostas virtudes da austeridade em uma economia deprimida.

Playboy também é economia.

Na Playboy americana uma longa entrevista com o Nobel de Economia PAUL KRUGMAN http://www.playboy.com/magazine/playboy-interview-paul-krugman.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Humanidade sustentável.


Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra, na Columbia University. Ele é também assessor especial do secretário-geral da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Escreveu neste artigo especialmente para o Valor Econômico uma aula sobre sustentabilidade.


Desenvolvimento sustentável significa atingir um crescimento econômico que seja amplamente compartilhado e que proteja os recursos vitais do planeta. Nossa economia mundial atual não é sustentável - mais de um bilhão de pessoas deixadas para trás pelo progresso econômico e o ambiente terrestre sofrendo danos resultantes da atividade humana. Um desenvolvimento sustentável exige a mobilização de novas tecnologias norteadas pelo compartilhamento de valores sociais.


O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou que o desenvolvimento sustentável está no topo da agenda mundial. Adentramos um período perigoso, em que uma população enorme e crescente, associada a com rápido crescimento econômico, agora ameaça produzir um impacto catastrófico no clima da Terra, na biodiversidade e no suprimento de água potável. Antropoceno é como os cientistas denominam esse novo período - em que os seres humanos tornaram-se os principais causadores de mutações físicas e biológicas na Terra.


O Painel de Sustentabilidade Mundial (PSM) do secretário-geral da ONU publicou um novo relatório que delineia um referencial para o desenvolvimento sustentável. O PSM corretamente observa que o desenvolvimento sustentável tem três vertentes: erradicar a pobreza extrema, garantir que a prosperidade seja compartilhada por todos, - mulheres, jovens e minorias -, e proteger o meio ambiente natural. Esses objetivos podem ser denominados pilares econômico, social e ambiental do desenvolvimento sustentável.


O PSM exortou os líderes mundiais a adotarem um novo conjunto de Metas de Desenvolvimento Sustentável (MDS) que ajudarão a moldar as políticas e ações mundiais após 2015, ano alvo das Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDM). Considerando que o foco das Metas do Milênio é reduzir a pobreza extrema, as MDS deverão contrar-se nos três pilares do desenvolvimento sustentável: erradicar a pobreza extrema, compartilhar os benefícios do desenvolvimento econômico entre toda a sociedade e proteger a Terra.


Uma coisa, é claro, é definir as metas sustentáveis e outra alcançá-las. O problema pode ser percebido examinando um desafio crucial: as mudanças climáticas. Hoje, há sete bilhões de pessoas no planeta, e cada uma é responsável, em média, pela liberação um pouco superior a quatro toneladas de dióxido de carbono na atmosfera por ano. Esse CO2 é emitido quando queimamos carvão, petróleo e gás para produzir eletricidade, conduzir carros ou aquecer nossas casas. Ao todo, os seres humanos lançam cerca de 30 bilhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera, o suficiente para mudar acentuadamente o clima em poucas décadas.


Em 2050, provavelmente haverá mais de nove bilhões de pessoas na Terra. Se essas pessoas forem mais ricas do que as pessoas atualmente são (e, portanto, consumirem mais energia), o total mundial de emissões poderá dobrar ou mesmo triplicar. Esse é o grande dilema: precisamos emitir menos CO2, mas estamos, mundialmente, a caminho de poluir muito mais.


Precisamos nos preocupar com esse cenário porque a permanência em um caminho de crescentes emissões em escala mundial produzirá, certamente, estragos e sofrimento para bilhões de pessoas que serão atingidas por ondas de secas e calor, furacões e muito mais. Já experimentamos o início desse sofrimento nos últimos anos, com uma série de fomes devastadoras, inundações e outros desastres relacionados ao clima.


Então, como poderão as pessoas no mundo - especialmente os pobres - beneficiar-se de mais eletricidade e mais acesso a transportes modernos, mas de uma forma que salve o planeta em vez de destruí-lo? A verdade é que não poderão - a menos que melhoremos as tecnologias que usamos.


Precisamos usar energia com muito mais sabedoria, e ao mesmo tempo precisamos abandonar os combustíveis fósseis e adotar fontes de energia que emitem pouco carbono. Essas melhorias são possíveis e economicamente realistas.


Considere, por exemplo, a ineficiência energética de um automóvel. Nós atualmente movimentamos uma máquina que pesa entre 1 mil e 2 mil quilos para transportar uma ou duas pessoas, cada um pesando talvez 75 quilos. E fazemos isso usando um motor a combustão interna que aproveita apenas uma pequena parte da energia liberada pela queima da gasolina. A maior parte da energia é perdida na forma de calor.


Poderíamos, portanto, conseguir uma grande redução nas emissões de CO2 por meio da adoção de veículos pequenos e leves dotados de motores elétricos de alta eficiência alimentados por baterias carregadas a partir de uma fonte de energia de baixo carbono, como a energia solar. Ainda melhor: adotar veículos elétricos, em vez de continuar usando os atuais, nos permitiria aproveitar os mais avançados recursos de tecnologia da informação para tornar tais veículos inteligentes - suficientemente inteligentes para até mesmo possibilitar que se movimentem sozinhos usando sistemas avançados de processamento de dados e de posicionamento.


Os benefícios das tecnologias de informação e de comunicação podem ser observados em todas as áreas da atividade humana: melhor agricultura utilizando GPS e microdosagem de fertilizantes; fabricação de precisão; edifícios que sabem como consumir menos energia, e, claro, o poder transformador da internet. Recursos de banda larga móvel já estão conectando até mesmo as aldeias mais distantes na zona rural da África e da Índia, reduzindo assim significativamente a necessidade de viagens.


Movimentações bancárias são agora feitas por telefone, assim como uma diversidade crescente de diagnósticos médicos. Livros eletrônicos são transmitidos diretamente para dispositivos portáteis sem necessidade de livrarias, deslocamentos pessoais ou da celulose e do papel nos livros físicos. A educação também baseia-se cada vez mais na internet e em breve permitirá que alunos em toda parte recebam educação de primeira qualidade a um custo marginal quase zero para a inclusão de mais um aluno.


No entanto, para migrar de onde estamos até o desenvolvimento sustentável não dependerá apenas de tecnologia. Isso envolverá também incentivos de mercado, regras governamentais e apoio público à pesquisa e desenvolvimento. Mas ainda mais fundamental do que políticas de governança será o desafio dos valores. Precisamos compreender nosso destino comum e abraçar o desenvolvimento sustentável como um compromisso comum de decência para todos os seres humanos, hoje e no futuro.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A privatização volta à agenda.


Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

O governo federal poderá agora enfrentar com maior eficiência os desafios para o setor de infraestrutura.

Não posso deixar de comentar na coluna de hoje a privatização de três grandes aeroportos brasileiros, realizada nesta semana. Tive a sensação desse compromisso com o leitor quando me sentei diante do computador. Mas fiquei em dúvida sobre por onde começar minhas reflexões.

A tentação de escolher, como linha central desta coluna, a cobrança de coerência por parte do PT -por ter demonizado, por mais de uma década, esse instrumento de parceria entre setor público e privado- foi muito grande a princípio.

Eu teria toda a legitimidade para fazê-lo, pois durante muitos anos sofri com acusações gratuitas por ter sido o executor -como presidente do BNDES- de um grande número de privatizações de empresas estatais no governo FHC.

Mas abandonei esse caminho, por ter certeza de que o cidadão fará essa cobrança, de forma natural e autônoma, e não precisa ser lembrado por mim de tudo o que aconteceu.

Um segundo caminho seria o de usar minha experiência nas privatizações, como a da Vale e, principalmente, a das 12 subsidiárias da Telebrás, para analisar os detalhes mais importantes do leilão.

Poderia discutir a questão do incrível ágio pago pelos consórcios, ou a participação dos fundos de pensão de empresas estatais em um único consórcio -no caso da privatização da Telebrás, para aumentar a concorrência, eles participaram em consórcios diferentes.

Outro ponto que chamou a atenção da mídia, a participação da Infraero no capital das empresas que vão gerir os aeroportos, e que foi apresentado como uma grande mudança em relação aos padrões anteriores poderia também ser por mim comentado.

Mas também decidi não trilhar esse caminho. Para mim, essas questões ficam menores diante do ganho para a sociedade brasileira que foi a volta das privatizações à agenda de governo, como instrumento legítimo de ação na modernização e na ampliação da infraestrutura do país.

Durante mais de 16 anos, o PT e seus aliados de esquerda demonizaram a associação entre setor público e setor privado para a exploração de serviços públicos.

Todas as ações nesse sentido sempre foram catalogadas como contrárias aos interesses da sociedade. Com esse discurso, convenceram grandes parcelas da opinião pública de que havia um lado "demoníaco" nas privatizações e, certamente, atrasaram a experiência brasileira na direção da integração entre setor público e privado.

Um dos exemplos mais claros desse custo é o período de mais de oito anos em que não evoluímos -como sociedade- na busca da melhor relação entre as agências reguladoras e os concessionários de serviços públicos.

O modelo de privatizações desenvolvido no Brasil -e já testado de forma consistente- parte de uma leitura realista dos objetivos e responsabilidades do setor privado e do setor público em uma sociedade como a nossa.

O setor público, apesar das limitações conhecidas na sua eficiência operacional por questões legais e políticas, tem legitimidade para defender os direitos do cidadão na sua relação com os concessionários de serviços públicos.

Já as empresas concessionárias trazem para essa parceria sua agilidade e racionalidade operacional que a busca pela maximização de seus lucros gera na condução de seus negócios, mas, nessa forma de agir, não necessariamente levam em consideração os interesses e direitos de todos os consumidores de seus serviços.

A parceria definida no Brasil, entre Estado e concessionária, via agências reguladoras -embora com defeitos e riscos-, chegou a um equilíbrio bastante eficiente entre esses objetivos muitas vezes conflitantes.

Com a volta desse instrumento de ação pública, o governo federal poderá agora enfrentar com maior eficiência e chances de êxito os enormes desafios que os próximos anos trarão para o setor de infraestrutura.

Mais aeroportos, estradas federais como a Rio-Vitória, terminais portuários e outros projetos estão esperando para seguir o caminho aberto nesta semana.

Papai chegou!


Moisés Naím, hoje na FOLHA DE S. PAULO e uma análise irônica da situação internacional. 

Uma vez no poder, os populistas precisam manipular os recursos do Estado a seu bel-prazer
Papá -Papai- é Hipólito Mejía, e ele quer ser presidente da República Dominicana. "Papai chegou" é seu slogan de campanha. E sua promessa aos eleitores é que Papai lhes dará o que eles não têm e nunca tiveram. As eleições são em maio, e Mejía, que já foi presidente (2000-2004), tem a possibilidade de ser reeleito, apesar de, durante seu mandato, o país ter sofrido uma das piores crises econômicas. Nada disso interessa muito ao resto do mundo. Mas a campanha de Mejía e seu slogan refletem tendências mundiais.

*O populismo. Buscar votos com presentes e prometer coisas que sabem que não poderão cumprir são práticas antigas. Uma vez no poder, os populistas precisam manipular os recursos do Estado a seu bel-prazer e por isso não toleram freios nem contrapesos e depreciam legisladores, juízes, imprensa e opositores. Vale notar que, apesar de o populismo florescer nos países pobres, também se dá bem em democracias avançadas. Exemplo: o discurso de Sarah Palin ou dos pré-candidatos republicanos dos EUA. Os casos recentes da Hungria, da África do Sul e da Tailândia exemplificam o quão global esse fenômeno se tornou.

*O machismo. Hipólito Mejía é "Papá" e Silvio Berlusconi era "Papi", e suas sessões de bunga-bunga já são legendárias. Vladimir Putin cultiva a imagem do macho alfa, que, apesar dos protestos contra ele, está disposto a salvar o país nas eleições de 4 de março. As fotos de Putin como caçador de ursos, judoca, motociclista, piloto de caça ou com o peito nu já foram mais exibidas que a múmia de Lênin.

Hugo Chávez não fica atrás.

Uma vez disse que "faltava homem" para Condoleezza Rice e pediu que um de seus ministros se oferecesse para "fazer um favor" a ela.

*A reeleição. O poder vicia, e a democracia é um antídoto para evitar que os governantes se eternizem. Mesmo assim, alguns presidentes democraticamente eleitos se dispõem a tudo para não perder o poder. A paixão pela reeleição de Nicolas Sarkozy e Vladimir Putin é universal. Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa modificaram as regras para poder continuar no poder. Na Europa, na África e na Ásia há cada vez mais exemplos disso.

* Reelegendo os maus. Daniel Ortega acaba de ser eleito pela terceira vez, mesmo que, para consegui-lo, não tenha hesitado em violar a Constituição. Em sua posse, Ortega foi apadrinhado por Hugo Chávez e pelo iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Nos três casos, as estatísticas dos organismos internacionais mostram que, durante seus mandatos, seus países regrediram. E os três foram reeleitos. Berlusconi também. De novo, não é um fenômeno latino-americano.

* Mamãe chegou! Uma mulher pode frustrar os planos de Mejía, que liderava as pesquisas. Isso até a atual primeira-dama, Margarita Cedeño, decidir lançar-se como candidata à vice-presidência. Agora Danilo Medina, candidato do governo e rival de Mejía, passou ao primeiro lugar, graças ao fato de que 25% dos que dizem que vão votar nele afirmarem que o farão "por Margarita". E essa é outra tendência mundial: há cada vez mais mulheres no poder. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

II Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia.



Está chegando a hora para o mundo blogueiro de Economia.
Vamos participar?

A ficha de inscrição se encontra disponível no site:


Alexandre Schwartsman no VALOR.


Hoje, no VALOR ECONÔMICO, a análise sempre inteligente de Alexandre Schwartsman.

A política fiscal brasileira tem sido mais expansionista do que sugere o resultado primário das contas públicas (que não inclui gastos com juros), levando o Banco Central a superestimar o seu papel para segurar a demanda, avalia o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, sócio diretor da Schwartsman & Associados. Num cálculo que exclui as receitas obtidas pelo pagamento de dividendos e de concessões, o superávit primário de 2011 ficou em 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo do número oficial de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

Ainda que tenha sido um desempenho melhor que o superávit de 1,1% do PIB de 2009 e de 2010 (também na série ajustada), os 2,5% do PIB ficaram consideravelmente abaixo dos 3,2% do PIB registrados entre 2003 e 2008, diz Schwartsman.

Além disso, afirma ele, uma mesma economia para pagar juros obtida com aumento de receitas e despesas é mais expansionista do que se for alcançada com arrecadação e despesas menores. Em 2012, os gastos devem crescer ainda mais, dado o impacto do aumento do salário mínimo sobre despesas previdenciárias e assistenciais e a decisão do governo de aumentar os investimentos.

"Em resumo, a política fiscal é mais expansionista do que costumava ser, mas isso não é capturado de modo correto pelo BC", diz Schwartsman. Para ele, os modelos da autoridade monetária continuam a se basear nos números não ajustados de superávit primário para medir a política fiscal, superestimando fortemente a contribuição da política fiscal para segurar a demanda. "O BC continua a tratar queijo parmesão como se fosse salada, mas a inflação não vai ser enganada por esse subterfúgio."

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O BC e as expectativas de inflação.


Fabio Giambiagi, economista, co-organizador do livro "Economia Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora Campus), hoje no VALOR ECONÔMICO.   

O regime de metas de inflação sofreu alguns arranhões na sua credibilidade desde 2010. Para explicar isso, convém olhar as duas tabelas que acompanham este texto. A tabela I mostra o que aconteceu a cada ano t, com: a) a expectativa de inflação dos Top 5 de médio prazo (as instituições com melhor índice de acerto para o médio prazo, na pesquisa Focus), feita no começo de janeiro do ano anterior; b) a expectativa da mediana de mercado para o próprio ano; e c) a inflação de fato observada no final do ano.

A tabela I sugere, primeiro, que até 2007 o mercado trabalhava com o cenário de que o governo, dando continuidade à política de combate à inflação reafirmada no início do governo Lula e mantida, até então, com excelentes resultados, promoveria reduções posteriores da própria meta de inflação a partir de 2009, a ponto de o mercado acreditar na época que a inflação de 2008 seria inferior à meta daquele ano (no começo de 2007, o mercado achava que a inflação de 2008 seria 3,5 %!). E, segundo, que desvios da inflação acima da meta eram vistos como temporários.

Isso começou a mudar durante 2010. Até o começo daquele ano, com meta de 4,5%, não se duvidava que o governo voltaria a alcançar a meta, mesmo que não no ano, pelo menos no ano seguinte. Já a tabela I indica que, em 2011, pela primeira vez, não apenas duvidou-se que a inflação estaria na meta naquele ano, como desde o começo do ano os Top 5 de médio prazo já sinalizavam que sequer a meta de 2012 seria alcançada.

A rigor, não haveria problemas se o BC explicasse por A + B que por alguma razão a meta no ano não seria cumprida, mas que no futuro a trajetória convergiria para 4,5%. Quando no começo de cada ano se insiste que a meta será alcançada e depois isso não ocorre, porém, os efeitos cumulativos sobre a capacidade de inspirar confiança são óbvios. Observe-se na tabela II que a comparação da inflação prevista para 2011 entre o cenário de mercado do Relatório Trimestral do BC e a previsão dos Top 5 (de médio prazo em 2010 e de curto prazo em 2011) mostra uma subestimação sistemática da inflação futura por parte do BC que vinha se arrastando desde 2010.

O fato é que tivemos inflação distante da meta por dois anos consecutivos em 2010 e 2011 e com expectativas descoladas da meta em 2011 e 2012. O nosso BC é muito melhor que o de nossos vizinhos heterodoxos e é difícil fazer política monetária em um mundo conturbado como o atual. Os fatos de 2011 sugerem, de qualquer forma, que a comunicação institucional do BC deve ser aprimorada. Ao mesmo tempo, a repetição de alguns desses problemas recomenda que o horizonte de referência da meta seja explicitamente estendido para um período de 24 meses à frente.

Faz mais sentido o BC agir a cada reunião para tentar que 24 meses depois a inflação esteja na meta - dando tempo para um ajustamento suave a eventuais choques - do que ficar repetindo em janeiro promessas que em dezembro acabam se frustrando. Comunicação é o nome do jogo. A propósito: a expectativa de inflação da mediana dos Top 5 de médio prazo para o ano que vem (2013) está subindo e já está em 5,3%. Os Top 5 podem errar? Sim, mas nos últimos tempos acertaram bastante. O BC deveria prestar atenção nos sinais que eles estão emitindo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Ásia do sucesso à crise de 1997.


Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp.Em 2001 foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists. Hoje, no VALOR ECONÔMICO.

Leio na imprensa brasileira artigos instigantes, alguns severamente críticos, a respeito de politicas industriais, de comércio exterior e de competitividade, sobretudo as que envolvem a promoção de "campeões nacionais". Os alvos das críticas são as medidas brasileiras de proteção à industria nacional e de estímulo à restruturação empresarial.

Entendi conveniente recorrer a um artigo que escrevi para a revista Praga em maio de 1998. Dizia então, que, ao investigar a razões do desenvolvimento asiático, os autores mais inclinados à análise histórica e institucional concentraram sua atenção nas seguintes questões: 1) a natureza e relevância das políticas industriais (e de constituição de grandes grupos nacionais), sempre amparadas no direcionamento do crédito e nas taxas de câmbio reais "competitivas"; 2) a importância dos acordos implícitos e das relações de "cooperação" e "reciprocidade" entre o Estado e grupos privados; 3) o papel da estabilidade macroeconômica, sempre buscada mediante a prudente gestão monetária e fiscal, característica dos países da região; 4) a forma da inserção internacional.
Os estudos cuidaram de sublinhar as relações peculiares entre os Estados nacionais, os sistemas empresariais e a "inserção internacional". Procuraram chamar a atenção para a especificidade da "organização capitalista" em que prevaleceram: 1) nexos "cooperativos" e de reciprocidade nas relações capital-trabalho; 2) negociações entre os grandes conglomerados e seus fornecedores; 3) íntima articulação entre os bancos e a grande empresa nacional e 4) "administração estratégica" do comércio exterior e do investimento estrangeiro.

Na visão dessa corrente teórica, tal arquitetura institucional não só assegurou excepcionais taxas de investimento e de acumulação de capital, como também ensejou programas de "graduação" tecnológica. Esse arranjo garantiu, assim, expressivos ganhos de produtividade e, consequentemente, consolidou a posição competitiva dos grandes grupos nacionais (sim, os "campeões", senhoras e senhores) diante dos rivais e concorrentes no mercado internacional.

A partir das reformas do final dos anos 70 do século passado, a China irrompeu no cenário asiático com uma receita um tanto modificada. O novo protagonista apoiou-se na combinação entre uma novidade, ou seja, a atração de investimentos diretos estrangeiros e, uma tradição, isto é, a forte intervenção do Estado na finança e no comércio exterior, com o propósito de sustentar uma agressiva estratégia exportadora e de crescimento acelerado. A ação estatal cuidou, ademais, dos investimentos em infraestrutura e utilizou as empresas públicas como plataformas destinadas a apoiar a constituição de grandes conglomerados industriais preparados para a batalha da concorrência global.

Não é difícil perceber que as estratégias chinesas de expansão acelerada, impulso exportador, rápida incorporação do progresso técnico e forte coordenação do Estado, foram inspiradas no sucesso anterior de seus vizinhos, sócios e competidores.

Os sistemas financeiros que ajudaram a erguer os países asiáticos eram relativamente "primitivos" e especializados no abastecimento de crédito subsidiado e barato às empresas e aos setores "escolhidos" como prioritários pelas políticas industriais. O circuito virtuoso ia do financiamento para o investimento, do investimento para a produtividade, da produtividade para as exportações, daí para os lucros e dos lucros para a liquidação da dívida.

Nos final dos anos 80, intensificaram-se as pressões externas para a liberalização cambial e financeira, o que levou às concessões que deflagraram a crise de 1997/1998. À exceção da China, os asiáticos, particularmente Coreia e Tailândia, aceitaram os termos da "desopressão" financeira: 1) a eliminação dos controles cambiais, ampliando a possibilidade dos agentes domésticos realizarem transações em moeda estrangeira que não decorriam de operações em conta corrente; 2) a liberação das taxas de juros, com restrição progressiva dos créditos dirigidos e subsidiados e 3) a desregulamentação bancária, ensejando que os bancos locais pudessem ampliar as atividades para além do financiamento das empresas produtivas.

A internacionalização financeira, em vez da maior eficiência na alocação de recursos, levou, isto sim, à valorização cambial, à especulação com ativos reais e financeiros, à aquisição de empresas já existentes, ao sobreendividamento e, finalmente, à parada súbita e à fuga de capitais.

Depois da queda, os governos dos países asiáticos retomaram, em boa medida, o controle das políticas estratégicas. O governo coreano, por exemplo, resistiu às pressões estrangeiras para vender ou desmanchar os grandes conglomerados. Para justificar suas exigências os sabichões da mídia e do establishment americano falavam, então, de "crony capitalism", capitalismo de compadres. A expressão foi, mais tarde, tomada de empréstimo pelos críticos para caracterizar as relações incestuosas entre a política e a Grande Finança nos Estados Unidos. Um dos raros empréstimos seguros na farra do subprime.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...