Editorial
da FOLHA DE S. PAULO comenta a situação econômica americana.
"Tola,
arbitrária." Assim o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
definiu a atitude do Partido Republicano de rejeitar a renegociação da lei
que impõe reduções automáticas do deficit do governo até 2021. Os cortes
deste ano, de cerca de US$ 85 bilhões, entraram em vigor na semana passada.
O
impasse é mais um capítulo de três anos de confrontos entre Obama e a oposição
republicana, que desde 2011 controla a Câmara. O conflito indica que nem sempre
partidos fortes - poucos e ideologicamente coesos - e um sistema eleitoral
propenso a maiorias estáveis garantem governabilidade.
Um
aspecto dessa crise é o próprio acirramento ideológico; o confronto se deve
também ao método de eleição dos deputados, em pequenos distritos eleitorais.
O
Partido Republicano tornou-se mais duro em sua posição de reduzir o governo. E,
mesmo com o apoio da maioria da população a Obama, deputados republicanos
relutam em aderir à opinião predominante, pois temem perder a indicação do
partido ou a eleição em seus distritos. Por outro lado, analistas políticos e
mesmo democratas consideram que o presidente carece de habilidade e inclinação
para negociar com o Congresso.
Em
2011, o governo esteve à beira da inadimplência, pois a maioria republicana se
recusava a aumentar o limite do endividamento federal. Um acordo de última hora
resultou na lei que, entre outras determinações, previa a formação de um
"supercomitê" bipartidário.
O
grupo foi encarregado de estudar maneiras de reduzir o deficit - se com mais
impostos, menos gastos ou uma combinação de ambos. Sem acordo, os cortes seriam
automáticos. Foi o que ocorreu.
Metade
dos cortes incidirá sobre o orçamento de defesa; outra metade, sobre despesas
discricionárias. Funcionários federais entrarão em licença não remunerada. De
parques federais a agências de proteção do consumidor, do ambiente e de
pesquisa, todos terão orçamentos menores.
Tal
redução de despesas terá, sim, algum efeito no crescimento americano. As
estimativas, porém, variam de uma redução de 0,3 ponto percentual a 1 ponto
percentual do PIB, que não deve crescer mais do que em 2012 (2,2%).
Provavelmente
não haverá dano econômico crítico, mas a capacidade decisória do sistema
político americano fica mais reduzida. Dado o peso dos Estados Unidos no mundo,
o torniquete deve diminuir ainda mais as chances de uma recuperação global.
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