terça-feira, 19 de março de 2013

Banco Central precisa ser firme contra a inflação.

Editorial do GLOBO alerta para o risco de retorno da inflação. 
   
A inflação no Brasil sempre foi muito desafiadora, e, não por acaso, várias tentativas de vencê-la na fase aguda do problema fracassaram, até que a engenhosidade do Plano Real, favorecida pela conjugação de um momento político e econômico oportuno, livrou o país daquele pesadelo que parecia sem fim.

Diante do que ocorreu nesse longo período, a economia brasileira, após o lançamento do real, passou a conviver com uma relativa estabilidade monetária. Não sem sacrifícios. O esforço para se disciplinar as finanças públicas até hoje perdura, com os contribuintes tendo de arcar com uma carga tributária extremamente pesada (36% do PIB). A política monetária foi essencialmente restritiva nesses quase vinte anos, com percentuais elevados de recolhimentos compulsórios sobre os depósitos bancários e taxas de juros bem elevadas. 

Mas, não fosse isso, dificilmente teria sido possível manter a inflação dentro das metas previamente fixadas pelo governo. Metas que, por sinal, miram em um ponto central (4,5%) acima da média apurada nas economias mais maduras e até de países com crescimento mais acelerado que o Brasil. Em face das peculiaridades do processo inflacionário no país, as autoridades governamentais adotaram metas com razoável grau de tolerância (dois pontos percentuais para cima ou para baixo do ponto central).

Com o agravamento da crise financeira nas chamadas economias mais maduras, a política de taxas de juros muito elevadas precisou ser ajustada no Brasil para evitar movimentos indesejáveis nos fluxos de capitais. Com isso, as autoridades monetárias deixaram de contar com um instrumento de alto poder de fogo contra a inflação. Assim, mesmo com um baixo crescimento, a inflação tem se comportado de maneira preocupante, oscilando bem próximo do teto da meta (6,5%).

Na reunião realizada este mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) reconheceu esse risco de mudança do patamar da inflação. Não são poucos os fatores que têm contribuído para impulsionar os preços (entre os quais a remanescente indexação automática de tarifas e do próprio salário mínimo), mas também se espera que outros ajudem a segurar a alta, como a boa safra de alimentos este ano.

O Copom preferiu aguardar um pouco mais para decidir o que fazer. É compreensível, considerando-se o momento confuso no mundo e da ainda indefinida tendência da economia brasileira. No entanto, se a inflação persistir no atual patamar, as autoridades monetárias terão de agir mais duramente. Essa possibilidade ficou no ar na ata do último Copom, e, por isso, o próximo, marcado para abril, será cercado de grande expectativa. É importante que fique claro que o Banco Central tem autonomia para adotar remédios fortes, se forem necessários.

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