sábado, 9 de março de 2013

Controlar a inflação.


Editorial da FOLHA DE S. PAULO e análise do resultado da última reunião do Copom.

Após os alertas recentes de seu presidente, o Banco Central deu um sinal claro nesta semana de que deverá voltar a elevar os juros para combater a inflação.
Segundo comunicado oficial, o Comitê de Política Monetária (Copom) "irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
No jargão, significa que a alta de juros é muito provável e pode ocorrer já na próxima reunião, em meados de abril, ou na seguinte.
Verdade que a economia ainda patina, apesar dos sinais de retomada do PIB, para um ritmo próximo a 3% (contra 0,9% em 2012).
A inflação, porém, acelerou - cálculos que desconsideram oscilações de curto prazo apontam para um quadro estrutural preocupante. Nos doze meses encerrados em fevereiro, o IPCA (índice oficial) acumulou alta de 6,33%; em março, deve atingir 6,5% (o máximo aceito acima da meta fixada pelo próprio governo, de 4,5%).
No cômputo geral, a inflação é o fator predominante. Embora o governo deva ganhar margem de manobra com novas desonerações tributárias em itens com peso importante na alta de preços, como a cesta básica, é difícil imaginar que tais iniciativas possam, sozinhas, reverter o processo inflacionário.
O principal empecilho é a credibilidade do BC, arranhada nos últimos dois anos pela impressão de leniência que passou para os agentes econômicos. As numerosas intervenções verbais da Fazenda apenas reforçaram a desconfiança. Uma vez perdida a expectativa de controle dos preços, é muito mais difícil conter a inflação.
O cálculo do BC - e do Planalto - é claro: não fazer nada e deixar a inflação correr solta neste ano pode resultar em um cenário de descontrole para 2014 e complicar a vida da presidente Dilma Rousseff no ano da eleição.
Uma alta moderada dos juros em curto prazo - e, neste cenário, quanto antes ela ocorrer, melhor - reduziria tais riscos. Analistas parecem concordar que a taxa básica (Selic), hoje em 7,25%, subirá pouco mais de um ponto, a partir de abril ou maio, salvo improvável melhora dos índices de inflação.
Ainda que despertada por interesse eleitoral, é bem-vinda a disposição do BC de combater o processo inflacionário. Há, além disso, sinais de que o governo passará a adotar atitude menos aventureira em vários campos - gestão da Petrobras e concessões de infraestrutura, por exemplo.
Maior coerência e mais cuidado na gestão da economia podem reduzir o mau humor do empresariado e, quem sabe, impulsionar os investimentos.

Nenhum comentário:

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...