Editorial da FOLHA DE S. PAULO e análise do resultado da última reunião do Copom.
Após os
alertas recentes de seu presidente, o Banco Central deu um sinal claro nesta
semana de que deverá voltar a elevar os juros para combater a inflação.
Segundo
comunicado oficial, o Comitê de Política Monetária (Copom) "irá acompanhar
a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir
os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
No jargão,
significa que a alta de juros é muito provável e pode ocorrer já na próxima
reunião, em meados de abril, ou na seguinte.
Verdade que a
economia ainda patina, apesar dos sinais de retomada do PIB, para um ritmo
próximo a 3% (contra 0,9% em 2012).
A inflação,
porém, acelerou - cálculos que desconsideram oscilações de curto prazo apontam
para um quadro estrutural preocupante. Nos doze meses encerrados em fevereiro,
o IPCA (índice oficial) acumulou alta de 6,33%; em março, deve atingir 6,5% (o
máximo aceito acima da meta fixada pelo próprio governo, de 4,5%).
No cômputo
geral, a inflação é o fator predominante. Embora o governo deva ganhar margem
de manobra com novas desonerações tributárias em itens com peso importante na
alta de preços, como a cesta básica, é difícil imaginar que tais iniciativas
possam, sozinhas, reverter o processo inflacionário.
O principal
empecilho é a credibilidade do BC, arranhada nos últimos dois anos pela
impressão de leniência que passou para os agentes econômicos. As numerosas
intervenções verbais da Fazenda apenas reforçaram a desconfiança. Uma vez
perdida a expectativa de controle dos preços, é muito mais difícil conter a
inflação.
O cálculo do
BC - e do Planalto - é claro: não fazer nada e deixar a inflação correr solta
neste ano pode resultar em um cenário de descontrole para 2014 e complicar a
vida da presidente Dilma Rousseff no ano da eleição.
Uma alta
moderada dos juros em curto prazo - e, neste cenário, quanto antes ela ocorrer,
melhor - reduziria tais riscos. Analistas parecem concordar que a taxa básica
(Selic), hoje em 7,25%, subirá pouco mais de um ponto, a partir de abril ou
maio, salvo improvável melhora dos índices de inflação.
Ainda que
despertada por interesse eleitoral, é bem-vinda a disposição do BC de combater
o processo inflacionário. Há, além disso, sinais de que o governo passará a
adotar atitude menos aventureira em vários campos - gestão da Petrobras e
concessões de infraestrutura, por exemplo.
Maior
coerência e mais cuidado na gestão da economia podem reduzir o mau humor do
empresariado e, quem sabe, impulsionar os investimentos.
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