Editorial do "O
Globo" em 23.08.2013 e o atual momento da economia brasileira.
O
fato de a desvalorização do real não ser algo isolado, fazer parte de um movimento
planetário que atinge economias emergentes, parece álibi perfeito para a reação
típica de autoridades de culpar causas externas por problemas domésticos. Mas
não é bem assim.
Por
trás de tudo, está a proximidade do fim do "relaxamento monetário",
instituído pelo banco central americano (Fed) para recuperar a economia, por
meio da injeção periódica de bilhões de dólares, via recompra de títulos.
Depois de mais de US$ 3 trilhões colocados em circulação, a economia americana
firma uma tendência de recuperação. Para não gerar pressões inflacionárias
perigosas, o Fed suspenderá essas operações, e o capital financeiro que gira no
mundo, diante da perspectiva de alta dos juros americanos, começa a buscar
títulos do Tesouro dos EUA. Natural que economias emergentes percam
atratividade. Porém, há emergentes mais atingidos que outros. Por fragilidades
próprias, caso do Brasil.
No
inventário de decisões erradas na condução da economia, que hoje cobram um
preço na forma de desvalorização exacerbada da moeda, está a
"contabilidade criativa", idealizada para, ingenuamente, tentar
camuflar uma política fiscal expansionista enquanto o discurso oficial é o
oposto. Relacionado a esta "criatividade", há o uso desregrado do
endividamento público para capitalizar BNDES, BB, CEF, aumentando o risco
fiscal. Tudo mina a credibilidade do país diante do investidor externo - e
interno -, problema amplificado pela leniência demonstrada com a inflação. Há,
ainda, o intervencionismo na formatação de leilões de concessão, com o tabelamento
de taxas de retorno. Bem como o dirigismo estatal no congelamento de
combustíveis, dramático para o caixa da Petrobras, quando a empresa precisa de
recursos para ampliar a fronteira de exploração do pré-sal.
Ainda
no quesito da formação artificial de preços, há um subsídio na conta de luz, a
fim de bancar o corte predefinido de 20% no custo final da energia. Nele, há o
risco de se criar no Tesouro um daqueles "esqueletos" fiscais
descobertos quando o Plano Real estabilizou a economia.
Há
entre os agentes econômicos a correta percepção de que os subsídios apenas
reprimem inflação. Formam no subsolo da economia uma tsunami de inflação
represada.
Pode
ser que o governo já tenha se convencido de alguns desses erros. O mal, porém,
no entendimento do mercado, está feito. E como a percepção dos descaminhos na
política econômica coincidiram com o início da contagem regressiva do fim da
política do Fed de "relaxamento monetário", a fuga de divisas para o
mercado americano pune o Brasil mais que outros países, inclusive
latino-americanos. Claro que quanto mais cedo os rumos da política econômica
forem ajustados, também mais cedo a dose extra de punição será atenuada. O
mundo acompanhará com atenção as próximas reuniões do Copom e as licitações de
portos, estradas e ferrovias que se aproximam.
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