Este
editorial publicado pelo O GLOBO na sexta-feira passada merece ser lido com muita atenção, pois é lugar comum reclamar que falta dinheiro para a Educação. Na realidade, falta é caráter.
Da
gestão Fernando Henrique Cardoso, passando pela Era Lula, até Dilma Rousseff
são, grosso modo, quase duas décadas em que a Educação é um assunto prioritário
do Executivo federal. Pode-se entender que, com acerto, o tema passou a ser uma
preocupação de Estado.
É
possível enxergar uma linha lógica em todo este tempo, com períodos de maior
ênfase no avanço quantitativo - quando, no governo FH, buscou-se a
universalização da matrícula no ciclo fundamental, e, a partir de Lula,
principalmente no segundo governo, o duro e essencial trabalho na melhoria da
qualidade do ensino público básico. Matriculado o maior número possível de
crianças, a sequência natural seria mesmo aprimorar a transmissão de
conhecimentos.
Não
há qualquer dúvida sobre a estratégia. Os resultados é que indicam a extrema
dificuldade no enfrentamento da má qualidade do ensino. Avança-se, mas fica a
impressão de que poderia ser menos difícil. A recente divulgação de Índices de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), pelo Pnud (ONU), mostrou que mesmo
cidades com os melhores indicadores não conseguiram bom rendimento na Prova
Brasil (avaliação do ensino básico), nas disciplinas-chave de Matemática e
Português. O aprofundamento no assunto reforça o diagnóstico de que não é
apenas com mais dinheiro que a Educação dará o salto de que a sociedade
necessita. Se fosse assim, a solução definitiva estaria no lado
financeiro/fiscal.
Estudo
de técnicos da Secretaria do Tesouro - não referendado pela secretaria e
execrado, é claro, por prefeitos e o MEC - concluiu que pelo menos 40% dos
gastos municipais com educação são desperdiçados, por corrupção e/ou ineficácia
da própria máquina pública. Se fosse a metade (20%), já seria escandaloso,
motivo para um esforço de emergência no governo para entender o que se passa e
tapar os vazamentos.
O
trabalho dos analistas Janete Duarte, Sérgio Ricardo de Brito, Plínio Portela e
Luís Felipe Vital, além da professora da USP Fabiana Rocha, ganha respaldo de
auditorias da Controladoria Geral da União (CGU), as quais detectaram fraudes e
mau uso do dinheiro do Fundeb em 73,7% de 180 municípios auditados, em 2011 e
2012.
Isso
significa desestabilizar a estrutura de financiamento do ensino público básico.
Há erros decorrentes de incompetência administrativa, desvio de dinheiro para
outros tipos de gastos, em detrimento, por exemplo, da remuneração de
professores, e corrupção, roubo.
O
conserto do sistema educacional público requer uma junta multidisciplinar - do
promotor, procurador e policial a especialistas em gestão pública e treinamento
pedagógico do professorado. Não é nada simples, mas tem de ser enfrentado.
Desconfie-se, portanto, toda vez que se disser que basta dobrar os gastos com
Educação para 10% do PIB.
Espantoso
é que auditorias como esta se repitam diante de uma impassível burocracia.
Um comentário:
Concordo plenamente. Infelizmente os gestores educacionais, desde os secretarios de educação passando pelos diretores escolares ainda não tem preparação nem consciencia etica para quebrar o triste circulo vicioso que se abateu na educação brasileira... há melhorias sim, mas muito aquem da necessidade do pais!A esperança esta nesse novo olhar social que percebe isso e na geração que vem ai... Jane
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