Editorial do VALOR ECONÔMICO de 23.08.2013 analisa a atual situação da economia brasileira.
A acelerada desvalorização do real, se não for parcialmente revertida logo, fará
estragos nos índices de preços, que há tempos não vão bem. O país estava diante
de opções ruins, agora exacerbadas pelo descolamento do câmbio - um ciclo de
alta de juros para derrubar a inflação, com efeito contracionista em uma
economia que relutava em crescer bem.
O
câmbio maltrata países e economistas igualmente. É ainda mais difícil fazer
prognósticos em meio a uma mudança dos padrões monetários do porte da que fará
o Federal Reserve americano, em meio a turbulências e mercados nervosos. Nessas
circunstâncias, "overshootings" são inevitáveis e a moeda brasileira
está perto deles, após o uso de cerca de US$ 40 bilhões em swaps e, em dose
pequena, linhas de câmbio. Uma parte da sobrevalorização do real já fora
descontada com a correção de cerca de 20% realizada em 2012. Com os
desequilíbrios já existentes na economia brasileira e outros amplificados pela
dinâmica da instabilidade movida pela reversão de fluxos de capital, a cotação
do dólar tem, sem dúvida, combustível para subir até onde a irracionalidade
permitir, para depois se acomodar. O que interessa é o novo ponto de equilíbrio
- um enigma.
Com
a cotação de fim de período do mês de julho, de R$ 2,2897 ou pela média do mês,
de R$ 2,2522, a moeda brasileira estava bem perto de zerar sua valorização. O
índice da taxa efetiva real (com IPCA de deflator) naquele mês foi de 94, já
próximo dos 100 de 2005 ou de junho de 1994. Isto é, uma diferença de 6,3%, o
que pode sugerir, a grosso modo, que por esse parâmetro uma "boa"
cotação estaria na casa dos R$ 2,40 a R$ 2,45. O Fundo Monetário Internacional
estimou valorização de 10% a 15% do real em relação à cotação de maio, de R$
2,03, indicando uma posição de algum equilíbrio com o dólar entre R$ 2,25 e R$
2,35.
Há
outros cálculos mais sofisticados e números para variados gostos. As previsões
são feitas sob terrenos movediços, ao suporem que os juros dos títulos do
Tesouro americano, que subiram para 2,88%, estacionem aí. O Itaú projeta câmbio
a R$ 2,45 no fim do ano, com inflação de 6,1% e o Bradesco, em R$ 2,30 com os
preços correndo a 5,9%. Ou seja, parece razoável supor que o câmbio pode
momentaneamente escapar bastante dessas duas balizas, mas depois estacionará
entre elas.
Os
problemas causados por essa correção, porém, são desagradáveis. A correção dos
combustíveis parece ser inevitável, como já se convenceu o governo, e só com
esse reajuste, dificilmente a inflação será inferior aos 5,8% de 2012, uma meta
que o Banco Central vem perseguindo com o ciclo de alta de juros. Ao que tudo
indica, o esforço dos juros terá de ser maior para obter esse mesmo resultado.
Dólar em alta costuma ser acompanhado por commodities em baixa, mas não foi
isso que ocorreu em julho e no trimestre, quando o índice elaborado pelo BC
evoluiu 2,27% e 8,32%, respectivamente. Não há disparada à vista, mas há pouca
chance de recuos relevantes, que ajudem a conter os índices de preços.
O
aumento dos juros busca contrair a demanda em uma economia que tem mostrado
pouca disposição para elevar seu ritmo de crescimento. A disparada do dólar
trouxe um ingrediente de pessimismo adicional aos já baixos índices de
confiança de empresários e consumidores, que provocaram retração da demanda e,
até certo ponto, também dos investimentos. Como os fatores negativos, nessas
circunstâncias, aparecerão antes que os positivos - aumento das exportações,
que tirará a indústria de sua letargia, fim da fogueira de preços no setor de
serviços, por exemplo - é possível que a política de aperto terá de sacrificar
mais o crescimento do que se previa antes das tempestades nos mercados de
moedas.
O
rearranjo do dólar e dos juros no mercado internacional, por outro lado, tornou
mais difíceis as captações externas e reduziu muito o fluxo de ingressos no
país em um momento em que o déficit em conta corrente sobe e a balança
comercial arrasta um déficit ao longo do ano. Com isso, ficará mais trabalhoso
fechar as contas externas, embora não haja, de novo, desastres à vista.
Na
véspera de grandes guinadas na economia global, o Brasil parece estar sempre
com a casa desarrumada. Na crise de 2008, o desequilíbrio se exprimia em juros
lunares e taxa de câmbio apreciada. Agora, vive-se os efeitos de uma errada
política fiscal cíclica e de tolerância com a inflação.
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