Editorial do ESTADÃO em 21.08.2013 e a recorrente preocupação com a situação cambial.
Desejada
por muitos industriais como alavanca da exportação e barreira protetora do
mercado interno, a desvalorização do real é acima de tudo, neste momento, um
fator de incerteza e de agitação financeira. Quando o câmbio se acomodar,
ninguém sabe onde, será possível um balanço mais claro dos ganhos e perdas. O
País poderá estar um pouco mais competitivo, pelo menos por algum tempo, mas as
pressões inflacionárias terão aumentado. Problemas de custos serão mais graves
tanto para produtores como para consumidores. Mas a instabilidade cambial ainda
poderá durar meses. A insegurança continuará, com intensidade variável, mas
sempre com estragos, enquanto se esperam as prometidas alterações na política
americana de afrouxamento monetário.
Alguma
nova indicação sobre a mudança poderá surgir com a divulgação da ata da
última reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco
central americano). A emissão de dólares deve ser reduzida quando os dirigentes
do Fed julgarem bastante firme a recuperação econômica dos Estados Unidos.
Ninguém pode dizer com certeza quando isso ocorrerá.
Enquanto
a agitação continua, as autoridades brasileiras tentam, em primeiro lugar,
conter a excessiva instabilidade do câmbio e limitar seus efeitos sobre a
inflação, ainda muito longe da meta de 4,5%. O governo tenta evitar um novo
estouro do limite de tolerância, de 6,5%.
Da
perspectiva do Palácio do Planalto, é muito importante conter, em primeiro
lugar como estratégia eleitoral, a crise de confiança em relação à política
econômica e às perspectivas da economia. A alta de preços é um dos principais
fatores de desconfiança dos investidores e o Executivo sabe disso, embora
continue pouco disposto a adotar uma política séria de estabilização. Isso
envolveria, entre outros pontos, um controle efetivo dos gastos públicos.
Com
reservas na vizinhança de US$ 370 bilhões, o Banco Central (BC) tem bom estoque
de munição para intervir no mercado, mas, como sempre, com resultado muito
incerto. No fim das negociações de 20.08.2013, o dólar comercial era vendido a R$
2,394. Depois de dois leilões promovidos pelo BC com oferta de US$ 4 bilhões, a
cotação havia caído para R$ 2,396, voltado a R$ 2,40 e novamente baixado. No
fechamento do dia anterior, a moeda americana havia sido vendida a R$ 2,414.
Mesmo com algum recuo, o dólar ainda acumulava ontem uma alta considerável,
cerca de 7% em apenas 30 dias.
Apesar
da depreciação do real neste ano e mesmo nos últimos 12 meses, as contas
externas continuaram em deterioração. De janeiro até a terceira semana de
agosto, o País acumulou um déficit de US$ 4,731 bilhões no comércio de
mercadorias. As exportações renderam US$ 146,693 bilhões e as importações
custaram US$ 151,424 bilhões. Pela média dos dias úteis, 0 valor exportado foi
1,6% menor que o de igual período do ano anterior. O valor importado, 10,4%
maior.
O
descompasso é indisfarçável. Parte das importações de combustíveis do ano
passado só foi contabilizada em 2013 e isso afetou o resultado geral. Mas, se
esse valor tivesse entrado nas contas de 2012, o superávit do ano teria sido
muito menor, De qualquer forma, a piora do comércio exterior do País estaria
bem caracterizada.
Para
este ano, especialistas consultados no fim da semana passada pelo BC, em soa
pesquisa Focus, projetam saldo comercial de US$ 4,35 bilhões, 77,6% menor que o
de 2012. Essa é a mediana das estimativas coletadas pelos pesquisadores. O
mesmo levantamento indica a expectativa de um déficit de US$ 77 bilhões na
conta corrente do balanço de pagamentos.
A
firme deterioração dessas contas é um dos fatores de insegurança dos
investidores financeiros e dos empresários industriais. Com a esperada mudança
no mercado financeiro - dólares mais escassos e mais caros -, especialistas
mostram-se preocupados com o financiamento das contas externas brasileiras.
Somem-se a isso a desconfiança em relação às contas públicas e o temor de mais
inflação e o quadro torna-se facilmente compreensível A mudança na política do
Fed é só um componente a mais de um cenário ruim.
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