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domingo, 7 de agosto de 2011

A Standard & Poor's e o rebaixamento dos Estados Unidos.

Paul Krugman, colunista do The New York Times, hoje no O Estado de S.Paulo, comenta sobre o novo rating AA+ dos Estados Unidos.

Pois é, a Standard & Poor"s fez o que ameaçava fazer: rebaixou o rating dos Estados Unidos. É uma situação estranha.

Por um lado, agora justifica-se a afirmação de que a loucura da direita tornou os Estados Unidos uma nação fundamentalmente doente. Porque, de fato, é a loucura da direita: se não fosse o radicalismo dos republicanos, sempre contrários a impostos, seria possível chegar, sem nenhum problema, a um acordo que garantiria a solvência a longo prazo.

Por outro lado, é difícil imaginar uma entidade menos qualificada para passar um julgamento sobre o nosso país do que as agências de rating. Então as pessoas que classificaram os títulos respaldados em empréstimos subprime agora se declaram os juízes da política fiscal? É mesmo? E, para a coisa ficar mais perfeita, ficou claro que a S&P errou nos cálculos em US$ 2 trilhões; depois de muitas discussões reconheceu - e rebaixou a classificação. Mais do que isso, tudo o que já ouvi sobre as exigências da S&P indica que a agência está falando absurdos a respeito da situação fiscal dos EUA. Ela sugeriu que o rebaixamento se deu por causa do montante da redução do déficit que havia sido negociada para a próxima década, e aparentemente acenou com o mágico número de US$ 4 trilhões.

Entretanto, a solvência dos EUA não depende do que acontece a curto e até mesmo a médio prazo: mais de U$ 1 trilhão de dívidas representa um aumento de apenas uma fração de um ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) aos custos dos juros futuros. Portanto, U$ 2 trilhões a mais ou a menos não têm grande significado a longo prazo. O que importa é a perspectiva a prazo mais longo, que, por sua vez, depende em grande parte dos custos da saúde.

Então, do que é que a S&P estava falando?

Supostamente, ela possuía alguma teoria segundo a qual a restrição agora é um indicador do futuro - mas não há nenhuma boa razão para se acreditar nesta teoria, e seguramente a S&P não tem nenhuma autoridade para fazer esse tipo de vago julgamento político.Em suma, a S&P fez uma asneira - e, depois da débâcle das hipotecas, não tem mais esse direito. É um escândalo - não porque os EUA estejam numa boa situação, mas porque estas pessoas não têm condições de julgar.

sábado, 6 de agosto de 2011

As preocupações erradas.

PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO, comenta sobre a situação atual da crise americana. É preocupante, mas verdadeira a sua crítica ao que hoje ocorre por lá...

Para reverter um desastre econômico, muitas pessoas terão de admitir que estiveram erradas e que precisam mudar imediatamente suas prioridades.

A queda de mais de 500 pontos no índice Dow Jones na quinta-feira e a queda dos juros para patamares quase nunca vistos confirmaram a notícia: a economia não está se recuperando e Washington esteve se preocupando com os fatores errados. Não se trata apenas do fato de a ameaça de um duplo mergulho recessivo ter se tornado muito real: tornou-se agora impossível negar o óbvio, ou seja, que não estamos e nunca estivemos no caminho da recuperação.

Faz dois anos que os funcionários do Federal Reserve, das organizações internacionais e do governo Obama insistem que a economia estava saindo do buraco. Cada má notícia foi atribuída a fatores temporários. E o foco da política econômica foi desviado da criação de empregos e do crescimento para o problema da redução do déficit. Mas a economia não estava saindo do buraco. É verdade que a recessão chegou ao fim dois anos atrás e a economia escapou de uma derrapada assustadora. Mas em nenhum momento o crescimento se mostrou adequado levando-se em consideração a profundidade do mergulho inicial. Quando o desemprego aumenta tanto quanto o que vimos de 2007 a 2009, é preciso criar muitos empregos para compensar. E isso não ocorreu.

Levemos em consideração um indicador fundamental: a proporção empregada da população. Em junho de 2007, cerca de 63% da população adulta dos Estados Unidos estava empregada. Em junho de 2009, momento considerado o fim oficial da recessão, esse número tinha caído para 59,4%. Em junho de 2011, dois anos depois do início da suposta recuperação, esse número era de 58,2%.

Isso pode soar como uma estatística insossa, mas reflete uma realidade terrível. Além do grande número de americanos desempregados e subempregados, pela primeira vez desde a Grande Depressão muitos trabalhadores americanos estão enfrentando a perspectiva de um desemprego de prazo longuíssimo – talvez até permanente. Entre outras coisas, o aumento no desemprego de longo prazo vai reduzir a arrecadação fiscal futura do governo, de modo que não estamos agindo de maneira racional nem mesmo em termos puramente fiscais.

Mas o mais importante é que se trata de uma catástrofe humana.

Que motivo teríamos para nos mostrar surpresos com essa catástrofe? De onde o crescimento deveria vir? Os consumidores, ainda pressionados pelo fardo da dívida acumulada durante a bolha imobiliária, não estão prontos para gastar. As empresas não encontram motivos para a expansão diante da fraca demanda do consumidor. E, graças à obsessão com a questão do déficit, o governo, que poderia e deveria estar apoiando a economia nesse momento de necessidade, está cortando gastos.

E agora parece que tudo vai ficar pior. Qual seria a resposta possível? Para reverter este desastre, muitas pessoas terão de admitir que estiveram erradas e que precisam mudar suas prioridades. É claro que há aqueles que simplesmente não vão mudar. Os republicanos não vão parar de gritar a respeito do déficit porque nunca foram sinceros em relação a isso: sua preocupação com o déficit foi um porrete com o qual golpearam seus oponentes políticos.

Mas a desastrosa política econômica dos últimos dois anos não foi apenas o resultado do obstrucionismo do Partido Republicano, que não teria tanta força se a elite dos governantes – incluindo-se nela alguns nomes do governo Obama – não tivesse concordado que a redução do déficit, e não a criação de empregos, deveria ser nossa grande prioridade. E não devemos isentar Ben Bernanke e seus colegas. O Fed não fez tudo o que podia, parte por estar preocupado com uma inflação hipotética do que com o desemprego real, parte por ter se intimidado por tipos como Ron Paul.

Bem, é hora de dar um basta nisso tudo. Essa queda nos juros e no preço das ações diz que os mercados não estão preocupados com a solvência dos EUA e nem com a inflação. O que eles temem é a falta de crescimento nos EUA. E eles têm razão, mesmo que na quarta-feira o assessor de imprensa da Casa Branca tenha optado por declarar que não havia risco de um duplo mergulho recessivo. No início da semana, dizia-se que o governo Obama daria uma “guinada”, dedicando sua atenção à criação de empregos, agora, que o teto da dívida foi aumentado. Mas, ao que me parece, esta guinada consistiria apenas em propor medidas menores. E, a essa altura, propostas desse tipo só fariam o presidente Obama passar por ridículo.A questão é que chegou a hora – já passa da hora – de tratar com seriedade a crise que a economia enfrenta. O Fed precisa parar de apresentar desculpas, e o presidente precisa elaborar verdadeiras propostas para a criação de empregos. E, se os republicanos vetarem tais propostas, ele precisa embarcar numa campanha contra a obstrução do Partido Republicano ao estilo daquela promovida por Harry Truman. Isso pode funcionar ou não. Mas os milhões de americanos que deveriam estar empregados – mas não estão – já sabem o que é que não está funcionando: a política econômica dos últimos dois anos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os EUA iam acabar em 1861.

Raramente disponibilizo neste espaço artigos com o excelente texto do ELIO GASPARI. Isso não ocorre pela falta de assuntos comentados pelo mesmo, mas por questão de espaço e textos de colegas de economia, principal foco deste blog. Porém, hoje é impossível deixar de ler a defesa que GASPARI faz do império americano. E se utilizo o termo “império americano”, é verdadeiramente por considerar que se trata da atual maior superpotência do mundo. Após uma excelente leitura, vocês observarão que a economia americana sempre será a mais forte do mundo.

Os Estados Unidos iam acabar. Não nesta semana, mas há exatos 150 anos, depois que as tropas do Sul venceram em Manassas a primeira grande batalha da Guerra Civil. Grandes políticos ingleses, bem como "The Economist" e "The Times" (pré-Murdoch), achavam que o presidente Lincoln forçara a mão com o Sul. Quatro anos e 620 mil mortos depois, a União foi preservada e acabou-se a escravidão.

Passou pouco mais de meio século e, de novo, os Estados Unidos iam acabar. A Depressão desempregou 25% de sua mão de obra e contraiu a produção do país em 47%. A crise transformou fascismo e nazismo em poderosas utopias reacionárias. De Henry Ford a Cole Porter, muita gente se encantou com o ditador italiano Benito Mussolini. Dezesseis anos depois, as tropas americanas entraram em Roma, Berlim e Tóquio.

Em 1961, quando os soviéticos mostraram Yuri Gagarin voando em órbita sobre a Terra, voltou-se a pensar que os Estados Unidos iam se acabar. Em 1989, acabou-se o comunismo.

. A decadência americana foi decretada novamente em 1971, quando Richard Nixon desvalorizou o dólar, ou em 1975, quando suas tropas deixaram o Vietnã. O dólar continua sendo a moeda do mundo, inclusive para os vietnamitas.

A última agonia, provocada pela exigência constitucional da aprovação, pelo Congresso, do teto da dívida do país, foi uma crise séria, porém apenas uma crise parlamentar. Para o bem de todos e felicidade geral das nações, não só os Estados Unidos não se acabam, mas o que se acaba são os modelos que se opõem ao seu sistema de organização social e política.

No cenário de hoje, o ocaso americano coincidiria com a alvorada de progresso e eficácia da China. Lá, o teto da dívida jamais será um problema. Basta que o governo decida. Como lá quem decide é o governo, nos últimos cem anos o Império do Meio passou por dois períodos de fome que geraram episódios de antropofagia. Hoje a China não tem os problemas dos Estados Unidos, afinal, nem desastre de trem pode ser discutido pela população.

Guardadas as proporções, o sistema político brasileiro seria melhor que o americano, porque não haveria aqui a crise parlamentar provocada pelo teto da dívida. Se houvesse, o Brasil não teria quebrado nos anos 80 por ter tomado empréstimos dos banqueiros que ajudaram a criar a encrenca que hoje atormenta Washington.

Aquilo que parece uma crise da decadência é uma simples e saudável manifestação do regime democrático. Quando os negros americanos foram para as ruas, marchando em paz ou queimando quarteirões, também temeu-se pelo futuro do país. O que acabou foi a segregação racial.

Se hoje há uma crise nos Estados Unidos, ela não está nas bancadas republicanas ou mesmo na influência parlamentar do movimento Tea Party. Eles defendem o que julgam ser o melhor caminho para o país. A crise está em outro lugar, na negação, por um tipo de conservadorismo extremado, dos valores que fizeram da nação americana o que ela é. Quando o governo Bush sequestrou suspeitos pelo mundo afora, levando-os para centros de tortura, e viu-se obrigado a soltar alguns deles porque não eram o que se pensava, aí sim, os Estados Unidos estavam em perigo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Acordo na beirada.

Ilan Goldfajn, no O Estado de S. Paulo de hoje, comenta sobre a crise americana e a situação brasileira. Uma excelente leitura.

Obama e os republicanos chegaram a um acordo à beira do abismo. O calote estava próximo. No mínimo, será necessário interromper serviços fundamentais da economia americana para pagar o serviço da dívida. A visão predominante é que era tudo desnecessário, fruto de uma política partidária insana. Mas exageros e desfechos dramáticos à parte, não compartilho essa opinião. O debate fiscal nos EUA é legitimo e essencial. Não deve surpreender a falta de consenso sobre profundos cortes de gastos ou a volta dos impostos: tarefa difícil após a mais grave crise financeira internacional e com desemprego ainda recorde. Mas a dívida alta tem de ser recolocada numa trajetória sustentável. Estamos acostumados a assistir a debates fiscais desesperados e emocionantes nos Parlamentos apenas quando forçados por credores já recusando rolar a dívida do governo. O caso da Grécia é o exemplo mais recente desse fenômeno. Nos EUA não há problema com o financiamento da dívida. No fundo, os problemas nos EUA e na Europa são da mesma natureza fiscal, mas em estágios de degradação distintos.

Nos últimos tempos temos assistido a turbulências nas economias maduras. Parece, mas não é coincidência, que as crises estão ocorrendo em paralelo. Tanto nos EUA como na Europa, os problemas fiscais ficaram mais evidentes depois da crise. O crescimento potencial está sendo reavaliado e a viabilidade de manter a trajetória dos gastos, questionada. A crise mostrou que havia uma percepção mais otimista do futuro do que possível. O estouro da "bolha", visto a posteriori, é um sintoma dessa percepção equivocada. A solução é adaptar-se à realidade. Para evitar promover cortes profundos no meio da recessão é necessário pensar o ajuste no médio e no longo prazos. Alguns países, como Grécia, Portugal e Irlanda (e mesmo Espanha e Itália) não têm mais esse luxo: o seu ajuste de médio e de longo prazos virou de curtíssimo prazo. E mesmo assim, em alguns casos, como o da Grécia, será necessária a reestruturação da dívida. Outros países ainda têm o luxo de ajustes ao longo do tempo, como Alemanha, EUA, França e Japão, mas precisam começar a atuar já nos seus planos.

Nos EUA, o Congresso habitualmente autoriza o aumento do teto da dívida, que cresce sempre nominalmente, mesmo que como proporção do PIB não fosse o caso. Na situação atual, a discussão do teto veio a reboque do problema fiscal. O acordo na 24.ª hora prevê aumento do teto da dívida em US$ 2,1 trilhões (sendo US$ 900 bilhões neste ano e US$ 400 bilhões imediatamente) em troca de cortes de US$ 2,5 trilhões nos próximos dez anos. Mas de que forma ocorrerão esses cortes?

Há um debate legítimo na sociedade sobre como resolver a difícil questão fiscal e o excesso de endividamento. Os democratas querem evitar cortes de programas sociais (preferem aumento de impostos para empresas e para os mais ricos) e os republicanos querem corte de gastos mais profundos, evitando aumento de impostos. No acordo, a composição de cortes de US$ 1 trilhão já está delimitada e envolve gastos militares, entre outros. Os gastos militares voltaram a crescer após os atentados de 11 de setembro de 2001, com a volta do suporte da população às intervenções militares.

O impasse fiscal só parece ter chegado ao fim adiando-se o debate dos cortes de U$ 2,5 trilhões restantes para uma segunda etapa. As elevações adicionais da dívida (US$ 1,2 trilhão) ficam condicionadas a essa negociação. Serão meses e anos difíceis de negociação para decidir onde serão os cortes, inclusive sobre a previdência social e assistência médica aos mais velhos, e sobre uma possível reforma tributária (aumento de impostos).

É claro que questões puramente políticas estavam obscurecendo o debate. Os republicanos tinham interesse em adiar esse debate fiscal (ou antecipar os cortes de gastos) para o ano que vem, no meio das eleições, para prejudicar a imagem de Barack Obama. Era tudo o que ele queria evitar. Enquanto isso, a população mais moderada e independente irritava-se com ambos os partidos, o que, em última instância, os empurrava para a mesa de negociação.

Não obstante o acordo, as agências de classificação de risco ainda podem rebaixar a nota dos EUA por considerarem os cortes de gastos insuficientes. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) estima que a dívida líquida vá atingir quase 85% do PIB nos próximos anos.

Há duas lições para o Brasil.

Primeiro, é importante perceber a mudança de curso na economia global. As economias maduras deixarão de ter seu dinamismo de outrora no futuro próximo. É um período em que excesso de velocidade (nos gastos públicos, por exemplo) pode levar a derrapagens sérias.

Segundo, temos aqui nosso próprio debate fiscal, que requer atenção, antes de sermos empurrados para o ajuste forçado. A dinâmica da dívida, que em suas épocas era a questão central, hoje dá lugar ao debate sobre os ajustes fiscais necessários para permitir juros menores, câmbio menos apreciado e espaço maior para investimentos público e privado, tão necessários ao desenvolvimento futuro. Temos avançado pouco num projeto fiscal de médio e de longo prazos nessa direção.

Europa de um lado, EUA do outro. É triste constatar que ainda estamos vivendo os tremores financeiros após o "terremoto" da crise financeira de 2008. O legado da crise são décadas de ajuste e redução das dívidas públicas (e privadas). Melhor pensar em formas de ajuste que antecedam o ajuste forçado. Isso vale para o Brasil, que fez um ajuste fiscal no passado quando necessário, mas que precisa projetar um plano de médio e de longo prazos para permitir queda da inflação, dos juros e do câmbio e um crescimento potencial maior. Nos EUA, o timing da crise fiscal foi autoimposto, o que, apesar de tudo, foi melhor que ajustar sob pressão dos credores.

Obama cede na questão da dívida.

PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO de hoje.

Além de ser um desastre para Obama e seu partido, o acordo vai prejudicar a economia americana, já fragilizada, e a democracia do país, ao provar que a extorsão funciona.

Um acordo para elevar o teto da dívida federal está sendo trabalhado. Se aprovado, muitos comentaristas dirão que o desastre foi evitado. Mas estarão errados.

Com relação ao acordo em si, em face das informações disponíveis, é um desastre, e não só para o Obama e seu partido. Será prejudicial para uma economia já fragilizada; quanto ao déficit a longo prazo, provavelmente vai piorar. E, o mais importante, provando que a extorsão funciona e não provoca nenhum custo político, ele levará os EUA mais à frente no caminho para se tornar uma república de bananas.

Iniciemos pela economia. Atualmente atravessamos uma fase de economia profundamente deprimida. E a situação será a mesma no próximo ano. Talvez em 2013 também, se não for mais além. Nessas circunstâncias, o pior a fazer é cortar os gastos do governo, já que vai enfraquecer ainda mais a economia.

Quanto aos termos do acordo, equivalem a uma lamentável rendição do presidente. Em primeiro lugar, serão feitos enormes cortes de gastos, sem aumento da receita. Em seguida, uma comissão vai fazer recomendações de reduções futuras do déficit - e se não forem aceitas, novos cortes serão previstos.

Aparentemente, os republicanos têm um incentivo para fazer concessões na próxima rodada de negociação, porque a área da defesa está entre as que sofrerão cortes. Mas certamente sentem-se encorajados pela maneira como Obama cede às suas ameaças. Ele cedeu em dezembro, quando estendeu todos os cortes de impostos do governo Bush; depois capitulou quando ameaçaram fechar o governo; e agora novamente se rende a uma extorsão no caso do teto da dívida. Talvez apenas eu observe que existe um plano nisso tudo.

O presidente tem alguma alternativa desta vez? Sim.

Em primeiro lugar, ele poderia e deveria ter exigido um aumento do teto da dívida em dezembro. Quando indagado por que não fez, respondeu que estava certo de que os republicanos agiriam com responsabilidade. Bela aposta.

E, mesmo agora, o governo poderia recorrer a manobras legais para se esquivar do teto da dívida, usando algumas das várias opções à disposição.

Não se enganem, o que estamos presenciando é uma catástrofe em múltiplos níveis. Uma catástrofe política para os democratas, que há poucas semanas pareciam ter afugentado os republicanos e seus planos de desaparelhar o Medicare; agora Obama desperdiçou tudo. E os danos não vão ficar por aí: novos pontos de estrangulamento surgirão se os republicanos ameaçarem criar uma crise caso ele não ceda, podendo agir com a quase certeza de que ele cederá de novo.

A longo prazo, porém, os democratas não serão os únicos perdedores. O que os republicanos conseguiram foi pôr em dúvida todo o sistema de governo. Afinal, como uma democracia americana pode funcionar se um dos partidos está mais disposto a ser implacável, ameaçar a segurança econômica da nação, chegar até a impor a política para o país?

Talvez a democracia não consiga, esta é a resposta.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ainda sobre a crise americana.

PAUL KRUGMAN, escrevendo em seu blog que SE EU ESTIVESSE NA CÂMARA...

Acho que preciso ser explícito a esta altura: é isso mesmo, eu votaria `não’.

E quanto à catástrofe que resultaria disto? Tenho muito a comentar.

Primeiro, as pessoas que devem ser as mais bem informadas a respeito do assunto me dizem que o Tesouro não vai ficar sem dinheiro amanhã; as reservas ainda durariam mais alguns dias.

Segundo, aqueles que afirmam que coisas terríveis ocorreriam imediatamente no mercado também afirmaram que haveria um grande movimento de recuperação assim que um acordo fosse estabelecido. Não exatamente: o índice Dow apresenta atualmente queda de 121 pontos.

Terceiro, a ideia de que uma interrupção temporária no seu funcionamento danificaria para sempre a credibilidade das instituições americanas parece agora irrelevante; quem ainda não perdeu a fé nas instituições americanas não deve ter prestado atenção nos fatos até o momento.

Quarto, aquelas opções legais ainda estão disponíveis. Obama pode agir agora; e, mesmo que no fim o presidente seja derrotado nos tribunais, isto fará com que ele ganhe tempo.

Não resta dúvida que se trata de uma escolha arriscada. Mas a situação toda é imensamente arriscada, graças ao extremismo e à sede se sangue da direita. Não há opção segura, e a tentativa de não correr riscos quando não existe segurança possível vai nos levar… Ora, ao ponto em que Obama se encontra no momento.

Por que o déficit dos EUA é tão grande?

Martin Feldstein é professor de Economia na Harvard, foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Ronald Reagan e presidente do Birô Nacional de Pesquisas Econômicas. Copyright: Project Syndicate, 2011. Escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO, sobre Por que o déficit dos EUA é tão grande?

O enorme déficit orçamentário dos EUA é agora menor, percentualmente, em relação à renda nacional, do que na Grécia e no Egito, entre todos os principais países do mundo. Sem dúvida, o déficit atual de 9,1% do PIB se deve em parte aos efeitos automáticos da recessão. Mas, de acordo com as projeções oficiais do Birô de Orçamento do Congresso dos EUA (CBO, na sigla em inglês), mesmo depois que a economia retornar ao pleno emprego, o déficit continuará a ser tão grande que a proporção da dívida americana em relação ao PIB persistirá em alta pelo resto desta década e além.

Compreender como realizar uma consolidação orçamentária nos EUA exige entender por que projeções indicam que o déficit orçamentário deverá manter-se tão alto. Antes de examinar os déficits projetados para o futuro, consideremos o que aconteceu nos dois primeiros anos de governo do presidente Barack Obama para fazer o déficit subir de 3,2% do PIB em 2008 para 8,9% do PIB em 2010 (o que, por sua vez, elevou de 40% para 62% a dívida nacional em relação ao PIB).

O aumento de 5,7% do PIB no déficit orçamentário refletiu uma queda de 2,6% do PIB em receitas tributárias (de 17,5% para 14,9% do PIB) e um crescimento de 3,1% do PIB em gastos (de 20,7% para 23,8 % do PIB). De acordo com o CBO, menos de metade do aumento de 5,7% do PIB no déficit orçamentário foi resultado da desaceleração econômica, pois os estabilizadores automáticos adicionaram 2,5% do PIB ao aumento do déficit entre 2008 e 2010.

A análise do CBO refere-se às mudanças no déficit orçamentário induzidas por condições cíclicas como "estabilizadores automáticos" no contexto da teoria de que o declínio de receitas e aumento das despesas (principalmente com benefício desemprego e outras transferências) causadas por uma desaceleração econômica contribuem para a demanda agregada e, portanto, ajudam a estabilizar a economia.

A perspectiva orçamentária para as décadas subsequentes é dominada pelos crescentes custos dos benefícios da Seguridade Social e Medicare, que, segundo projeções, elevarão a proporção da dívida sobre o PIB de 90% em 2020 para 190% em 2035

Em outras palavras, mesmo sem os estabilizadores automáticos, isto é, se a economia estivesse em nível de pleno emprego em 2008-2010, o déficit orçamentário americano ainda teria crescido 3,2% do PIB. A diminuição da receita e o aumento dos gastos respondem, cada um, por cerca de metade desse aumento do déficit "a pleno emprego".

Olhando para o futuro, o CBO projeta que uma aprovação do orçamento proposto pelo governo Obama em fevereiro acrescentaria US$ 3,8 trilhões à dívida nacional entre 2010 e 2020, fazendo com que a proporção da dívida em relação ao PIB subisse de 62% para 90%. Esse aumento de US$ 3,8 trilhões na dívida líquida reflete aumento em torno de US$ 5 trilhões no déficit, devido a maiores gastos e menores receitas dos contribuintes de média e baixa rendas, compensados em parte por US$ 1,3 trilhão em aumentos de impostos, principalmente sobre pessoas de alta renda.

Até mesmo esse enorme crescimento projetado para os déficits e o endividamento subestima os impactos negativos que o orçamento fiscal do governo Obama, se aprovado, infligiria. O orçamento proposto assume que gastos "opcionais" não relacionados com a defesa (que exigem aprovação do Congresso, ao contrário dos chamados gastos "obrigatórios", como benefícios pagos aos pensionistas garantidos pela Seguridade Social, continuarão a crescer, a menos que o Congresso modifique os benefícios) aumentarão num total de apenas 5% na década de 2010 a 2020, o que implica uma queda em termos reais e nenhum espaço para novos programas.

Projeções sugerem que o nível anual de gastos com defesa diminuirão em cerca de US$ 50 bilhões em cada ano após 2012 uma visão muito otimista das necessidades militares dos EUA na próxima década. Uma redução do déficit do orçamento americano para prevenir um novo aumento da proporção da dívida em relação ao PIB a partir de seu nível atual exigirá redução de gastos e aumento das receitas. Esse aumento na receita pode ser obtido sem aumento das taxas de imposto marginais, ou seja, limitando o montante de redução de impostos que as pessoas físicas e as empresas podem conseguir com as várias "deduções tributárias" que constituem uma parte importante da legislação tributária americana. Mas isso é assunto para outra coluna.

Do lado das despesas, porém, a perspectiva de que a dívida nacional possa dobrar durante a próxima década é apenas o começo do problema fiscal que os EUA agora têm pela frente. As perspectivas orçamentárias para as décadas subseqentes é dominada pelos crescentes custos dos benefícios da Seguridade Social e Medicare, que, segundo projeções, elevarão a proporção da dívida sobre o PIB de 90% em 2020 para 190% em 2035. Uma reforma fundamental desses programas é o principal desafio para as finanças públicas americanas e, portanto, para a saúde de longo prazo da economia dos EUA.

Pensando na economia americana...

VINICIUS MOTA, na FOLHA DE S. PAULO de hoje, escreve sobre “o impensável”.

O ano que vem marcará o 50º aniversário do episódio mais tenso da Guerra Fria. Em outubro de 1962, soviéticos e americanos flertaram com o embate direto, a partir da resposta dos EUA à instalação, em Cuba, de bases de mísseis de ataque da URSS.

A ameaça de escaramuça desafiou a sociedade a especular sobre o que restaria em caso de colapso daquela ordem bipolar. A abstenção do combate frontal entre americanos e soviéticos, afinal, era um requisito que conferia estabilidade e previsibilidade às relações e aos conflitos internacionais.

A guerra aberta inauguraria um período de prolongada incerteza.

E o que ocorreria hoje se o dólar e os títulos do Tesouro dos Estados Unidos deixassem de ser o esteio das finanças globais? Como no caso dos mísseis, a ameaça de calote americano questiona fundamentos da organização do mundo como ele é -ou parece ser.

A resposta é impensável nos termos atuais. Não há moeda para a qual fugir; não há governo com poder econômico e credibilidade comparáveis; não há arquitetura financeira para absorver o colosso de riqueza denominada em dólares.

E entretanto faz 30 anos que os Estados Unidos estão afundando no vermelho. Para sustentar o consumo, o governo faz dívida com seus cidadãos, as famílias penduram sua renda futura em bancos e cartões de crédito, e o país inteiro toma emprestado do exterior.

Com a produção estagnada no nível de 2007 -e a probabilidade de resultados ruins até 2012-, os EUA rolam a conta na base da maquininha de imprimir dólares e papéis do Tesouro. Apesar dos resmungos, o mundo todo aceita o jogo, pois treme de pensar na desordem profunda que o fim dessa ilusão monetária acarretaria.

Ainda assim, tal como ruiu a ordem bipolar, que parecia inabalável, a supremacia do dólar não vai durar para sempre. Chegou a hora de desafiar o impensável.

domingo, 31 de julho de 2011

EUA perdem o AAA na política.

Clovis Rossi, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre o drama que passa a economia americana e, pela grandiosidade, a mundial.

O presidente Barack Obama, em seu enésimo apelo ao bom-senso, lembrou na sexta-feira que os Estados Unidos correm o risco de perder, pela primeira vez na história, o melhor "rating" não porque não tenham a capacidade de pagar as contas, "mas porque não temos um sistema político AAA que corresponda ao nosso rating de crédito AAA".

É inacreditável, mas é isso mesmo. A dívida norte-americana é de fato colossal, na altura de US$ 14,3 trilhões, o que corresponde, grosso modo, a sete vezes o que o Brasil produz por ano de bens e serviços.

Mas, enquanto o mundo estiver disposto a financiá-la -e continua disposto- não haveria risco de "default", mesmo que parcial, e, por extensão, não haveria risco de degradação da nota de crédito da maior economia do mundo, única superpotência remanescente -fatores que tornam a situação alucinante.

Ao assumir que o sistema político norte-americano não merece nota 10, Obama está concordando explicitamente com a análise recorrente a respeito da crise, análise que fica de pé, aconteça o que acontecer hoje ainda ou amanhã. Há uma enxurrada de comentários dizendo que o sistema político norte-americano tornou-se disfuncional.

Minha opinião: a generalização, como quase toda generalização, é injusta. A disfuncionalidade não é de todo o sistema. Deriva da introdução nele, a partir do ano passado, do fundamentalismo hidrófobo do Tea Party, o movimento ultraconservador que não é majoritário nem entre os republicanos, mas cuja virulência sequestrou a agenda do país e, de certo modo, do mundo.

Basta ler comentário, também de sexta-feira, do "Financial Times", publicação que compartilha com o Tea Party a ojeriza a um Estado grande, mas é séria e responsável o suficiente para dizer: "Esta anabolizada facção populista-conservadora combina um zeloso e intransigente desejo de reduzir o governo com um desprezo cego pelas consequências do default. O desejo é legítimo, a irresponsabilidade é imperdoável".

A irresponsabilidade se torna ainda mais imperdoável quando se sabe que o que está em jogo agora não é aumentar a dívida para o futuro, mas simplesmente para pagar as dívidas já contratadas e devidamente autorizadas pelo Congresso em momentos anteriores.

Portanto, é injusta também a generalização feita pela presidente Dilma Rousseff, na cúpula de quinta-feira da Unasul, ao dizer, referindo-se a Estados Unidos e União Europeia que "a insensatez é a regra".

Em geral, quando se diz que todos são igualmente culpados, acaba-se aceitando que ninguém seja responsabilizado, o que, pelo menos neste caso, é um erro grave.

Se o presidente Obama tem alguma culpa é a de ter sido demasiadamente conciliador, o que o levou a abandonar a sua fórmula preferida -e de elementar sentido comum- de que o ajuste fiscal deveria ser composto por aumento de receita e corte de gastos, na proporção de 20% para 80%.

Agora, com ou sem "default", virão só cortes de gastos, o que o sentido comum diz que não é o mais sadio, num momento em que a economia patina, como mostra o pífio crescimento do segundo trimestre.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Economia americana.

Lemos na FOLHA DE S. PAULO que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, estimou que o ritmo de crescimento da maior economia mundial apresentou desaceleração recentemente.

"A atividade econômica continua crescendo, mas o ritmo se desacelerou" na maioria das regiões do país, afirmou o Fed em seu "Livro Bege", um relatório sobre suas reuniões apresentado nesta quarta-feira.

A estimativa do banco central americano foi divulgada no momento em que a saúde financeira dos Estados Unidos é colocada em prova. Democratas e republicanos estão em um impasse sobre o limite do país da dívida e sem um acordo até dia 2 de agosto o governo americano corre o risco de ficar inadimplente em algumas de suas obrigações.

Nesta data, os EUA devem ultrapassar o chamado teto de sua dívida, que é de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,2 trilhões). Analistas afirmam que o calote da dívida americana poderia provocar um salto da taxa de juros nos Estados Unidos e potencialmente ameaçar a recuperação econômica mundial.

A oposição republicana, que controla a Câmara dos Representantes (deputados federais), exige que um acordo para elevar o teto da dívida seja vinculado a cortes no orçamento americano, para reduzir o deficit recorde, calculado em cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 2,3 trilhões) para o ano fiscal que termina em setembro.

Os democratas relutam em tocar em programas sociais que os republicanos querem enxugar, enquanto Obama insiste na necessidade de acabar com cortes de impostos que beneficiam a camada mais rica da população, criados ainda no governo de George W.Bush.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O desastre que conhecemos.

Paul Krugman, em seu blog divulgado no ESTADÂO fala sobre “O desastre que conhecemos”.

Há um argumento que poderia passar despercebido na discussão um tanto confusa sobre os efeitos da moratória nos mercados financeiros: ninguém sabe exatamente quais seriam os efeitos de um calote da dívida. Ela poderia produzir uma calamidade, ou o desastre poderia ser contido afetando muito pouco as taxas de empréstimos ao setor privado.

Mas o que nós sabemos é que, se o governo for obrigado a reduzir drasticamente os gastos quando o dinheiro acabar – se parar de pagar as aposentadorias, ou parar de pagar as empreiteiras, ou seja lá o que for – as consequências disso tudo serão tremendamente negativas para a economia. Haverá uma nova quebra da Bolsa.

Espero e rezo para que os advogados de Obama descubram que a solução proposta pela 14ª emenda afinal de contas é válida. Porque, de outro modo, nos encontraremos diante de uma situação realmente calamitosa, mesmo que os mercados se mantenham calmos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Inadimplência e governo ainda maior.

Simon Johnson foi economista-chefe do FMI, é professor da MIT Sloan, membro sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional e coautor de "13 Bankers", com James Kwak. É cofundador do blog www.BaselineScenario.com, Copyright: Project Syndicate, 2011 e escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO sobre INADIMPLÊNCIA E GOVERNO AINDA MAIOR.

Importantes congressistas dos Estados Unidos estão determinados a provocar um confronto com o governo Obama sobre o teto de dívida do governo federal. Normalmente, seria de se esperar que, a esta altura das negociações, os republicanos cedessem, mas uma minoria inflexível parece realmente achar que a inadimplência das dívidas do governo não seria algo ruim.Esses deputados - com os quais interagi recentemente em três audiências no Congresso - estão convencidos de que o governo federal é grande demais em relação à economia e que são necessárias medidas drásticas para que fique sob controle. Dependendo de como você avalie a força do movimento "Tea Party" no Capitólio, no mínimo uma inadimplência parcial não parece ser algo tão implausível como se imaginava no passado - e os recentes alertas das agências avaliadoras de crédito refletem esse aumento de risco.

As consequências de qualquer inadimplência, no entanto, ironicamente, aumentariam o tamanho do governo em relação à economia dos EUA - justamente o resultado que os republicanos mais intransigentes dizem tentar evitar.

O motivo é simples: a inadimplência do governo destruiria o sistema de crédito na forma como o conhecemos. As essenciais taxas de juros referenciais dos mercados financeiros modernos são as taxas dos bônus governamentais, consideradas de "risco zero". Remover esse pilar do sistema - ou criar um alto grau de risco em torno aos títulos do Tesouro dos EUA - desestabilizaria muitos contratos privados e todos os tipos de transações.

Além disso, muitas pessoas e empresas mantêm seu "dinheiro para emergências" na forma de títulos do Tesouro americano. Os fundos do mercado monetário, vistos como os mais seguros, por exemplo, são os que possuem apenas títulos de dívidas do governo dos EUA. Se o governo ficar inadimplente, contudo, todos vão "quebrar" a marca do dólar, ou seja, não conseguiriam manter o valor do principal investido no fundo e devolveriam menos de US$ 1 por dólar investido.

O resultado seria uma fuga de capitais - mas, para onde? Muitos bancos teriam um problema similar: o desmoronamento dos preços dos títulos do Tesouro dos EUA (com os juros subindo, já que os preços dos bônus e as taxas movem-se em direções opostas) destruiria seus balanços patrimoniais.

Os republicanos da Câmera e do Senado que não querem elevar o teto da dívida estão brincando com fogo. Defendem uma política que teria efeitos terríveis. A única lei que o Congresso não pode revogar é a lei das consequências involuntárias.

Não há uma só empresa nos EUA que não seria afetada pela inadimplência do governo - e não há um só banco ou outra instituição financeira que poderia proporcionar um porto seguro para as poupanças. Haveria uma corrida maciça de resgates de dinheiro em um grau sem precedentes desde a Grande Depressão, com longas filas de pessoas nos caixas eletrônicos e nos guichês de bancos para sacar o máximo possível.

Além disso, o crédito privado desapareceria do sistema econômico dos EUA, deixando o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) diante de uma escolha desagradável. Poderia intervir e fornecer enormes volumes de crédito diretamente às famílias e empresas (de forma parecida ao Gosbank, o banco central da antiga União Soviética) ou poderia ficar imóvel enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cai de 20% a 30% - magnitude de retração que vemos nas economias modernas quando o crédito seca repentinamente.

Com o setor privado em queda livre, o consumo e os investimentos declinariam de forma acentuada. A capacidade de exportação dos EUA também seria afetada, porque os mercados estrangeiros provavelmente seriam afetados e porque, de qualquer forma, se as exportadoras não conseguissem créditos, muito provavelmente não conseguiriam produzir.

Os republicanos estão certos quanto a uma coisa: a inadimplência levaria a uma queda dos gastos do governo em termos reais. Mas o que cairia mais, os gastos do governo ou o tamanho do setor privado? A resposta, quase certamente, é o setor privado, tendo em vista sua dependência em relação ao crédito para comprar insumos. Pegue a contração que se seguiu à crise do sistema financeiro em 2008 e multiplique-a por dez.

O governo, por outro lado, tem acesso ao Fed e poderia, portanto, ter dinheiro para pagar salários. Com o teto de dívida ficando inalterado, isso exigiria certo truque jurídico. Mas a alternativa, claramente, seria o colapso da segurança nacional dos EUA - soldados e guardas de fronteira precisam ser pagos, o sistema de transporte precisa operar e assim por diante.

Emitir dinheiro nessa situação quase certamente seria inflacionário, mas o Fed poderia concluir de outra forma, porque os EUA nunca estiveram nessa situação antes, o crédito agora está implodindo e as medidas desesperadas de expansão de crédito criadas em 2008 mostraram não ser tão ruins como muitos críticos temiam.

É assim, portanto, que uma inadimplência das dívidas dos EUA seria: o setor privado desmoronaria, o desemprego rapidamente superaria os 20% e, embora o governo encolhesse, continuara sendo o empregador de última instância.

Os republicanos da Câmera e do Senado que não querem elevar o teto da dívida estão brincando com fogo. Defendem uma política que teria efeitos terríveis e resultaria no oposto do que eles querem, porque a inadimplência tornaria, imediatamente, o governo mais importante e não menos. A única lei que o Congresso não pode revogar é a lei das consequências involuntárias.

Quem tem medo do calote dos EUA?

Eduardo Campos, no VALOR ECONÔMICO de hoje, pergunta: Quem tem medo do calote dos EUA?

A semana começou com um clássico movimento de saída de risco. Bolsas e commodities caíram, enquanto o dólar apontou para cima.

A justificativa para tal movimento não é nova. O tema é o endividamento soberano, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. E o problema nos dois lados do Atlântico parece ser um só, a falta de liderança na solução dos problemas.

Nos EUA, segue o embate entre Republicanos e Democratas sobre a elevação do teto do endividamento federal. Os EUA precisam gastar mais que os atuais US$ 14,3 trilhões e precisam de autorização para isso.

O que mais se ouve sobre o assunto é que a birra política será levada até o último momento, mas que no fim das contas o governo receberá autorização e os EUA não entrarão em um impensável default.

Apenas uma ou outra análise chama atenção para a "loucura" de parte dos Republicanos, que impediriam o aumento do teto só para ver o circo pegar fogo.

Mas mais do que discurso, sinais do próprio mercado mostram que um calote dos EUA é um evento considerado possível, mas tido como pouco provável.

O seguro da dívida de curto prazo (CDS - Credit Default Swap de um ano) segue na linha dos 49 pontos (o que é alto, mas não explosivo). E mesmo na iminência de um default, a demanda pelos papéis americanos segue firme. Sinal claro disso é a taxa de retorno do papel de 10 anos, que voltou a cair para baixo dos 3%.

Quem em sã consciência compraria os papéis de um governo que está para dar o calote, ainda mais a taxas decrescentes? O mesmo tipo de questionamento vale para o dólar, que ontem voltou a ganhar de seus principais rivais.

Nem medidas correlatas captam esse risco de calote dos EUA.

Vamos a um exemplo doméstico. O Brasil, que fechou maio (dado mais recente) com estoque de US$ 211 bilhões em dívida americana, quinto maior financiador mundial, não vê uma disparada de seu risco.

O economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, tem interessante abordagem sobre o tema: é impossível um país dar calote na própria moeda. Basta ligar a máquina e imprimir dólares. Os EUA sempre fizeram isso. A situação é mais simples ainda, pois há gente disposta a financiar os americanos.

Por isso, o economista discorda um pouco das abordagens que vêm sendo dadas ao problema. Para Perfeito, esse aceno de default vai além dos embates políticos domésticos.

Essa ameaça de calote seria um jogo de cena. Mais uma jogada para tentar se fazer o que não se conseguiu com a política do dólar fraco.

O economista lembra que, desde o início da crise, os EUA jogaram a taxa de juros a zero para conseguir, entre outras coisas, que o dólar se desvalorizasse. O objetivo era compensar o baixo crescimento doméstico via demanda externa.

Não por acaso os EUA pressionaram a China por maior liberdade cambial. Tudo no âmbito da tal "Guerra Cambial". Mas os americanos não conseguiram um naco da demanda chinesa. Os dirigentes chineses foram irredutíveis e, para despistar, adotaram uma banda de oscilação que pouco mudou o preço do yuan.

Para Perfeito, o que os EUA querem é ajuda para crescer. "Os EUA estão começando a apertar o resto do mundo para fazer à força o que era para ser feito via diferencial de juros", diz o economista.

No mercado local, o dólar começou a semana em alta, mas terminou a jornada longe das máximas do dia.

Depois de subir a R$ 1,585, o dólar comercial terminou o dia com alta de 0,12%, a R$ 1,579 na venda.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para agosto apontava queda de 0,06%, também a R$ 1,579, antes do ajuste final. O contrato fez máxima a R$ 1,5895, mas no fim da tarde devolveu os ganhos junto com uma melhora de sentimento que tirou força do dólar, reverteu o movimento de baixa na taxa dos títulos americanos e zerou as perdas do euro. Ainda se procura explicação crível, racional e bem fundamentada para isso.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Obama e falácia do fluxo de capitais.

Paul Krugman, no ESTADÃO, posta em seu blog sobre que Obama e a falácia do fluxo de capitais

A coletiva de imprensa do presidente Obama não foi tão ruim quanto poderia ter sido; na verdade, mais ou menos ele disse que o estímulo precisa ser sustentado, salvo que não é politicamente possível. Mas também invocou a fada da confiança – e introduziu uma nova falácia, mostrando que ele e os seus assessores ainda não apreenderam a essência da macroeconomia numa armadilha de liquidez.

“Penso que, se o país como um todo, percebe que Washington age responsavelmente, compromissos estão sendo feitos, o déficit e a dívida sendo e tratados para um prazo de 10,15, 20 anos, que isso dará mais confiança às empresas para investirem com mais vigor neste país, os investidores dizendo que os EUA passaram a atuar unidos, dispõem-se a investir. E isso pode então ter um impacto positivo no campo do emprego e do crescimento em geral.”

OK, no começo surgiu a fada da confiança. Mas essa história de “investidores estrangeiros” foi, de fato, a parte pior.

Pense nisto: as taxas de juros nos Estados Unidos estão baixas; não observamos nenhum “crowding-out” (eliminação das despesas e dos investimentos privados) neste momento; NÃO existe uma escassez de poupança.

Assim, se os investidores estrangeiros decidirem que nos amam, o que isso provoca? Um aumento no valor do dólar, o que reduz as exportações e conduz a um menor número de postos de trabalho.

Isso parece familiar? Está intimamente relacionado ao raciocínio de que o acúmulo de reservas em dólar pelos chineses afeta inequivocamente a economia americana quando estamos numa armadilha de liquidez. E o que acabamos de perceber é que a Casa Branca ainda não entendeu isso.

Contudo, esta falta de compreensão é secundária comparado com o que vem ocorrendo no Congresso. Mas ainda assim é decepcionante e deprimente.

domingo, 3 de julho de 2011

Breve comentário sobre o debate do estímulo.

Paul Krugman no ESTADÃO on line comenta:

Um breve comentário sobre o fato de eu estar prematuramente correto a respeito do problema das proporções insuficientes do estímulo: talvez você ache que hippies como eu estavam apoiando suas opiniões em algum tipo de versão louca, selvagem e nada ortodoxa das leis da economia, enquanto as pessoas sábias e ponderadas que defendiam US$ 787 bilhões como um montante ideal recorriam às análises tradicionais.

Mas o que ocorria era exatamente o contrário. A defesa de um estímulo muito maior era inspirada pelos manuais mais básicos de macroeconomia e podia ser justificada também por modelos econômicos mais extravagantes, mas ainda tradicionais.

Em comparação, a ideia de um estímulo bem menor tinha como base uma combinação de improviso, intuição e simbolismo político: sem ter como base prova nenhuma, os governantes acreditaram que um estímulo maior acabaria inquietando o mercado de títulos, e/ou que um empurrão temporário seria suficiente para restaurar a tão importante confiança, ou que seria politicamente crucial manter o montante total abaixo da marca de US$ 1 trilhão. (Que diferença faria se nossa álgebra funcionasse na base 12?)

Em outras palavras, a sabedoria – conforme entendida pelo público – estava em rejeitar análises econômicas criteriosas em favor do tato, e só atinar para o fato de que a análise estava correta depois que tivessem se passado alguns anos de desemprego em massa. Os hippies leem os manuais; as Pessoas Muito Sérias confiam na análise detalhada das tripas de um animal, ou algum outro ritual do tipo.

domingo, 12 de junho de 2011

É a economia, Obama!

Objetivo e direto editorial da FOLHA DE S. PAULO sobre a atual situacao de Barack Obama.
Foram efêmeros os efeitos positivos do assassínio de Bin Laden na popularidade do presidente americano, Barack Obama. Segundo pesquisa do jornal "Washington Post" com a rede de TV ABC, sua aprovação era de 47% em abril, pulou para 56% após a morte do terrorista e, neste mês, retornou ao nível anterior.
Não é bem uma surpresa. Nada menos que 59% dos americanos desaprovam, hoje, a condução da economia pelo presidente, nível mais alto desde a eleição do candidato do Partido Democrata. O descontentamento é generalizado e profundo: 89% acreditam que a economia é um problema, e 57% dizem que o país nem começou a sair da recessão.
Se as eleições fossem hoje, um dos potenciais contendores do Partido Republicano, Mitt Romney, teria 49% dos votos dos eleitores registrados, contra 46% de Obama. Um empate técnico, já que a margem de erro é de 3,5 pontos para mais ou para menos.
As pesquisas mostram fraqueza de Obama, mas dizem pouco sobre o que poderá ocorrer em 2012. O quadro pré-eleitoral nos EUA é sempre muito variável, e a corrida para selecionar um candidato republicano está longe de uma definição. Há várias facções influentes e antagônicas, como o movimento conservador Tea Party.
A economia, de fato, vai mal. A volta do crescimento para o patamar próximo de 2,5%, entre meados de 2009 e o primeiro trimestre deste ano, não tem sido suficiente para gerar empregos rapidamente. Apenas 2 milhões de postos de trabalho foram criados desde 2009, uma fração das 8,5 milhões de vagas perdidas na crise.
A persistir o ritmo recente, de 200 mil novos postos por mês, o emprego retornaria ao nível pré-crise apenas em 2014. Mesmo assim, a taxa de desemprego, atualmente em 9,1%, persistiria muito acima do padrão histórico -próximo de 5%- por mais de uma década. O desemprego se tornou um problema crônico: o tempo médio sem trabalho passou de 15 semanas (média desde 1980) para quase 40 semanas, atualmente.
Ainda pesam sobre os ombros das famílias americanas o excesso de endividamento e a queda dos preços dos imóveis. O crédito bancário permanece estagnado, mesmo depois da injeção de US$ 1,85 trilhão na economia.
A apreensão com o deficit público, da ordem de 10% do PIB, indica que em 2012 os maciços programas de expansão de gastos públicos devem reduzir-se, o que afetará o crescimento no ano eleitoral.
Obama certamente terá problemas na eleição por conta da situação econômica. Mas os republicanos também enfrentarão dificuldades, entre elas encontrar um candidato com propostas convincentes para gerar empregos.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A taxa de desemprego e os presidentes americanos.

Li no blog do Ricardo Noblat o post abaixo, com origem na BBC.

Os novos números do mercado de trabalho divulgados pelo governo americano podem complicar a vida do presidente Barack Obama, no momento em que ele começa a intensificar sua campanha à reeleição.

A queda acentuada na geração de vagas e o aumento da taxa de desemprego surpreenderam analistas, que esperavam um desempenho melhor.

Também serviram de combustível para inúmeras análises na imprensa americana sobre como o estado da economia pode afetar as chances de reeleição do presidente no pleito do ano que vem.

Desde que anunciou a morte de Osama Bin Laden, no início de maio Obama, Obama vem gozando de um aumento nos índices de aprovação, ultrapassando a marca de 50%.

No entanto, o histórico das eleições americanas mostra que, no fim das contas, o que importa para o eleitor é a economia. E a taxa de desemprego de 9,1%, com quase 14 milhões de americanos sem trabalho, é um obstáculo considerável no caminho de Obama rumo ao segundo mandato.

Um levantamento divulgado pela imprensa americana mostra que, dos dez presidentes que tentaram a reeleição a partir de 1945, todos os que governavam com taxa de desemprego abaixo de 6% na época da votação foram reeleitos.

Nos casos em que a taxa era maior de 6%, o único que conseguiu se reeleger foi Ronald Reagan, com desemprego de 7,2%, mas em forte trajetória de queda na época do pleito.

Como o próprio governo americano já disse que deve levar "vários anos" até que a taxa de desemprego volte a girar em torno de 5% ou 6%, resta conferir se Obama vai conseguir fugir à regra ou vai acabar no indesejável time dos presidentes americanos de um mandato só.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tudo é político by Paul Krugman.

Logo que li o artigo do PETER DIAMOND fiquei imaginando a humilhacao de um NOBEL perante seus colegas. Agora a pouco, PAUL KRUGMAN poe o dedo na ferida e esclarece esta triste história. Se isso acontece com um economista considerado por KRUGMAN como EXCELENTE, fico pensando o que acontece com meros aprendizes de economia.

Peter Diamond tem um artigo de opinião deprimente no New York Times de hoje, eximindo-se de disputar um assento no Conselho de Administração do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em face da oposição republicana.

O que é preciso saber sobre Peter é que ele não é apenas um excelente economista, mas um economista de economistas – um teórico profundamente respeitado, não absolutamente alguém que se fez como ideólogo. Seu trabalho é basicamente apolítico.

Exceto que hoje em dia tudo é político.

Pouco importam as preocupações obviamente falsas sobre se ele é adequado ou não ao Fed. Obviamente, Peter não foi aprovado em função de dois pecados: ser pessoalmente um democrata, e ter sido nomeado por Obama.

A questão é que o Fed supostamente devia ficar acima e ao lado da disputa partidária. Nunca ficou completamente – mas esse era um ideal a ser alcançado. Não é mais.

Acho que a rejeição de um premiado com o Nobel para um assento no Fed está ligada, de maneira fundamental, à disposição de economistas com reputações profissionais decentes de aderirem às proclamações cada vez mais insanas emitidas por políticos republicanos. Sejam eles honestos consigo mesmos ou não, o que perceberam é que estão diante de um teste de lealdade – ou talvez seja um teste de apparatchik; se tiverem alguma ambição de servirem num cargo político, eles precisam se mostrar dispostos a seguir a linha do partido onde quer que ela vá.

Não há nada comparável no outro lado. Primeiramente, não se encontram pessoas como Christy Romer ou, bem, eu tomando posições em questões de política que vão diretamente contra o que elas disseram em seus escritos profissionais, enquanto se vê muito disso no lado republicano. E ex-autoridades do lado democrata como Christy ou Jared Bernstein estão muito dispostas a criticar políticas de Obama, ainda que de uma posição basicamente amistosa.

A maneira como a polarização de nossa política está corrompendo a teoria e a prática da economia não é, com certeza, seu maior custo. Mas ele não é trivial tampouco.

When a Nobel Prize Isn’t Enough

Até laureados com o NOBEL tem seus momentos de tristeza e desilusão com o ser humano. Neste artigo no The New York Times de June 5, 2011, o NOBEL PETER DIAMOND se queixa de seus colegas por não ratificarem seu nome como um dos integrantes do FED. Imaginem o que acontece conosco, simples mortais...

By PETER A. DIAMOND is a professor of economics at the Massachusetts Institute of Technology.

Last October, I won the Nobel Prize in economics for my work on unemployment and the labor market. But I am unqualified to serve on the board of the Federal Reserve — at least according to the Republican senators who have blocked my nomination. How can this be?

The easy answer is to point to shortcomings in our confirmation process and to partisan polarization in Washington. The more troubling answer, though, points to a fundamental misunderstanding: a failure to recognize that analysis of unemployment is crucial to conducting monetary policy.

In April 2010, President Obama nominated me to be one of the seven governors of the Fed. He renominated me in September, and again in January, after Senate Republicans blocked a floor vote on my confirmation. When the Senate Banking Committee took up my nomination in July and again in November, three Republican senators voted for me each time. But the third time around, the Republicans on the committee voted in lockstep against my appointment, making it extremely unlikely that the opposition to a full Senate vote can be overcome. It is time for me to withdraw, as I plan to inform the White House.

The leading opponent to my appointment, Richard C. Shelby of Alabama, the ranking Republican on the committee, has questioned the relevance of my expertise. “Does Dr. Diamond have any experience in conducting monetary policy? No,” he said in March. “His academic work has been on pensions and labor market theory.”

But understanding the labor market — and the process by which workers and jobs come together and separate — is critical to devising an effective monetary policy. The financial crisis has led to continuing high unemployment. The Fed has to properly assess the nature of that unemployment to be able to lower it as much as possible while avoiding inflation. If much of the unemployment is related to the business cycle — caused by a lack of adequate demand — the Fed can act to reduce it without touching off inflation. If instead the unemployment is primarily structural — caused by mismatches between the skills that companies need and the skills that workers have — aggressive Fed action to reduce it could be misguided.

In my Nobel acceptance speech in December, I discussed in detail the patterns of hiring in the American economy, and concluded that structural unemployment and issues of mismatch were not important in the slow recovery we have been experiencing, and thus not a reason to stop an accommodative monetary policy — a policy of keeping short-term interest rates exceptionally low and buying Treasury securities to keep long-term rates down. Analysis of the labor market is in fact central to monetary policy.

Senator Shelby also questioned my qualifications, asking: “Does Dr. Diamond have any experience in crisis management? No.” In addition to setting monetary policy in light of a proper understanding of unemployment, the Fed is responsible for avoiding banking crises, not just trying to mop up afterward.

Among the issues being debated now is how much we should increase capital requirements for banks. Selecting the proper size of the increase requires a balance between reducing the risk of a future crisis and ensuring the effective functioning of financial firms in ordinary times. My experience analyzing the properties of capital markets and how economic risks are and should be shared is directly relevant for designing policies to reduce the risk of future banking crises.

Instead of going to the Fed, however, I will go about my congenial professional existence as a professor at M.I.T., where I have taught and researched since 1966, and I will take advantage of some of the many opportunities that come to a Nobel laureate. So don’t worry about me.

But we should all worry about how distorted the confirmation process has become, and how little understanding of monetary policy there is among some of those responsible for its Congressional oversight. We need to preserve the independence of the Fed from efforts to politicize monetary policy and to limit the Fed’s ability to regulate financial firms.

Concern about the (seemingly low) current risk of future inflation should not erase concern about the large costs of continuing high unemployment. Concern about the distant risk of a genuine inability to handle our national debt should not erase concern about the risk to the economy from too much short-run fiscal tightening.

To the public, the Washington debate is often about more versus less — in both spending and regulation. There is too little public awareness of the real consequences of some of these decisions. In reality, we need more spending on some programs and less spending on others, and we need more good regulations and fewer bad ones.

Analytical expertise is needed to accomplish this, to make government more effective and efficient. Skilled analytical thinking should not be drowned out by mistaken, ideologically driven views that more is always better or less is always better. I had hoped to bring some of my own expertise and experience to the Fed. Now I hope someone else can.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Novos desafios para o FED.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso) e escreveu o artigo abaixo para a FOLHA DE S. PAULO.

O Federal Reserve, em sua última reunião, reafirmou a decisão de ir até o fim em sua política de inundar o mercado de dólares baratos, chamada de Quantitative Easing 2.
O banco central americano, sob a liderança firme e decidida de seu presidente, vem seguindo à risca a leitura feita por Lord Keynes, ainda na primeira metade do século passado, sobre como evitar uma depressão econômica em um ambiente de pânico financeiro.
Ben Bernanke tem o reconhecimento hoje, mesmo no grupo mais ortodoxo de analistas, de ter evitado o pior na maior economia do mundo. Mas começa a enfrentar novos desafios para consolidar definitivamente suas vitórias.
Os dados mais recentes mostram que alguma vida já voltou à economia, a recessão é coisa do passado e a geração de empregos parece ter voltado de forma perene.
Para 2011, os analistas de mercado trabalham com crescimento de mais de 3% e queda significativa na taxa de desemprego.
Mas partes importantes da economia -o setor imobiliário e o bancário, principalmente- ainda sentem as consequências da crise que começou em 2008. Por isso, ainda é frágil a confiança dos agentes econômicos em uma superação perene.
Por essa razão, o Fed já avisou que prefere errar na direção de uma política monetária expansionista, mesmo com o risco de inflação mais elevada mais à frente, do que permitir uma nova recaída da atividade econômica.
Mas seus principais instrumentos de ação -juros próximos de zero e compras maciças de títulos emitidos pelo governo americano para financiar seus exorbitantes deficit- estão provocando tensões imensas em outras economias, principalmente via canal cambial.
O dólar não para de cair, provocando valorização cambial quase insuportável em vários países e criando uma bolha de liquidez no mundo todo. Na busca desordenada por investimentos financeiros de maior risco, os grandes detentores de capitais exportam o excesso de liquidez nos EUA para países que não sofrem do mesmo mal americano. O Brasil é um exemplo dessa armadilha, com inflação em aceleração e a moeda pressionando a indústria.
Por outro lado, a fraqueza da moeda americana está provocando aumento expressivo dos preços em dólares de produtos primários como alimentos, metais e, principalmente, o petróleo. Como a inflação ex-petróleo não sobe por conta da imensa capacidade ociosa na economia americana -principalmente no mercado de trabalho-, o Fed segue em frente com sua política e acaba exportando inflação para as outras economias.
Mas o aumento dos preços do petróleo começa também a atrapalhar a ação do BC americano. Preços bem mais altos dos combustíveis nos EUA estão corroendo a renda do consumidor e diminuindo sua confiança na recuperação econômica.
Uma espécie de ciclo vicioso perverso se formou, com o excesso de liquidez e juros muito baixos enfraquecendo o valor do dólar nos mercados de câmbio, o que leva a preços do petróleo sempre mais altos, que corroem a renda do consumidor norte-americano, que pressiona a economia para baixo, que obriga o Fed a manter a política monetária frouxa e expansionista, que enfraquece o valor do dólar, que....
O Fed precisa entender que medidas heterodoxas -por mais corretas que sejam em um momento de crise- mantidas por um tempo muito longo provocam efeitos colaterais danosos à economia.
Volto sempre à minha comparação entre uma economia de mercado e o organismo humano para entender o momento por que estão passando os EUA. A partir de certo momento, os efeitos negativos de uma medicação agressiva -e esse é o caso do Quantitative Easing 2- passam a ser maiores do que seus benefícios. Temo que já chegamos a esse ponto.
Talvez já seja a hora de uma mudança nos discursos do Fed, com a retirada da mensagem de que a política monetária atual será mantida por um longo período de tempo e, com isso, um primeiro sinal de normalização seja dado.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...